A ficha caiu: liberdade verdadeira é também econômica, bro. Se os
únicos empregos bons são os públicos então você não é livre. Se você
precisa mudar pra uma grande cidade como Sumpaulo pra ter serviços públicos
decentes, você não é livre. Se o preço que você paga por um
automóvel depende dos burocratas e não da competição das montadoras, esse preço
será um dos mais altos do mundo. Se o remédio que meu filho toma
depende da permissão do Estado, eu sou eterno refém da ANVISA
Por ROBERTO MOTTA (MEMBRO-FUNDADOR DO PARTIDO NOVO)
Vivemos tempos memoráveis. Manifestações,
Black Blocs, Marina e Eduardo. O verão chegando. A ação do Google
ultrapassando mil dólares.
Há exatos trinta anos vivíamos em
uma ditadura, Marina ainda era uma criança e Eduardo ainda vivia à sombra do
avô Miguel Arraes. A IBM
era o Google de então. Eu vendia adesivo do Henfil pela Anistia Ampla, Geral e
Irrestrita.
Sabíamos o que significava liberdade.
O voto direto, sem intermediários. Escrever, como eu fiz, uma carta
aos jornais protestando contra o resultado do Inquérito do Riocentro – e tremer
de medo quando a carta acabou publicada na coluna do Fernando Sabino – o mesmo
Sabino que escreveu “O Encontro Marcado”, falando de uma geração que poderia
ter sido a minha, perdida entre os dilemas da juventude e as questões dos anos
80: censura, repressão, desemprego, crime, falta de grana.
Como muitos outros fiz concurso
público e acabei na Petrobras, que seria meu porto seguro com via direta para
uma aposentadoria decente. Decepcionei-me.Houve um ano em que não tive nada para fazer; lia
jornais e estudava inglês no expediente (não existiam ainda PCs ou Internet, e
só havia um telefone – fixo – por departamento).
Vendi meu chevette de terceira mão
e fui atrás de um emprego no Banco Mundial, minha aventura maior. Enquanto
me descobria adulto em Washington DC eu descobri também a liberdade econômica. Desci
do jato da Pan Am, entrei no escritório da 1818 H Street e me emancipei. Tudo
era conveniente, fácil, barato.
No primeiro aniversário entrei em
uma concessionária e saí dirigindo um Honda Civic do ano (1990), com todos os
opcionais (menos teto solar), por $11.200 dólares,
financiados em 5 anos a 2% ao ano. Viajar, comer em restaurantes, comprar
roupas, livros e eletrônicos, mobiliar a casa – tudo ficou viável. Minha
academia carioca custava na época o equivalente a 150 dólares mensais; a de
Washington, muito melhor equipada, custava $40. Via
jovens recém-saídos da faculdade com bons empregos, carro do ano e casa própria
com aqueles gramados sem cerca que a gente via em filme e nos quais não
acreditava.
As plateleiras dos supermercados
tinham 300 tipos de sabão em pó, o leite era vendido em galões, as castanhas de
caju eram gigantes e baratas. Abundância, fartura, possibilidade de
escolha.
E o verdadeiro
American-way-of-life que só experimenta quem se joga na América real. Toqueville
que o diga. O lance
de escrever para o seu Senador, e ele responder. Os mutirões
de ajuda mútua, as neighborhood watches, as mães que ajudam a controlar o
transito na saída das escolas. O fato do IPTU de lá ir inteiro pra
educação. E a não-violência: Washington tem a fama de lugar violento nos EUA,
mas muita gente deixava a porta de casa destrancada para a faxineira entrar. Em
cinco anos nunca tive medo, nunca soube de algum conhecido vítima de crime. Vivi
sem sobressaltos.
E você podia morar onde
quisesse: em Tucson, no interior do Arizona; em Boulder, Colorado,
que é uma mistura de Búzios com Penedo; em Tamales, um entreposto de filme de
bangue-bangue rodeado de estâncias e varrida pelo vento do norte da Califórnia. Em
qualquer lugar tinha emprego e todas as conveniências da vida moderna. Just
go.
A ficha caiu: liberdade verdadeira
é também econômica, bro. Se os
únicos empregos bons são os públicos então você não é livre. Se você
precisa mudar pra uma grande cidade como Sumpaulo pra ter serviços públicos
decentes, você não é livre. Se o preço que você paga por um
automóvel depende dos burocratas e não da competição das montadoras, esse preço
será um dos mais altos do mundo. Se o remédio que meu filho toma
depende da permissão do Estado, eu sou eterno refém da ANVISA.
No Brasil nunca houve liberdade
econômica, nem das ditaduras nem nos períodos democráticos. Quase a metade do que ganhamos é confiscado para
financiar o estilo de vida da Nomenklatura brasileira, com seus camarões e
jatinhos da FAB. Somos escravos do Estado, trabalhamos para
alimentá-lo e dependemos de suas benesses para sobreviver. Moço,
por favor, carimba aqui ?
Nunca tivemos nada parecido com um
Google, uma Microsoft, um Warren Buffett. Nunca ganhamos um prêmio Nobel.
O que temos são as manifestações,
os Black Blocs, a Marina e o Eduardo.
As manifestações pedindo passagem
de graça, pedindo ônibus do governo. Para dependermos ainda mais do Estado.
Para pagarmos ainda mais impostos.
E a Marina e o Eduardo? Vamos dar uma olhada em um trecho do
manifesto do PSB, o partido deles:
Tradução: a Marina e o Eduardo
acham que tudo deve ser do Estado.
Vai lá, chama os Blac Bloc, bro.
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