E a classe média deste país? Que não tem Bolsa alguma e muito menos perdão de dívidas? Que mal consegue pagar para comer e morar, com tantos impostos? Que amarga com salários estagnados há anos? Que precisa engolir que não há inflação mesmo tendo que a cada mês deixar um pouco mais do mesmo salário no mercado, no posto de combustíveis, na escola dos filhos? E os nossos empresários que não têm perdão de suas dívidas tendo que entregar os poucos bens para os famintos bancos?
Tenho acompanhado os noticiários dos últimos dias e, junto com a aflição de ver tudo secando no Rio Grande do Sul e tudo boiando no Sudeste, alguns questionamentos têm me incomodado.
Desde que me conheço por gente, isto é, há quase três décadas, acompanho os dramas da seca no Estado. Gado morrendo de fome e de sede, famílias tendo que ser abastecidas com caminhões-pipa, lavouras inteiras secando... Na última semana, ao ver o anúncio da presidente da liberação de novas linhas de crédito e prorrogação de dívidas aos produtores rurais, confesso que, ao contrário de muitos, fiquei mais uma vez indignada.
Antes que me julguem, ressalto que sou natural do Interior e sei das imensas dificuldades em sobreviver no campo atualmente. Os nossos agricultores merecem o nosso aplauso e todas as nossas homenagens. No entanto, é preciso que reconheçam que o campo precisa avançar. Sair do século passado e ingressar definitivamente no século 21. Isso inclui menos reclamações e lamúrias e mais ações.
Uma coisa é certa: a mãe natureza pede socorro e são cada vez mais inevitáveis as secas e as enchentes. O homem precisa incluir no seu vocabulário de uma vez por todas a palavra prevenção. No caso da seca, por que durante o inverno, quando as chuvas são constantes e regulares, a água não é estocada? Por que ainda os projetos de irrigação não saíram do papel? Por que a agricultura de precisão não chega e está tão distante das nossas lavouras?
No caso das chuvas no Sudeste, por que casas e mais casas desmoronam na época das chuvas? Por que todos os córregos entopem e transbordam? Por que nada é feito para prevenir esses desastres durante o ano?
No país vivemos uma triste dualidade: se por um lado a população já acostumada com o paternalismo não sai do chão à espera do socorro do governo, por outro o Estado não consegue agir com projetos concretos de prevenção, enredado na burocracia e na corrupção de ministros que destinam verbas apenas com intenções eleitoreiras.
Por tudo isso e tanto mais, minha indignação em ver a novela se repetir e a imprensa noticiando tudo de novo. Daria até para usar as mesmas imagens e manchetes dos outros anos.
Enquanto isso, os agricultores deixarão de pagar suas dívidas mais uma vez. A certeza do Pronaf e de outras novas linhas de crédito faz com que muitos nem se lembrem da seca daqui a alguns meses. A lembrança se refrescará no próximo ano, quando tudo se repetirá. Além disso, para os mais necessitados o governo vai adiantar o Bolsa-Família.
Mas a pergunta que não me deixa sossegar é: e a classe média deste país? Que não tem Bolsa alguma e muito menos perdão de dívidas? Que mal consegue pagar para comer e morar, com tantos impostos? Que amarga com salários estagnados há anos? Que precisa engolir que não há inflação mesmo tendo que a cada mês deixar um pouco mais do mesmo salário no mercado, no posto de combustíveis, na escola dos filhos? E os nossos empresários que não têm perdão de suas dívidas tendo que entregar os poucos bens para os famintos bancos?
E a classe média? Que se dane! E depois dizem por aí que o Brasil é o país de todos...
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