Mulheres em posições de poder não gostam de mulheres atraentes em volta.
Por João Pereira Coutinho (Folha.com)Preconceito meu? Pensava que sim. Olhava para algumas amigas que ocupam lugares de destaque --em empresas, grupos de mídia, universidades. E pasmava com a ausência de outras mulheres nas proximidades.
Minto. As mulheres até existiam. Mas eram sempre invariavelmente feias ou absurdamente desinteressantes. Estaria a delirar?
Partilhei com as próprias as minhas impressões sobre o assunto. Recebi insultos mil: a minha suposta misoginia estava a ofuscar-me a razão, diziam elas, com imaculado espírito feminista. Competência era tudo que interessava. Elas, ao contrário dos homens, nunca se deixavam cegar pelas vacuidades da estética.
Pois bem: um estudo veio agora em meu socorro. Conta a revista "The Economist" que dois cientistas sociais israelenses resolveram fazer um teste sobre as vantagens, ou desvantagens, da beleza feminina no mundo laboral.
Eis o "modus operandi": pegaram em dois currículos com informações acadêmicas semelhantes. E enviaram os documentos para mais de 2500 ofertas de emprego. Por menor revelante: um dos currículos tinha a foto de uma mulher bonita; o outro seguiu sem foto.
Resultado? As mulheres bonitas têm uma desvantagem competitiva no mercado de trabalho e recebem menos entrevistas de emprego do que as restantes (sem foto).
Superficialmente, poderia pensar-se que a discriminação se exerce porque existe o preconceito, aliás, absurdo, de que beleza e inteligência não jogam na mesma equipe.
A razão da discriminação pode ser outra: ao analisarem também a composição dos departamentos de recursos humanos das empresas contratantes, onde é feita a triagem das candidatas, os pesquisadores chegaram à conclusão que 93% deles são compostos por mulheres.
Moral da história? Freud estava errado ao acreditar na "inveja do pênis", um conceito flácido (peço desculpa) e irremediavelmente datado. Se existe inveja nas mulheres, ela nasce entre vaginas.
O que não deixa de ser irônico: foram décadas de luta abnegada contra a opressão falocêntrica dos machos. Mas, no fim de contas, a opressão que existe e persiste mora no mesmo lado da barricada.
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