terça-feira, 23 de agosto de 2011

Aos “hipócritas do bem” digo: Dinheiro compra sim felicidade!



DIZEM QUE DINHEIRO não compra felicidade. Você pode sim se perder por dinheiro, mas isso não torna mais verdadeira essa negativa: dinheiro não compra felicidade. Ao contrário, e é por isso mesmo que você pode se perder por dinheiro: a infame afirmação “dinheiro compra felicidade” é quase sempre verdade. Volto a citar aquela frase do grande Nelson Rodrigues: “dinheiro só compra amor verdadeiro”. 

No mundo capitalista, dinheiro é o instrumento máximo de conhecimento do que é a experiência humana concreta. Se dinheiro não comprasse amor verdadeiro, estaríamos a salvo. Mas não estamos. O cinema está cheio de exemplos de como devemos resistir ao dinheiro. As novelas e as pedagogas das escolas também vendem lições morais contra o dinheiro como ferramenta da felicidade. Fazem-no por medo ou simples mau-caráter, porque todo mundo sabe que dinheiro compra felicidade. 

O pensador americano Henry Adams, no século XVIII, dizia que um professor é um empregado encarregado de contar mentiras às crianças e de velar as verdades aos adultos. Toda vez que um professor pensa que deve “formar” seus alunos acaba caindo na função descrita por Adams. Professores ajudam seus alunos, lançando mão do repertório cultural universal à disposição, a enfrentar a terrível condição humana: efemeridade, paixões, valores sem fundamento universal, medo, finitude, injustiças, fracassos. A triste verdade é que dinheiro compra sim felicidade. De modo mais banal, compra férias, qualidade de cotidiano, bons médicos, segurança, casas em ruas com árvores, escolas decentes, conversas mais doces, fi lhos mais saudáveis, momentos de sensibilidade sofisticada.

Dinheiro deixa as mães dos seus filhos sorridentes e generosas no sexo. É claro que existem exceções. Como dizem os darwinistas, o fato de que existam algumas poucas mulheres mais altas do que alguns homens não invalida estatisticamente a seguinte generalização: mulheres são mais fracas e menores do que os homens. Portanto, caro leitor e cara leitora, deixe de mentir: quantas vezes você já viu em sua vida que dinheiro comprou sua felicidade e emocionou sua família e seus amigos? Sucesso costumar ter o mesmo efeito.

Mas dirão os hipócritas (esse tipo de praga – os “hipócritas do bem” – que infectou a vida com o pensamento desde o “projeto social para um mundo melhor”), tentando invalidar a infame afirmação de que “dinheiro compra felicidade”: a felicidade que o dinheiro compra é vã. Verdade, devo dizer. Mas qual tipo de felicidade não é? A frase “um homem vale pelo que ele é e não pelo que ele tem” seria menos vã? Como você pode dizer exatamente como um homem é? Qual garantia você tem dessa constância do “ser” de um homem? Não é ele inconstante e muda a toda hora de humor e de intenção? O fato é que todos nós optamos por dizer mentiras construtivas porque elas tornam a vida mais leve como em toda atitude de autoajuda. Dinheiro pode melhorar o “ser” de uma pessoa, assim como falta de dinheiro pode piorá-lo. O contrário é verdadeiro (a falta de dinhei ro pode melhorar alguém), mas quem em sã consciência gostaria de testar essa hipótese contra si mesmo?

Sim, você pode ter muito dinheiro e ver que, ainda assim, a vida não tem sentido. Grande verdade, mas essencialmente chique; assim como você pode ter câncer ou tédio dentro de um BMW. Na maioria das vezes em que uma pessoa menospreza a contribuição do dinheiro para sua felicidade é porque não o tem. Todo mundo tem seu preço, menos os santos, e estes nós matamos e não queremos em nossas famílias porque tornam inviáveis os acordos sombrios que fazem a vida possível. A vida necessita de um certoqua nt um de corrupção, do contrário, torna-se irrespirável. Não digo isso com felicidade. O fato de a vida ser vã não invalida essa máxima infame. É justamente porque a vida é vã que a infâmia dessa máxima é verdadeira. Pena. 

Mas o sorriso de uma criança pode sim ser comprado, assim como o amor de uma mulher ou de um homem. A imperfeição da vida nos é insuportável, temos horror a ser animais do abismo, por isso buscamos utopias de perfeição como as que se encontram na mitologia.

LUIZ FELIPE PONDÉ ("Contra um mundo melhor")

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