Que escala de valores (em todos os sentidos!) está construindo essa sociedade em que uma pessoa possa ganhar em um mês o que outro cidadão ganhará nos próximos 18, 24 ou 36 meses? Do mais modesto ao mais sofisticado, trabalho nenhum tem essa dimensão plena e suficiente para determinar tamanhas diferenças. Não com dinheiro público!
Por Astor Wartchow
Somos campeões mundiais em criação de leis, mas
poucas “pegam” e funcionam. Recentemente, entrou em vigor a Lei de Acesso à
Informação, que exigirá mais transparência dos poderes públicos. A publicidade
como um princípio e regra. E os casos de sigilo, como uma exceção.
Os órgãos públicos devem disponibilizar na internet
suas informações institucionais. E entre elas, principalmente, aquelas
relacionadas a licitações, contratos, convênios, auditorias e salários, por
exemplo.
Bem, vamos falar sobre salários, vencimentos,
vantagens e extras, não importa o nome ou a razão, chame-se como quiser, são,
finalmente, os ganhos de cada pessoa empregada pelo setor público-estatal.
Se realmente todas as informações vierem ao
conhecimento da população, a exemplo de algumas que já estão disponíveis,
ficará configurada uma triste, indigna e injusta realidade.
As informações salariais preliminares confirmam que
ainda somos uma colônia explorada, uma rica “capitania hereditária” de
corporações e poderes de Estado, que, formal e legal, e literalmente,
transformaram o povo brasileiro em escravos tributário-legislativos.
Ou que qualificação pode se dar a uma estrutura
social que contempla – com dinheiro público!, repito – tamanhas diferenças
salariais entre sua população, entre o público e o privado?
Povo que ganha em média entre R$ 1 mil e R$ 3 mil
reais, quando muito. E nem vou falar do exército de gente que ganha menos de R$
1 mil reais mensais. Como se explica que servidores públicos, não importa a
categoria e seu status, possam receber 15, 20, 25, 30, e até 40 mil reais
mensais?
Que escala de valores (em todos os sentidos!) está
construindo essa sociedade em que uma pessoa possa ganhar em um mês o que outro
cidadão ganhará nos próximos 18, 24 ou 36 meses? Do mais modesto ao mais
sofisticado, trabalho nenhum tem essa dimensão plena e suficiente para
determinar tamanhas diferenças. Não com dinheiro público!
E ainda nem falamos em qualidade e eficiência dos
serviços públicos. Nem precisamos. Salvo raríssimas exceções, a regra geral,
bem sabe nosso povo, é feita de saúde, segurança, transportes e educação
miseráveis.
Por favor, não me venham com essa lorota de diretos
legais e adquiridos. Ou sobre “tetos” estratosféricos. Como se o mundo das
relações humanas e sociais fosse “imexível” e “ad aeternum”. Como que evidentes
abusos de vencimentos, ainda que sob a forma e auspícios legais, possam
pretender se equiparar a direitos?
É um abuso sob qualquer ângulo de análise. E os
responsáveis são os principais poderes de Estado, começando pelo Poder
Legislativo que aprova sistematicamente a manutenção e ampliação dessas
distorções e iniquidades.
Concluindo, você é um escravo
tributário-legislativo. Esqueça suas esperanças de liberdade: há liberdade na
compulsoriedade de recolher tributos para essa iniquidade? De justiça: há
justiça na aplicação dos tributos? De igualdade: há exercício de igualdade
cívica na distribuição dos tributos?
Seus filhos e netos já desistiram. Quer dizer, ao
contrário, estão empenhados em concursos públicos que pagam essas fortunas.
Empenhados e interessados com toda a razão. Claro que não há vagas para todos!
Resta saber quem trabalhará e produzirá a riqueza
que deverá gerar os valores necessários para remunerar o eterno (e o novíssimo)
baronato!
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