Quando o PT fala em debater, na verdade, quase sempre já está cheio de convicções e quer mesmo fazer valer suas próprias vontades. A invocação de debate, portanto, é mera estratégia para empurrar sub-repticiamente suas teses. É como a água que alivia o caminho do sonífero garganta abaixo.
Muito já foi dito, durante os últimos dias, sobre a proposta petista de supostamente democratizar a mídia.
Minha opinião, no mérito, é muito clara: as fontes em que parte do PT se abastece sobre esses temas, mesmo nos dias atuais, não são as mais recomendáveis para uma democratização. Apontam para seu exato inverso.
E me poupo de colar os inúmeros exemplos de adoração à velha ditadura cubana ou à nova ditadura venezuelana por parte de alguns de seus próceres. Tanto num quanto noutro caso, os regimes meteram a mão na liberdade não apenas das empresas de comunicação, senão que também na do próprio público. O Estado-partido acabou dirigindo o que pode e o que não pode, o que é bom e o que é ruim, quem fala e quem não fala.
Aqui, porém, quero tratar um pouco mais dos métodos de comunicação, dos subterfúgios de linguagem, dos sofismas retóricos utilizados nessas ocasiões.
Para começar: sempre que o PT quer tratar um tema que pode entrar enviesado na garganta da compreensão social, ele começa falando de “debater”. É como comer pelas beiradas: “precisamos debater”, “temos que ampliar o debate”...
Que nada! Quando o PT fala em debater, na verdade, quase sempre já está cheio de convicções e quer mesmo fazer valer suas próprias vontades. A invocação de debate, portanto, é mera estratégia para empurrar sub-repticiamente suas teses. É como a água que alivia o caminho do sonífero garganta abaixo.
Há casos concretos a demonstrar isso. Na iniciativa do famigerado PNDH-3, o PT dizia não defender o aborto. Queria apenas o quê? O debate sobre o tema! Ah, tá... Mas fazia evoluir o caminho da descriminalização da prática. Agora, não quer o controle da mídia. De novo, quer só debater. Ah tá... Mas aprova um documento que propõe regular o setor.
Podem não ser todos os petistas favoráveis ao aborto e ao controle da mídia, para ficarmos nesses dois exemplos, mas é inegável que os tais congressos petistas despertam os sentimentos mais ortodoxos – e retrógrados – de um PT que já foi rejeitado pela sociedade, e que o próprio Lula já tentou deixar para trás. E que Dilma também parece querer distância.
É comum que esquerdistas se imaginem detentores do monopólio das vontades populares, do bem e do justo. Os iluminados. No ímpeto pelo igualitarismo, algo impossível à natureza humana, alguns ainda imaginam um mundo segundo o qual tudo transcorre conforme sua cartilha de igualdade. Repito: muitos já evoluíram, e é exatamente nessas linhas divisórias que se separam a esquerda de viés totalitário daquela democrática, relevante à própria democracia.
Outra estratégia retórica: para impor teses desse tipo, o PT sempre reveste seus documentos de um falso ar de rigor acadêmico e histórico. São palavras garbosas, frases que vão e que vêm, derivações literárias interessantes, mas nada além de um enredo que apenas disfarça a tese polêmica – e normalmente antipática – a ser defendida. Não chamam as coisas pelo nome.
Vejam esta frase do documento do último congresso: “Para o PT e para os movimentos sociais, a democratização dos meios de comunicação é tema relevante e um objetivo comum com os esforços de elaboração do governo Lula e os resultados da I Conferência Nacional de Comunicação, que evidenciou os grandes embates entre agentes políticos, econômicos e sociais de grande peso na sociedade brasileira. É urgente abrir o debate no Congresso Nacional sobre o marco regulador da comunicação social - ordenamento jurídico que amplie as possibilidades de livre expressão de pensamento e assegure o amplo acesso da população a todos os meios”.
Tradução: o congresso do PT defendeu o controle da mídia. Simples assim.
Por Cleber Benvegnú (setembro 2011)
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