Ô vida dura!
Escrevi ontem um texto, que circulou bastante por aí, demonstrando que o PT que salva Valdemar Costa Neto quer censurar Gisele Bündchen. Alguns leitores, mesmo contrários à censura, insistem, no entanto, que a propaganda discrimina as mulheres etc e tal. Eu não julgo intenções de ninguém. Limito-me àquilo que vejo. Uma peça publicitária em que Gisele, sendo quem é, aparece apenas como uma lourinha burra e submissa, que estoura o cartão de crédito do marido, está optando pelo humor, pela ironia; está afirmando uma coisa no texto e seu contrário no subtexto.
Caramba! O que está acontecendo com o país? Aonde vai nos levar a estupidez politicamente correta? Sim, é pretexto para vender calcinha e sutiã. E daí? Prefiro propaganda que vende produtos àquela que quer vender “valores”. Nada me deixa mais de bode do que essa turma que quer incutir bons sentimentos enquanto empurra sabonete, serviços bancários, creme anti-rugas (na grafia que ainda adoto). Não suporto aquela gente “consciente”, com cara de que viu a coisa. Gisele não! Moleca, marota, sensual. E ela até já confessou que faz xixi no chuveiro para economizar água… Viram só o que pode fazer certo ecologismo?
E sou obrigado a lembrar: aquilo é de mentirinha, viu, gente? Alguma mulher que me lê, a sério, botaria uma roupa sensual antes de dar uma má notícia ao marido? Tenham paciência! Se a propaganda fosse um texto em linguagem referencial, uma bula de comportamento, se ofensa houvesse, seria aos homens: por uma bela calcinha, os bobalhões aceitariam qualquer coisa. Nunca tive um amigo que desse tanta importância assim à lingerie. Ou melhor, tive um. Se pudesse, ele a usava…
Esse governo tem mais “ministras” do que qualquer outro. A questão é bastante explorada pelo marketing. Mais de uma vez se disse que isso é evidência da capacidade das mulheres — eu escolheria outras para as tarefas, mas isso tem a ver com questões políticas, ideológicas etc. Muito bem. Dado o marketing, verdadeiramente ofensiva, então, às mulheres é a presença das ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Maria do Rosário (Direitos Humanos) no lançamento do livro de José Dirceu, o chefe de quadrilha (segundo aponta a Procuradoria Geral da República). Mas notem ali a expressão que condiciona a minha afirmação: “Dado o marketing”… Eu não trabalho com essas categorias. Mulheres podem se sentir mais bem-representadas por homens e vice-versa. Essa também é uma questão cretina.
O ponto é outroA patrulha — a ideológica propriamente ou a do politicamente correto — é um mecanismo duplamente perverso. Em primeiro lugar, porque quer impor a censura em nome de valores superiores. Em segundo lugar, porque pretende selecionar os grupos sociais ou indivíduos que podem fazer ou falar certas coisas e os que não podem. Quando Lula afirmou que a cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, era um “pólo exportador de veados”, os patrulheiros fecharam o bico: “Ah, ele está brincando!” Imaginem essas palavras na boca de um dos políticos “da direita”.
Querem outro exemplo? Finalmente, voltou a ter uma novela às 21h, na Globo. Aquele coquetel insuportável de causas de Gilberto Braga, com o espírito sempre civilizador e catequético das esquerdas chiques, deu lugar a divertidas tiradas politicamente incorretas de Agnaldo Silva, que é um craque. Infelizmente, um autor heterossexual não poderia escrever “Fina Estampa” — ou, ao menos, não poderia criar a personagem “Crodoaldo”. Seria acusado de homofobia. Agnaldo, reitero, é muito bom no que faz. Não tenta posar de Proust de Ipanema ou do Leblon ou de reformador da suposta moral bronca do povo. Não se atrevem a “denunciá-lo” porque seria complicado demonstrar a sua… homofobia. Mas a irritação do sindicalismo gay com ele é grande. Ele é gay, mas não é do sindicato. E isso, para muita gente, é insuportável.
Digam-me cá: quando venderam ao eleitorado a então candidata Dilma como “mãe do povo”; quando ela mesma disse que saberia cuidar melhor do Brasil, porque mulheres lidam com o orçamento doméstico, e saiu por aí tentando fazer omeletes — coisa que ela visivelmente não sabia —, por que os patrulheiros de esquerda não acusaram aquela marquetagem de machista? Mas ai deste cronista “polêmico”, como fui definido outro dia, se, num acesso de irritação com Dilma, escrever: “Pô, vá fritar ovo!!!” Apareceria alguém para acusar: “Você jamais diria isso a um homem…” É possível! Mas nunca vi homem fritando ovo na televisão para provar que pode governar o Brasil.
Volto a Gisele e sua lingerie. A ministra Iriny Lopes deveria é se ocupar das meninas que se prostituem Brasil afora em vez de tentar estabelecer uma bula politicamente correta para a propaganda e, se pensarmos bem, para o comportamento dos casais na cama. Se uma mulher quer usar uma lingerie para dar um truque no seu homem, o que ela tem com isso? Se ele quer fingir que se deixou enganar, vai a Iriny se meter no meio do casal para dar um pito?
E ainda há o eventual efeito colateral e inesperado: sempre que lingerie for, de algum modo, a pauta, vai que Iriny tome de assalto a memória que temos de Gisele e a gente comece a pensar no cartunista Laerte… Aí o desastre será completo.
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