Mas o governo Dilma desconfia do mercado, desdenha desse poderoso mecanismo “caótico”, sem um controlador no leme, direcionando cada parte importante do todo. Por isso ele pensa ser viável controlar esses preços, com base em decretos estatais. Por isso tanta intervenção na taxa de juros e de câmbio, no preço da energia, no retorno das concessões. (..) Essa “arrogância fatal”, para usar expressão cunhada por Hayek, está no cerne de nossos problemas.
Nunca antes na história deste país se viu tantas medidas
de governo serem desfeitas em tão pouco tempo. O governo Dilma está perdido,
sem rumo, sem saber como reagir ao desabamento de sua popularidade, ao risco
inflacionário, ao pífio crescimento. Falta um plano de voo, um mapa correto do
território. E falta, naturalmente, conhecimento básico de economia.
O principal problema, creio eu, está
na visão equivocada que a presidente e sua equipe têm acerca do funcionamento
da economia. Eles são reféns de uma ideologia desenvolvimentista que
simplesmente não funciona. Eles erram o diagnóstico dos males que assolam o
país, não tendo como acertar na receita. Ficam, assim, ao sabor do vento, do
marqueteiro, tateando no escuro, tratando o país como um rato de laboratório.
E qual seria essa visão equivocada?
Em resumo, é a crença arrogante de que o governo pode, de cima, controlar os
dados econômicos nos mínimos detalhes. Esse tipo de mentalidade denota incrível
soberba, pois nem o mais sábio dos sábios seria capaz de substituir milhões de
agentes autônomos tomando decisões independentes no livre mercado.
Prêmio Nobel de Economia, o austríaco
Hayek mostrou como as informações relevantes para as tomadas de decisão estão
dispersas. Cada um, exercendo seu poder de escolha em sua determinada área,
acaba levando uma minúscula parcela de informação que irá influenciar os demais.
E o mecanismo de transmissão dessa informação toda são os preços.
Mas o governo Dilma desconfia do
mercado, desdenha desse poderoso mecanismo “caótico”, sem um controlador no
leme, direcionando cada parte importante do todo. Por isso ele pensa ser viável
controlar esses preços, com base em decretos estatais. Por isso tanta
intervenção na taxa de juros e de câmbio, no preço da energia, no retorno das
concessões.
Nada disso é novo, naturalmente. A
União Soviética contava com um órgão, a Gosplan, cuja missão hercúlea — e
impossível — era justamente administrar milhares de preços da economia. O
resultado, como sabemos, foi o lançamento do Sputinik, enquanto faltava papel
higiênico para a população. Fantástico!
Essa “arrogância fatal”, para usar
expressão cunhada por Hayek, está no cerne de nossos problemas. O governo
distribuiu crédito público sem se dar conta da falta de lastro na poupança,
mexeu na taxa de juros sem calcular seu impacto na inflação, congelou a
gasolina, usou o BNDES para selecionar os “campeões nacionais” (entre eles a
EBX, de Eike Batista) etc. O governo seria o mestre do universo!
Só que não, isso não funciona. Mesmo
assumindo uma premissa um tanto agressiva, de que Dilma é de fato uma
excepcional gestora e que Guido Mantega é o mais inteligente dos economistas, o
modelo não entregaria o resultado desejado. Agora vamos relaxar essa hipótese e
aceitar premissas mais, digamos, realistas, de que Dilma não foi capaz nem de
sustentar uma pequena loja na iniciativa privada e que Mantega é somente um
economista medíocre, e teremos a gravidade do quadro.
Foi poder demais concentrado em gente
de menos. Não tem como dar certo. E, agora, os mesmos que plantaram as sementes
podres olham aturdidos para a colheita maldita. Coçam suas cabeças, buscam
bodes expiatórios em todo lugar, e nada. Partem, então, para malabarismos
medonhos, no afã de enganar o público, ou para medidas desesperadas e
erráticas, gerando enorme insegurança no mercado.
Sem credibilidade alguma, o governo
ainda sonha em atrair as dezenas de bilhões que o país precisa para
investimento em infraestrutura, um dos nossos maiores gargalos de
produtividade. Mas como, meu Deus!, esses investidores vão alocar seus recursos
se o governo mexe nas regras do jogo o tempo todo, quer determinar a taxa de
retorno abaixo do mercado, altera as tarifas e tudo mais?
A farra toda durou porque leva tempo
até o problema emergir. O modelo, que começou ainda na gestão de Lula, foi
baseado nos três Cs: Consumo, Crédito e Commodities. Estas pararam de subir,
pois a China não tem mais a mesma pujança. E aqueles bateram no limite de
crescimento artificial, pois as famílias já se encontram bastante endividadas.
O que fazer? Como reagir? Revertendo
essa absurda concentração de poder no Estado. Parando de manipular preços.
Cortando gastos públicos. Fazendo as reformas trabalhista, previdenciária e
tributária. Adotando, enfim, uma agenda liberal. E esse governo vai seguir
nessa direção? Nem nos meus sonhos! Logo, só nos resta torcer que o cego no
meio do tiroteio não leve uma bala perdida. Somos dependentes, hoje, da sorte.
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