domingo, 12 de fevereiro de 2012

O Brado Retumbante: um oásis no deserto do politicamente correto

O roteiro de O Brado Retumbante provoca a patacoada de uma parcela de políticos, artistas, militantes, acadêmicos e ongueiros que, por formação marxista, se arvoram portadores universais dos anseios populares.  Sedizentes vítimas do capitalismo e da ditadura, decidiram-se credores políticos e muitas vezes pecuniários da humanidade. Aparelham o Estado, e aparelham-se dele. De apartamento cinco estrelas, ar-condicionado ligado e carrão na garagem, cantam loas ao socialismo e dizem defender os pobres. Elogiam Cuba, criticam os Estados Unidos, flertam com Hugo Chávez e rançam contra empresários. Mas não resistem a um bom McDonald’s com Coca Cola para aliviar a tensão da jornada. São os suprassumos da contradição, mas expiram ares de sofisticação intelectual.


Já tinha escrito aqui sobre a série O Brado Retumbante. Gostei muito do que vi, pois como diz o artigo abaixo, é uma coisa pouco vista na TV em tempos do politicamente correto. A série meteu o dedo na ferida da politica brasileira.
Legal é que artigo abaixo salienta o mesmo aspecto que me chamou a atenção e que eu já tinha escrito aqui nesse blog, a ideologização da educação brasileira.

Vale a leitura...

Por Cleber Benvegnu

A Globo conseguiu a proeza de produzir uma minissérie que passa por cima da dominação cultural que vive e reina em nosso ambiente intelectual. É até inacreditável que a estejamos vendo, dado o grau de paixão – e cegueira – com que esse viés tomou conta de corações e mentes de quem decide na dramaturgia brasileira.

O roteiro de O Brado Retumbante provoca a patacoada de uma parcela de políticos, artistas, militantes, acadêmicos e ongueiros que, por formação marxista, se arvoram portadores universais dos anseios populares. Zomba de uma turma, cujo discurso ainda não saiu da Guerra Fria, que quer recontar a história do país e constranger a tudo e a todos em nome de suas escolhas ideológicas. Sedizentes vítimas do capitalismo e da ditadura, decidiram-se credores políticos e muitas vezes pecuniários da humanidade. Aparelham o Estado, e aparelham-se dele. De apartamento cinco estrelas, ar-condicionado ligado e carrão na garagem, cantam loas ao socialismo e dizem defender os pobres. Elogiam Cuba, criticam os Estados Unidos, flertam com Hugo Chávez e rançam contra empresários. Mas não resistem a um bom McDonald’s com Coca Cola para aliviar a tensão da jornada. São os suprassumos da contradição, mas expiram ares de sofisticação intelectual.

Numa das passagens da minissérie, a primeira-dama Antonia (Maria Fernanda Cândido) descobre armações no Ministério da Educação e fica indignada com o que chama de “pedagogia da ignorância”. Livros didáticos com viés ideológico estariam sendo distribuídos como verdade científica nas escolas. Ela se empenha e desvendar o caso e descobre que uma ex-colega, militante esquerdista, fatura milhões com o projeto, sendo que uma parte devolve ao partido.

Há uma cena em que Antonia abre o livro na tela de seu computador, cujo título é “A verdadeira história do povo brasileiro”. Ela lê o texto em voz alta e se revolta:

– Não é possível: Tiradentes, o mártir agrário da Inconfidência Mineira, foi um precursor do Movimento dos Sem Terra? Que é isso? A devastação de terras no Brasil começou no século XVI, com colonização portuguesa, capitalista e predatória? Meu Deus do céu! Pelo menos 10% do território nacional pertence aos descendentes dos quilombolas, vítimas e heróis da escravidão no Brasil... Paulo [presidente], estão distribuindo esse absurdo nas escolas! É a pedagogia da ignorância! [...] Crianças bombardeadas por discurso ideológico e fanático, você tem que fazer alguma coisa!”.

Noutra, ela vai ao encontro de sua ex-colega, autora dos livros através de um codinome, que mora num apartamento gigante, de frente para o mar. Seu nome é Neide. Alguns trechos da conversa, que começa pela primeira-dama:

– A verdadeira história do Brasil... Como você teve a cara de pau de escrever esse livro? [...] Você chama de livro didático, ensinando uma história do Brasil totalmente falsa, que só existe na sua cabeça panfletária, e defendendo a ideia de que não existe certo e errado na língua portuguesa?

– E não existe mesmo! Isso que vocês chamam de falar corretamente é só mais um instrumento de dominação das elites, é só um preconceito linguístico.

– Nem vem com essa ideologia de quinta, Neide, que eu sei muito bem o que está por trás de suas nobres intenções educativas.

– O poder te deixou com certezas demais, Antonia. A vida aqui afora é bem diferente da vida dos salões palacianos.

– Não seja hipócrita, que eu sei que sua vida é bem mais palaciana do que a minha, Neide. Eu sei onde você mora, eu vi seus carrões importados...

Os diálogos acima dão conta de uma linha absolutamente original na dramaturgia brasileira, pelo menos nas últimas décadas. Em primeiro lugar, por abordar política em horário nobre – tão mais dedicada às lutas de UFC ou ao futebol – e, além disso, por contrariar a lógica de um pensamento dominante.

O Brado Retumbante é uma obra escrita por Euclydes Marinho com a colaboração de Nelson Motta, Guilherme Fiuza e Denise Bandeira. A direção de núcleo é de Ricardo Waddington e a direção geral é de Gustavo Fernandez. A minissérie ainda tem mais alguns episódios, e vai ao ar de terça a sexta-feira. É logo depois do Big Brother Brasil.

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