sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Quero um cigarro (David Coimbra)


"Eu, um não fumante, vou me bater pelo tabaco. Porque não aguento mais essa histeria fiscalizatória-moralizante-reacionária-intolerante que se abateu sobre a pátria amada salve-salve"

Decidi que vou me tornar fumante. Nunca fumei na vida, sempre condenei o cigarro como péssimo para a saúde, e agora estou convencido a me tornar um propagandista da nicotina, do alcatrão e do Continental sem filtro. Vou repetir Freud, que, quando seu sobrinho Harry completou 17 anos, ofereceu-lhe um cigarro de presente de aniversário. O garoto recusou. Freud suspirou e lhe deu um conselho:

– Meu rapaz, fumar é um dos maiores e mais baratos prazeres da vida. E, se você decidir de antemão que não vai fumar, só posso lamentar por você.

Alguns podem argumentar que Freud morreu de câncer na boca exatamente por causa do fumo, e isso foi diagnosticado por seu grande amigo Fliess, que era otorrino. A esses responderei:

– Como vocês podem ter certeza disso? Há quem jamais tenha fumado e que ainda assim morra de câncer.

É isso. Eu, um não fumante, vou me bater pelo tabaco. Porque não aguento mais essa histeria fiscalizatória-moralizante-reacionária-intolerante que se abateu sobre a pátria amada salve-salve. Agora proibiram os fumódromos. Que mal havia no fumódromo? Deixem os fumantes em seus fumódromos! Essa história de fumante passivo. Vão me dizer que, se uma vez no dia, por um segundo, eu respirar a fumaça expelida por um fumante vou ficar doente? MENTIRA!

Às vezes, um coitado de um fumante está caminhando pela calçada sorvendo seu cigarro. Há muito espaço ali, há ar por toda parte. Bem. Ele sopra a fumaça, que, por acaso, acaba envolvendo um passante. Você já viu a reação do passante, sobretudo se o passante for mulher? Ela torce o nariz, ela abana o rosto com a mão espalmada, ela fica furiosa e às vezes xinga o fumante. Por Deus, dá vontade de prendê-la pelos ombros e expelir fumaça no nariz dela até que as células dos seus pulmões estejam enegrecidas e prestes a sofrer mutações malignas.

Mas, antes que você se junte aos seus amiguinhos politicamente corretos e faça um protesto antitabagista em frente ao jornal, aviso que não vou fazer nada disso. Apenas sinto-me bem dizendo isso para você, porque não suporto mais a sua vigilância. Eu posso fazer mal a mim mesmo se quiser, sim!, e você não tem nada com isso. Entendeu???

Tenho uma sugestão que vai satisfazer a todos vocês: lobotomia*. O cara comeu gordura, fritura ou carne vermelha, o cara bebeu algo que tenha teor alcoólico maior do que leite sem espuma, o cara fumou qualquer coisa que não seja cigarro de chocolate, o cara olhou para uma mulher, o cara não faz exercício físico três vezes por semana, o cara usa sacola plástica em vez de sacola de pano, o cara colocou o palito de picolé na lata de lixo orgânico, o cara atravessou a rua fora da faixa, o cara gosta de jogar carpeta a dinheiro, o cara vai a bingo, o cara não bebe três copos de água por dia, o cara não alonga, o cara não chora quando vê um animalzinho atropelado na estrada, o cara não aceita que a mulher mande nele, o cara não gosta de mulher de cabelo curto ou de rasteirinha, o cara não vai a psicanalista, o cara diz que pode beber dois copos de chope e ficar sóbrio, o cara não acha que a todo momento tem que expressar seus sentimentozinhos, LOBOTOMIZEM-NO! Pronto. Seus problemas estarão resolvidos. Será um alívio para todos nós.

*Em épocas antigas, a lobotomia era usada em pacientes com certos tipos de doenças mentais como forma de acalmá-los. 

Recomendo ainda ao leitor que chegou até aqui a leitura dos artigos:

É chegada a hora de pararmos de pensar que o povo deve ser tutelado pelo Estado

Coitado dos fumantes! A ofensiva politicamente correta contra o cigarro deve matar mais fumantes que o próprio cigarro.

Um comentário:

  1. Concordo.Nao fumo mas tô pensando em começar.Meu pai era fumante,minha mãe é,meu marido também.
    As pessoas que amo fumam!Deixem essa gente em paz!

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