Professor e cientista político não está contente com o desastre da educação pública básica brasileira e quer levar essa realidade também à nossa universidade pública. Olhem o que esse arauto da solidariedade diz: "Por que 30% de vagas para estudantes oriundos de escolas públicas? Por que não reservar 15% para estudantes provenientes de instituições privadas?"
Esse senhor acha que quem estuda em escola privada já tem privilégio demais. A estes (ou aos pais destes) resta apenas pagar a conta. Gente boa na universidade é coisa de imperialista, estadunidense, neoliberal, legal mesmo é criar uma legião de analfabetos de 3º grau. O desastre mesmo é saber que esse tipo de pensamento se faz maioria nas universidades públicas.
Por José Carlos Strurza
de Moraes*
As muitas polêmicas sobre as cotas sociais, raciais, de inclusão etc. estão servindo para que a sociedade possa discutir mais amplamente a questão da educação no Brasil. É uma possibilidade de aprofundarmos uma de nossas mais consensuais mazelas, mas que atinge desigualmente a população e, em regra, faz mal ao desenvolvimento de nosso país.
Segundo informações oficiais da Secretaria de
Educação do Rio Grande do Sul, com base no Censo Escolar da Educação Básica
2010 (MEC/Inep), 411.485 estudantes estavam matriculados em 2010 para o Ensino
Médio no Estado. Destes 43.912 (11,95%) em escolas privadas e 367.573 (88,05%)
em escolas públicas, predominantemente estaduais.
Com essa informação, e tendo em vista que a UFRGS
está em processo de reavaliação da política de cotas, após coincidente decisão
do Supremo Tribunal Federal, de que tal política é constitucional (não fere
direitos assegurados), gostaria que ponderássemos sobre a possibilidade de um
erro histórico cometido pela política de cotas. Um erro basilar. Qual seja: a
quem se destina tal política e a quais propósitos diz responder.
Sim, porque, na verdade, falamos de cotas (reserva
de vagas a ser ocupada por determinado público, mediante determinas condições)
que, no caso da UFRGS, significa reservar 30% das vagas a estudantes oriundos
de escolas públicas.
Por que 30% de vagas para estudantes oriundos de
escolas públicas? Por que não reservar 15% para estudantes provenientes de
instituições privadas?
Sim, seria mais lógico, justo e possibilitador de
oportunidades de ascensão social, uma proporção adequada com o número
percentual de disputantes. Afinal, se menos de 15% de estudantes oriundos de
escolas privadas têm assegurada a possibilidade de disputa de 70% das vagas,
estamos, apenas e novamente, reproduzindo e mantendo o status quo. Uma
injustiça!
No sistema atual, embora um avanço frente aos mais
de 90% antes destinados aos egressos do ensino privado, ou de escolas públicas
autorizadas a fazer seu ‘pré-vestibular’ de ingresso (selecionando os ‘mais
aptos’ a manter a ‘excelência’ da instituição), ainda se dá privilégio a uma
minoria da sociedade. Uma minoria, que por inúmeras razões, não precisa de
privilégios, pois já os têm. Não necessita ser ainda mais apoiada pelo dinheiro
público, mas também não pode ser discriminada e impedida de entrar na
universidade pública!
Assim, uma possibilidade para a UFRGS poderia ser
reservar um percentual de vagas, avaliável a cada período, para estudantes
oriundos do ensino privado. Claro, até termos uma sociedade em que tais
distinções não signifiquem privilégios desmedidos. Inclusive porque, muitos
estudantes oriundos de escolas públicas que não conseguem entrar na UFRGS
também não conseguem pagar uma faculdade particular. O inverso é, no mínimo,
raro.
*CIENTISTA SOCIAL E PROFESSOR
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