domingo, 29 de abril de 2012

Um breve ensaio sobre as cotas raciais, a esquerdopatia, os eco chatos e a praga do politicamente correto

Vivemos tempos estranhos. Isso tem me feito mal, me angustiado.

Minha esposa me sugere o tempo todo. "Thiago, não te expõe. Larga a política, isso não vai dar em nada." Acho que ela tem razão. Voltarei focar meu blog no empreendedorismo. Talvez as linhas escritas abaixo sejam as minhas ultimas tratando de algo que não seja o tema referido acima.

Pro leitor sem tempo e quer saber o que penso, adianto a pauta. Falarei de cotas raciais, da praga do politicamente correto, do feminismo, de politica, de economia e dos eco-chatos. Então vamos lá!

NÓS X ELES foi institucionalizado. Negros X Brancos, Homens X Mulheres, Hetero X Homosexuais, Ruralistas X Ambientalistas, etc. Querem segregar a todo tempo, como se o mundo fosse simples de ser entendido e um código binário desse conta de resolver os problemas do mundo. Algozes e vítimas parecem ser necessários para continuar o discurso e isso me enjoa.

Cotas Raciais
Começarei pelo assunto do momento.
Foi finalmente aprovado a legitimidade de cotas raciais na universidade. Sou contrário por um motivo muito simples: A universidade é lugar de mérito, dos melhores, sejam eles negros, indios, mulheres ou gays. Poderíamos discutir se a avaliação de mérito (vestibular) que se faz para o ingresso na universidade é adequado ou não, mas o que não poderíamos fazer é privilegiar uns em detrimentos de outros. A solução é simples, mas demora 20 anos pra dar resultado e não dá voto. Educação básica de qualidade.

Como diz Percival Puggina "Não será essa uma forma de fazer “justiça” a uns às custas da injustiça praticada contra outros? O altruísmo é virtuoso porque implica renúncia voluntária ao próprio bem em favor do alheio. Mas não o é quando praticado com o bem ou com o direito de terceiros. Incontestável: os alunos com bom desempenho que perdem vagas para alunos com desempenho inferior, por força das cotas, são vítimas de injustiça que lhes é imposta. Não são eles os responsáveis pelas mazelas sociais do país."

Então é isso, que culpa têm o aluno branco pela história escravocrata vergonhosa do Brasil?

Sei que externar essa opinião pode chatear os vários amigos negros pró-cotas que tenho, mas como digo na minha descrição ai ao lado "Acredito fielmente no mérito como essência das relações humanas, e por isso, meus amigos sabem disso, que jamais digo “sim” para parecer simpático, inteligente ou “de boa companhia” se a minha vontade é dizer "não"

Um dos amigos mais inteligentes que tenho, o "Seu mendes", é negro, não foi rico (longe disso) e passou no vestibular da UFRGS em dois dos cursos mais concorridos na universidade. Hoje tem sua empresa e vai muito bem obrigado.
Outro desses amigos inteligentes que tenho,"seu zeraldo", também negro, hoje faz doutorado, é professor universitário, conhece o Brasil e o mundo na base do seu mérito e trabalho.
Ambos não tiveram acesso a cotas. Ambos tiveram inteligência e força de vontade. Ambos, entre outros que não vou citar aqui, são pra mim a prova que as cotas não são necessárias.

Desculpa se quero que minhas filhas sejam atendidas pelos melhores professores, sejam curadas pelos melhores médicos e que o viaduto onde vou passar seja construído pelo melhor engenheiro. Estou pouco me lixando pra cor deles. Gostaria apenas de ter a certeza que se hoje são professores, médicos, engenheiros, etc., é porque mereceram e não porque faziam parte de algum desses grupos vitimizados e privilegiados.

OBS: Se passar pela sua cabeça leitor "ah o Thiago é branco, não sabe o que fala" lembre que 9 dos 10 votos do STF teriam que ser anulados. 

Igualdade e o feminismo
Enquanto escrevo esse texto, na TV assisto um programa esportivo apresentado por uma mulher. A apresentadora chamou uma reporter mulher para dar as notícias do Gremio. Essa, por sua vez, chamou uma reporter, também mulher, para dar as notícias do Inter. Isso tudo num ambiente que até pouco tempo atrás era iminentemente masculino. Sem cotas, sem privilégios, as mulheres estão ganhando o mercado de trabalho por pura competência.

Li hoje no jornal que os salarios das mulheres ainda são inferiores aos dos homens em cargos equivalentes, mas essa diferença vem diminuindo dia-dia. Hoje equivale a 73%, nos anos 2000 era de 67%. Uma feminista pode gritar: "então, isso é justo?". Eu responderia: "Não, não é, mas o mundo é assim mesmo, assimétrico, por vezes injusto. Isso vem de um contexto histórico cultural e por isso mesmo não será o Estado que resolverá na base da caneta. O mercado corrigirá isso com o tempo, assim como vem fazendo."

A praga do Politicamente Correto
A praga do Politicamente Correto se infestou e está devorando as mentes ainda saudáveis que tínhamos por ai. Chamar negro de negro, pobre de pobre, feio de feio, covarde de covarde, agora é ofensa grau máximo. A cartilha nos recomenda usar afrodescendentes, desprovidos de posse e de beleza e pessoa não afeita ao conflito. Desculpa, não consigo. Como disse esses dias num bate papo que tive com alguns alunos da faculdade de ADM da UFRGS: Sou politicamente incorreto não por birra, mas por essência. Como diz o filósofo Pondé "o politicamente correto é autoritário em sua essência, porque supõe estar salvando o mundo".

Se encontrar aqueles seus amigos de infância (o negão, o zarolho e o gordo) lembre-se de não chamá-los pelos seus apelidos, pois pode ir preso por racismo ou bullyng.

A esquerdopatia "tá pegando geral"
Se tem um assunto um tanto delicado, esse assunto é politica. Parece que mexe com "os brio dozôme". Mas vamos lá, não tenho medo da patrulha. Escrevo porque estou curado. Já disse por aqui que não tenho compromisso com o erro. Se a história me provar que estou errado, mudo de opinião sem problema.

Antes, digo que não sei bem o que é ser de direita. Acho que não sou de direita. Defendo uma democracia liberal, se é que se pode assim chamar. O que é isso? Simples: O Estado deve se preocupar com aquilo que todas as pessoas precisam, sem exceção (Educação, Saúde, Segurança, Justiça e Infra Estrutura). Qualquer coisa além disso é ideologia e avança sobre a liberdade individual, algo que pra mim é inegociável.

A coisa hoje está mais ou menos assim: Ou você é de esquerda ou você é do mal, torturador sanguinário, ladrão de sonhos alheios. Afinal, eles são os donos da história; eles sabem para onde caminha a humanidade; eles conhecem a forma do futuro; eles estão na vanguarda do humanismo.

Recorro a Reinaldo Azevedo para conceituar o pensamento de esquerda:
"Qualquer um que não compactue de suas "convicções" participa de algum complô contra o povo. Os esquerdista não têm a necessidade de debater as suas idéias porque se consideram “monopolistas da compaixão”. A direita, os conservadores, os reacionários, ah, esses precisam sempre dar explicações e se justificar. Um esquerdista ou “progressista” tem apenas de se declarar preocupado com os pobres, a favor da natureza, defensor dos negros, das mulheres, dos gays, dos sem-isso, sem-aquilo… Se o que propõe funciona ou não, eis algo absolutamente irrelevante. O importante é saber que ele tem idéias para nos salvar."

Enfim, um liberal acredita que a ignorância e a pobreza não tiram de ninguém o senso básico de moral e de justiça. Por isso estes não precisam ser transformados em vítimas. Dê educação de qualidade e liberdade de escolha as pessoas e elas saberão correr atras de seus sonhos. O bem estar individual é algo muito mais real e palpável do que o conceito vago e abstrato do bem estar social. A solução dos nosso problemas está nas pessoas e não "comando central".

Nunca ouse não ter uma história triste pra contar
Fazem nos sentir envergonhados por não ter uma história triste pra contar. Hoje se você é branco, trabalha honestamente, sustenta sua familia com dignidade e independência, paga impostos, não rouba e não mata, você é uma cara estranho, um sem-ong, um sem-direitos. Nem os padres dão bola pra você. Pensar com a própria cabeça e não andar em bando parece ser uma ameaça aos engenheiros sociais. Se você não se sente vítima do capital, do mercado ou da "zelite" é porque você é um alienado. Se você lê zero hora, está sendo enganado pela mídia golpista. Ser fiel a seus valores e pensar diferente da maioria é um esculacho.

Os eco-chatos e o código florestal
Esse turma também foi picada pela praga politicamente correta. É "cool" dizer que você é um defensor do meio-ambiente, mesmo que você não tenha a menor ideia do que seja isso.
Disse isso outro dia por aqui, os eco chatos que me perdoem, mas avançaremos somente através do desenvolvimento, fomentando pela ciência de ponta, engenharia inovadora e muito investimento. Sugerir as pessoas que passem a andar de bicicleta, tomar banho em 3 minutos, retirar as sacolas plasticas do supermercado ou lavar a louça sem detergente não me parece ser o caminho. 


Agora os revolucionários verde resolveram encrencar com o código florestal. Só não perguntem a eles o que diz o código, afinal de contas ler o material dá muito trabalho. É mais fácil levantar a bandeira "não aos desmatadores".
Eu não li, por isso não fico dando discurso. Mas uma coisa dá pra perceber, "os opressores" já foram escolhidos, os ruralistas. Sempre tem que ter as vitimas e os opressores, senão não há discurso, não é mesmo. Pois bem, apelo a Reinaldo Azevedo novamente.


"O que ficou evidente mais uma vez é que os proprietários rurais são tratados como a categoria desprezível do Brasil. Afinal, eles não amam a natureza, só pensam em devastá-la. Produzem alimentos, respondem pela estabilidade da economia, estão entre os maiores empregadores do Brasil, não contam com os juros subsidiados de setores da indústria que têm até o privilégio de vender mais caro ao governo para enfrentar a concorrência externa, são competitivos e disputam o mercado externo sem precisar pedir, com a devida vênia, penico ao papai ou à mamãe governo, mas têm de enfrentar os amigos da natureza, os amigos dos índios, os amigos dos quilombolas, os amigos do sem-terra, os amigos, em suma, dos sem-noção, que tratam a pontapés quem responde, em último caso, pelas ditas conquistas sociais do petismo."

Sem mais!

Sem reformas, não há crescimento sustentável. Sonho com um Estadista.
Para fechar, falarei um pouco do que penso do Brasil enquanto nação.
Sonho com um presidente estadista. Um presidente que vai chamar pra si a responsabilidade de fazer as reformas necessárias para o Brasil continuar prosperando. O viés populista de LULA levou o Brasil a se preocupar em melhor distribuir riqueza. Tá bem, objetivo válido. Mas e quanto a geração de riqueza? Não podemos esquecer de continuar a geração de riqueza, pois senão estaremos logo logo a distribuir igualmente a miséria. É como se preferíssemos distribuir igualmente 10 ao invés de distribuir desigualmente 100. 
Pra mim é nítido que precisamos de reforma tributária, politica e educacional. E nosso presidente, que nunca antes na história desse pais teve uma popularidade tão grande, fez alguma delas? NADA.

Posso ouvir alguns ugidos "quer dizer que 70% de popularidade não quer dizer que o governo está indo bem?". Sim, na minha opinião não está indo tão bem quando poderia. Lembra da manada? Pois é, não faço parte dela.

Finalizo com uma mensagem de Rodrigo Constantino

O trabalho precisa ser enaltecido, em vez da vida parasitária à custa dos outros. A responsabilidade, sempre individual, precisa retornar, jogando para escanteio a utopia coletivista. Os fatos devem ser enfrentados. A formiga, enfim, precisa ser mais valorizada que a cigarra. Há, entretanto, um grave problema na equação: A cigarra, mesmo doente, não deseja abrir os olhos e verificar que aquela dolce vita não existe mais. Ela irá relutar até o final. Só que as formigas cansaram de bancar a farra da cigarra. Até quando ela conseguirá cantar assim?


Mas vamos que vamos, com força em honra. Não podemos esmaecer.

Thiago Lorenzi

twitter: @tlorenzi
facebook: www.facebook.com/thiago.lorenzi



quinta-feira, 26 de abril de 2012

A felicidade não existe, o que há são alguns momentos de alegrias.

Diante da miséria que o habita, você se reconstrói a partir de um mito individual, para poder se suportar um pouco mais. Suas ilusões são mecanismos para você continuar se enganando frente a espelhos viciados de um amor narcísico. 


Dr. José Nazar *

Felicidade, isso não existe! As religiões, as neuroses, as drogas, os bens materiais em excesso, tudo isso são artifícios para que você possa continuar vivendo às custas do esquecimento de uma dor, que é própria de sua vida. Desde que nasce, o ser humano é marcado por uma fratura, aquela que é sua marca originária e que ditará sua maneira particular na vida.
Isso lhe causa horror e, por isso, você se defende alimentando-se de amargas ilusões.
Qual é o seu grande medo? Você não quer saber que a morte é real! Por isso mesmo, você se arma, se engana, constrói roupagens para se proteger do medo que esse encontro poderia lhe causar. Isso dificulta sua relação com o desejo.
A realidade é traumática demais. Você utiliza, como proteção, toda sorte de fantasias. Frente ao vazio da existência, você responde a partir de suas fraturas internas, suas crenças excessivas, seus sintomas, suas angústias, suas feridas internas.
Por mais que corra de si mesmo, se refugiando no casulo de seu espelho narcísico, você será marcado por uma divisão na alma, no mais íntimo de seu ser.
A única saída para o humano é tentar se reconciliar com as perdas operadas na vida e procurar aproximar-se de seu desejo, reduzindo danos.
Diante da miséria que o habita, você se reconstrói a partir de um mito individual, para poder se suportar um pouco mais. Suas ilusões são mecanismos para você continuar se enganando frente a espelhos viciados de um amor narcísico. Você foge de quê?
O ser humano é feito de fraturas, de altos e baixos, alegrias e tristezas, sucessos e fracassos. Desde que nasce, ele já carrega uma nuvem de sentimentos alternantes, numa verdadeira bi-polaridade. Isso tem a ver com a historicidade familiar de cada um, seus traumas que determinam lembranças agradáveis e ou desagradáveis.
Você tem como saída possível refletir sobre si mesmo, para tornar sua vida menos pior. Pode ser que seja bem sucedido e viva melhor, pode acontecer que você sucumba às suas próprias emoções desconhecidas, e isso leva ao pior!
No aqui e agora ou num futuro próximo, você vai se defrontar com a mordida do lobo. Ninguém escapa da mordida do lobo, que são as fraturas da vida! Isso é certo e seguro. Todo e qualquer ser humano carrega, no mais íntimo de seu ser, uma perda, que é vivida como uma mordida, um arranchamento das garantias e certezas. Somos doentes por natureza, o que permite fazer história. O problema é saber se a fratura é interna ou externa, encoberta ou a céu aberto. Eis a questão! A escolha desse título é intencional, porta um duplo sentido. Por um lado diz que todo ser humano é fraturado e, por outro, aponta para a seguinte questão: a vida encontra sua possibilidade a partir de um corte na carne do sujeito, que o traumatiza. No entanto, estas mesmas fraturas lhe dão vida. Mas, o que é que fratura? São os ditos dos pais, suas boas ou más palavras, isto é, tanto as ditas quanto as silenciadas.
É isso que a psicanálise veio demonstrar: o ser humano é descentrado dele mesmo, o sexo é traumático e, por isso, gera fraturas que não permitem a você estar em paz consigo mesmo e com seus semelhantes. A felicidade não existe... o que há são alguns momentos de alegrias.
O sujeito humano não quer aquilo que deseja. Essa é sua depressão fundamental, a fratura não lhe permite estar em paz, nem consigo nem com o outro!

* José Nazar é psiquiatra e psicanalista (Escola Lacaniana de Psicanálise).

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Lâmpada de microalgas será a iluminação do futuro, afirma bioquímico francês

Quando vejo as inovações do tipo relatado abaixo, consolido ainda mais meu pensamento que somos os únicos que podemos superar os problemas que nos auto impomos. Os eco chatos que me perdoem, mas avançaremos somente através do desenvolvimento, fomentando ciência de ponta, engenharia inovadora e muito investimento. Sugerir as pessoas que passem a andar de bicicleta, tomar banho em 3 minutos, retirar as sacolas plasticas do supermercado ou lavar a louça sem detergente não me parece ser o caminho.


Vamos a reportagem da revista Exame.com

Para o bioquímico francês Pierre Calleja as microalgas são potencialmente úteis para promover os esforços do homem em reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Foi a partir desse conceito que ele teve a ideia de construir lâmpadas de microalgas, que são até 150 a 200 vezes mais eficientes do que as árvores na captura de CO2. Elas poderão ser instaladas em estradas, ruas e até mesmo casas e escritórios.

Estas lâmpadas, ao serem instaladas nas ruas em grande escala, serão capazes de absorver em torno de uma tonelada de emissões de COpor ano e transformá-las em iluminação. Segundo o vídeo institucional do portal Shamengo, factualmente, 25% do gás carbônico presente no ar é oriundo dos carros.
Durante o dia, as baterias instaladas no interior da lâmpada irão ser carregadas através do processo de fotossíntese, usando a luz solar e nutrientes. À noite, esta energia armazenada será utilizada para iluminação. Nem sempre será essencial que as lâmpadas funcionem na presença de luz solar. Quando colocadas no subsolo ou qualquer outro local onde não tenha sol, elas poderão absorver CO2 e, em seguida, criar a própria luz

A inveja da vagina. Mulheres em posições de poder não gostam de mulheres atraentes em volta


Mulheres em posições de poder não gostam de mulheres atraentes em volta. 

Por João Pereira Coutinho (Folha.com)

Preconceito meu? Pensava que sim. Olhava para algumas amigas que ocupam lugares de destaque --em empresas, grupos de mídia, universidades. E pasmava com a ausência de outras mulheres nas proximidades.

Minto. As mulheres até existiam. Mas eram sempre invariavelmente feias ou absurdamente desinteressantes. Estaria a delirar?
Partilhei com as próprias as minhas impressões sobre o assunto. Recebi insultos mil: a minha suposta misoginia estava a ofuscar-me a razão, diziam elas, com imaculado espírito feminista. Competência era tudo que interessava. Elas, ao contrário dos homens, nunca se deixavam cegar pelas vacuidades da estética.
Pois bem: um estudo veio agora em meu socorro. Conta a revista "The Economist" que dois cientistas sociais israelenses resolveram fazer um teste sobre as vantagens, ou desvantagens, da beleza feminina no mundo laboral.
Eis o "modus operandi": pegaram em dois currículos com informações acadêmicas semelhantes. E enviaram os documentos para mais de 2500 ofertas de emprego. Por menor revelante: um dos currículos tinha a foto de uma mulher bonita; o outro seguiu sem foto.
Resultado? As mulheres bonitas têm uma desvantagem competitiva no mercado de trabalho e recebem menos entrevistas de emprego do que as restantes (sem foto).
Superficialmente, poderia pensar-se que a discriminação se exerce porque existe o preconceito, aliás, absurdo, de que beleza e inteligência não jogam na mesma equipe.
A razão da discriminação pode ser outra: ao analisarem também a composição dos departamentos de recursos humanos das empresas contratantes, onde é feita a triagem das candidatas, os pesquisadores chegaram à conclusão que 93% deles são compostos por mulheres.
Moral da história? Freud estava errado ao acreditar na "inveja do pênis", um conceito flácido (peço desculpa) e irremediavelmente datado. Se existe inveja nas mulheres, ela nasce entre vaginas.
O que não deixa de ser irônico: foram décadas de luta abnegada contra a opressão falocêntrica dos machos. Mas, no fim de contas, a opressão que existe e persiste mora no mesmo lado da barricada.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

A falência múltipla dos órgãos públicos


Roberto Jefferson denunciou os bolchevistas no poder, os corruptos que roubavam por “bons motivos”, pelo “bem do povo”, na base dos “fins que justificam os meios”. E, assim, defenestrou a gangue de netinhos de Lenin que cercavam o Lula que, com sua imensa sorte, se livrou dos mandachuvas que o dominavam
Demóstenes foi uma isca. O PT inventou a isca e foi o primeiro a mordê-la. “Otimo!” – berrou o famoso estalinista Rui Falcão – “Agora vamos revelar a farsa do mensalão!” – no mesmo tom em que o assassino iraniano disse que não houve holocausto. “Não houve o mensalão; foi a mídia que inventou, porque está comprada pela oposição!” Os neototalitários não desistem da repressão à imprensa democrática…
ARNALDO JABOR (O Globo)
Os corruptos ajudam-nos a descobrir o País. Há sete anos, Roberto Jefferson nos abriu a cortina do mensalão. Agora, com a dupla personalidade de Demóstenes Torres, descortinamos rios e florestas e a imensa paisagem de Cachoeira. Jefferson teve uma importância ideológica.
Cachoeira é uma inovação sociológica. Cachoeira é uma aula magna de ciência política sobre o Sistema do País. Vamos aprender muito com essa crise. É um esplendoroso universo de fatos, de gestos, de caras, de palavras que eclodiram diante de nossos olhos nas últimas semanas. Meu Deus, que riqueza, que profusão de cores e ritmos em nossa consciência política! Que fartura de novidades da sordidez social, tão fecunda quanto a beleza de nossas matas, cachoeiras, várzeas e flores.
Roberto Jefferson denunciou os bolchevistas no poder, os corruptos que roubavam por “bons motivos”, pelo “bem do povo”, na base dos “fins que justificam os meios”. E, assim, defenestrou a gangue de netinhos de Lenin que cercavam o Lula que, com sua imensa sorte, se livrou dos mandachuvas que o dominavam. Cachoeira é uma alegoria viva do patrimonialismo, a desgraça secular que devasta a história de nosso País. Sarney também seria ‘didático’, mas nada gruda nele, em seu terno de ‘teflon’; no entanto, quem estudasse sua vida entenderia o retrato perfeito do atraso brasileiro dos últimos 50 anos.
Cachoeira é a verdade brasileira explícita, é o retrato do adultério permanente entre a coisa pública e privada, aperfeiçoado nos últimos dez anos, graças à maior invenção de Lula: a ‘ingovernabilidade’.
Cachoeira é um acidente que rompeu a lisa aparência da ‘normalidade’ oficial do País. Sempre soubemos que os negócios entre governo e iniciativa privada vêm envenenados pelas eternas malandragens: invenção de despesas inúteis (como as lanchas do Ministério da Pesca), superfaturamento de compras, divisão de propinas, enfrentamento descarado de flagrantes, porque perder a dignidade vale a pena, se a grana for boa, cabeça erguida negando tudo, uns meses de humilhações ignoradas pelo cinismo e pela confiança de que a Justiça cega, surda e muda vai salvá-los. De resto, com a grana na ‘cumbuca’, as feridas cicatrizam logo.
O governo do PT desmoralizou o escândalo e Cachoeira é o monumento que Lula esculpiu. Lula inventou a ingovernabilidade em seu proveito pessoal. Não foi nem por estratégia política por um fim ‘maior’ – foi só para ele.
Achávamos a corrupção uma exceção, um pecado, mas hoje vemos que o PT transformou a corrupção em uma forma de governo, em um instrumento de trabalho. A corrupção pública e a privada é muito mais grave e lesiva que o tráfico de drogas.
Lula teve a esperteza de usar nossa anomalia secular em projeto de governo. Essa foi a realização mais profunda do governo Lula: o escancaramento didático do patrimonialismo burguês e o desenho de um novo e ‘peronista’ patrimonialismo de Estado.
Quando o paladino da moralidade Demóstenes ficou nu, foi uma mão na roda para dezenas de ladrões que moram no Congresso: “Se ele também rouba, vamos usá-lo como um Omo, um sabão em pó para nos lavar, vamos nos esconder atrás dele, vamos expor nosso escândalo por seu comportamento e, assim, seremos esquecidos!”
Os maiores assaltantes se horrorizaram, com boquinha de nojo e olhos em alvo: “Meu Deus… como ele pôde fazer isso?…”
Usam-no como um oportuno bode expiatório, mas ele é mais um ‘boi de piranha’ tardio, que vai na frente para a boiada se lavar atrás.
Demóstenes foi uma isca. O PT inventou a isca e foi o primeiro a mordê-la. “Otimo!” – berrou o famoso estalinista Rui Falcão – “Agora vamos revelar a farsa do mensalão!” – no mesmo tom em que o assassino iraniano disse que não houve holocausto. “Não houve o mensalão; foi a mídia que inventou, porque está comprada pela oposição!” Os neototalitários não desistem da repressão à imprensa democrática…
E foi o Lula que estimulou a CPI, mesmo prejudicando o governo de Dilma, que ele usa como faxineira também das performances midiáticas que cometeu em seu governo. Dilma está aborrecida. Ela não concorda que as investigações possam servir para que o Partido se vingue dos meios de comunicação e não quer paralisar o Congresso. Mas Lula não liga. “Ela que se vire…” – ele pensa em seu egoísmo, secretamente, até querendo que ela se dane, para ele voltar em 14. Agora, todo mundo está com medo, além da presidente. O PT está receoso – talvez vagamente arrependido. Pode voltar tudo: aloprados, caixas 2 falsas, a volta de Jefferson, Celso Daniel, tantas coisinhas miúdas… A CPI é um poço sem fundo. O PMDB, liderado pelo comandante do atraso Sarney, também está com medo. A velha raposa foi contra, pois sabe que merda não tem bússola e pode espirrar neles. Vejam o pânico de presidir o Conselho de Ética, conselho que tem membros com graves problema na Justiça. Se bem que é maravilhoso o povo saber que Renan, Juca, Humberto Alves, Gim Argello, Collor serão os ‘catões’, os puros defensores da decência… Não é sublime tudo isso? Nunca antes, em nossa história, alianças tão espúrias tiveram o condão de nos ensinar tanto sobre o Brasil. A cada dia nos tornamos mais sábios, mais cultos sobre essa grande chácara de oligarquias. E eu estou otimista. Acho que tudo que ocorre vai nos ensinar muito. Há qualquer coisa de novo nessa imundície. O mundo atual demanda um pouco mais de decência política. Cachoeira, Jefferson, Durval Barbosa nos ensinam muito. Estamos progredindo, pois aparece mais a secular engrenagem latrinária que funciona abaixo dos esgotos da pátria. A verdade está nos intestinos da política.
Mas, o País é tão frágil, tão dependente de acasos, que vivemos com o suspense do julgamento do mensalão pelo STF.
Se o ministro Ricardo Lewandowski não terminar sua lenta leitura do processo, nada acontecerá e a Justiça estará desmoralizada para sempre.

domingo, 22 de abril de 2012

Intolerância religiosa

Não se trata de opção ideológica: o ateu não acredita simplesmente porque não consegue. O mesmo mecanismo intelectual que leva alguém a crer leva outro a desacreditar. (..) O fervor religioso é uma arma assustadora, sempre disposta a disparar contra os que pensam de modo diverso. Em vez de unir, ele divide a sociedade -quando não semeia o ódio que leva às perseguições e aos massacres.


Dráuzio Varella, Folha de SP

SOU ATEU e mereço o mesmo respeito que tenho pelos religiosos.

A humanidade inteira segue uma religião ou crê em algum ser ou fenômeno transcendental que dê sentido à existência. Os que não sentem necessidade de teorias para explicar a que viemos e para onde iremos são tão poucos que parecem extraterrestres.

Dono de um cérebro com capacidade de processamento de dados incomparável na escala animal, ao que tudo indica só o homem faz conjecturas sobre o destino depois da morte. A possibilidade de que a última batida do coração decrete o fim do espetáculo é aterradora. Do medo e do inconformismo gerado por ela, nasce a tendência a acreditar que somos eternos, caso único entre os seres vivos.

Todos os povos que deixaram registros manifestaram a crença de que sobreviveriam à decomposição de seus corpos. Para atender esse desejo, o imaginário humano criou uma infinidade de deuses e paraísos celestiais. Jamais faltaram, entretanto, mulheres e homens avessos a interferências mágicas em assuntos terrenos. Perseguidos e assassinados no passado, para eles a vida eterna não faz sentido.

Não se trata de opção ideológica: o ateu não acredita simplesmente porque não consegue. O mesmo mecanismo intelectual que leva alguém a crer leva outro a desacreditar.

Os religiosos que têm dificuldade para entender como alguém pode discordar de sua cosmovisão devem pensar que eles também são ateus quando confrontados com crenças alheias.

Que sentido tem para um protestante a reverência que o hindu faz diante da estátua de uma vaca dourada? Ou a oração do muçulmano voltado para Meca? Ou o espírita que afirma ser a reencarnação de Alexandre, o Grande? Para hindus, muçulmanos e espíritas esse cristão não seria ateu?

Na realidade, a religião do próximo não passa de um amontoado de falsidades e superstições. Não é o que pensa o evangélico na encruzilhada quando vê as velas e o galo preto? Ou o judeu quando encontra um católico ajoelhado aos pés da virgem imaculada que teria dado à luz ao filho do Senhor? Ou o politeísta ao ouvir que não há milhares, mas um único Deus?

Quantas tragédias foram desencadeadas pela intolerância dos que não admitem princípios religiosos diferentes dos seus? Quantos acusados de hereges ou infiéis perderam a vida?

O ateu desperta a ira dos fanáticos, porque aceitá-lo como ser pensante obriga-os a questionar suas próprias convicções. Não é outra a razão que os fez apropriar-se indevidamente das melhores qualidades humanas e atribuir as demais às tentações do Diabo. Generosidade, solidariedade, compaixão e amor ao próximo constituem reserva de mercado dos tementes a Deus, embora em nome Dele sejam cometidas as piores atrocidades.

Os pastores milagreiros da TV que tomam dinheiro dos pobres são tolerados porque o fazem em nome de Cristo. O menino que explode com a bomba no supermercado desperta admiração entre seus pares porque obedeceria aos desígnios do Profeta. Fossem ateus, seriam considerados mensageiros de Satanás.

Ajudamos um estranho caído na rua, damos gorjetas em restaurantes aos quais nunca voltaremos e fazemos doações para crianças desconhecidas, não para agradar a Deus, mas porque cooperação mútua e altruísmo recíproco fazem parte do repertório comportamental não apenas do homem, mas de gorilas, hienas, leoas, formigas e muitos outros, como demonstraram os etologistas.

O fervor religioso é uma arma assustadora, sempre disposta a disparar contra os que pensam de modo diverso. Em vez de unir, ele divide a sociedade -quando não semeia o ódio que leva às perseguições e aos massacres.

Para o crente, os ateus são desprezíveis, desprovidos de princípios morais, materialistas, incapazes de um gesto de compaixão, preconceito que explica por que tantos fingem crer no que julgam absurdo.

Fui educado para respeitar as crenças de todos, por mais bizarras que a mim pareçam. Se a religião ajuda uma pessoa a enfrentar suas contradições existenciais, seja bem-vinda, desde que não a torne intolerante, autoritária ou violenta.

Quanto aos religiosos, leitor, não os considero iluminados nem crédulos, superiores ou inferiores, os anos me ensinaram a julgar os homens por suas ações, não pelas convicções que apregoam.

Querem que eu me envergonhe de meu sucesso

Não tenho sobrenome famoso (..) Faço parte de um grupo de brasileiros que, a partir do trabalho honesto, construiu seu patrimônio.(..) Sou “dazelite”. (..) Querem me responsabilizar pela miséria dos desafortunados. Me chamam de burguês, explorador dos proletários. Querem que eu me envergonhe de ter o que nem todos têm.


Tenho lido e ouvido um papo antigo, que parece ganhar cada vez mais espaço na mídia. É um papo-furado, repetido como ameaça por todo canto. Querem que eu tenha vergonha. Vergonha de ter um bom emprego. 


Vergonha de ter um bom carro. Vergonha de morar numa bela casa, em um bairro classe “A”. Vergonha de ter educação superior. Vergonha de viajar em férias para o exterior. Querem que eu tenha vergonha de usar roupas de marca. 

Vergonha de ter amigos “bem de vida”. De manter meus filhos em escolas particulares. Vergonha de falar inglês. Vergonha de ter mais de duas televisões em casa. Vergonha de sair pra comer em restaurantes, de ir ao teatro quando quero. Vergonha de comprar livros importados. Vergonha de ter dado um carro para meu filho quando ele fez 18 anos...


Não tenho sobrenome famoso, não herdei coisa alguma e não tenho pai milionário. Faço parte de um grupo de brasileiros que, a partir do trabalho honesto, construiu seu patrimônio. Tenho uma vida muito diferente da vida dos milhões de miseráveis que habitam “estepaíz”. Sou “dazelite”. E por ser “dazelite” sou considerado diferente dos “outros” brasileiros. Querem me responsabilizar pela miséria dos desafortunados. Me chamam de burguês, explorador dos proletários. Querem que eu me envergonhe de ter o que nem todos têm. 

Querem me punir pelo meu sucesso. Insinuam a meus filhos que eles são “do mal”. A cada dia, taxam mais e mais meus ganhos e meus gastos, como que punindo minha capacidade de consumo. Baixam a qualidade dos bens e serviços de que preciso. Querem que eu me envergonhe de meu sucesso. 

Mas eu sei de onde vim e como vim. Sei quanto vale e quanto custou o que tenho. Eu sei o que quero para meu país. Quero um país onde o sucesso seja celebrado. Um país no qual as pessoas que trabalham duro conquistem seu lugar ao sol. Um país onde cada um vença por mérito próprio. Um país que não dê espaço para os vagabundos. Um país onde as leis tenham um só peso, uma só medida. Um país onde as ideologias jamais sejam colocadas acima do bem comum. Um país onde a ignorância nunca seja celebrada. Um país no qual a inteligência seja cultuada, o profissionalismo seja exigido e a educação seja prioridade. Um país onde ninguém jamais tenha que se envergonhar de ser bem sucedido. 

E para isso já comecei a trabalhar: fiz minha cabeça, pra ter orgulho. Orgulho de ter um bom emprego. Orgulho de ter um bom carro. Orgulho de morar numa bela casa, em um bairro classe “A”. Orgulho de ter educação superior. Orgulho de viajar em férias para o exterior. Orgulho de usar roupas de marca. Orgulho de ter amigos “bem de vida”. De manter meus filhos em escolas particulares. Orgulho de falar inglês. Orgulho de ter mais de duas televisões em casa. Orgulho de sair pra comer em restaurantes, de ir ao teatro quando quero. Orgulho de comprar livros importados. Orgulho de ter dado um carro para meu filho quando ele fez 18 anos...

Tenho orgulho de pertencer à “zelite”. De ter chegado onde cheguei, por meus méritos. De ter criado as oportunidades. De ter cultura para reconhecer os que tentam me manipular. Sou diferente, sim. Diferente dos que, em vez de celebrar o mérito, tentam fazer com que eu tenha vergonha de ser o que sou.


Comentário: Não acabei de ler livro ainda, mas por esse e por outros textos, já recomendo a leitura.

A competência transpira!

Admiro as papas na língua que esse senho NÃO tem!




Sempre fui livre. Deixem-me terminar a vida livre

“Sempre fui livre. Deixem-me terminar a vida livre. Quando eu morrer, que digam de mim: ‘Não pertenceu a nenhuma escola, a nenhum partido, a nenhuma religião, a nenhuma academia, e muitos menos a algum regime exceto o regime da liberdade’.” Gustave Courbet

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Algo que as mulheres sabem (David Coimbra)


Não sei se o governo de Dilma será um bom governo, suspeito de que lhe falte o essencial, como falta à imensa maioria dos políticos: projeto. Mas percebo nela a capacidade de perceber o fundamental: que as pessoas é que são importantes.

As mulheres têm a capacidade instintiva de identificar o que realmente é importante na vida. Para um homem, é fascinante e, às vezes, constrangedor. Você está numa mesa de bar com amigos e amigas. De repente, estoura uma discussão sobre qualquer assunto, política, economia, futebol ou religião. Três ou quatro homens se põem a debater candentemente a questão, eles vibram argumentos no ar da noite, eles desferem estocadas verbais num e noutro. As mulheres, em geral, ficam só olhando, caladas. No máximo, sibilam pequenas interferências pontuais.

O que essas mulheres silenciosas estão pensando daquilo tudo? Vou dizer: se não estão rindo e achando ridículo, estão entediadas. Porque nada disso, política, economia, futebol ou religião, nada disso tem importância. E as mulheres SABEM o que tem importância, porque é delas a possibilidade da maternidade. Elas não precisam nem se tornar mães para ter essa compreensão, basta a possibilidade. É por isso que o Cazuza disse que só as mães são felizes. Só as mães são felizes porque elas SABEM que o que importa, de fato, são as pessoas, e ninguém pode fazer por uma pessoa mais do que uma mãe faz.

Por tudo isso, sempre acreditei que as mulheres seriam melhores gestores públicas do que os homens. Não porque sabem “administrar o lar”, bibibi. Não. Apenas porque elas sabem o que realmente importa. Mas elas podem ter esse entendimento empanado pelo exercício do poder. Pela ganância por poder. Então, elas passam a se comportar como homens, da pior forma como um homem pode se comportar.

Um exemplo é Cristina Kirchner, uma governante confusa, embevecida pelo próprio poder. Parece faltar serenidade a Cristina Kirchner, aquela serenidade que vem da segurança de quem sabe o que é importante. Aquela segurança de mulher que encara o mundo com superioridade muda.

Dilma tem essa confiança. Tive a convicção de que Dilma é dotada da capacidade feminina de saber o que é importante quando vi aquela famosa foto dela que foi divulgada recentemente: Dilma, aos 22 anos, diante do tribunal militar que a julgou por subversão. Ela havia sido torturada, era quase uma menina, mas olhava para os juízes sem medo e sem desafio. Não havia, na expressão de Dilma, revolta, tristeza, orgulho ou horror. Ela não arrostava nada e também não se achicava. Estava ali inteira. Foi isso que me impressionou: era uma mulher inteira. Ela sabia que tudo aquilo era secundário, que inclusive sua atuação política era secundária, talvez até sua integridade física lhe parecesse secundária naquele momento.

Agora, com Dilma na presidência, o que me deu mais esperança de que sua gestão será bem-sucedida foi a forma como se elegeu. Dilma foi posta na presidência por Lula. Ela parecia não ter ambição política antes e dá a impressão de não ter muito mais ambição para depois. Ou seja: está lá só para fazer o que deve ser feito. Dá a impressão de ser uma daquelas antigas diretoras de escola, duras porém justas, do tempo em que não havia a demagogia das eleições para diretor. Não sei se o governo de Dilma será um bom governo, suspeito de que lhe falte o essencial, como falta à imensa maioria dos políticos: projeto. Mas percebo nela a capacidade de perceber o fundamental: que as pessoas é que são importantes. Que não importa se um país é rico ou pobre. Importa é como as pessoas vivem nele.

domingo, 15 de abril de 2012

Capitalismo de exortação

"Em termos de capacidade inovadora, de competitividade, de agressividade comercial, de conhecimento dos mercados mais promissores – fatores decisivos no mundo de hoje -, convenhamos, não passamos de jecas-tatus, descalços e com bicho-de-pé. Precisamos aprender a calçar botinas para começar a andar."

O velho PT, dos tempos das grandes lutas, metia o pau no capitalismo “selvagem” – e o capitalismo era só selvagem na visão petista. A presidente que o PT ajudou a eleger enseja criar um novo tipo de capitalismo: o “capitalismo de exortação”.

O método é o do vamo-qui-vamo: consiste em reunir o maior número de capitalistas do maior número possível de atividades e exortá-los a investir.

Capitalistas de verdade nunca precisaram de exortação de políticos para investir. Para o impulso inicial, basta-lhes o vislumbre de bons lucros e o senso de oportunidade. Claro que o sucesso da empreitada exige outras qualidades: empenho, disciplina, capacidade de planejamento, tirocínio administrativo – para mencionar apenas algumas. Só com impulso inicial, a mais brilhante centelha de empreendedorismo bruxuleia e se extingue. Fato constatado, aliás, nas estatísticas do número de novas empresas que morrem no primeiro ano de vida.

No Brasil, espírito empreendedor é o que não falta. O mundo do show business é um criadouro permanente de jovens empresários. O mundo da moda é outro. O dos esportes, um terceiro. Nem é preciso mencionar o do fast food, restaurantes em geral, comércio de secos e molhados, onde o comendador Valentim Diniz, por exemplo, começou modestamente e sua segunda geração dirige um empreendimento que está no cume de uma pirâmide onde fervilham centenas de fornecedores e milhares de funcionários.

Há brasileiros moços ganhando mais dinheiro em seus negócios do que foram capazes seus pais, avós e tataravós, somados. E toda semana ou todo mês as revistas especializadas trazem novas histórias de florescentes novos empreendimentos dirigidos por brasileiros e brasileiras muito jovens.

De modo que nós não precisamos “defender o mercado interno sem protecionismo”, como teria dito a presidente no encontro de exortação ao grande capital, segundo manchete do jornal “Brasil Econômico” (este também um jovem empreendimento na nossa área jornalística). O mercado interno vai muito bem, sim senhora – basta ver as vendas do comércio em janeiro: 2,5% acima das de dezembro!

Mas, o mood empreendedor moderno, agressivo e bem-sucedido, de que estamos falando não impregna o espírito de muitos dos representantes do grande capital reunidos naquela mesa de Brasília para ouvir as exortações da presidente e do seu ministro da Fazenda. O que se via ali era um conclave ao velho estilo capitalista brasileiro: uma reunião de sócios atuais e ex-sócios do capitalismo burocrático de Estado, que é o capitalismo que prevalece até hoje entre nós. Ele foi posto em marcha há 60 anos sob a bandeira do BNDES, das benesses fiscais, do protecionismo aos amigos do governo, das vendas aos governos amigos, das licita-ações entre compadres. Em suma, estavam ali, perfilados, como dizia Claude Reims, no filme Casablanca, os suspeitos habituais.

Ou seja, as exortações verbais só se traduzirão em investimentos pelo método tradicional: o governo prepara o terreno, dá o dinheiro, faz a pesquisa de mercado, diz qual o negócio que terá retorno garantido e garante a compra dos produtos que o empresário não conseguir vender aqui e lá fora – então, ótimo, o capitalismo de exortação funcionará como sempre funcionou.

Esse tipo de capitalismo, monitorado e sem risco, teve sua valia num certo momento da vida nacional, quando o objetivo maior era simplesmente gerar mais empregos urbanos. Mas era para ser apenas o pontapé inicial. O caso é que ficou para sempre na sua marcha lenta, sem nada que desafiasse o conforto dos fat cats criados pelo governo. E sem que os governos quisessem sacudir a vida confortável que propiciou a eles, porque ela sustenta a gorda carga fiscal com que paga as demagogias.

Mas, agora, para se expandir, o capitalismo brasileiro tem de deixar de ser apenas criador de empregos, e precisa criar horizontes e espaço vital fora do Brasil. Somos, sim, a 6.ª economia do mundo, como fanfarreiam todos os que Nelson Rodrigues chamava de “idiotas da objetividade”. Mas só o somos por causa do tamanho da nossa economia (e da desvalorização do dólar)- não por causa do nosso dinamismo nem por causa do bem-estar da nossa população. No quesito dinamismo, a China, a Coreia, a Índia, a Rússia e outros menos cotados ganham de lavada.

Quanto ao quesito bem-estar da população, é melhor nem dizer nada.

O que é melhor que se diga em alto e bom som é que estamos muito atrasados. O capitalismo burocrático de Estado nos deixou na rabeira do desenvolvimento tecnológico e educacional. E sem isso não há como abrir fronteiras e horizontes no mercado mundial. Citem-se quaisquer produtos de ponta que fazem avançar as empresas e a economia no mundo de hoje: não são brasileiros, e só são nacionais sob licença de quem os criou lá fora. A indústria automotiva instalou-se aqui muito antes que em países que hoje nos vendem carros mais modernos que os nossos.

Em termos de capacidade inovadora, de competitividade, de agressividade comercial, de conhecimento dos mercados mais promissores – fatores decisivos no mundo de hoje -, convenhamos, não passamos de jecas-tatus, descalços e com bicho-de-pé. Precisamos aprender a calçar botinas para começar a andar.

Não bastam exortações.

Fonte: Por Marco Antonio Rocha (O Estado de S. Paulo, 26/03/2012)

O paraíso não é igual para todos

"Eu sou um utópico em tudo, menos em política. Creio que em política faço esforços intrépidos, há mais de trinta anos, para ser realista e democrático. A utopia é a negação da democracia ou, melhor dizendo, a democracia é a negação da utopia. A democracia é o possível, o imperfeito, parte do pressuposto de que a sociedade perfeita não existe nem existirá, nunca, que a sociedade só pode ser perfectível e que essa melhora só será realidade caso ocorra simultaneamente em muitos domínios. Creio que a democracia foi o que trouxe os maiores progressos em política. Mas creio também que isso é absolutamente insuficiente para aplacar os desejos, as ambições, os sonhos dos seres humanos - que buscam a perfeição. Então, acredito que a perfeição deve ser procurada em outros domínios. Devemos buscar a perfeição na criação, na vocação, no amor, no prazer. Mas tudo isso no campo individual. No coletivo, não devemos tentar trazer a felicidade para toda a sociedade. O paraíso não é igual para todos". (Mário Vargas Llosa)

Para sentir vergonha (David Coimbra)


Governador Tarso Genro, o senhor não tem vergonha? O Estado que o senhor governa confina seres humanos em masmorras onde fezes e urina escorrem pelas paredes, onde dezenas de pessoas se amontoam em cubículos do tamanho de um banheiro, mal havendo lugar para dormir no chão, onde a sífilis, a hepatite e a aids são disseminadas através do estupro, onde homens convivem com ratazanas maiores do que gatos, onde a comida é preparada em meio à imundície.


Essas pessoas, quando o Estado as mete em tais calabouços, ao mesmo tempo em que as pune por algum ilícito, esse Estado torna-se responsável por elas. Elas estão sob a tutela do Estado. É do Estado, ou seja, do governador e de todos nós, cidadãos, a responsabilidade de alimentar, abrigar e cuidar dessas pessoas. Se o Estado não tem condições de tratá-las com dignidade, não pode assumir esse encargo. Não pode puni-las. Pelo menos, não com a reclusão.

Tempos atrás, surgiu a proposta de privatização dos presídios. Houve todo tipo de argumentos humanitários contra a ideia. Seriam bons argumentos, se os gestores do sistema, entre eles o governador, sentissem vergonha pelo que é perpetrado contra esses homens. Se, movidos por essa vergonha, os gestores do sistema agissem com urgência para impedir que o Estado continuasse a supliciar homens sob sua tutela. Como ninguém sente vergonha, nem age, o Estado tem a obrigação de desistir da tarefa e entregá-la para quem possa cumpri-la a contento.

Sinto vergonha pelo que é cometido contra esses homens no meu lugar, o Rio Grande do Sul, e no meu tempo, o século 21. Mas isso não me absolve. Não absolve a nenhum de nós.

Nesta mesma semana em que o Brasil inteiro ficou ciente do que o Rio Grande do Sul faz com os homens que estão sob sua responsabilidade, um pitbull foi morto a tiro pelo segurança de uma universidade. O caso fez o Rio Grande se levantar como se fosse um só homem. Estudantes organizaram um protesto na universidade contra o segurança, uma passeata está prevista para ocorrer nos próximos dias, ouvintes de rádio, telespectadores de TV e leitores de jornal se manifestaram em espaços interativos, defensores do cão e do homem se bateram munidos de argumentos furiosos. Leio, também, que em Pelotas um cachorro acidentado mobilizou a comunidade, que ele recebe 30 visitas por dia no hospital e que se alimenta com filé.

E os milhares de homens martirizados do Presídio Central? Ninguém se importa com eles? Onde está a solidariedade da espécie? Há manifestações ruidosas a favor até das bicicletas, mas ninguém sai às ruas para protestar contra um Estado que mantém seres humanos vivendo em meio aos excrementos, dormindo na pedra dura, comendo lixo e sendo currados todos os dias. Não sentimos vergonha por isso. Isso ocorre aqui, no Rio Grande do Sul, não no Afeganistão; isso ocorre hoje, em 2012, não na Idade Média. Não se pode aceitar isso, governador. É preciso que se faça algo já. Se não porque é o certo a fazer, pelo menos porque temos vergonha.

sábado, 14 de abril de 2012

2037: que Brasil será o seu?

O primeiro passo para projetarmos o futuro que queremos com precisão é conhecer o nosso ponto de partida. Brasil, abril de 2012. Que país é este? Alguns índices aproximados chamam bastante atenção do país que tem em sua bandeira como lema nacional “Ordem e Progresso”. Trata-se da sexta economia do mundo. No Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), está ranqueado na posição 84. No item qualidade da infraestrutura, posição 104. No que tange à educação, prioridade para qualquer país que pretende alavancar a sua nação, já que é capaz de influenciar positivamente a todos os outros aspectos de um sistema político econômico e social, o que temos? Somos o 115º colocado na qualidade do sistema educacional. Impossível não mencionar o tema que nos deprime e nos tira um pouco de energia todos os dias com novidades na mídia: a corrupção. Estamos na posição 73 no índice de percepção da corrupção e isso nos custa aproximadamente R$ 82 bilhões por ano. Para finalizar essa breve apresentação deste país chamado Brasil: temos 16 milhões de pessoas na miséria.

Esta é a nossa realidade. Nossos planos? Para os próximos quatro anos, vale citar um “só”: gastar R$ 70 bilhões com eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Literalmente, planejamento não é a nossa palavra de ordem.

Quando é que vamos fazer valer, na prática, o conceito de insanidade que Einstein nos ensinou? “Insanidade é fazer as mesmas coisas, esperando resultados diferentes”. Temos muito capital humano qualificado no Brasil capaz de fazer coisas diferentes para que tenhamos resultados diferentes. Afinal, temos a maior taxa de empreendedorismo entre as 20 nações mais ricas do planeta, e em contrapartida, um dos piores ambientes no mundo pra fazer negócio. Leia-se: guerreiro esse povo é. Mas ainda nos faltam grandes doses de atitude. Atitude de stakeholder desta empresa chamada Brasil. Aqui cabe parafrasear Martin Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. É por isso que o título desta 25ª edição do Fórum da Liberdade é propositivo e toca a todos nós. Tem que tocar. Ou siga confortável no papel de vítima, de fantoche.

Um dos maiores gurus da administração a nível mundial, Peter Drucker, é autor de uma frase bastante pertinente à temática deste Fórum: “O planejamento não diz respeito a decisões futuras, mas às implicações futuras de decisões presentes”. O que queremos e temos que decidir hoje para desfrutar em 2037? Qual será o seu Brasil? Traga suas ideias.


por Carolina Fuhrmeister (DIRETORA DO FÓRUM DA LIBERDADE)

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Rumo à asfixia tributária


Rodrigo Constantino

“Não há hoje no mundo outra economia emergente relevante com carga tributária tão alta quanto a do Brasil”. Eis a lúgubre constatação que o professor Rogério Furquim Werneck faz em seu artigo no jornal O Globo hoje. Werneck relata que, nos últimos 20 anos, a carta tributária saltou de 24% para 36% do PIB, e segue em alta. Para ele, trata-se da “crônica de uma asfixia anunciada”.

Tal expansão do setor público sobre a economia representa um enorme peso para a iniciativa privada, e acaba sufocando o crescimento da economia. Entretanto, o governo petista não dá sinais de que compreende tal relação entre causa e efeito, ou se entende, parece aplaudir. Conforme alerta o professor, o governo vinha apostando suas fichas na possibilidade de manter a arrecadação crescendo acima do PIB, “para que o gasto público pudesse continuar em rápida expansão, em consonância com seu projeto político”.

Entre inúmeros males que assolam este país, a hipertrofia estatal é o maior deles. Não é possível criar um ambiente favorável ao crescimento sustentável da economia quando o governo é um mastodonte obeso, com fome insaciável pelos recursos produzidos pela iniciativa privada. Sem a redução da carga tributária, que depende por sua vez da redução dos gastos públicos, o Brasil terá crescimento menor, com mais inflação.

Esta é a tendência, que já começa a mostrar sua cara após a fase de bonança insustentável. A indústria já acusou o golpe, mas outros setores também vão pelo mesmo caminho. É questão de tempo.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A diferença entre um estado benfeitor e um estado totalitário é uma questão de tempo


Viveremos agora sob a ditadura da abobrinha e da ginástica?


Por Reinaldo Azevedo


A tolerância anda em baixa.
É claro que eu não me orgulho de fumar. Dizem que faz mal, e eu acredito. Infelizmente, não faço apenas coisas que são boas pra mim. Lembro-me de Lucrécio, que vai citado de cabeça. Se alguém achar o literal, pode mandar: se a alma fosse imortal, não deploraria tanto o fato de, morrendo, dissolver-se. Não é aquilo em que acredito. Mas gosto dessa consciência da finitude.
Até parece que defendi soltar baforadas na cara de quem não fuma. Eu não. Sou um rapaz educado. Quero ter o direito de fumar onde nao incomode ninguém. Não é pedir tanto assim, convenham. Não quero é o estado enfiando o dedo no meu nariz dizendo: “Você não tem o direito de se matar”. Ele que vá se danar.
É igual a droga ou a dirigir alcoolizado? Não é. Quero fumar onde outros também fumem, de sorte que não possamos fazer mal nenhum a não ser a nós mesmos — se for essa a nossa escolha. De fato, não tenho paciência com drogados e bêbados. Mas não dou a mínima para o que as pessoas fazem com o seu nariz. Defendo é severa repressão ao tráfico: é uma questão social, política, de segurança pública. Só isso. Não se trata de uma escolha moral. Essa eu já fiz: não me drogo e não convivo com quem se droga. Por quê? Rejeito os valores que vêm junto com o “produto”. E se o mundo inteiro liberasse o consumo? Ora, eu estaria com Milton Friedman. Mas isso não vai acontecer. Naquela questão do ecstasy, que tanta polêmica rendeu aqui, a minha crítica foi política: o estado não tem de se meter nessa porcaria. Tem é de seguir a lei e reprimir traficantes.
Reitero: ditadura é fácil; democracia é que é difícil. E é evidente que o mais democrático, então, é permitir que os estabelecimentos definam suas políticas de acordo com a sua clientela. O sujeito quer fazer um bar ou restaurante onde o cigarro é terminantemente proibido? Excelente. Haverá um aviso na porta. Terá mercado. Que eu saiba, a maioria não fuma. Outro quer ficar com os fumantes ou os que não se importam com isso? Idem. Dêem-me uma boa razão para que não seja assim. “Ah, cigarro faz mal”. Tá bom. Bacon também. A poluição é péssima. Gordura trans entope as veias do coração. Ovo foi reabilitado, mas já matou.
Viveremos agora sob a ditadura da abobrinha e da ginástica?
Aí me diz alguém: “Você acha que é livre fumando, mas você é um doente porque é viciado”. Sou? Não quero que me tolerem por isso. Mas ninguém pode me impedir, então, de me reunir com outros doentes, os meus semelhantes. Há um quê de guerra santa nessa história. Acho absolutamente legítimo que as pessoas combatam o cigarro e não queiram nem mesmo ficar na presença de um fumante. Mas daí a partir para uma política de segregação e demonização do outro? Não dá. Quanto tempo demorará para que passemos a olhar os gordos com desconfiança, na certeza de que são incapazes de controlar a gula?
É verdade. Dante reservou um círculo no Inferno para os obsessivos. É uma grande referência literária. Mas não serviria como modelo de democracia, acho eu.
Na minha casa, só fumo no meu escritório, com as janelas abertas e a porta fechada. Minhas filhas detestam cigarro e fazem uma verdadeira campanha para que eu pare de fumar. E eu faço campanha para que elas conjuguem o futuro do subjuntivo de verbos irregulares — e cobrarei um dia todas as orações subordinadas adverbiais. A vida é assim: não sou exemplo perfeito a ser seguido nem por elas. Saberão fazer as suas escolhas — e eu sou apenas uma das influências. Não estou brincando de Papai Sabe Tudo, Papai Perfeição, que nunca “tivesse levado porrada”, “campeão em tudo”. Também eu terei sido, quem sabe?, “tantas vezes reles, tantas vezes vil, tantas vezes irrespondivelmente parasita”…
Há nessa história toda, meus caros, uma certa ilusão, que me parece regressiva, totalitária mesmo, de criar um ser humano sem defeitos, sem máculas, todo feito de bons propósitos, de bom sentimentos, de hábitos saudáveis — no fundo, uma negação da nossa humana precariedade.
Não quero soltar fumaça na cara de ninguém. Mas não tentem fazer da política de saúde o redutor único da vida em sociedade. Como é mesmo? “A diferença entre um estado benfeitor e um estado totalitário é uma questão de tempo” (Ayn Rand)