Vem cá, ô meu chapa: como é que você faz, na sua casa, quando você gasta mais do que ganha? Você pede para uma tia rica pagar o seu cartão de crédito? Você pede dinheiro emprestado ao seu banqueiro? Assim, indefinidamente? E ele empresta, bonzinho que é, com juros camaradas?
Por Paulo Roberto de Almeida
Aos milhares de manifestantes -- OK,
milhares não dá, apenas dois ou três -- que saem às ruas de Atenas, de
Madri, de Roma, de Lisboa, protestando contra as políticas de austeridade, os
cortes de gastos, o aumento de impostos, enfim, as políticas recessivas e
ortodoxas -- exatamente aquelas políticas condenadas como insuficientes,
ineficazes, ou inadequadas, ou tudo isso ao mesmo tempo, por uma presidente que
adora dar lições aos outros governantes, como se estes gostassem de aplicar
voluntariamente essas políticas, como se eles fossem néscios, ingênuos ou
perversos --, a todos esses, ou a dois ou três, eu gostaria de perguntar o
seguinte:
Vem cá, ô meu chapa: como é que você faz, na sua
casa, quando você gasta mais do que ganha? Você pede para uma tia rica pagar o
seu cartão de crédito? Você pede dinheiro emprestado ao seu banqueiro? Assim,
indefinidamente? E ele empresta, bonzinho que é, com juros camaradas? Mas isso
por quanto tempo? Ou você vende as jóias e o casaco de pele de madame? Vende a
bicicleta das crianças? Vende o seu carro? Enfim, diminui o seu patrimônio para
continuar gastando? É isso mesmo, que você faz?
Assim, sem qualquer limite de valor ou de tempo?
Pois é, eu me pergunto o que essas pessoas esperam
do governo que elas não praticam consigo mesmo, em relação a seus próprios
ativos. Será que elas só sabem fazer contabilidade individual, ou familiar, mas
não social, coletiva, estatal?
Ou será que elas pensam que o governo possui uma
árvore de dinheiro, ou uma cornucópia, de onde jorra leite e mel
indefinidamente?
Elas acreditam em milagres, em viver acima dos
meios?
Será ingenuidade, ou estupidez, mesmo?
Enfim, não quero ofender ninguém, mas quando vejo
dezenas de milhares de pessoas nas ruas protestando contra políticas de
austeridade, eu me pergunto se elas se perguntaram, a si mesmas, ou aos seus
representantes políticos, de onde elas acham que sai o dinheiro para todas as
bondades do governo?
Quando elas fizerem o raciocínio completo, e
descobrirem que, cada vez que elas pedem aos políticos que lhes dêem um
"vale-isso" e mais um "vale-aquilo outro", os políticos
aceitam, alegremente, e depois vão buscar nos seus bolsos, e no caixa das
empresas, os recursos para fazerem essas bondades, quando elas conseguirem
completar o círculo do pensamento, acho que elas vão despertar, e parar de
pedir coisas ao governo e parar de manifestar também.
Tempo de trabalhar, e de não mais entregar o seu
dinheiro ao governo.
Pescaram?
Ou preciso desenhar, como diria o outro?
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