A margem de lucro no Brasil é uma das menores no mundo, não é a margem que pesa. É a questão do custo. Há uma carga tributária muito forte, que para a importação é de 35%. O Imposto sobre Produtos Industrializados que inicialmente era 25%, passou para 55%. Existe ainda o PIS/Cofins, que chega a 11%, e são todos impostos sobre impostos.
Henning
Dornbusch Presidente da BMW no Brasil
Na onda de montadoras que anunciaram investimentos
para produzir automóveis localmente, atentas aos incentivos fiscais previstos
pelo novo regime automotivo brasileiro, a BMW decidiu colocar seus euros em
Santa Catarina.
Na segunda-feira passada, a multinacional alemã
confirmou a instalação de uma fábrica em Araquari, município vizinho ao polo
metalmecânico de Joinville (SC), investimento inicial de 200 milhões de euros
(cerca de R$ 525 milhões) e geração de mil empregos diretos.
Os primeiros modelos brasileiros da BMW X1 sairão
da linha de produção ao final de 2014. O projeto é a principal estratégia da
empresa para ampliar as vendas no Brasil de 12 mil para 30 mil carros ao ano em
médio prazo.
Nesta entrevista, o presidente da BMW no Brasil,
Henning Dornbusch, fala mais sobre o investimento e as perspectivas da
companhia no Brasil. O executivo estará em Porto Alegre na próxima
quarta-feira, no 21º Congresso de Marketing, promovido pela seção gaúcha da
Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB). Confira os
principais trechos de entrevista concedida ontem à tarde a ZH.
Zero Hora – O Brasil é visto pelas montadoras de
automóveis premium como uma boa alternativa de mercado?
Henning Dornbusch – O Brasil tem uma demanda
reprimida muito grande, existe um movimento de distribuição de renda para os
próximos anos. Também há mobilidade urbana individual ou coletiva muito baixa
no país, comparando com os países desenvolvidos. Além disso, o número de
habitantes por carro no Brasil ainda é muito elevado. E essa razão é maior
ainda no segmento premium, onde a BMW se insere. Estou falando de 1% ou 1,5% da
participação dessa categoria sobre o total no mercado. Se você analisa a Europa
e os Estados Unidos, isso chega a 25%.
ZH – Qual a avaliação da BMW sobre o regime
automotivo anunciado pelo governo brasileiro?
Dornbusch – O que está acontecendo agora é que o
governo está começando a alinhar os interesses de desenvolvimento do país à
qualidade das indústrias já existentes e aos novos entrantes. A China, a Índia
e a Rússia estão fazendo isso. O Brasil demorou muito tempo para desenvolver
uma política automotiva. O que nós tínhamos antes não era uma política
propriamente automotiva, mas regras bem antiquadas.
ZH – A matriz da montadora vê motivação protecionista
no aumento de tributação de carros com baixo conteúdo nacional?
Dornbusch – A questão é que o Brasil está começando
a definir estratégia de longo prazo visando a proteger o emprego e a indústria
local. É algo que já está ocorrendo em diversos países que têm maior potencial
de consumo nos próximos anos. Não vou dizer que é protecionista, mas é uma nova
política de desenvolvimento econômico baseado em regras que visam a incentivar
a disseminação de novas tecnologias.
ZH – O preço dos carros no Brasil é considerado,
inclusive por publicações internacionais – como a Forbes –, extremamente alto.
O que pesa no valor? As margens da indústria são maiores aqui?
Dornbusch – A margem de lucro no Brasil é uma das
menores no mundo, não é a margem que pesa. É a questão do custo. Há uma carga
tributária muito forte, que para a importação é de 35%. O Imposto sobre
Produtos Industrializados que inicialmente era 25%, passou para 55%. Existe
ainda o PIS/Cofins, que chega a 11%, e são todos impostos sobre impostos. Para
cobrir todos os custos de distribuição, alguns carros chegam a custar três
vezes mais no Brasil do que no Exterior.
ZH – Incentivos fiscais ainda são a principal arma
dos Estados para atrair grandes investimentos, como o anunciado pela BMW para
Araquari (SC)?
Dornbusch – O que vai acontecer cada vez mais é que
os incentivos fiscais vão se tornando um instrumento menor na decisão de
investimento de uma empresa. Até porque os incentivos fiscais podem ser
alterados antes do tempo. Nós não consideramos os incentivos fiscais como ponto
principal na decisão de uma fábrica. Nossa ideia é que o projeto tem de ser
viável sem renúncia fiscal, por que ela pode ser volátil.
ZH – O que pesou a favor de Santa Catarina para a
decisão do investimento?
Dornbusch – Foi relevante a questão portuária. Há
diversos portos em funcionamento no Estado e outros que podem ser adaptados ao
tipo de produção da BMW. Também levamos em conta a mão de obra qualificada e o
fato de não existir um setor automotivo constante em Santa Catarina, o que
motiva a BMW a ser pioneira nesse sentido, ajudar o Estado a desenvolver um
polo automotivo e fornecedores que conheçam melhor os nossos processos, sem
vícios de outras montadoras.
ZH – A BMW chegou a levar em conta a hipótese de se
instalar no Rio Grande do Sul?
Dornbusch – Vários Estados foram considerados como
investimento. O Rio Grande do Sul foi um deles. A questão é que todos eles
tiveram projetos interessantes, mas não vem ao caso dizer por que um ou outro
não foi escolhido.
ZH – Poderá haver compra de autopeças e serviços de
fornecedores do Rio Grande do Sul?
Dornbusch – Sim. Mas nosso departamento de compras
internacionais está mapeando os fornecedores agora, junto com a matriz na
Alemanha, e prefiro não antecipar informações.
Fonte: ZERO HORA
Nenhum comentário:
Postar um comentário