Ruim para o país, o descaso com o ensino é péssimo para a população, pois há uma relação evidente entre tempo de estudo e desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) per capita.
Editorial ZH (28.12.13)
Há pouco mais de quatro anos, num texto intitulado
“No limiar do século 21”, o sociólogo Hélio Jaguaribe ressaltava que, depois
da universalização do Ensino Fundamental, o desafio do país nessa área passava
a ser o de garantir uma melhora significativa na qualidade da educação de base.
Simultaneamente, ficava comprometido a aumentar também o nível e o acesso ao
Ensino Médio. Em plena segunda década do novo século, há avanços discretos em
relação a esses aspectos. O país, porém, mantém-se preso a padrões de ensino
típicos do século 19 e segue sem conhecer as competências necessárias para um
mercado de trabalho no qual o que conta é o conhecimento. Pior: além de
reduzida, a média de anos de estudo dos brasileiros, de maneira geral, está
associada a ensino de qualidade duvidosa, o que ajuda em muito a explicar os
baixos índices de produtividade dos trabalhadores brasileiros e a insatisfação
acentuada com os ganhos salariais. Essas, provavelmente, são as questões mais
desafiadoras para um país que pretende expandir sua economia e figurar no
ranking dos mais competitivos.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) dão uma ideia clara da distância que ainda separa o Brasil
de países adiantados. O mais preocupante deles é a média de apenas 7,3 anos de
estudos, indicando que uma parcela expressiva da população brasileira não tem
sequer o Ensino Fundamental completo. Entre os brasileiros que já estão no
mercado de trabalho, apenas 46,8% cursaram o Ensino Médio e uma parcela muito
menor – 12,5% – o Ensino Superior completo. Mesmo entre esses cidadãos
privilegiados com um período mais longo de presença em sala de aula, a situação
não é das mais favoráveis. O número reduzido de quem frequenta a pré-escola e a
falta de qualidade do ensino de maneira geral fazem com que apenas um pequeno
percentual, já na fase adulta, lide bem com as quatro operações no dia a dia e
consiga interpretar um simples texto. Como imaginar o país em condições de
competir com os que apostaram no conhecimento, numa situação dessas?
O Brasil deveria levar mais em conta os alertas de
especialistas de que a pouca atenção ao ensino está na origem de crises
econômicas como a registrada hoje em âmbito internacional ou de dificuldades de
aproveitar o seu potencial para se desenvolver. Ruim para o país, o descaso com
o ensino é péssimo para a população, pois há uma relação evidente entre tempo
de estudo e desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) per capita. Um ano a mais
de aprendizado já é suficiente para ampliar em 15% a renda de um profissional.
No caso de quem tem Ensino Superior completo, o impacto é estimado em 47%. Em
consequência, a diferença em relação ao ganho de quem tem apenas Ensino Médio
para quem foi além nos estudos alcança 167%, fator de peso para justificar a
importância de um curso superior.
Os avanços do terceiro grau, principalmente depois
da implantação de avaliações regulares, contrastam com os dos demais níveis de
ensino. A universidade evoluiu, a ponto de algumas instituições brasileiras
serem reconhecidas internacionalmente. Os universitários, como bem lembrou a
presidente Dilma Rousseff na sua mensagem de final de ano aos brasileiros, vêm
sendo contemplados com programas como o ProUni, que concede bolsas para
graduação, e o Ciência Sem Fronteiras, que já enviou 20 mil alunos para estudar
no Exterior. Apesar da universalização, porém, o ensino básico se fragilizou de
maneira preocupante. Uma das razões pode estar no fato de receber bem menos
recursos do que o Ensino Superior, com repercussões também sobre os ganhos e a
motivação dos professores.
O país subestimou o fato de que a educação básica,
para a qual o sociólogo Hélio Jaguaribe defende mais qualidade, é decisiva para
o aprendizado e para a formação de profissionais em todas as áreas. Há omissões
comprovadas da União, dos Estados e dos municípios, que transferem
responsabilidades uns aos outros quando o assunto é educação. O efeito danoso
disso tudo, que precisa ser atacado, é claro: crianças e adolescentes sem a
total compreensão do que estudam e, mais adiante, profissionais com formação
deficiente, incapazes de se realizar pessoalmente, de conquistar boa parcela
das vagas oferecidas pelo mercado e de contribuir para um país mais próspero e
mais justo.
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