José Galló, presidente da Lojas Renner
É lógico que a gente se preocupa com o curto prazo, mas não construímos a Renner para o curto prazo. Estamos é preocupados com a companhia daqui a cinco, 10 anos. Vamos enfrentar a situação em 2012, talvez até um pouco mais séria no primeiro semestre e com recuperação mais adiante. Como a nossa diretriz é austera, extremamente controlada e com custos baixos, se vier uma situação desfavorável, estaremos preparados para qualquer ambiente.
Espaço para oportunidades
Com relação a aquisições, a gente não deixa de olhar as oportunidades, mas não estamos vendo nada tão significativo. O que tínhamos de fazer já fizemos neste ano com a compra da Camicado, líder no seu segmento. Nem somos tão pretensiosos. Na atual situação, nem bem uma crise porque o PIB (Produto Interno Bruto) crescerá 2,5%, certamente terá gente mais assustada e menos eficiente do que nós. Então, há boa oportunidade para ganhar mercado. E tem mais: a questão da concentração do varejo, muito pulverizado. Os cinco maiores players de moda têm 10% do mercado, enquanto os cinco maiores de supermercados contam com 42%. Há espaço para chegarmos a 20% ou 22%.
Governo gastador
O que vemos é um governo gastador, sem controlar as despesas. Isso, sim, é crise, aliás de gestão, terrível. A crise de gestão do Estado brasileiro é muito pior do que qualquer crise econômica. O Estado gasta muito e, pior de tudo, com baixa eficiência. Se você verificar qualquer análise da atividade governamental, a parte que fica para alimentar a máquina é enormemente desproporcional ao benefício. Pesando na pior hipótese em relação à carga tributária, que é deixá-la como está, se tivéssemos racionalidade de gestão, contaríamos com mais investimentos. Isso que nem estou falando na melhor hipótese: reforma tributária com o governo mudando o seu comportamento, ao usar melhor os recursos que são de todos nós. Sem falar na devida atenção que se deve dar à redução da informalidade.
Apenas com o encanto
Como a sociedade não aceita mais aumento de alíquotas, o governo precisará ampliar a base e, fazendo isso, muita gente não sobreviverá porque só vivia sonegando. Ou seja, essas vendas serão transferidas para o varejo formal, onde estamos e queremos crescer ainda mais. E como? Encantando o cliente, superando suas expectativas. Hoje, quem satisfaz consumidores sobrevive, mas quem encanta cresce. Se nossa coleção e nossas lojas estão iguais às do concorrente, não estamos encantando. Queremos o diferencial competitivo. E o varejo se diferencia na maior simplicidade: os famosos 4 P – produto, preço, propaganda e promoção e ponto de venda. Tudo isso com muito conhecimento de mercado, trabalho sério que requer paixão pelo que se faz.
Caldo horroroso
Acredito que a presidente Dilma está firme, faz mais até do que fala. Talvez eu esperasse um comportamento um pouco mais ágil em relação à corrupção, ou seja, evitar o desgaste de tantos dias nessas denúncias, porque isso pesa, mostra indecisão que, talvez, ela não tenha. Mas também entendo que enfrenta um processo terrível implantado no país: loteamento de cargos para apoio que fomentou a criação desnecessária de inúmeros partidos. Apesar desse caldo horroroso, ela está se saindo muito bem e, além disso, vem tendo de pagar contas atrasadas do gestor anterior. A partir de 2012, talvez comece a governar para valer, já que este ano foi o de acertar contas de gestão e limpar a área de corruptos. Aí veremos a Dilma operadora, a Dilma eficiente.
Nunca tivemos situação tão boa
O Brasil está ganhando reconhecimento no mundo, mas isso é complicado. Realmente, acredito que nós nunca estivemos em situação tão boa, diferenciada, que nos permite até ter poder de barganha e nos dá autoridade para alcançar maior participação no mercado internacional. Mas isso é autoridade econômica, e nós precisamos adquirir autoridade em educação, ética, em não aceitar a corrupção. Se não conseguirmos ser líderes e modelos nesses indicadores, também não poderemos ter uma liderança mais consistente e mais completa no mundo.
O bonde perdido
Com alto nível de endividamento, poucos investimentos e baixíssima margem de manobra, o nosso Estado perdeu o bonde da história quando a Ford não ficou aqui. Precisamos nos dar conta de que a saída da Ford não foi só o prejuízo de perdermos o investimento, mas a sinalização de que seu projeto na Bahia é a possibilidade de a indústria automobilística atuar fora do eixo Rio-São Paulo. Se a Ford tivesse ficado aqui, teríamos um polo automobilístico, de autopeças, de mão de obra especializada. Ou seja, a saída da Ford não foi apenas a perda de uma indústria automobilística, mas o desvio do foco, um dano irreparável. Agora, precisamos apostar tudo em novas vocações para o Estado, talvez tecnologia, informática. O Tecnopuc está aí e é um bom exemplo.
Avanços, apesar dos entraves
Mesmo com todo o dinheiro que tem vindo do Exterior, não resolvemos a inadequada infraestrutura brasileira, um freio incrível ao desenvolvimento. Isso sem falar que todo o dinheiro que vem de fora quer regras claras e estabilidade jurídica, com menor burocracia, vitais para esses projetos a longo prazo. Se não proporcionarmos isso, seremos prejudicados não só no volume de recursos, como na velocidade. Apesar de todo esse cenário, o Brasil é uma grande oportunidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário