A paixão e a engrenagem por Vinicius Motta
O braço esquerdo erguido, o punho cerrado. O
discurso da vítima, do líder perseguido pela elite, do preso político. Um
punhado de militantes mostra solidariedade às portas do cárcere. Entoa-se o
hino da Internacional Socialista. O PT publica nota de repúdio ao tribunal.
Pipocam, enfim, lances mais explícitos da
política como paixão no longo, e quase fleumático, processo do mensalão. E eles
não são lá grande coisa. As massas não acudiram às ruas para abraçar José
Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Estavam engarrafadas no feriadão.
A hipocrisia, dizia La Rochefoucauld, é uma
homenagem que o vício presta à virtude. Enquanto fazia acenos esporádicos aos
líderes caídos, o mandachuva petista, Luiz Inácio Lula da Silva, girava a
manivela da engrenagem recicladora.
As pedras de mó esmagaram não apenas algumas
das figuras fundadoras do PT. Lula também aproveitou o escândalo para diluir o
que restava de modernizante em seu partido. A substituta de Dirceu tornou-se
emblema do fim da oposição ao varguismo e, especialmente após a queda de
Palocci, à política econômica dirigista que marcou a ditadura militar sob
Geisel.
Para evitar o impeachment, Lula abriu os
braços a oligarcas e representantes do atraso no país. Sarney, Collor, Maluf e
Renan são hoje amigos do peito do ex-presidente petista. Eles estão soltos.
Dirceu e Genoino estão presos. Faz sentido.
Por isso, aguardam-se ansiosamente as palavras
prometidas por Lula da Silva acerca do mensalão. Vão confirmar a entrevista de
Paris, em 2005, quando jogou o PT aos leões a fim de preservar o mandato? Foram
as mais sinceras frases já pronunciadas por ele sobre o caso.
Queimaram-se, afinal, uns poucos fusíveis para
proteger a casa de máquinas. No reacender das luzes, Lula, enfim, enxergou o
seu lugar na velha política brasileira.
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