quarta-feira, 6 de junho de 2012

É a crise do Estado gigante, do Estado empresário, do Estado paternalista, do Estado banqueiro, do Estado que atrofia a iniciativa privada e que desestimula qualquer ato de poupança

Em economia não há milagres. Desenvolvimento econômico não é um milagre. Crescimento sustentável não é um objetivo impossível. Milagre é convencer os homens no comando do país de que não precisamos de estímulos

É preciso poupar para crescer 


Por Fernando Ulrich*

A julgar pela quantidade de medidas anunciadas nos últimos meses pelo Ministério da Fazenda, o Brasil enfrenta uma crise gravíssima. Improviso e arbitrariedade. Impostos e tarifas. Ora aumentam, ora diminuem. Subsídios às montadoras; barreiras aos importados. De vinhos a motocicletas. Estímulos aqui; desincentivos acolá. IPI reduzido para alguns; IPI elevado para outros. Juros baixos à força; crédito farto por decreto. Afinal de contas, que dragão o governo está tentando combater?

O dragão do momento é o PIB, que, teimosamente, insiste em minguar, apesar de todos os malabarismos de políticas públicas engendrados pela atual administração. Sim, o país de fato enfrenta uma crise grave. Mas ela não é recente. Está em gestação há anos. É a crise do Estado gigante, do Estado empresário, do Estado paternalista, do Estado banqueiro, do Estado que atrofia a iniciativa privada e que desestimula qualquer ato de poupança, confiscando a renda por meio da inflação.

As reformas de que o país tanto carece sequer figuram na agenda do governo. A preocupação principal é registrar um PIB positivo. Ser um “levantador de PIB” é a função essencial de Guido Mantega, segundo ele mesmo recentemente afirmou. E qual seria a mais recente receita para levantar o tal do PIB? Estimular o consumo.

Essa é justificativa por trás das últimas medidas adotadas pelo Tesouro. Ao se estimular o consumo, estimula-se a economia – esse é o argumento. A verdade é bem diferente. Consumo é consequência da produção. Para que qualquer coisa seja consumida, ela tem antes de ser produzida. Logo, se o consumo depende da produção, o objetivo deveria ser o de aumentar a capacidade produtiva, e não o consumo. E como aumentar a capacidade produtiva? Por meio de investimentos. E o que possibilita o investimento? A poupança. O ato de se abster do consumo. Exatamente o oposto do que Guido Mantega quer que façamos.

Em economia não há milagres. Desenvolvimento econômico não é um milagre. Crescimento sustentável não é um objetivo impossível. Milagre é convencer os homens no comando do país de que não precisamos de estímulos. De que não precisamos de um infindável emaranhado de políticas públicas. De que tudo o que precisamos é de menos Estado; menos impostos; uma moeda forte, não fraca. Para que possamos poupar, investir e nos tornar um país verdadeiramente rico.

*MESTRE EM ECONOMIA E ASSOCIADO DO INSTITUTO DE ESTUDOS EMPRESARIAIS (IEE)

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