Por Reinaldo Azevedo
Se a educação brasileira já amarga alguns
vexames em exames internacionais, é porque ainda não vimos — será coisa para os
nossos filhos — o resultado dos desastres que estão sendo contratados agora. A
dupla Dilma Rousseff-Aloizio Mercadante está preparando uma bomba de efeito
retardado, que vai explodir mais adiante. Tão logo a presidente meta as
digitais na lei que institui 50% de cotas das universidades federais para
alunos oriundos do ensino público, essas instituições estarão marcando um
encontro com o declínio. Viverão dias piores do que os atuais, que já não são
gloriosos.
Preconceito contra aluno da escola pública?
Besteira! O problema é que essa é escola é ruim de doer. A seleção dos mais
aptos a enfrentar um curso universitário pode ser uma evidência de que o
sistema é ruim, mas ao menos preserva o terceiro grau público de horrores
extremos. Essa linha está sendo rompida. Nos últimos 10 anos, dobrou o
percentual de universitários praticamente analfabetos: de 2% para 4%; aumentou
brutalmente o de estudantes não plenamente alfabetizados: de 24% para 38%. E
vai piorar.
Depois do resultado desastroso do Ideb,
especialmente para o ensino médio, Mercadante resolveu ter uma ideia — e eu
sempre temi por esse momento. Quer mudar a grade curricular do ensino médio,
diminuindo o número de disciplinas, adaptando-a àqueles nomes entre o intangível
e o pernóstico das provas do Enem: “Linguagens, Códigos e Suas Tecnologias”
(língua portuguesa e uma língua estrangeira ao menos), Matemática e Suas
Tecnologias (é aquela tal matemática), Ciências da Natureza e Suas Tecnologias
(física, química e biologia), Ciências Humanas e Suas Tecnologias (história,
geografia, sociologia, filosofia). Se você quer compreender os propósitos do
MEC com essa nomenclatura, clique aqui.
Mas trague bem devagar…
Já andei escrevendo sobre algumas
delinquências intelectuais em questões do Enem. Em “Linguagens, Códigos e Suas
Tecnologias”, pobre do aluno que não for um apreciador de história em
quadrinhos, por exemplo! Se ele não souber a diferença entre um pronome e uma
fatia de mortadela, isso não é assim tão relevante. Mas não vou me perder nisso
agora. Embora as provas tenham aqueles nomes arcanos, basta examiná-las para
saber que as disciplinas originais, não obstante, continuam lá — embora
filtradas, especialmente nas ciências humanas, pelo viés social, proselitista e
até populista.
Muito bem! Mercadante, o nosso gênio reformador,
diz que vai querer menos disciplinas. Entendo, então, que professores
generalistas passariam a dar aula, deixem-me ver, de “Ciências da Natureza”.
Certo! Teremos químicos explicando o Movimento Retilíneo Uniformemente Variado,
físicos ensinando os mistérios dos esporos e biólogos descobrindo os caminhos
insondáveis da química inorgânica!
Em “Ciências Humanas e Suas Tecnologias”, que
já é mesmo terra de ninguém, prestando-se a toda sorte de vigarices (e os
professores sérios não se zanguem, porque vocês sabem do que estou falando),
geógrafos poderão abandonar de vez os afluentes do Amazonas (brincadeirinha…) e
a altitude do Aconcágua para se dedicar, como está naquela verborreia do MEC, a
“comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre
determinado aspecto da cultura”. Não sei que zorra é essa, mas deve ser
importante… Mesmo que o professor de filosofia seja um ignorante em história,
ele pode ocupar o seu tempo (também cito o MEC), “analisando o papel da justiça
como instituição na organização das sociedades”. Tendo o professor de história
de dar aula de geografia, ele que reconheça “a função dos recursos
naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças
provocadas pelas ações humanas”. Compreenderam?
Onde estão esses professores? São formados por
qual universidade? Nas escolas particulares de alta performance, professores
distintos dão aula de álgebra e geometria, por exemplo. Em alguns, a química
também tem os seus especialistas — há os que preferem a orgânica; há os que
preferem a inorgânica. Mercadante quer fazer a sua revolução sem nem mesmo a
definição de um currículo mínimo.
Maquiagem dos números
O ministro tomou outra decisão importante. Como não gostou dos números do Ideb, resolveu mudar o critério. Perde-se, assim, a série histórica. E vocês já podem esperar um grande salto nos anos seguintes. Leiam o que informa Rafael Moraes Moura, no Estadão. Volto em seguida:
O ministro tomou outra decisão importante. Como não gostou dos números do Ideb, resolveu mudar o critério. Perde-se, assim, a série histórica. E vocês já podem esperar um grande salto nos anos seguintes. Leiam o que informa Rafael Moraes Moura, no Estadão. Volto em seguida:
Uma semana após a divulgação do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2011 ter apontado a estagnação do
ensino médio no País, o Ministério da Educação (MEC) confirmou nesta
terça-feira, 21, que mudará a fórmula para calcular o índice. Em vez de usar a
Prova Brasil, que indica que o desempenho dos estudantes ficou praticamente estável
entre 2009 e 2010, o governo utilizará os resultados do Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem), que mostram um avanço na aprendizagem.
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante,
nega que a troca tenha como objetivo maquiar os números do Ideb. “O Enem é que
realmente avalia a qualidade do ensino médio.” Para ele, o estudante faz o Enem
com mais empenho, pois a nota pode ser usada para entrar em universidades. Já a
Prova Brasil é apenas uma avaliação, diz. “O Enem ele faz sabendo que é uma
prova decisiva, ele dá o melhor de si.” A ideia é adotar a nova equação já no
próximo Ideb, em 2013.
Hoje o Ideb combina o desempenho na Prova
Brasil com a taxa de aprovação. Comparando a evolução do desempenho em
português e matemática nesta prova, a avaliação dos alunos no ensino médio
ficou praticamente estável entre 2009 e 2011. A evolução do Ideb no ensino
médio foi tímida – saltou de 3,6 (2009) para 3,7 (2011). Se considerar só a
rede estadual, o indicador se manteve estagnado em 3,4, sendo que no Distrito
Federal e em nove Estados houve queda.
Já no Enem, a nota dos concluintes do ensino
médio de escolas públicas saltou de 480,2 para 492,9 em matemática, entre 2010
e 2011 – a Teoria de Resposta ao Item (TRI) calibrou o grau de dificuldade dos
dois últimos exames, permitindo a comparação. Em português, o desempenho foi de
490,6 para 503,7. “O Enem mostra que houve uma evolução muito positiva no
aprendizado da matemática e do português”, destacou o ministro.
Para o presidente do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Luiz Cláudio Costa, o governo não está
criando “uma saída para mascarar os números”. “Temos desafios no ensino médio e
pretendemos achar uma medida mais exata para enfrentá-los. A nota do Enem
mostra outra tendência, mas não minimiza os problemas.” Dentro de 60 dias, o
Inep deverá entregar ao ministro um estudo técnico sobre a mudança de cálculo
do Ideb e suas implicações. Uma das preocupações é não perder a série histórica
projetada para os próximos anos – a meta do Ideb para 2021 é 5,2.
(…)
Voltei
É surrealista! Como não perder a “média histórica” se estão mudando os critérios de aferição? Como os números estão ruins, Mercadante resolveu produzir números melhores sem mudar a qualidade da educação, entenderam? É o jeito petista de fazer as coisas. Assim, quem sabe o ministro entre para a história como o responsável pelo maior salto jamais havido no Ideb!!! É impressionante!
(…)
Voltei
É surrealista! Como não perder a “média histórica” se estão mudando os critérios de aferição? Como os números estão ruins, Mercadante resolveu produzir números melhores sem mudar a qualidade da educação, entenderam? É o jeito petista de fazer as coisas. Assim, quem sabe o ministro entre para a história como o responsável pelo maior salto jamais havido no Ideb!!! É impressionante!
Então vejam como as coisas se combinam.
Mercadante prepara uma maquiagem do Ideb para melhorar os números, arma a
arapuca das cotas nas universidades públicas e encomenda uma mudança de
currículo no ensino médio que vai substituir o conhecimento específico pela
verborragia social. Os professores especialistas pararão de importunar os
alunos com o rigor que ainda lhes resta e poderão se dedicar a ensinar um pouco
de quase tudo. Aí basta chutar o aluno que teve aula de biologia com um
professor de física para a faculdade de medicina e o que teve aula de física
com o professor de química para a faculdade de engenharia civil… Nos cursos de
humanidades, a coisa tende a ficar como está: basta ter bons propósitos, pregar
justiça social, demonizar o capital e a “mídia”, e estamos conversados!
Não nos esqueçamos de que Mercadante conseguiu
seu doutorado na Unicamp com uma “tese” cantando as glórias do governo Lula.
Viva a pátria livre dos apedeutas!
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