Desde a chegada de d. João 6º, com suas caravelas e dinheiro estatal de sobra, uma parcela significativa dos cidadãos por aqui sonha em se encostar no Estado-nhonhô.(..) O que teria acontecido se Steve Jobs fosse brasileiro? Existiria a Apple? Desde os anos 80, a Lei de Informática (alterada, mas válida até hoje!) impede o fácil acesso a componentes eletrônicos. O lobby das empresas nacionais convenceu vários governos a proteger (sic) o país da invasão de tecnologia estrangeira.
Por Fernando Rodrigues (Folha de SP)
Dilma Rousseff colaborou anteontem à noite para
eternizar o debate reducionista que opõe a iniciativa privada ao Estado. Em novilíngua orwelliana, a petista foi à TV
afirmar que o leilão da concessão para explorar parte do petróleo da camada do
pré-sal "é bem diferente de privatização".
Essa privatofobia já rendeu efeitos eleitorais
positivos ao PT em 2006 e 2010. A dose deve
ser repetida em 2014: "O PT defende o Estado. A oposição
quer vender o país para os porcos capitalistas estrangeiros".
O debate é medíocre em si. Mas
há um substrato ainda pior. Ao estimular a aversão pelo que é privado, o
governo ajuda a perenizar um traço anômalo e atávico da nação brasileira. Desde a chegada de d. João 6º, com suas
caravelas e dinheiro estatal de sobra, uma parcela significativa dos cidadãos
por aqui sonha em se encostar no Estado-nhonhô.
O que teria acontecido se Steve Jobs fosse brasileiro? Existiria a Apple? Desde os anos 80, a Lei de
Informática (alterada, mas válida até hoje!) impede o fácil
acesso a componentes eletrônicos. O lobby das empresas nacionais convenceu
vários governos a proteger (sic) o país da invasão de tecnologia estrangeira.
Brasília sintetiza essa distopia à perfeição. Inaugurada há 53 anos para levar o
desenvolvimento ao interior do país, a cidade continua Estado-dependente. Uma pesquisa do Instituto FSB aponta que 70% dos
trabalhadores da capital federal acham que "a melhor alternativa para
melhorar de vida" é "passar em concurso público". Apenas 2% querem trabalhar em uma empresa
privada. Abrir o próprio negócio? Só 26%, possivelmente pensando em prestar
serviços para o governo.
Os brasilienses agem por instinto. O país desestimula o empreendedorismo. O dinheiro do pré-sal será insuficiente para
mudar tal mentalidade. Até porque, a cada leilão a
presidente irá à TV se referindo de maneira pejorativa a tudo o que é privado.
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