sábado, 29 de dezembro de 2012
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
‘A primeira vítima’, por Dora Kramer
“Direita” virou conceito de plantão para definir toda e qualquer opinião divergente. Quem não rende homenagens incondicionais ao PT é de “direita”. O Judiciário visto da perspectiva das condenações no Supremo Tribunal Federal tornou-se “conservador”
Por DORA KRAMER
No último fim de semana o PT realizou mais um de seus
muitos encontros para discutir as mesmas questões e chegar à conclusão de
sempre: é vítima de perseguição injusta e implacável por parte da “direita”
interessada em desestabilizar o governo e interromper o projeto do partido para
o Brasil.
Não se sabe ao certo o teor das discussões, porque o PT
desde que assumiu a Presidência da República deixou de fazer reuniões abertas
em que dirigentes e militantes costumavam dar raro exemplo de vigor partidário.
Junto com o discurso em prol da ética na política, era um diferencial e tanto.
Já o primeiro após a vitória de 2002 foi realizado em São
Paulo, a portas fechadas. Portanto, deles agora só se tem notícia por meio das
versões e da nota oficial.
Destas transpirou a velha cantilena conspiratória, para a
qual a única saída seria o tal do controle social da mídia “monopolista”.
Acrescenta, a propósito do julgamento do mensalão, outra
providência: uma reforma que “pegue” também o “Judiciário conservador”, sem a
qual não será possível “fazer o Brasil avançar”, nas palavras do presidente do
PT, Rui Falcão.
O Legislativo passa incólume das críticas do PT, ainda que
seja a instituição que hoje gera mais desconforto na sociedade e a que dá mais
motivos para ser criticada.
Não pelo partido no poder, cuja concepção de estabilidade
política não tem a ver com equilíbrio institucional. Ao contrário, a referência
é o grau de domínio que o partido exerce sobre esse ou aquele setor.
Por essa ótica, anda tudo certo no Parlamento, uma vez que
é subserviente ao Executivo aparelhado pelo partido. Em suma, a democracia vai
bem se tudo vai bem para o PT. O que agrada é democrático e o que desagrada é
golpe articulado pela “direita”. Pouco importa o fato de que parte dos setores
tradicionalmente assim identificados tenha se aliado ao governo Lula desde o
início, parte tenha aderido gradativamente e os restantes estejam totalmente
desarticulados.
“Direita” virou conceito de plantão para definir toda e
qualquer opinião divergente. Quem não rende homenagens incondicionais ao PT é
de “direita”. O Judiciário visto da perspectiva das condenações no Supremo
Tribunal Federal tornou-se “conservador”. Resultado de escolhas equivocadas de
Lula e Dilma Rousseff que não souberam construir um perfil “progressista” para
a Corte? Não, inclusive porque nenhuma das indicações foi criticada. Ao
contrário, quase todas ─ com destaque para Joaquim Barbosa ─ bastante
celebradas. Qual o problema, então? A independência dos magistrados, que
decepcionou o PT.
Ao constatar que não tinha ali ─ como não tem na imprensa
─ o domínio pretendido, o partido se faz de vítima. Fala da “mídia
monopolista”, mas persegue o monopólio. Da opinião.
Todas aquelas figuras do Parlamento que antigamente o PT
diria serem de “direita” e hoje andam de braços dados com o partido não são
objetos de reparo. Não porque tenham mudado seu modo da ação ou pensamento, mas
porque concordam (ou simulam concordância) e a vassalagem é o que define na
novilíngua o progressista.
A verdade do que está à vista de todos é a primeira
vítima. Assim na guerra como na tradução autoritária dos fatos.
EDUCAÇÃO REPETENTE
Ruim para o país, o descaso com o ensino é péssimo para a população, pois há uma relação evidente entre tempo de estudo e desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) per capita.
Editorial ZH (28.12.13)
Há pouco mais de quatro anos, num texto intitulado
“No limiar do século 21”, o sociólogo Hélio Jaguaribe ressaltava que, depois
da universalização do Ensino Fundamental, o desafio do país nessa área passava
a ser o de garantir uma melhora significativa na qualidade da educação de base.
Simultaneamente, ficava comprometido a aumentar também o nível e o acesso ao
Ensino Médio. Em plena segunda década do novo século, há avanços discretos em
relação a esses aspectos. O país, porém, mantém-se preso a padrões de ensino
típicos do século 19 e segue sem conhecer as competências necessárias para um
mercado de trabalho no qual o que conta é o conhecimento. Pior: além de
reduzida, a média de anos de estudo dos brasileiros, de maneira geral, está
associada a ensino de qualidade duvidosa, o que ajuda em muito a explicar os
baixos índices de produtividade dos trabalhadores brasileiros e a insatisfação
acentuada com os ganhos salariais. Essas, provavelmente, são as questões mais
desafiadoras para um país que pretende expandir sua economia e figurar no
ranking dos mais competitivos.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) dão uma ideia clara da distância que ainda separa o Brasil
de países adiantados. O mais preocupante deles é a média de apenas 7,3 anos de
estudos, indicando que uma parcela expressiva da população brasileira não tem
sequer o Ensino Fundamental completo. Entre os brasileiros que já estão no
mercado de trabalho, apenas 46,8% cursaram o Ensino Médio e uma parcela muito
menor – 12,5% – o Ensino Superior completo. Mesmo entre esses cidadãos
privilegiados com um período mais longo de presença em sala de aula, a situação
não é das mais favoráveis. O número reduzido de quem frequenta a pré-escola e a
falta de qualidade do ensino de maneira geral fazem com que apenas um pequeno
percentual, já na fase adulta, lide bem com as quatro operações no dia a dia e
consiga interpretar um simples texto. Como imaginar o país em condições de
competir com os que apostaram no conhecimento, numa situação dessas?
O Brasil deveria levar mais em conta os alertas de
especialistas de que a pouca atenção ao ensino está na origem de crises
econômicas como a registrada hoje em âmbito internacional ou de dificuldades de
aproveitar o seu potencial para se desenvolver. Ruim para o país, o descaso com
o ensino é péssimo para a população, pois há uma relação evidente entre tempo
de estudo e desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) per capita. Um ano a mais
de aprendizado já é suficiente para ampliar em 15% a renda de um profissional.
No caso de quem tem Ensino Superior completo, o impacto é estimado em 47%. Em
consequência, a diferença em relação ao ganho de quem tem apenas Ensino Médio
para quem foi além nos estudos alcança 167%, fator de peso para justificar a
importância de um curso superior.
Os avanços do terceiro grau, principalmente depois
da implantação de avaliações regulares, contrastam com os dos demais níveis de
ensino. A universidade evoluiu, a ponto de algumas instituições brasileiras
serem reconhecidas internacionalmente. Os universitários, como bem lembrou a
presidente Dilma Rousseff na sua mensagem de final de ano aos brasileiros, vêm
sendo contemplados com programas como o ProUni, que concede bolsas para
graduação, e o Ciência Sem Fronteiras, que já enviou 20 mil alunos para estudar
no Exterior. Apesar da universalização, porém, o ensino básico se fragilizou de
maneira preocupante. Uma das razões pode estar no fato de receber bem menos
recursos do que o Ensino Superior, com repercussões também sobre os ganhos e a
motivação dos professores.
O país subestimou o fato de que a educação básica,
para a qual o sociólogo Hélio Jaguaribe defende mais qualidade, é decisiva para
o aprendizado e para a formação de profissionais em todas as áreas. Há omissões
comprovadas da União, dos Estados e dos municípios, que transferem
responsabilidades uns aos outros quando o assunto é educação. O efeito danoso
disso tudo, que precisa ser atacado, é claro: crianças e adolescentes sem a
total compreensão do que estudam e, mais adiante, profissionais com formação
deficiente, incapazes de se realizar pessoalmente, de conquistar boa parcela
das vagas oferecidas pelo mercado e de contribuir para um país mais próspero e
mais justo.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
O ESTADO HIPERTROFIADO
É a apropriação compulsória das energias de quem empreende, cria, trabalha, arrisca e, no fim, vê boa parte de seus esforços consumida pela ganância de um Estado divorciado das demandas dos que o sustentam.
Série de editoriais da ZH aborda os principais
entraves estruturais, burocráticos e socioculturais ao crescimento econômico do
país. Abre com o Estado voraz, que suga a atividade produtiva e não devolve aos
cidadãos o que lhes confisca.
Um marcador instalado na sede da Associação
Comercial de São Paulo registra a cada segundo a movimentação de uma cifra que
atormenta o Brasil. O impostômetro, o painel que mede o tamanho da hipertrofia
do setor público, também com uma versão na internet, é a medição de tudo o que
se arrecada de tributos no país. Este era, por extenso, até ontem às 15h, o
valor que havia sido arrecadado por União, Estados e municípios este ano: um
trilhão, quatrocentos e oitenta e cinco bilhões e quinhentos e cinquenta
milhões de reais. Solta, sem confrontações, é uma cifra imensa, de difícil
avaliação.
Considere-se então, para efeito de raciocínio, que os governos se apoderam, anualmente, na forma de impostos, do equivalente a um terço de tudo o que se produz. É a apropriação compulsória das energias de quem empreende, cria, trabalha, arrisca e, no fim, vê boa parte de seus esforços consumida pela ganância de um Estado divorciado das demandas dos que o sustentam. Um dos mais altos índices de tributação do mundo, com 63 impostos e contribuições sumárias, abriga distorções que os governos apenas ampliam, independentemente da orientação política de quem chega ao poder. As estruturas estatais conspiram contra a produção e o trabalho em dois momentos – quando ultrapassam o que seria razoável para arrecadar e quando gastam de forma ineficiente o que tomaram da sociedade.
Em sentido inverso a todos os apelos para que a racionalidade chegue também à administração pública, os governantes continuam arrecadando e gastando em desacordo com os avanços que asseguram, pela capacidade de gestão e inovação, as conquistas do setor privado. Examine-se, por exemplo, o orçamento da União para o próximo ano, previsto em R$ 2,14 trilhões. A dívida federal e outras despesas financeiras ficam com praticamente metade da receita esperada. O Estado brasileiro chegou ao ponto de existir muito mais para rolar suas dívidas do que para investir e manter serviços. Do orçamento da União para 2013, os gastos com o funcionalismo e seus encargos ficam com quase 10%, e a previdência e assistência social, com 19,7%.
Há evidente exagero na afirmação, muito repetida, de que toda a estrutura federal é, em síntese, uma engrenagem com um fim em si mesma, que suga a atividade produtiva apenas para se manter em funcionamento. Mas é inegável a desproporção entre o que os governos recolhem das empresas e dos trabalhadores e o que devolvem à sociedade. O Estado precarizou-se como ente que deve assegurar serviços essenciais e manter atualizada a infraestrutura do país, sempre que possível em parcerias com a área privada. Saúde, educação e segurança – o tripé básico do que justifica a existência do setor público em qualquer lugar do mundo – enfrentam deficiências crônicas no Brasil. Há falhas na identificação de prioridades, na capacidade gerencial e no controle dos gastos.
A ineficiência é explicada por muitos fatores, entre os quais o empreguismo. De cada R$ 100 produzidos pela economia, em todos os setores, em torno de R$ 4 são consumidos pela União para pagar o funcionalismo ativo e inativo, de acordo com estudo da evolução da despesa de pessoal na relação com o PIB, publicado pelo jornal Valor Econômico, com base no orçamento federal. É muito dinheiro, em grande parte usado para sustentar os quadros de aliados, alojados em ocupações para as quais muitos nem estão preparados. São mais de 22 mil ocupantes de cargos de confiança em órgãos federais. Nos últimos cinco anos, o governo absorveu mais 4,5 mil nomes em suas repartições, todos como CCs, para contemplar negociações com partidos da base. Registre-se, como exceção, os cargos ocupados por quem de fato está habilitado. Sempre foi assim, e não só na atual administração. É assim também, como regra, em Estados e municípios.
A cultura do desperdício se reproduz, do poder central de Brasília às mais modestas prefeituras, numa prova de que o setor público sabe aperfeiçoar sua máquina de arrecadar, mas é ineficiente, burocrático e irresponsável na gestão de despesas, mesmo em setores sensíveis como a saúde. Não surpreende, portanto, que sucessivos governos tenham resistido a profissionalizar a administração e a reformar o sistema tributário. Prevalece a inércia da comodidade. No funcionalismo, mantêm-se as vagas que acomodam politicamente os afilhados. Na arrecadação, defende-se a todo custo um modelo centralizador, mantido às custas dos remendos dos incentivos tributários setoriais, para que não se mexa em nada.
Este governo gigante e precário somente será regenerado quando forem rompidas as cumplicidades políticas que dele dependem. É uma tarefa grandiosa, que em algum momento as lideranças – em todas as esferas de poder – terão de assumir. O Estado brasileiro, que em determinada época almejou a tarefa de concentrar a indução ao desenvolvimento, orientando de forma hegemônica os grandes rumos da economia, deve rever seu tamanho e retomar suas obrigações, ou continuará submetendo o país a uma ineficiência que gera não só desacertos, injustiças e exageros, mas também realimenta o compadrio e a corrupção.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Educação - A Mágica da Excelência!
A rede de escolas criadas pelo americano Mike Feinberg é um enfático exemplo de como crianças pobres podem ir longe quando estão imersas em ambientes dominados por bons mestres e onde a meritocracia é levada às últimas consequências.
Revista Veja – 19 de dezembro de 2012
Poucos na área da educação são capazes de reunir plateias tão entusiasmadas
como o americano Mike Feinberg, 44 anos – um especialista em relações
internacionais cuja opinião sobre o ensino é ouvida com atenção por autoridades
dos mais diversos matizes e nacionalidades. Feinberg está à frente de uma das
mais bem-sucedidas experiências recentes na sala de aula, as KIPP Schools –
conjunto de mais de uma centena de escolas de período integral fincadas em
áreas pobres de 20 estados americanos. A administração com um misto de dinheiro
público e privado (mas com verbas semelhantes às outras), elas mostram como é
possível forjar a excelência mesmo em ambientes tão desprovidos de estímulos.
Em recente passagem pelo Brasil, onde falou a especialistas no Instituto
Fernand Braudel, em São Paulo, Mike concedeu a seguinte entrevista a VEJA.
A escola é responsável Muitos
profissionais do ensino caem na tentação de empurrar a culpa dos fracassos para
as famílias alegando que elas não dão aos filhos os incentivos mais básicos.
Mas não é realista esperar grande protagonismo de pais que, frequentemente, não
têm tempo nem repertório intelectual para fazer mais do que já fazem. No lugar
de terceirizar responsabilidades, esses educadores devem encará-las: se o aluno
não evolui, eles precisam responder por isso. E um ambiente menos favorável não
pode servir de álibi para a incompetência.
A lição do esforço A maioria das
crianças pode se tornar eficiente em qualquer atividade à qual dedique tempo e
esforço. Se o objetivo é virar um ás do videogame, então devem se esmerar no
videogame. Agora, se a meta é alcançar um patamar elevado em leitura e
matemática, não há outro caminho se não ler, ler e ler e resolver exercícios. A
prática é fundamental. Não acredito que em um turno escolar curto demais seja
possível lidar com a complexidade de tantas áreas de conhecimento. Acaba
ficando tudo muito raso. Essa é uma clara desvantagem do Brasil em relação aos
países mais desenvolvidos, onde as crianças passam até o dobro do tempo em sala
de aula.
Quem merece avança O igualitarismo nas
escolas pode soar simpático, mas tem o efeito perverso de não estimular ninguém
a desprender-se da média. O esforço e o mérito do aluno não devem ser
escamoteados, mas, sim, enfatizados, para que ele e os outros saibam que esse é
o caminho acertado. Os professores que fazem sua classe progredir também
merecem ser destacados, recebendo não só mais dinheiro, mas ainda, e
principalmente, mais responsabilidades e desafios.
Uma visão empresarial Quando
os pais vão escolher a escola dos filhos, no lugar de priorizar uma
infraestrutura vistosa, deveriam, isso sim, saber quem é o diretor e como ele
age em prol do ensino. O diretor precisa ser, em certo sentido, como o gestor
de uma empresa. Ele deve incentivar os quadros mais talentosos e ter pulso para
se livrar dos menos eficazes. Demissão ainda é um tabu no meio educacional, mas
os bons diretores, mesmo quando esbarram na burocracia do ensino público,
encontram brechas para retirar de cena os que não funcionam.
O corporativismo contra a igualdade Os
sindicatos erram quando saem em defesa dos maus profissionais e não do bom
ensino. Acho curioso que existam mecanismos para impedir que os médicos e
advogados ruins atuem, mas não haja blindagem alguma contra os maus professores
que difundem uma educação de baixo nível. Esse pendor corporativista é um
incômodo obstáculo à qualidade.
Diversidade de cabeças Venho
do Tech for America, programa que coloca talentos de todas as áreas para dar
aulas. Essa diversidade faz um enorme bem à escola. Eu mesmo não me
especializei em educação, mas a sensação de que é possível impactar tanta gente
foi tão arrebatadora que nunca mais deixei esse meio. Sempre me perguntam:
“Qual é a fórmula mágica da KIPP Schools?”. A resposta é tão simples que parece
pueril. De um lado, reúno professores que dominam seu conteúdo e ensinam de
forma apaixonada; de outro, mantenho alunos imersos na escola em tempo
integral. Em países como África do Sul, México e Índia já existem escolas que
se baseiam nesses mesmos pilares, com sucesso. Por que não no Brasil?
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Empreendofobia: Dilma, nossos empreendedores entraram EM GREVE
Feliz demais com o texto que segue. Marcado como Top Post. Criei esse blog para expressar exatamente o que vai abaixo, um dos meus sentimentos empreendedores mais genuínos Quem é um pequeno e médio empreendedor sabe do que estou falando. Aproveite! Thiago
O que não passa pela cabeça de ninguém em Brasília, é que nossos empreendedores, inovadores, criadores, acabativos, inventores, angels, investidores, administradores, contadores, pequenos e médios empresários sem acesso a benesses do BNDES, estão lentamente desistindo, entrando em GREVE.
Estes grupos estão desistindo, cansados de serem abusados literalmente por economistas, jornalistas, sindicalistas, juízes de trabalho que acham que eles fazem o que fazem por serem "animais".
Por Stephen Kanitz
Dilma, Nossos Empreendedores Entraram EM GREVE!
Hoje, a grande discussão econômica em Brasília é porque com
juros baixos, incentivos fiscais, câmbio favorável, nossos empresários
gananciosos que são, não seguem os seus "espíritos animais", segundo
Keynes, e investem adoidados.
O que não passa pela cabeça de ninguém em Brasília, é
que nossos empreendedores, inovadores, criadores, acabativos, inventores,
angels, investidores, administradores, contadores, pequenos e médios
empresários sem acesso a benesses do BNDES, estão lentamente
desistindo, entrando em GREVE.
Esta possibilidade foi descrita por Ayn Rand, num livro de 1242
páginas que vendeu mais de 12 milhões de cópias no mundo inteiro, mais do que qualquer
outro livro de filosofia ou ética, onde ela descreve uma sociedade que se torna
disfuncional porque os empreendedores entraram em greve.
Graças a ela, isto nunca ocorreu nos Estados
Unidos, mas está ocorrendo no Brasil.
Estes grupos estão desistindo, cansados de serem
abusados literalmente por economistas, jornalistas,
sindicalistas, juízes de trabalho que acham que eles fazem o que
fazem por serem "animais".
Meu amigo Celso Ming, até pergunta porque "não saem do armário",
com todos estes incentivos macro-prudenciais, mostrando que homofobia e empreendofobia coexistem impunemente neste país.
Cansaram de serem demonizados, chamados de
"endinheirados", "burgueses", "capitalistas",
"insensíveis".
Cansados de pagarem uma carga tributária escravizante, agoraantecipadamente sob o eufemismo de
"substituição tributária".
Cansados de verem as contas de suas mães, esposas, e as
próprias, serem todas "penhoradas", por causas trabalhistas de suas
empresas, como se não pagassem salários por maldade, e não por dificuldade.
Graças a Ayn Rand, os Estados Unidos sempre respeitaram
o empreendedor.
Os jornais têm cadernos de "Business", o que significa "estar ocupado", e
não cadernos de "Economia", onde nunca se fala dos problemas de falta
de capital de giro, taxação do lucros reinvestidos, um absurdo, do custo
de capital, do conluio Banco Central = Bancos, enfim, dos problemas que afetam
as nossas empresas.
Em 1992, propus a Revista Exame, 42 indicadores como
"benchmarking", algo que seria útil para as empresas, e a resposta
foi a necessidade de reduzir custos, foi quando eu
desisti.
Portanto Dilma, achar que empreendedores são mulas que
correm na direção das cenouras que colocam na frente é um insulto a todos
os empreendedores, inovadores, criadores, acabativos, inventores, angels,
investidores, administradores, contadores, pequenos e médios empresários sem
acesso a benesses do BNDES deste país.
Steve Jobs não fez o que fez por
"espíritos animais". Trabalhou 5 anos por um salário de US$ 1,00
por ano.
Nem Eike Batista que sabe que jamais poderá gastar os seus
bilhões, como também sabem Warren Buffet e outros.
Achar que empreendedores, inovadores, criadores, acabativos,
inventores, angels, investidores, administradores, contadores, pequenos e
médios empresários sem acesso a benesses do BNDES são motivados exclusivamente
pelo lucro, é um atraso de vida.
Eles querem fazer algo na vida, querem ser úteis, querem
ter o prazer de ver pessoas comprarem seus produtos a um preço maior do que foi
produzido, quem diria, porque obviamente consumidores veem valor no que
compram.
Algo que aqueles que dão tudo de graça jamais terão certeza.
Dilma, comece a ler o meu artigo Administradores de Esquerda, meu derradeiro
artigo na Veja, e perceba quão afastada a Sra. está com alguns avanços da
administração.
Depois se cerque de empreendedores, inovadores, criadores,
acabativos, inventores, angels, investidores, administradores, contadores,
pequenos e médios empresários sem acesso a benesses do BNDES, e não destes
empresários que mamam nas tetas do governo.
São estes que a Sra. deveria ouvir, para o bem deste país.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Minsitro Mantega, que foi contrário ao Plano Real, que não acerta uma previsão do PIB, merece admiração ou demissão?
“Os arquitetos do real não pouparam sua imaginação para lançar velhas ideias com aparência de novas. (…) Chegaram ao ponto de reinventar os réis ou reais, uma nova moeda fantasiada do dólar e garantida por um lastro que não exerce nenhum papel prático, uma vez que o real não é conversível, a não ser o de dar a impressão de que o real vale tanto quanto a moeda norte-americana” (Ministro Mantega sobre o Plano Real em 1994)
Por Augusto Nunes
Assustado com a boa ideia da revista Economist, que
recomendou a Dilma Rousseff a imediata demissão do ministro da Fazenda, Guido
Mantega resolveu transformar em demonstração de amor à pátria a sequência de
previsões equivocadas sobre o PIB, o crescimento industrial ou qualquer outra
coisa supostamente calculável no mundo da economia. “Nunca vi ninguém ser
demitido por otimismo”, anda recitando o profeta que não acerta uma.
A folha corrida de Mantega informa que o estado de ânimo
oscila conforme as circunstâncias políticas, eleitorais e partidárias. Neste
momento, por exemplo, não convém ser pessimista. É por isso que o vidente de
araque faz o que pode para não admitir que a economia brasileira implora por
urgentes correções de rumo. Há 18 anos, com o PT na oposição, não convinha ser
otimista em relação às correções de rumo feitas pelo Plano Real. Foi por isso
que Mantega tentou provar que FHC havia pavimentado o caminho mais curto para o
abismo.
No artigo “As fantasias do real”,
publicado pela Folha de S. Paulo em
6 de julho de 1994, o economista companheiro comunicou à nação que o plano
teria vida breve. Mas provocaria estragos tão devastadores que o Brasil
demoraria algumas décadas para sair da UTI ─ se sobrevivesse ao desastre
concebido por Fernando Henrique Cardoso. Confira sete trechos do besteirol,
reproduzidos sem a remoção dos pontapés no bom português.
“Os arquitetos do real não
pouparam sua imaginação para lançar velhas ideias com aparência de novas. (…)
Chegaram ao ponto de reinventar os réis ou reais, uma nova moeda fantasiada do
dólar e garantida por um lastro que não exerce nenhum papel prático, uma vez
que o real não é conversível, a não ser o de dar a impressão de que o real vale
tanto quanto a moeda norte-americana”
“Todo esse barulho para quê?
Para vestir com roupagens sofisticadas e muitos truques de ilusão, mais um
ajuste tradicional, calcado no corte de gastos sociais, numa contração dos
salários, num congelamento do câmbio e outros ativos e, sobretudo, num forte
aperto monetário com taxas de juros estratosféricas”
“A parte mais imaginativa do
plano (…) revelou-se a mais perversa, porque passou a ideia de que os salários
estavam sendo perfeitamente indexados e resguardados da inflação. Quando, na
verdade, foram colocados em desvantagem (…) em relação a preços, tarifas e
vários outros custos e ainda perderam os reajustes automáticos que a lei
salarial lhes garantia”
“Os salários serão pagos em
real, (…) uma moeda desindexada e totalmente vulnerável a corrosão
inflacionária. (…) A regra de conversão dos salários pela média e dos preços,
tarifas e outros custos pelo pico, matou dois coelhos de uma só cajadada.
Reduziu preventivamente a demanda dos assalariados, que poderia aumentar com a
queda brusca da inflação e comprimiu os custos salariais, dando uma folga para
os preços”
“Vendeu-se a ideia de que o
plano não utilizou o congelamento, quando, na verdade, congelou o câmbio,
tarifas, alugueis e contratos. Só não congelou mesmo os preços e deixou os
salários no limbo de um semicongelamento, com o ônus de correr atrás do
prejuízo que será causado pela inflação do real”
“O real é um jogo de
aparências, que pode durar enquanto não ficar evidente que as contas do governo
não vão fechar por causa dos juros altos, que o mercado sozinho não é capaz de
conter os preços dos oligopólios sem uma coordenação das expectativas por parte
do governo, que os salários não manterão o poder aquisitivo por muito tempo,
que o real não vale tanto quanto o dólar”
“As remarcações preventivas dos
preços, junto com os congelamentos, permitirão uma inflação moderada em julho
e, talvez, uma ainda menor em agosto. (…) A questão é saber em quanto tempo o
grosso da população irá perceber que uma inflação moderada por si só,
acompanhada por um aperto monetário e recessão, não melhora sua situação, não
cria empregos e, na ausência de uma lei salarial e correções automáticas, pode
ser tão deletéria quanto uma inflação de 30% a 40% com indexação”
Mantega nunca pediu desculpas por não ter acertado uma
única vírgula do palavrório, desmoralizado pela vida real em poucas semanas. O
Real domou a inflação (que nunca mais voltaria a alcançar altitudes obscenas),
livrou a moeda brasileira do raquitismo crônico, estabilizou a economia e fixou
diretrizes que os governos seguintes mantiveram intocadas. Em julho passado, o
plano que a pitonisa de hospício condenou a morrer na infância completou 18
anos esbanjando saúde.
Quem vai mal das pernas é o ministro,
que já estaria desempregado se o PT não fosse um viveiro de economistas de alta
periculosidade. A animação provocada no país que pensa pela sensata sugestão daEconomist começou
a esvair-se quando circulou a lista de candidatos à sucessão. Sem um Mantega
por perto, Dilma Rousseff poderia chamar um Aloizio Mercadante para curar os
males da economia. O que está péssimo sempre pode ficar muito pior.
Seja qual for o prazo de validade do atual ministro da
Fazenda, não custa constatar que quem é invariavelmente contra quando é hora de
ser a favor, ou teimosamente a favor na hora de ser contra, não é pessimista
nem otimista: é oportunista, farsante, inepto ou idiota. Guido Mantega decerto
se enquadra numa dessas qualificações. Ou nas quatro.
Branca de Neve azeda
Luiz Felipe Pondé, Folha de SP
Fazer a cabeça das crianças sempre foi um dos pratos prediletos do fascismo.Agora, nem a Branca de Neve escapa, coitada, do ódio dos fascistas. O conjunto de "estudos" que se dedica a fazer a cabeça das crianças é parte do que podemos chamar de "oppression studies". Você não sabe o que é?
"Oppression studies" é uma
expressão usada pelo jornalista americano Billy O'Reilly, da Fox News, para se
referir às "ciências humanas engajadas no controle das mentes". Explico.
Reprovou um aluno? Opressão. É
preguiçoso? Não, a sociedade te oprimiu e fez você ficar assim. Um ladrão te assaltou? Ele é o oprimido, você o
opressor. Aliás, sobre isso, vale dizer que, com a
violência em São Paulo, devemos reescrever a famosa frase do Che: "Hay que
enfiar la faca em la cavera, pero sin perder la ternura jamás".
A frase dele, assinatura de camisetas revolucionárias, é: "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás". Essa camiseta é a verdadeira arma contra gente como ele. Os americanos deveriam afogar o Irã em Coca-Colas, Big Macs e pílulas anticoncepcionais para as iranianas transarem adoidado com seus amantes.
Convidou uma colega de trabalho para
jantar? Opressão! Você é um opressor por excelência,
deveria ter vergonha disso. Não é um
amante espiritual do Obama? Opressor! Come picanha? Opressor! Não
acha que a África é pobre por culpa sua? Opressor!
Suspeita de que o sistema de cotas vai destruir a universidade pública criando
um novo espaço de corrupção via reserva tribal de mercado e compra de diplomas
de escolas públicas? Se você suspeita disso, é um
opressor! Acha que uma pessoa deve ser julgada pelos seus méritos e não pelo
que o tataravô do vizinho fez? Opressor!
Anda de carro? Opressor! Ganhou dinheiro porque trabalha mais
do que os outros? Opressor!
Os "oppression studies"
sonham em fazer leis. Por exemplo, recentemente,
um comitê de gênero (isto é, o povo que diz que sexo não existe e que tudo é
uma "construção social", claro, opressora) desses países em que o
"mundo é perfeito" teve uma nova ideia. Esses caras
(ou seriam car@s?) querem proibir qualquer
propaganda ou programação infantil que reproduza imagens de mulher sendo mulher
e homem sendo homem. Não entendeu? É meio confuso mesmo. Vamos lá.
Imagine uma propaganda na qual existe
uma família. Segundo os especialistas em "oppression
studies", para a marca não ser opressora, a família não pode ser
heterossexual, porque se assim o for, o "espelho social" (a imagem
que a mídia reproduz de algo) fará os não heterossexuais se sentirem oprimidos.
O problema aqui não é que as pessoas devem ser isso ou aquilo (melhor esclarecer, se não eu viro objeto de estudo dos "oppression studies"), mas sim por qual razão esses cem car@s (não são muito mais do que isso), que não têm o que fazer na vida a não ser se meter na vida, na família e na escola dos outros, têm o direito de dizer o que meus filhos ou os seus devem ver na TV? Até quando vamos aturar essa invasão da vida alheia em nome dos "oppression studies"?
Contos de fadas como Branca de Neve,
Cinderela e Gata Borralheira são grandes objetos de atenção dos
"oppression studies". Claro, as
três são oprimidas, por isso gostam dos príncipes. Se fossem
livres, a Branca de Neve pegaria a Cinderela. Humm... não
seria uma má ideia....
Veja o lixo que ficou a releitura da
Branca de Neve no filme que tem a atriz da série "Crepúsculo", a bela
Kristen Stewart, como a Branca de Neve. Coitada...
A coitada tem que terminar sozinha
para sustentar sua posição de rainha "empoderada", apesar de amar o
caçador (passo essencial para libertar nossa heroína da opressão de amar alguém
da nobreza, o que seria ainda mais opressor).
Os "oppression studies", na
sua face feminista, revelam aqui o ridículo de sua intenção: fazer de toda
mulher uma mulher sem homem porque ela mesma é o homem. Todo mundo sabe que isto é a prova mais banal da
chamada inveja do falo da qual falam os freudianos. Fizeram da
pobre Branca de Neve uma futura rainha velha e sem homem. Ficará azeda como todas que envelhecem assim.
domingo, 16 de dezembro de 2012
‘Uma nota de três reais’, editorial do Estadão
Em resumo: o PT prega uma coisa e faz outra. Encontra, porém, uma justificativa para malfeitos, como a corrupção de parlamentares condenada pelo STF: tudo é parte da “missão histórica” de lutar pelos oprimidos. Assim, por se colocar do lado do Bem, o PT tem moral para cometer atos que só parecem condenáveis aos olhos do verdadeiro Mal: as elites opressoras e a burguesia egoísta.
Editorial Estadão
A cada nova manifestação oficial do PT a respeito da
situação política nacional fica mais evidente seu desapreço à verdade e à
coerência, das quais, desde sempre, o lulopetismo se autoproclama monopolista.
Não fugiram à regra as declarações do presidente nacional da legenda após a
reunião da Executiva nacional, na semana passada. Rui Falcão repetiu
basicamente as mesmas bravatas, as mesmas mistificações e as mesmas promessas
que o PT proclama há mais de 30 anos, sem mudar nada de essencial num discurso
que omite, é claro, o fato de que há pelo menos uma década, desde que chegou ao
governo da União, mudou essencialmente sua prática política. Em outras
palavras, o partido “dos trabalhadores”, que nasceu com o alardeado compromisso
de reformular profundamente um sistema político armado para beneficiar as
“elites”, aliou-se ao que há de pior no coronelismo brasileiro. Em nome da
“governabilidade” loteou a administração federal e arquitetou um atrevido plano
de compra do apoio dos “300 picaretas” do Congresso. Abriu espaço para seus
próprios picaretas atuarem livremente na tarefa de colocar o governo a serviço
de interesses privados. Em resumo: o PT prega uma coisa e faz outra.
Encontra, porém, uma justificativa para malfeitos, como a
corrupção de parlamentares condenada pelo STF: tudo é parte da “missão
histórica” de lutar pelos oprimidos. Assim, por se colocar do lado do Bem, o PT
tem moral para cometer atos que só parecem condenáveis aos olhos do verdadeiro
Mal: as elites opressoras e a burguesia egoísta. Aí vem Rui Falcão e protesta:
querem destruir o PT numa campanha que “estimula o preconceito contra a
política”. Como se o PT já não se tivesse encarregado de estimular vivamente o
preconceito contra a política, primeiro, ao descrevê-la como dominada por
“picaretas”; depois, já no poder, em vez de tentar acabar com os “picaretas”,
ao escolher o caminho mais fácil de pura e simplesmente suborná-los.
É claro que as falácias lulopetistas só prosperam porque
plantadas no campo fértil da ignorância e da desinformação. Assim, uma vez
denunciadas, parece mais impressionante do que elas o sentimento de progresso
material de um importante contingente de brasileiros antes mantidos à margem do
consumo. É inegável essa conquista social dos governos petistas e impõem-se, a
todos, o dever de lutar para ampliá-la. O que não se pode admitir é que o
mérito dessa e outras realizações seja usado como pretexto para elidir o enorme
demérito que significa atrelar o projeto de poder do PT à depreciação de
valores democráticos e verdadeiramente republicanos, como a independência da
representação popular (que não pode ser comprada); o respeito às prerrogativas
constitucionais dos poderes (que não podem ser contestadas conforme as
conveniências); e a impessoalidade da administração pública (que não pode ser
transformada em repasto de companheiros e companheiras e mero instrumento de
poder).
No exercício do poder, o lulopetismo aproveita-se
cinicamente do fato de a massa popular estar mais preocupada com o próprio
bolso do que com questões republicanas. É somente a partir de níveis mínimos de
educação, de informação e da consequente conscientização política que o simples
consumidor se transforma em cidadão capaz de ter o domínio de seu próprio
destino. Se a educação não encontra nos governos o nível mínimo de prioridade
que a verdadeira consciência democrática exige, pelo menos a informação precisa
continuar circulando. E é exatamente por essa razão – por temer os efeitos que,
mais cedo ou mais tarde, a informação sobre suas falácias e mistificações cale
na consciência dos brasileiros – que os petistas odeiam a imprensa livre e,
mais uma vez, proclamam a necessidade de “regulamentá-la”. De novo, dissimulam
sua verdadeira intenção: aplicar aqui, em maior ou menor grau, a censura
praticada pelo decrépito regime cubano, pelos regimes “bolivarianos” da
Venezuela, Equador e Bolívia e pelo regime sui generis da Argentina. Em resumo,
o discurso petista é falso como uma nota de três reais.
sábado, 15 de dezembro de 2012
Querem um Lula acima da lei? Não terão!
Ainda que Lula houvesse sido, de fato, o que Lula acredita ter sido; ainda que estivéssemos diante de um vulto inigualável da história por seus feitos sensacionais; ainda que fosse o nosso herói; ainda que fosse o fundador da nação brasileira… Ainda que tudo isso, eu lhes pergunto: ele teria o direito de transgredir as leis do estado democrático?
Por Reinaldo Azevedo
Sugiro que vocês prestem atenção a um aspecto
das declarações dos petistas e de lideranças políticas da base aliada — e até
da oposição — quando se referem ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e às
novas denúncias que envolvem o seu nome. Com variações de tom ou de
vocabulário, o sentido é um só: “Lula é um grande brasileiro, fez muito pelo
país, é preciso respeitar a sua obra etc. e tal”. O senador José Sarney
(PMDB-AP), como viram, foi além e declarou a sua inimputabilidade (afinal, Lula
já havia dito que Sarney não é “um homem comum”. José Eduardo Cardozo, ministro
da Justiça, achou que era pouco e resolveu carregar nos encômios: “Lula é um guerreiro, um lutador. A população
não vai deixar de reconhecer seu papel na história. Ele mudou a história do
país. O presidente Lula tem uma trajetória reconhecida pela grande maioria da
população. Foi o grande presidente da historia”.
Eu, hein… O parágrafo quase começa a salivar
por conta própria… “O grande presidente da história” quer dizer exatamente o
que está aí. Os outros teriam sido pequenos comparados a ele… É evidente que a
matéria é, para dizer pouco, controversa, e a prudência e o senso de ridículo
deveriam recomendar a Cardozo que fosse mais contido na salivação encomiástica.
Mas atenção, caros leitores! Não é nesse tipo
de controvérsia que pretendo entrar, até porque seria fácil, com leitura
parcial de dados, provar que Lula foi o melhor e o pior presidente que o Brasil
já teve. Dois números só para ilustrar — são dados técnicos: o Brasil nunca
teve tantos universitários: 6,37 milhões no fim de 2010 (é bem verdade que
14,7% estão na modalidade ensino a distância…). Vá lá. Cresceu bastante. Mas o
Brasil também nunca teve tantos universitários que não estão plenamente
alfabetizados. E eu estou falando em números percentuais: eram 21% em 2001;
saltaram para 34% em 2011. Isso significa 2,4 milhões daqueles 6 milhões. Em
2010, havia 2% de semianalfabetos na universidade; agora, são 4%: 255 mil
estudantes.
Mas não vou entrar agora nessa história de
“foi o melhor/foi o pior”. O objeto deste texto é outro. Ainda que Lula
houvesse sido, de fato, o que Lula acredita ter sido; ainda que estivéssemos
diante de um vulto inigualável da história por seus feitos sensacionais; ainda
que fosse o nosso herói; ainda que fosse o fundador da nação brasileira… Ainda
que tudo isso, eu lhes pergunto: ele teria o direito de transgredir as leis do
estado democrático? A ele deveria ser facultada a licença, por exemplo, para
instalar uma “amiga” no escritório da Presidência? Evita-se a todo custo que a
senhora Rosemary Noronha deponha no Congresso porque, anuncia-se, ela é
considerada instável emocionalmente. Sei. Mas não para ocupar aquele posto…
Para efeitos de raciocínio, dou de barato que
o Lula de verdade seja mesmo aquele que ele vê no espelho todos os dias; dou de
barato que, como quer José Eduardo Cardozo, não há nada que arroste com o
Gigante… Pergunto de novo: quem está pondo em causa a obra “do estadista”? Quem
está tentando minimizar os seus feitos? Eis aí uma falácia gigantesca. Dia
desses, numa entrevista, até Fernando Henrique Cardoso, antes de criticar as
lambanças do líder petista, resolveu reconhecer seus méritos.
O que dizer? Uma coisa não compensa outra. Uma
coisa não pode existir em relação transitiva com outra. Mais ainda: uma coisa
não pode perdoar a outra. Os supostos sucessos de Lula não podem e não devem
servir de licença para justificar eventuais desmandos. Um país que se deixasse
enredar por essa consideração estaria marchando para trás, não para a frente.
Lembrem-se de Helmut Kohl, que foi chanceler
da Alemanha por, atenção!, 16 anos: de 1982 a 1998. Tem no currículo nada menos
do que a unificação das duas Alemanhas, com todas as dificuldades inerentes ao
processo. Foi também o grande esteio da União Europeia. No fim de 1999,
descobriu-se um esquema de caixa dois na sua legenda, a CDU (Partido
Democrata-Cristão). Ele presidia o partido havia 25 anos. Renunciou. Não ficou
só nisso: a CDU cobrou que ele se desligasse da agremiação e renunciasse a seu
mandato no Parlamento. O homem da unificação das duas Alemanhas e um dos
principais arquitetos da UE retirou-se da vida pública. Ah, sim: o tal caixa
dois movimentou, no máximo, um milhão de euros. Como são modestos esses
alemães! Só os dois peculatos ocorridos no Banco do Brasil somam mais de… 28
milhões de euros. A corrupção nos países pobres é sempre muito maior do que a
do países ricos…
Não ocorreu a ninguém na Alemanha pedir
“respeito à obra do chanceler Kohl”. Não ocorreu a ninguém na Alemanha chama-lo
de “guerreiro”, embora ele o fosse. Não ocorreu a ninguém dizer que ele estava
acima da lei por causa de sua grande obra… É que, na Alemanha, ninguém é dono
de partido. O país que passou pelo nazismo (e parte dele pelo comunismo) e que
o venceu escolheu o caminho da democracia representativa.
O que quer nos dizer essa gente? Que a
impunidade e a inimputabilidade devem também integrar o grande legado de Lula?
O Brasil faz melhor se olhar o exemplo da Alemanha de 1999, não o da Alemanha
da década de 30 do século passado.
Nossos fascistas
Poucas democracias modernas no mundo teriam, por exemplo, um Getúlio Vargas na sua galeria de heróis, frequentemente lembrado nesses dias como aquele que sofreu um terrível golpe da direita etc. e tal. Seria o antecedente histórico de Lula… Claro, fala-se do Getúlio de 1954 (Emir Sader escreve “Getulho”…), mas não daquele entre 1937 e 1945, que prendeu, torturou, matou, mentiu, trapaceou, conspirou e flertou abertamente com o nazismo. E que mandou os comunistas para a vara. Graciliano Ramos que o diga… E o disse magnificamente em “Memórias do Cárcere”, obra de leitura obrigatória — dois volumes; aproveitem as férias.
Poucas democracias modernas no mundo teriam, por exemplo, um Getúlio Vargas na sua galeria de heróis, frequentemente lembrado nesses dias como aquele que sofreu um terrível golpe da direita etc. e tal. Seria o antecedente histórico de Lula… Claro, fala-se do Getúlio de 1954 (Emir Sader escreve “Getulho”…), mas não daquele entre 1937 e 1945, que prendeu, torturou, matou, mentiu, trapaceou, conspirou e flertou abertamente com o nazismo. E que mandou os comunistas para a vara. Graciliano Ramos que o diga… E o disse magnificamente em “Memórias do Cárcere”, obra de leitura obrigatória — dois volumes; aproveitem as férias.
É que as nossas cavalgaduras intelectuais veem
“Getulho” como o grande guerreiro contra um inimigo que sempre lhes pareceu bem
mais perigoso do que o nazismo: Uzestadozunidos!!!!
Getúlio permitiu que a judia Olga Benário
fosse extraditada, grávida, para a Alemanha (petistas, agora, deram para
comparar Dirceu a Olga; há certa diferença de coragem…). Fora da cadeia, ainda
combalido pelas torturas, Luiz Carlos Prestes subiu no mesmo palanque do seu
algoz e do algoz de sua mulher contra o inimigo comum: o imperialismo — ou,
dito de outro modo, a democracia! E certa canalhice intelectual louvou em
Prestes a sua objetividade…
Sim, no fim das contas é isto: os que
defendemos a democracia temos sempre de enfrentar a aliança objetiva entre os
fascistas de direita e os fascistas de esquerda.
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