E os politicamente corretos amam os clichês, que tornam o mundo
mais simples e os liberam da desagradável tarefa de pensar. A modernidade é
assim: esconda-se atrás de um bom slogan, e será um virtuoso.
Nem tudo está perdido. Se os bonzinhos começarem a admitir que
gastam o dinheiro que não têm, das duas uma: ou os povos vão à falência muito
bem informados, ou finalmente param de votar nesses Robin Hoods de circo.
Por Guilherme Fiuza (ÉPOCA – edição 757)
O negro venceu de novo. E o mundo dos bonzinhos se tornou um pouco
mais racista. A maioria das celebrações pela reeleição de Barack Obama nos
Estados Unidos destaca o segundo mandato de um negro na presidência do
principal país. Ou seja: os “progressistas” continuam exaltando Obama pela cor
da sua pele. Isso é racismo. A burrice politicamente correta conseguiu criar
mais uma pérola: os progressistas retrógrados.
Eles não enxergam bem por trás dos estereótipos. Mas se
enxergassem, continuariam gostando do que vêem. Por trás do estereótipo do
presidente negro está o governante bondoso, em mais uma camada dos clichês que
constituem Obama. E os politicamente corretos amam os clichês, que tornam o
mundo mais simples e os liberam da desagradável tarefa de pensar. A modernidade
é assim: esconda-se atrás de um bom slogan, e será um virtuoso.
Existe uma turma boa levando vida de herói desse jeito doce. O
consagrado economista Paul Krugman, por exemplo, gostou tanto de ser o
anti-Bush que não largou mais a vida fácil de alertar o mundo contra a maldade
dos republicanos, dos capitalistas selvagens, das elites poderosas. Virou quase
um José Dirceu de Princeton, um Luiz Inácio do “New York Times”. Nesse coro da
bondade estão outros conhecidos acadêmicos providenciais, como o Nobel Joseph
Stiglitz, sempre tirando da manga uma declaração que faça o populismo
esquerdista parecer profundo. Isto para não falar nos americanos que ganham a
vida sendo anti-americanos, como o teórico Noam Chomsky, e dos patrulheiros
“éticos” de Hollywood, como Oliver Stone, que chegam a façanhas como tentar
transformar Hugo Chávez em ídolo das Américas.
Obama é um produto desse lixão chique, desse aparato infernal de
boas intenções exibicionistas e inconsequentes. E qual é a solução dessa
esquerda festiva para os Estados Unidos (e também para a Europa)? Gastar
dinheiro. Torrar a grana do Estado, que não é de ninguém. Almoço grátis para
todos. No que foi reeleito, o presidente democrata já avisou que vai aumentar
os impostos “dos ricos”. Como é hipócrita, a esquerda. Lá vai ela de novo
enfiar a mão no bolso de quem produz, de quem poupa, de quem investe. E para
quê? Para alimentar a insaciável máquina da burocracia estatal, que promete um
bem-estar social inviável, e produz basicamente o bem-estar dela mesma – e da
consciência rasa dos “progressistas”.
O mundo, pelo visto, vai à falência com o sono tranquilo e um
sorriso nos lábios. O golpe demagógico dos populistas é um sucesso. Por onde
passa, Obama faz o seu discurso vazio, repleto de clichês de humanismo, mero
pretexto para suas caras e bocas ensaiadas com marqueteiros “modernos”. Um
completo canastrão, sem idéias nem liderança, aclamado não pelo que diz, mas
pelo que parece. O público não ouve uma palavra, só vê o estereótipo do símbolo
social, do redentor negro. Barack Obama é prêmio Nobel da paz. Nem é preciso
dizer mais nada.
Fez estrondoso sucesso um vídeo de Obama enxugando as lágrimas
durante a campanha. Reeleito, qual foi sua primeira declaração? “Eu amo a
Michelle”. Os brasileiros sabem bem o que é isso, com seu culto inesgotável ao
filho do Brasil e à mãe do PAC, ou da pátria, ou sabe-se lá de quem. Depois do
melodrama, o presidente democrata veio com a parte séria, anunciando a medida
que provém da única vocação concreta dos populistas: tomar dinheiro da
iniciativa privada. Bondosos do mundo inteiro aplaudem, sem entender por que os
países ricos estão cada vez mais perto da bancarrota.
Enquanto isso, no Brasil, o desorientado ministro da Fazenda, que
já inventou até uma equação ligando o PAC ao PIB (nem Paul Krugman engoliria
essa), admite ao país: o governo não vai cumprir a meta fiscal em 2012. Como se
sabe, Guido Mantega é um ministro de oposição, que critica as maldades do Banco
Central e dá presentinhos com o IPI dos carros e das geladeiras. Mas dessa vez
não deu para discordar das raposas monetárias: o superávit primário – que
segura a estabilidade econômica – já era.
Nem tudo está perdido. Se os bonzinhos começarem a admitir que
gastam o dinheiro que não têm, das duas uma: ou os povos vão à falência muito
bem informados, ou finalmente param de votar nesses Robin Hoods de circo.
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