sábado, 27 de outubro de 2012

Carros chegam a custar três vezes mais no Brasil

A margem de lucro no Brasil é uma das menores no mundo, não é a margem que pesa. É a questão do custo. Há uma carga tributária muito forte, que para a importação é de 35%. O Imposto sobre Produtos Industrializados que inicialmente era 25%, passou para 55%. Existe ainda o PIS/Cofins, que chega a 11%, e são todos impostos sobre impostos.

Henning Dornbusch Presidente da BMW no Brasil

Na onda de montadoras que anunciaram investimentos para produzir automóveis localmente, atentas aos incentivos fiscais previstos pelo novo regime automotivo brasileiro, a BMW decidiu colocar seus euros em Santa Catarina.

Na segunda-feira passada, a multinacional alemã confirmou a instalação de uma fábrica em Araquari, município vizinho ao polo metalmecânico de Joinville (SC), investimento inicial de 200 milhões de euros (cerca de R$ 525 milhões) e geração de mil empregos diretos.

Os primeiros modelos brasileiros da BMW X1 sairão da linha de produção ao final de 2014. O projeto é a principal estratégia da empresa para ampliar as vendas no Brasil de 12 mil para 30 mil carros ao ano em médio prazo.

Nesta entrevista, o presidente da BMW no Brasil, Henning Dornbusch, fala mais sobre o investimento e as perspectivas da companhia no Brasil. O executivo estará em Porto Alegre na próxima quarta-feira, no 21º Congresso de Marketing, promovido pela seção gaúcha da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB). Confira os principais trechos de entrevista concedida ontem à tarde a ZH.

Zero Hora – O Brasil é visto pelas montadoras de automóveis premium como uma boa alternativa de mercado?

Henning Dornbusch – O Brasil tem uma demanda reprimida muito grande, existe um movimento de distribuição de renda para os próximos anos. Também há mobilidade urbana individual ou coletiva muito baixa no país, comparando com os países desenvolvidos. Além disso, o número de habitantes por carro no Brasil ainda é muito elevado. E essa razão é maior ainda no segmento premium, onde a BMW se insere. Estou falando de 1% ou 1,5% da participação dessa categoria sobre o total no mercado. Se você analisa a Europa e os Estados Unidos, isso chega a 25%.

ZH – Qual a avaliação da BMW sobre o regime automotivo anunciado pelo governo brasileiro?

Dornbusch – O que está acontecendo agora é que o governo está começando a alinhar os interesses de desenvolvimento do país à qualidade das indústrias já existentes e aos novos entrantes. A China, a Índia e a Rússia estão fazendo isso. O Brasil demorou muito tempo para desenvolver uma política automotiva. O que nós tínhamos antes não era uma política propriamente automotiva, mas regras bem antiquadas.

ZH – A matriz da montadora vê motivação protecionista no aumento de tributação de carros com baixo conteúdo nacional?

Dornbusch – A questão é que o Brasil está começando a definir estratégia de longo prazo visando a proteger o emprego e a indústria local. É algo que já está ocorrendo em diversos países que têm maior potencial de consumo nos próximos anos. Não vou dizer que é protecionista, mas é uma nova política de desenvolvimento econômico baseado em regras que visam a incentivar a disseminação de novas tecnologias.

ZH – O preço dos carros no Brasil é considerado, inclusive por publicações internacionais – como a Forbes –, extremamente alto. O que pesa no valor? As margens da indústria são maiores aqui?

Dornbusch – A margem de lucro no Brasil é uma das menores no mundo, não é a margem que pesa. É a questão do custo. Há uma carga tributária muito forte, que para a importação é de 35%. O Imposto sobre Produtos Industrializados que inicialmente era 25%, passou para 55%. Existe ainda o PIS/Cofins, que chega a 11%, e são todos impostos sobre impostos. Para cobrir todos os custos de distribuição, alguns carros chegam a custar três vezes mais no Brasil do que no Exterior.

ZH – Incentivos fiscais ainda são a principal arma dos Estados para atrair grandes investimentos, como o anunciado pela BMW para Araquari (SC)?

Dornbusch – O que vai acontecer cada vez mais é que os incentivos fiscais vão se tornando um instrumento menor na decisão de investimento de uma empresa. Até porque os incentivos fiscais podem ser alterados antes do tempo. Nós não consideramos os incentivos fiscais como ponto principal na decisão de uma fábrica. Nossa ideia é que o projeto tem de ser viável sem renúncia fiscal, por que ela pode ser volátil.

ZH – O que pesou a favor de Santa Catarina para a decisão do investimento?

Dornbusch – Foi relevante a questão portuária. Há diversos portos em funcionamento no Estado e outros que podem ser adaptados ao tipo de produção da BMW. Também levamos em conta a mão de obra qualificada e o fato de não existir um setor automotivo constante em Santa Catarina, o que motiva a BMW a ser pioneira nesse sentido, ajudar o Estado a desenvolver um polo automotivo e fornecedores que conheçam melhor os nossos processos, sem vícios de outras montadoras.

ZH – A BMW chegou a levar em conta a hipótese de se instalar no Rio Grande do Sul?

Dornbusch – Vários Estados foram considerados como investimento. O Rio Grande do Sul foi um deles. A questão é que todos eles tiveram projetos interessantes, mas não vem ao caso dizer por que um ou outro não foi escolhido.

ZH – Poderá haver compra de autopeças e serviços de fornecedores do Rio Grande do Sul?

Dornbusch – Sim. Mas nosso departamento de compras internacionais está mapeando os fornecedores agora, junto com a matriz na Alemanha, e prefiro não antecipar informações.

 Fonte: ZERO HORA

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