Entre os
países que mais cobram impostos de seus cidadãos e empresas, o Brasil é o que
proporciona o pior retorno em serviços públicos e bem-estar aos contribuintes
dos recursos que arrecada. É o que mostra estudo do Instituto Brasileiro de
Planejamento Tributário (IBPT), que a partir de dados da Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Organização das Nações
Unidas (ONU) relativos a 2011, compara a carga tributária dos 30 países que
mais arrecadam impostos como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), com o
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
No ranking dos países mais eficientes em converter impostos em bem-estar a seus cidadãos, a Austrália aparece em primeiro lugar, seguida pelos Estados Unidos. O Brasil fica na lanterna, atrás de emergentes do Leste da Europa, como Eslovênia (17º) e República Tcheca (16º), e de vizinhos latino-americanos, como Uruguai (13º) e Argentina (21º).
De acordo
com o estudo, o cidadão brasileiro paga em média 30% de impostos diretos quando
faz compras no supermercado. Ou seja, de cada R$ 100 gastos, R$ 70 são
efetivamente para pagar os produtos e R$ 30 para os tributos. Além disso, o
contribuinte tem outras obrigações tributárias como IPTU, IPVA e Imposto de
Renda.
Em 2011, os
brasileiros pagaram R$ 1,5 trilhão em impostos, ou 36,02% do PIB (soma de bens
e serviços produzidos no país), o que significa a 12ª maior carga entre os 30
países.
— Não há
problema em pagar muito imposto se o cidadão tiver em troca serviços básicos,
como saúde, educação e segurança gratuitos e de boa qualidade. Não há por que
querer que o Brasil arrecade menos. Mas para onde vai esse R$ 1,5 trilhão? É
possível depender da educação e saúde públicas? — indaga João Eloi Olenike,
presidente do IBPT.
O
especialista em direito tributário Fernando Zilveti, professor da Fundação Getulio
Vargas de São Paulo (FGV-SP), considera que o grande problema brasileiro é o
excessivo gasto público, sobretudo por causa do tamanho das folhas de
pagamento, tanto nos municípios quanto nos estados e na federação.
— A
tributação tem de ser alta ou o Brasil não vai tirar o atraso do IDH. Mas nós
sofremos com um sério problema de gestão. As máquinas estão inchadas. E não há
políticas públicas para a educação, por exemplo. Há apenas o que chamamos de
orçamento vinculado, que obriga o investimento de 30% da arrecadação em
educação. Aí, constroem escola em vez de aplicar em capacitação profissional. É
um problema sério de gestão — critica.
Corrigir
esse gargalo, no entanto, é tarefa difícil e rende pouca popularidade, diz
Zilveti. Como a presidente Dilma Rousseff provavelmente buscará a reeleição,
pondera, vai demorar ainda para os brasileiros terem o retorno devido dos seus
impostos.
— Esse é um
problema gerado há muitos anos, há muitos mandatos presidenciais. A base da
eleição é sindical. Isso quer dizer que, quem demitir muito funcionário público
para desinchar as estruturas, ficará alguns bons anos sem se eleger —
acrescenta o especialista.
110 dias de
trabalho para pagar imposto
Um estudo do
Banco Mundial mostra que o brasileiro gasta anualmente 2.600 horas trabalhando
para pagar imposto. Isso é equivalente a 110 dias de trabalho, quase quatro
meses. Na Bolívia, trabalha-se 1.080 horas só para pagar as despesas com
tributos.
A pedagoga
Diva Ribeiro de Oliveira, de 59 anos, continua trabalhando para conseguir pagar
as contas, embora já receba aposentadoria. Ainda assim, o dinheiro é curto.
Pagar plano de saúde para a sua faixa etária, por exemplo, é impossível.
Depender do sistema público, diz ela, nem pensar.
— A
quantidade de imposto que eu pago é um absurdo. Meu salário é tributado na
fonte e, quando eu faço a declaração, volto a pagar. Como não tenho
dependentes, não consigo fazer deduções. O mesmo ocorre com meus gastos com a
saúde. Como faço check-up uma vez ao ano, não atinjo o teto da dedução. O
absurdo é pagar tantos impostos e não ter o retorno — comenta.
O economista
da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo, cita os países
nórdicos como exemplos de nações com carga tributária muito alta mas com os
maiores IDHs do mundo.
— Nesses
países, o contribuinte está garantido do berço ao túmulo. Só morre de fome quem
faz regime — brinca Solimeo.
A fim de
despertar a atenção da sociedade à quantidade excessiva de impostos pagos,
desde 2006 o IBPT e a ACSP trabalham para transformar em lei projeto que torna
obrigatório a discriminação de quanto em impostos o cidadão paga nas notas
fiscais de compras no varejo. O projeto é do ex-deputado federal Guilherme
Afif, hoje vice-governador de São Paulo pelo PSD.
— Esse é o
primeiro passo para despertar a consciência do cidadão sobre a necessidade da
reforma tributária. Não estou falando contra os impostos, mas saber quanto se
paga — disse Afif.
O projeto
foi aprovado semana passada na Câmara e aguarda a sanção da presidente Dilma.
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