PCdoB e PSOL resolveram recorrer ao Ministério Público contra Sheherazade. Pedem abertamente a cabeça da jornalista, ameaçando a emissora com o corte de verbas de publicidade oficial. PCdoB e PSOL falando em nome da democracia? Dois partidos que defendem a ditadura chavista? Que defendem a ditadura cubana? Que defendem regimes que prendem pessoas por delitos de opinião? Que se alinham com as milícias bolivarianas?
Quem vai dar aula de tolerância a Rachel Sheherazade? A deputada Jandira Feghali? O partido que, até outro dia, foi flagrado em relações incestuosas com ONGs de mentirinha para enfiar a mão do dinheiro público? Que ainda não perdoou Krushev? Nem chego a considerar a tal Jandira um ser da nossa era! Espero que ela não tente me calar também!
Por Reinaldo Azevedo (Veja.com)
O SBT cedeu à pressão, ao
alarido e à gritaria dos censores em tempos democráticos e decidiu proibir os
comentários da jornalista Rachel Sheherazade. Os autoritários, os imbecis e os
esquerdopatas estão felizes. São, ademais, mentirosos porque fingem uma indignação
que não têm para alimentar os preconceitos que têm. Na origem da polêmica, está
um comentário que Sheherazade fez no ar quando um jovem assaltante foi detido
por moradores e atado a um poste. Já escrevi um post a
respeito no dia 10 de fevereiro. Embora eu não endosse o comentário da jornalista, É UMA MENTIRA ESCANDALOSA QUE ELA
TENHA APOIADO AQUELE TIPO DE TRATAMENTO.
Ela disse outra coisa.
Afirmou que, numa sociedade em que o estado é omisso e em que a violência
se dissemina, é “compreensível” aquela atuação da população. Dias depois,
diga-se, o rapaz foi detido novamente por suas vítimas habituais. Para não
apanhar, começou a gritar: “Eu sou o do poste. Sabe com quem está falando”. Ele
sabia que os cretinos deslumbrados o tinham tornado uma celebridade.
Certamente haverá um
bando de tontos, inclusive no meio jornalístico, aplaudindo a decisão, sem se
dar conta de que está botando a própria cabeça na guilhotina. É mentira que
Sheherazade esteja sendo punida por aquela opinião. Ela está sendo calada
porque não emite, na TV, ponto de vista consideradas consensuais; porque não
lustra os preconceitos politicamente corretos que tomam conta da TV aberta;
porque não segue, enfim, a manada.
Vocês já se deram conta
do vocabulário que se tornou usual nas TVs brasileiras — sem exceção — a partir
das 21h? Temas de relativa complexidade moral — de dilemas éticos à questão da
sexualidade — são levados em cena aberta, e é certo que há crianças do outro
lado da tela, não é? Ah, mas em matéria se sexualidade, de formação familiar,
de consumo de drogas, de desassombro vocabular, mesmo quando, reitero, há
crianças envolvidas inclusive nas cenas, aí somos todos libertários; aí ninguém
quer correr o risco de parecer reacionário; aí a mãe pode levar o filho para o
ambiente em que mantém flertes lésbicos. Afinal, o que é que tem? Lesbianismo é
comum.
E não serei eu aqui a
dizer que seja incomum, não é? Não estou defendendo censura nenhuma, antes que
algum bobalhão leia que o que não está escrito. Eu já disse que não brigo com
TVs, com programas de humor na Internet, com nada disso. Defendo apenas que se
desligue a TV e que não se veja o tal programa. E pronto! Mas sigamos.
Aprendi, dada a educação moral e cívica ora em vigência, que um gay
esmagado pelo pai pode sequestrar e jogar uma criança no lixo, tentar matar uma
pessoa, financiar o sequestro dessa mesma criança; chantagear, extorquir, fazer
o diabo. Se ele descobrir o amor verdadeiro e se isso significar a adesão da
maior emissora do país a uma causa “progressista”, tudo vale a pena. O bandido
merece perdão. Já a bandida heterossexual morre eletrocutada numa cerca para
deixar de ser safada. O pai homofóbico termina seus dias babando e dependendo
daquele a quem tanto hostilizou. Quem mandou ser tão malvado e, em certa
medida, literalmente cego de heterossexualismo e machismo? E não duvido que
muitas mulheres tenham achado “liiinda” a novela misógina. O Brasil está
ficando burro.
Essa mesma televisão, no
entanto, não pode comportar as opiniões de Rachel Sheherazade. Quais opiniões?
Aquela de que é “compreensível” que a população se revolte e decida fazer
justiça. Não! Ninguém nem está ligado pra isso. O problema são as outras
opiniões que ela tem. Se há manifestantes violentos nas ruas, em vez de ela
verter a baba adesista, tão comum hoje em dia, ela critica; se bandidos cometem
atrocidades, em vez de ela se compadecer com a suposta origem social da
violência — uma mentira! —, ela pede cadeia; se há invasão de propriedade
privada, em vez de ela se solidarizar com invasores, deixa claro que aquele não
é o caminho.
Isso não pode!
Sheherazade poderia estar emitindo opiniões com esse conteúdo em qualquer
democracia do mundo. Não na nossa! Na nossa democracia, todos têm de estar
alinhados com os cânones do pensamento politicamente correto. Ou não pode
trabalhar. Vejam os debates sobre os 50 anos do golpe militar de 1964. Eu falei
“debates”? Uma ova! Não houve! Ao contrário: sob o pretexto de que todos
defendemos a democracia, o que se viu nas TVs foi um espetáculo de
mistificação. Mais um pouco, João Goulart só não foi chamado de competente…
PCdoB e PSOL
PCdoB e PSOL resolveram
recorrer ao Ministério Público contra Sheherazade. Pedem abertamente a cabeça
da jornalista, ameaçando a emissora com o corte de verbas de publicidade
oficial. PCdoB e PSOL falando em nome da democracia? Dois partidos que defendem
a ditadura chavista? Que defendem a ditadura cubana? Que defendem regimes que
prendem pessoas por delitos de opinião? Que se alinham com as milícias
bolivarianas?
Quem vai dar aula de
tolerância a Rachel Sheherazade? A deputada Jandira Feghali? O partido que, até
outro dia, foi flagrado em relações incestuosas com ONGs de mentirinha para
enfiar a mão do dinheiro público? Que ainda não perdoou Krushev? Nem chego a
considerar a tal Jandira um ser da nossa era! Espero que ela não tente me calar
também!
Muito bem! Agora
Sheherazade não vai mais emitir opiniões. O Brasil ficou melhor por isso?
Teremos, agora, mais liberdade de expressão? A verba publicitária oficial pode
ser usada por veículos de comunicação que defendem abertamente a roubalheira
havida na Petrobras, mas não poderia ir para o SBT porque havia lá uma
jornalista que dizia coisas incômodas. Considerando o padrão da TV aberta
brasileira, Sheherazade é que virou um problema? Mostrar o traseiro e o
bilau em reality show pode, mas afirmar que a população, sem estado, acaba
fazendo justiça com as próprias mãos é proibido? Engraçado! Na democracia
americana, a bunda e o bilau na TV abertas seriam proibidos, mas a opinião
política é livre. Vai ver é por isso que os EUA são os EUA, e o Brasil é o
Brasil. Na novelas das nove, se podem defender a descriminação das drogas e o
aborto — hoje considerado crimes pela legislação brasileira — e da pior forma
possível: no modelo merchandising ideológico, de forma mais ou menos
sorrateira. Mas ai de um jornalista que emita uma opinião que ofenda as
polícias do pensamento!
Sobre a violência
No primeiro texto que
escrevi sobe o caso, tratei da questão da violência. Não se trata de saber se
direitos humanos devem existir também para bandidos. Os direitos humanos, vejam
que coisa!, humanos são — e deles ninguém se exclui ou pode ser excluído. Ponto
final. A questão é de outra natureza: cumpre tentar entender por que esses
prosélitos mixurucas, esses propagandistas vulgares, jamais se ocupam da guerra
civil que está em curso no Brasil há décadas. Então os mais de 50 mil que
morrem por ano no país não merecem a sua atenção?
Sei que pode parecer
estranho a esses oportunistas, mas Sheherazade não amarrou ninguém. A violência
que a gente vê é só um pouco da violência que a gente não vê. Os linchamentos
se espalham Brasil afora. Os mais de 50 mil homicídios a cada ano no país é que
mereciam uma “Comissão da Verdade”. Por que os que agora pedem a cabeça de uma
apresentadora de TV jamais se ocuparam das 137 pessoas (média) que são
assassinadas todos os dias no Brasil?
Os imbecis tentarão ler
no meu texto o que nele não está escrito. Dou uma banana para os tolos. Quanto
mais eles recorrem à tática da desqualificação, mais leitores vão chegando — e,
agora, mais ouvintes também. Não dou a mínima. Não me deixo patrulhar. Sim, eu
acho que os que prenderam aquele rapaz pelo pescoço têm de ser punidos. Eu acho
que os que recorrem a linchamentos também têm de arcar com as consequências.
Mas acho igualmente que
essa gente que decide resolver por conta própria — que também é pobre de tão
preta e preta de tão pobre — merece ter estado, merece ter segurança, merece
ter proteção. Se sucessivos governos se mostram incapazes de dar uma resposta —
por mais que eu deteste, por mais que eu ache que o caminho errado, por mais
que eu tenha a certeza de que a situação só vai piorar —, as pessoas farão
alguma coisa.
Parece-me que foi esse o
sentido que Sheherazade deu à palavra “compreensível” — o que não implica
necessariamente um endosso. Os historiadores já se debruçaram sobre os fatores
que tornaram “compreensível” a eclosão dos vários fascismos na Europa do século
passado ou da revolução bolchevique na Rússia. Compreender um fenômeno não quer
dizer condescender com ele. Eu, por exemplo, penso que é compreensível que o PT
tenha chegado ao poder, entenderam?
Ainda que, reitero,
avalie que o comentário foi, sim, desastrado. Mas tentar linchar Sheherazade
moralmente, aí já é um pouco demais! Estranha essa gente: defende o direito de
defesa para os bandidos mais asquerosos — e nem poderia ser diferente —, mas
pede a execução sumária de alguém por ter emitido uma opinião infeliz.
E por quê?
E por que se silencia de
maneira sistemática, contumaz, cínica, sobre a guerra civil brasileira? Num artigo da
Folha, sintetizei a razão (em azul):
E por que esse silêncio?
É que os fatos sepultaram as teses “progressistas” sobre a violência. A falácia
de que a pobreza induz o crime é preconceito de classe fantasiado de
generosidade humanista. A “intelligentsia” acha que pobre é incapaz de fazer
escolhas morais sem o concurso de sua mística redentora. Diminuiu a
desigualdade nos últimos anos, e a criminalidade explodiu. O crescimento
econômico do Nordeste foi superior ao do Brasil, e a violência assumiu
dimensões estupefacientes.
Os Estados da Região
estão entre os que mais matam por 100 mil habitantes: Alagoas: 61,8; Ceará:
42,5; Bahia: 40,7, para citar alguns. Comparem: a taxa de “CVLI” de São Paulo,
a segunda menor do país, é de 12,4 (descarta-se a primeira porque inconfiável).
Se a nacional correspondesse à paulista, salvar-se-iam por ano 26.027 vidas.
Com 22% da população, São
Paulo concentra 36% (195.695) dos presos do país (549.786), ou 633,1 por 100
mil. A taxa de “CVLI” do Rio é quase o dobro (24,5) da paulista, mas a de
presos é inferior à metade (281,5). A Bahia tem a maior desproporção entre
mortos por 100 mil e (40,7) e encarcerados: 134. Estudo quantitativo do Ipea
(aqui) evidencia que “prender mais bandidos e colocar mais policiais na rua são
políticas públicas que funcionam na redução da taxa de homicídios”.
Isso afronta a estupidez
politicamente correta e cruel. Em 2013, o governo federal investiu em presídios
34,2% menos do que no ano anterior — caiu de R$ 361,9 milhões para R$ 238
milhões. Para mais mortos, menos investimento. Os progressistas meio de
esquerda são eles. Este colunista é só um reacionário da aritmética. Eles fazem
Pedrinhas. Alguém tem de dar as pedradas.
Retomo
Boa parte dos que estão
vociferando não está nem aí para os pobres, os humilhados etc. Esses coitados
servem apenas de pretexto para aquela turma perseguir os de sempre. Não fosse
assim, esses bacanas estariam mobilizados, cobrando uma ação do estado
brasileiro para pôr fim ao Açougue Brasil, especializado em carne humana.
Bando de censores babacas
e autoritários! Ah, sim: o SBT não proibiu apenas Sheherazade de omitir
opiniões. A regra vale agora para todos os profissionais de imprensa da casa.
Vai ver o Sindicato dos Jornalistas do Rio, que também havia se insurgido
contra ela, está feliz. Agora, sim, é que ficou bom, certo? Claro, claro!
Sempre haverá um daqueles para dizer que isso só acontece porque se trata de um
meio de comunicação da burguesia. O semovente não tem dúvida de que Sheherazade
deve ser censurada, mas que a opinião deve ser livre para os que emitem as
opiniões “corretas”…
Nenhum comentário:
Postar um comentário