quarta-feira, 19 de outubro de 2011

É a mente humana, não o trabalho braçal, o grande responsável por nossos avanços tecnológicos

Rodrigo Constantino, O GLOBO


Há exatos 80 anos morria Thomas Edison, um dos ícones da revolução tecnológica. Entre suas principais invenções, encontra-se a lâmpada elétrica, o gramofone e o cinescópio. Edison é considerado um dos inventores mais prolíficos de seu tempo, tendo registrado mais de duas mil patentes. A data é propícia, portanto, para a reflexão acerca de quais são as principais causas do progresso tecnológico.

Como reconhecia o próprio Edison, “A genialidade é 1% inspiração e 99% transpiração”. Steve Jobs, que faleceu recentemente, é outra prova disso. Ele trabalhava duro, era persistente, acreditava no que fazia e estava mais preocupado com a jornada em si do que com o destino final. A Apple e a Pixar são empresas inovadoras em suas respectivas áreas, que contribuíram para um mundo melhor. A filantropia de Jobs foi sua própria empresa. Ele mereceu cada centavo de sua fortuna.

Jobs nunca fez o que fez pelo dinheiro; este foi um subproduto de sua paixão. Por isso o sucesso. Ele perguntava: “Quem agüenta a barra se não for movido por amor?”. No âmbito individual, portanto, a inovação depende da centelha criativa de alguns indivíduos diferenciados, que enfrentam desafios árduos para romper com o status quo e deixar seu legado à humanidade.

Mas, e no campo coletivo? Se estas inovações fantásticas dependessem somente do indivíduo, então seria razoável supor que há uma distribuição aleatória entre os diferentes países. Não é o caso. Os EUA, por exemplo, dominam o mercado de patentes. A lista de inovações que marcaram a era moderna aponta com claro viés para os anglo-saxões. Alguns exemplos ilustram isso.

Em 1802, corria nos trilhos do País de Gales a primeira locomotiva a vapor. Em 1818, cruzava os mares do mundo o primeiro barco a vapor construído pelo americano Moses Rogers. Henry Ford massificou a indústria automotiva em 1908. O motor a jato foi uma invenção de um piloto da Royal Air Force inglesa, em 1930. O primeiro jato que inaugurou vôos comerciais foi o americano Boeing 707. O ar condicionado foi uma criação de Willis Carrier em Nova Iorque. As máquinas de lavar roupa e louça também foram inventadas nos EUA. O aspirador de pó elétrico foi criado em Londres. No setor de saúde ocorre o mesmo fenômeno. A vacinação foi aplicada pela primeira vez em Massachusetts. A anestesia geral seria testada pela primeira vez nos EUA em 1842. Em 1943, no estado americano de Illinois, finalmente foi resolvido o problema da curta duração da penicilina. No final do século 20, a americana Pfizer presentearia a humanidade com seu Viagra.

Eu poderia continuar com vários outros exemplos, mas acredito que o ponto está claro: o mundo, tal qual o conhecemos, com um conforto material impensável para o mais rico dos nobres medievais, foi obra de uma minoria, em poucos países. A pergunta-chave, aqui, é justamente o porquê disso.

Praticamente todas as importantes inovações modernas ocorreram em países capitalistas com sólido respeito à liberdade individual. O economista Mises dizia: “Só uma pequena minoria faz uso da liberdade de criação artística e científica, mas todos se beneficiam dela”. Eis o primeiro pilar necessário: um arcabouço institucional e cultural que estimule a meritocracia individual.

Somente quando o sucesso for visto como louvável, e não um pecado, haverá tolerância para as desigualdades inerentes ao progresso. Nem todos possuem as mesmas habilidades e dons. O respeito ao lucro e à propriedade privada, portanto, são fundamentais. O império da lei também, para preservar as recompensas das criações.

Um mercado financeiro desenvolvido é necessário, pois é a fonte do capital de risco para as novas empreitadas. Basta pensar na quantidade de empresas que nasceram em garagens na Califórnia, e se tornaram gigantes graças ao acesso a este capital. A “destruição criadora” é crucial: os ineficientes devem ir à bancarrota.

O capitalismo liberal é claramente o melhor sistema para prover inovações tecnológicas, inclusive no campo da saúde. Nem os mais jurássicos esquerdistas conseguem resistir aos seus produtos. Já o socialismo “igualitário”, sob o manto da retórica altruísta, conseguiu produzir apenas miséria, escravidão e fuzis. Muitos fuzis.

Gostaria de destacar outro ponto: é a mente humana, não o trabalho braçal, o grande responsável por este avanço tecnológico. Como disse um dos personagens de Ayn Rand: “Tente obter alimentos usando apenas movimentos físicos, e descobrirá que a mente do homem é a origem de todos os produtos e de toda a riqueza que já houve na terra”.

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