“Gostaria que as pessoas em meu país pudessem fazer o mesmo e tivessem essa mesma liberdade para se manifestar” (Yoani Sánchez blogueira Cubana sobre as manifestação que recebeu em sua chegada no Brasil)
Editorial ZH (19.02.2013)
Foi emblemática a reação da blogueira e dissidente
política Yoani Sánchez ao desembarcar no Brasil e ser recebida por
manifestantes favoráveis ao regime cubano, que gritaram palavras hostis e
lançaram dólares falsos na sua direção. Com a mesma serenidade com que recebeu
a permissão para sair de Cuba depois de 20 tentativas frustradas, ela comentou:
“Gostaria que as pessoas em meu país pudessem fazer o mesmo e tivessem essa
mesma liberdade para se manifestar”. Goste-se ou não do que ela faz e
representa, é inquestionável que seu comentário contém uma pequena lição de
liberdade, além de ser um tapa de luvas no autoritarismo de quem se julga
detentor da verdade única.
O direito de livre manifestação e o direito de ir e
vir são princípios basilares da democracia. Ao negar essas prerrogativas a seus
cidadãos durante tantos anos, o socialismo cubano comprometeu até mesmo avanços
sociais inegáveis, como a oferta de educação e de um sistema qualificado de
saúde a todos os cidadãos do país. Crítica implacável do regime de Fidel Castro
e de seu sucessor Raúl Castro, a jornalista Yoani Sánchez conquistou prêmios
internacionais por suas publicações no blog Generación Y, que mantém desde
abril de 2007. A tecnologia e o acesso à rede mundial de computadores deram
amplitude à sua luta por abertura política. Embora o regime tenha imposto um
filtro que impede o acesso do blog por cidadãos cubanos, os textos de Yoani já
são traduzidos para 15 países e representam um contraponto para a imprensa
oficial.
A pressão externa teve efeito sobre o governo
cubano, que começou a afrouxar as restrições para seus cidadãos saírem da Ilha.
Desde janeiro último, como parte da chamada reforma migratória, os cubanos não
precisam mais de uma carta-convite de parentes ou amigos residentes no Exterior
para justificar suas viagens. Neste novo cenário, Yoani conseguiu o visto de
saída e começou esta semana um roteiro que inclui, além do Brasil, Argentina,
Chile, México e vários países europeus. Ao chegar a Recife, ela enfrentou a
primeira manifestação por parte de um grupo de socialistas que leram uma carta
aberta, acusando-a de pregar a desinformação e de fazer campanha anti-Cuba em
seu blog. Em Salvador, cerca de duas dezenas de pessoas ligadas a ONGs de
esquerda também a hostilizaram. Sua resposta elegante repete a frase célebre de
um dos maiores poetas da terra que visita, o inesquecível Vinicius de Moraes:
“O destino do homem é a liberdade”.
A viagem de Yoani Sánchez tem este significado para
ela e para Cuba. Não representa apenas um questionamento do regime, mas também,
e principalmente, a possibilidade de uma abertura irreversível que beneficiará
todos os cubanos e facilitará as relações do país com as demais nações. É uma
viagem para a liberdade e, como disse Albert Camus, liberdade é sempre a possibilidade
de ser melhor.
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