A maior causa de todos estes males é justamente a hipertrofia estatal, resultado do excessivo foco no curto prazo. Até quando a miopia dos governantes será tolerada pelos eleitores? Qual partido vai aderir ao bom senso e olhar realmente para o futuro? Está na hora de se resgatar uma agenda positiva para o país. Quem terá a coragem de rejeitar o atual modelo míope, assumindo a liderança pelas reformas trabalhista, tributária, previdenciária e política?
Por Rodrigo Constantino, O Globo
"Entre um bom e um mau economista existe uma diferença: um se detém no efeito que se vê; o outro leva em conta tanto o efeito que se vê quanto aqueles que se devem prever”. Esta foi a distinção que Bastiat fez entre os diferentes economistas, acrescentando: “Daí se conclui que o mau economista, ao perseguir um pequeno benefício no presente, está gerando um grande mal no futuro". A afirmação, feita no século 19, ainda permanece válida, especialmente no caso brasileiro.
O que mais se vê por aqui é economista focando apenas no curto prazo e ignorando os efeitos de suas medidas ao longo do tempo. O próprio Keynes disse que “no longo prazo estaremos todos mortos”, senha usada por muitos seguidores seus para a irresponsabilidade no presente. Os governantes adoram. Ocorre que o longo prazo um dia chega, cobrando altos juros pelos abusos do passado.
Quem tratou da questão da miopia temporal foi Eduardo Giannetti em seu livro “O Valor do Amanhã”. Um país que dá demasiada importância ao que está muito próximo no tempo acaba pagando um elevado preço por seu hedonismo. Normalmente, o povo é vítima de remorso depois. Claro que quem vive apenas para o futuro pode acabar vítima de arrependimento por desperdiçar o presente. Como disse Schopenhauer, “muitos vivem em demasia no presente: são os levianos; outros vivem em demasia no futuro: são os medrosos e os preocupados”. O raro é manter com exatidão a justa medida.
No caso brasileiro, não resta dúvida de que se peca pelo excesso de miopia. O “aqui e agora” recebe um peso desproporcional na equação, ficando a prudência de lado. O resultado é insatisfatório para a grande maioria, à exceção dos “amigos do rei”, que acabam consumindo os pesados impostos, muitas vezes de forma totalmente imoral. O governo distribui inúmeros privilégios para os políticos e funcionários públicos, garante bons rendimentos para os rentistas e ainda sobram várias “boquinhas” para seus aliados. A classe de parasitas cresce sem parar, condenando o longo prazo da nação.
O reflexo disso na economia acaba sendo uma reduzida taxa de poupança e, por conseqüência, de investimento. Os juros permanecem em patamares elevados, e o futuro é sacrificado em prol do momento. Quem deseja o bônus da prosperidade sem o ônus da poupança acaba como a cigarra da fábula: pobre e dependendo da ajuda da formiga para enfrentar o inverno. Os atalhos para o progresso costumam estar repletos de armadilhas. Isso vale para a vida e para a economia. O atleta que pretende ficar forte mais rápido por meio de anabolizantes costuma pagar um alto preço, assim como o país que destina parcela excessiva de sua produção para os gastos correntes.
"A diferença entre um estadista e um demagogo é que este decide pensando nas próximas eleições, enquanto aquele decide pensando nas próximas gerações”, disse Churchill. Os governantes brasileiros, infelizmente, estão no grupo dos demagogos. O ex-presidente Lula foi, possivelmente, o mais populista de todos, mas nossa oposição não fica muito atrás. Quem defendeu salário mínimo de R$ 600 e 13o para Bolsa-Família foi o tucano José Serra, não custa lembrar. Falta uma oposição séria, pensando nos próximos 20 anos do país, e não apenas nas próximas eleições.
A social-democracia brasileira ainda não evoluiu para padrões de responsabilidade que se vê em países como Chile, Canadá, Nova Zelândia e Austrália. Aqui, todos disputam o controle do “latifúndio”, da caneta poderosa que comanda mais da metade do PIB. Ninguém luta realmente pelas reformas que colocariam nossa economia no rumo certo. Há um vácuo na política, um espaço enorme para o partido que abraçar de fato as bandeiras de longo prazo. Os brasileiros não agüentam mais tantos impostos, juros altos, corrupção escancarada, infraestrutura precária e péssima qualidade de educação e saúde públicas.
A maior causa de todos estes males é justamente a hipertrofia estatal, resultado do excessivo foco no curto prazo. Até quando a miopia dos governantes será tolerada pelos eleitores? Qual partido vai aderir ao bom senso e olhar realmente para o futuro? Está na hora de se resgatar uma agenda positiva para o país. Quem terá a coragem de rejeitar o atual modelo míope, assumindo a liderança pelas reformas trabalhista, tributária, previdenciária e política?
O custo político não seria trivial no primeiro momento. Não existe almoço grátis. O progresso sustentável depende de sacrifícios. Por isso precisamos de lideranças que realmente mirem mais longe no horizonte. Chega de tanta miopia!
"Entre um bom e um mau economista existe uma diferença: um se detém no efeito que se vê; o outro leva em conta tanto o efeito que se vê quanto aqueles que se devem prever”. Esta foi a distinção que Bastiat fez entre os diferentes economistas, acrescentando: “Daí se conclui que o mau economista, ao perseguir um pequeno benefício no presente, está gerando um grande mal no futuro". A afirmação, feita no século 19, ainda permanece válida, especialmente no caso brasileiro.
O que mais se vê por aqui é economista focando apenas no curto prazo e ignorando os efeitos de suas medidas ao longo do tempo. O próprio Keynes disse que “no longo prazo estaremos todos mortos”, senha usada por muitos seguidores seus para a irresponsabilidade no presente. Os governantes adoram. Ocorre que o longo prazo um dia chega, cobrando altos juros pelos abusos do passado.
Quem tratou da questão da miopia temporal foi Eduardo Giannetti em seu livro “O Valor do Amanhã”. Um país que dá demasiada importância ao que está muito próximo no tempo acaba pagando um elevado preço por seu hedonismo. Normalmente, o povo é vítima de remorso depois. Claro que quem vive apenas para o futuro pode acabar vítima de arrependimento por desperdiçar o presente. Como disse Schopenhauer, “muitos vivem em demasia no presente: são os levianos; outros vivem em demasia no futuro: são os medrosos e os preocupados”. O raro é manter com exatidão a justa medida.
No caso brasileiro, não resta dúvida de que se peca pelo excesso de miopia. O “aqui e agora” recebe um peso desproporcional na equação, ficando a prudência de lado. O resultado é insatisfatório para a grande maioria, à exceção dos “amigos do rei”, que acabam consumindo os pesados impostos, muitas vezes de forma totalmente imoral. O governo distribui inúmeros privilégios para os políticos e funcionários públicos, garante bons rendimentos para os rentistas e ainda sobram várias “boquinhas” para seus aliados. A classe de parasitas cresce sem parar, condenando o longo prazo da nação.
O reflexo disso na economia acaba sendo uma reduzida taxa de poupança e, por conseqüência, de investimento. Os juros permanecem em patamares elevados, e o futuro é sacrificado em prol do momento. Quem deseja o bônus da prosperidade sem o ônus da poupança acaba como a cigarra da fábula: pobre e dependendo da ajuda da formiga para enfrentar o inverno. Os atalhos para o progresso costumam estar repletos de armadilhas. Isso vale para a vida e para a economia. O atleta que pretende ficar forte mais rápido por meio de anabolizantes costuma pagar um alto preço, assim como o país que destina parcela excessiva de sua produção para os gastos correntes.
"A diferença entre um estadista e um demagogo é que este decide pensando nas próximas eleições, enquanto aquele decide pensando nas próximas gerações”, disse Churchill. Os governantes brasileiros, infelizmente, estão no grupo dos demagogos. O ex-presidente Lula foi, possivelmente, o mais populista de todos, mas nossa oposição não fica muito atrás. Quem defendeu salário mínimo de R$ 600 e 13o para Bolsa-Família foi o tucano José Serra, não custa lembrar. Falta uma oposição séria, pensando nos próximos 20 anos do país, e não apenas nas próximas eleições.
A social-democracia brasileira ainda não evoluiu para padrões de responsabilidade que se vê em países como Chile, Canadá, Nova Zelândia e Austrália. Aqui, todos disputam o controle do “latifúndio”, da caneta poderosa que comanda mais da metade do PIB. Ninguém luta realmente pelas reformas que colocariam nossa economia no rumo certo. Há um vácuo na política, um espaço enorme para o partido que abraçar de fato as bandeiras de longo prazo. Os brasileiros não agüentam mais tantos impostos, juros altos, corrupção escancarada, infraestrutura precária e péssima qualidade de educação e saúde públicas.
A maior causa de todos estes males é justamente a hipertrofia estatal, resultado do excessivo foco no curto prazo. Até quando a miopia dos governantes será tolerada pelos eleitores? Qual partido vai aderir ao bom senso e olhar realmente para o futuro? Está na hora de se resgatar uma agenda positiva para o país. Quem terá a coragem de rejeitar o atual modelo míope, assumindo a liderança pelas reformas trabalhista, tributária, previdenciária e política?
O custo político não seria trivial no primeiro momento. Não existe almoço grátis. O progresso sustentável depende de sacrifícios. Por isso precisamos de lideranças que realmente mirem mais longe no horizonte. Chega de tanta miopia!
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