Blog de Guilherme Fiuza (ÉPOCA – edição 749)
O julgamento do mensalão está pondo a democracia em risco, porque está todo mundo vendo. O alerta do secretário de comunicação do PT, André Vargas, deputado pelo Paraná, é preocupante. Ele denuncia as transmissões ao vivo do Supremo Tribunal Federal como um perigo para as instituições, as pessoas e os partidos. De fato, esse negócio de ficar mostrando as coisas como elas são, na hora em que acontecem, ainda vai dar problema.
Tudo era muito melhor antes de Roberto Jefferson abrir a janela e deixar a luz entrar. Na penumbra, sem ninguém de fora ver nada, a democracia estava bem mais protegida. Os negócios patrióticos que corriam de lá para cá pelo valerioduto teriam prosperado, e certamente haveriam pulado da casa dos milhões para a dos bilhões. No que a TV mostrou e a imprensa publicou, aquele promissor projeto nacional escorreu pelo ralo. Um prejuízo incalculável.
André Vargas diz que o julgamento no STF virou “quase um Big Brother da Justiça”. Com a habilidade de comunicador que fatalmente tem um secretário de comunicação, ele está indicando que o que se passa na corte suprema do país é uma palhaçada. Sua imagem nos permite imaginar que, a qualquer momento, os juízes vão tirar suas capas e mergulhar de sunga na piscina, exibindo seus músculos, seus planos para a festinha de logo mais e suas intrigas para jogar o colega ao lado no paredão.
É uma sólida argumentação. Realmente, fora do circo, as palhaçadas só deveriam ocorrer entre quatro paredes. Sem transmissão ao vivo. A palhaçada da cúpula do PT com Marcos Valério, por exemplo, transferindo dinheiro do Estado para o partido, não tinha nada que vir a público. Era um assunto privado deles, ninguém tinha nada com isso. E o fato de a operação envolver dinheiro do povo não tinha o menor problema. Eles tinham sido eleitos por esse povo para fazer o que sabiam fazer. Estavam, portanto, cumprindo seu compromisso democrático. Tanto que depois disso foram eleitos novamente duas vezes para dirigir o país. Cada povo tem os palhaços que merece.
Só não fica bem, como alertou André Vargas, botar essas coisas na televisão. Se a família está jantando, por exemplo, a comida pode não cair bem. É um risco para a democracia e para o estômago dos brasileiros. Para que viver perigosamente?
Democratas deste Brasil grande, interrompam imediatamente a transmissão das sessões do Supremo. Detenham enquanto é tempo esse atentado às instituições e às pessoas de bem. Não é preciso tanta pressa para saber o que se passa no tribunal. Vamos deixar as coisas se acalmarem, a febre baixar e o povo se distrair com outra coisa. Papai Noel não demora, depois tem o Carnaval e aí começa a contagem regressiva para a Copa do Mundo no Brasil. Ninguém vai querer que este país sedie o maior evento do mundo com sua democracia em risco. Desliguem as câmeras no STF já!
Outro brasileiro que subiu o tom em defesa da democracia foi o senador Jorge Vianna, do PT do Acre. Jorge Vianna era um político moderado, equilibrado, conhecido pela sensatez. Mas tudo tem limite. Depois que o nome de Luiz Inácio da Silva começou a circular no Supremo, e que supostas declarações de Marcos Valério colocaram o ex-presidente no topo da palhaçada, o senador mansinho virou bicho. Assim como seu colega André Vargas, botou o dedo na ferida: isso é um golpe da elite preconceituosa.
Para os não-iniciados, é bom esclarecer: “elite”, no dicionário do PT, é um termo figurativo muito importante para os ladrões do bem, que os mantém na condição de milionários oprimidos. Eles têm o poder, mas “elite” são os outros.
É um conceito que funciona bem há bastante tempo, e em time que está ganhando não se mexe. A outra palavra-chave desse dicionário é “preconceito”. Luiz Inácio da Silva é o filho do Brasil, vítima da elite. Se você tiver preconceito contra a montagem de um governo quadrilheiro, esqueça. Você estará sempre sendo discriminatório contra o pobre homem bom. Não importa quantos valeriodutos atravessem a biografia dele.
Como já decretara o nosso Delúbio, o mensalão é um golpe da direita contra o governo popular. O que Jorge Vianna, André Vargas e grande elenco petista estão dizendo é: pelo amor de Deus, continuem acreditando nisso, senão estamos fritos.
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