Algumas das maiores empresas brasileiras estão sendo destroçadas, ao vivo, para fabricar bondade tarifária e esconder inflação. Esse é o jogo multibilionário que o Brasil aceita chupando o dedo, louco para virar Argentina. (..) Nem a CPI da Petrobras mobilizou os engarrafadores de trânsito. Eles devem estar achando que pode ser um golpe neoliberal para tomar o que é nosso.
O deputado André Vargas não fez nada de mais.
Apenas cumpriu o primeiro mandamento para ascender no PT: siga o dinheiro. Ou,
mais precisamente, siga e consiga o dinheiro. Sua intimidade com o doleiro
Alberto Youssef, preso no centro de um esquema que teria movimentado 10 bilhões
de reais, não deixa dúvidas: Vargas chegou lá. Quem não entendeu como o obscuro
deputado curitibano saltou de secretário de comunicação do partido para
vice-presidente da Câmara dos Deputados não entende nada de PT.
O despachante de André Vargas era o homem que
operava o duto entre os cofres públicos e os políticos amigos do rei (rainha).
Se alguém achar que isso se parece com a quadrilha do mensalão, esqueça. O
ministro Luís Roberto Barroso já explicou que a quadrilha não existiu, e o STF
assinou embaixo. A parceria fértil entre o doleiro de Vargas e o ex-diretor de
abastecimento da Petrobras, também preso, tem impressionante semelhança com a
tabelinha entre Marcos Valério e o então diretor de abastecimento do PT no
Banco do Brasil, Henrique Pizzolato — hoje embaixador da república mensaleira
na Itália. Mas isso não é quadrilha, é estilo.
E pensar que antigamente o PT mandava Waldomiro
Diniz pegar dinheiro com Carlinhos Cachoeira. Que coisa cafona. Mas isso foi
uma década atrás, quando o partido ainda não tinha estudado direito a planta do
Estado brasileiro. Hoje está claro que a mensagem de André Vargas a Joaquim
Barbosa, levantando o punho cerrado (símbolo da resistência mensaleira), era um
aviso — como o de Raul Seixas sobre as moscas: se você mata uma, vem outra em
seu lugar.
Os brasileiros, esses invejosos, já estão
implicando com o Land Rover dado pelo doleiro ao diretor da Petrobras. Bobagem.
Como ensinou Silvinho Pereira, o mais injustiçado e esquecido dos petistas,
quem trabalha bem no setor petrolífero ganha Land Rover de graça. O Brasil está
pensando pequeno. Diante da dimensão dos negócios no seio do governo popular,
as propinas na Petrobras são o troco do cafezinho — aquelas moedas que você
joga na mão do pedinte pela janela do seu Land Rover. Se o garoto ainda fizer
uma graça com bolinhas de tênis, você pode até dar a ele uma refinaria
superfaturada. Esse bilhão não fará a menor diferença no balanço.
Algumas das maiores empresas brasileiras estão
sendo destroçadas, ao vivo, para fabricar bondade tarifária e esconder
inflação. Esse é o jogo multibilionário que o Brasil aceita chupando o dedo,
louco para virar Argentina. São esses dividendos populistas que garantem um
ambiente de negócios seguro para os doleiros oficiais, mensaleiros reencarnados
e demais sócios do país de todos (eles).
Até o FMI já espalhou por aí que o governo
brasileiro passou a maquiar suas contas, para gastar escondido com a indústria
do populismo. E vem aí mais uma transfusão bilionária do Tesouro para o BNDES,
que vai injetando nas estatais vampirizadas e envernizando a orgia fiscal. É um
complexo e fabuloso trabalho de pilhagem, com alcance de gerações — que
naturalmente passou despercebido aos revolucionários da Primavera Burra. Nem a
CPI da Petrobras mobilizou os engarrafadores de trânsito. Eles devem estar
achando que pode ser um golpe neoliberal para tomar o que é nosso.
Com todo o seu profissionalismo, André Vargas sabe
que não dá para contar a vida toda com a pasmaceira da opinião pública. Por
isso, além de ter os amigos certos, ele também trabalhou com afinco no projeto
petista que vale por mil doleiros espertos: o controle da informação. O PT
sonha com a desinibição da companheira Kirchner na coação da mídia e no
adestramento das estatísticas. André Vargas também serve para isso: assim como
se presta a fazer molecagem com Joaquim Barbosa, prega sem constrangimento o
“controle social da mídia”. E o ensaio vai indo muito bem, do controle social
do Tesouro ao controle social do Ipea.
O tradicional e respeitado Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada ganhou de presente do governo popular uma estrelinha
vermelha. Passou a ser dirigido por acadêmicos-militantes, uma espécie de
transgênero com vocabulário técnico e alma ideológica. Estrelas da coreografia
estatística como Marcio Pochmann — que saiu de lá para ser candidato do PT a
prefeito de Campinas —, capazes de fazer os números dançarem conforme a música,
trouxeram o charme chavista que faltava ao Ipea. Quem acompanhou essa
metamorfose revolucionária não acreditou um segundo na famosa pesquisa que
transformou o Brasil num país de estupradores.
O mais alarmante, porém, não foi a pesquisa em si,
pois já se sabe que, com o PT, a inépcia e a desonestidade intelectual são
quase indistinguíveis. O impressionante foi o Brasil comprar de olhos fechados
mais uma bandeira fabricada pelo império do oprimido. Dá até para ouvir o
comentário de André Vargas: kkkkkk.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/o-doleiro-dos-oprimidos-12173162#ixzz2ytb0AgYv
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