Protestar contra os três dias de regime fechado para José Genoino é do jogo. Intimidar o Judiciário é delinquência política. A doença do petista é real; a construção do mártir é uma farsa.
Por Reinaldo Azevedo (folha de SP)
No Brasil, não há presos políticos,
mas políticos presos. A diferença entre uma coisa e outra é a que existe entre
a ditadura cubana, que o governo petista financia, e a democracia, que o
petismo difama. Se, no entanto, houvesse, a carcereira seria Dilma Rousseff.
Ela pode fazer o STF sair com a toga entre as pernas. Basta evocar o inciso 12
do artigo 84 da Constituição: "Compete privativamente ao presidente da
República (...) conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário,
dos órgãos instituídos em lei". Também vale para "presidentas".
Paulo Vannuchi, um devoto da
democracia à moda Carlos Marighella, comparou a condenação de José Dirceu à
extradição de Olga Benário. É? Foi o STF que autorizou o envio para a Alemanha
nazista de uma judia comunista. O fascistoide Getúlio Vargas, hoje herói das
esquerdas, poderia ter impedido o ato obsceno. Deu de ombros. Que Dilma não
cometa o mesmo erro e liberte a súcia de heróis. Ironia não tem nota de rodapé
--ou vira alfafa.
Está em curso um processo inédito de
satanização do Judiciário. A sanha difamatória, na semana em que se comemora o
Dia da Consciência Negra, não poupa nem a cor da pele de Joaquim Barbosa.
Racistas virtuosos acham que ele se comporta como um "negro de alma
branca". Lula lhe teria feito um favor, e ele não beija a mão de nhonhô...
Protestar contra os três dias de
regime fechado para José Genoino é do jogo. Intimidar o Judiciário é
delinquência política. A doença do petista é real; a construção do mártir é uma
farsa. No dia da prisão, ele recusou exame médico preventivo no IML. Era parte
da pantomima do falso herói trágico. Barbosa não cometeu uma só ilegalidade. A
gritaria é fruto da máquina de propaganda do PT, que se aproveita da ignorância
específica de jornalistas. Não são obrigados a saber tudo; o problema, em
certos casos, é a imodéstia...
Um dos bons fundamentos do
cristianismo é amar o pecador, não o pecado. Fiel à tradição das esquerdas, o
PT ama é o pecado mesmo. O pecador é só o executor da tarefa em nome da causa.
Leiam a peça "As Mãos Sujas", de Sartre, escrita antes de o autor se
tornar um comunista babão. É esquemática, mas vai ao cerne do surrealismo
socialista.
Alguns de nossos cronistas precisam
ler. Outros precisam ler Padre Vieira. No "Sermão do Bom Ladrão", ele
cita a descompostura que Alexandre Magno passou num pirata. O homem responde ao
Lula da Macedônia: "Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou
ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?" Vieira
emenda: "Assim é. (...) o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar
com muito, os Alexandres."
Na quarta, reportagem de Flávia
Foreque, no site da Folha,
foi ao ponto. Um grupo de deputados do PT visitou os varões de Plutarco na
Papuda. Parentes de presos sem pedigree ideológico começaram a xingar os
petistas: "Puxa-saco de ladrões!". A deputada Marina Sant'Anna
(PT-GO) quis dialogar. Sem sucesso. A mulher de um dos piratas resumiu:
"Qual é a diferença [entre presos do mensalão e os demais]? Só porque tem
nível superior, porque roubou do povo?" Vieira via diferença, sim. Os
bacanas são mais covardes.
Indulto já, presidente! Até porque,
entrando no 12º ano de governo e com mensaleiros em cana, o PT descobriu a
precariedade das prisões. Este ano vai terminar com uma queda de 34,2% no valor
destinado ao Plano Nacional de Apoio ao Sistema Prisional: R$ 238 milhões,
contra R$ 361,9 milhões em 2012. Nas cadeias, só havia piratas "pobres de
tão pretos e pretos de tão pobres". Agora há os Alexandres vermelhos, mas
não de vergonha.
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