terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

“Creio cada vez menos em treinamentos de motivação” Roberto Shinyashiki


Sentir-se vítima dos outros não leva ninguém à presidência. Se a ideia é sua, vá lá e assuma isso"

Se você quer aumento, emprego novo ou outra forma de reconhecimento profissional, não perca tempo listando os cargos que já ocupou. Vá ao que interessa: mostre os resultados que já conseguiu. A recomendação é repetida há tempos por especialistas em recursos humanos, mas poucos lembram que a régua para medir os feitos de um profissional são os problemas superados. Esse é o mote de Problemas? Oba! – A revolução para você vencer no mundo dos negócios, o 17º livro de Roberto Shinyashiki. Psiquiatra com doutorado em administração, Shinyashiki estuda problemas e oferece técnicas para construir soluções, numa mistura energética de otimismo, parábolas e dicas, envolvendo dilemas do cotidiano, atitudes, empreendedorismo e invenções.


QUEM É
Roberto Shinyashiki, de 59 anos, é psiquiatra com doutorado em administração de empresas e economia. Administra uma editora de livros e dá palestras

O QUE FEZ
Em 36 anos de carreira como escritor, lançou 17 livros e vendeu mais de 6,5 milhões de exemplares

O QUE PUBLICOU
O sucesso é ser feliz!, Amar pode dar certo, Você, a alma do negócio e O poder da solução,entre outros 

A vida enfileira uma série de abacaxis. Devo começar a resolver pelo mais fácil?
Joice Malavolta

Roberto Shinyashiki – As pessoas bagunçam a agenda porque ficam adiando fazer algo desagradável, mas adiar não deixa a mente livre para limpar a agenda. Comece o dia fazendo o mais difícil, e o resto do dia ficará mais leve.

Quais problemas deveríamos assumir como oportunidade e quais não, para não tentar ser o “salvador da pátria”? 
Telma, São Carlos, SP

Shinyashiki – É ótimo resolver problemas, mas é importante que seja sempre um problema novo. Resolver um caso que se repete leva as pessoas a achar que você não resolveu direito da última vez.

Como tornar sua vida profissional agradável o suficiente para não se desmotivar em momentos de crise pessoal?
Vânia Costa   

Shinyashiki – A melhor maneira de nos mantermos motivados na vida profissional é ter em mente a razão de trabalhar. O trabalho de um lixeiro ficará muito pior se ele pensar apenas que está recolhendo a sujeira. E será muito mais nobre se, enquanto estiver recolhendo o lixo, tiver em mente que está embelezando o planeta.

Qual é a fórmula para ser um solucionador de problemas proativo e não ser rotulado como alguém que só quer se promover?
Marcelo Homci, São Paulo, SP

Shinyashiki – A melhor maneira de se promover é ser competente. Quem resolve problemas é admirado. Quem fala, mas não resolve, acaba colocado de lado. Quando os resultados aparecem, os críticos se calam, e os aplausos aparecem. Observe o que acontece com médicos, advogados e engenheiros que resolvem os problemas de seus clientes. A clientela deles aumenta geometricamente. Não adianta marketing pessoal para quem não entrega o resultado.

Acredito que tenha crescido na carreira por ser uma resolvedora de abacaxis, o que me tornou uma funcionária curinga. Na hora que surgem os problemas, me chamam, mas, na hora do reconhecimento, me esquecem. Estou no caminho certo?
Bárbara Veríssimo

Sentir-se vítima dos outros não leva ninguém à presidência. Se a ideia é sua, vá lá e assuma isso"

ROBERTO SHINYASHIKI 

Shinyashiki – Resolver os abacaxis, isto é, os problemas, é sempre o caminho certo. Assim você ganha respeito e confiança de seus companheiros. Se não estão reconhecendo seu valor, existem três situações possíveis: 1) você adota uma postura muito humilde, que não a ajuda a ser valorizada; 2) está resolvendo problemas pequenos que não serão valorizados mesmo; 3) a empresa não sabe valorizar seus colaboradores. Nesse caso, é melhor procurar outro lugar.

Trabalho em uma empresa há dez anos e meu salário é maior que o do mercado, mas nos últimos tempos sinto necessidade de desafios. Como resolver o impasse entre o salário e a vontade de mudança?
Jaqueline

Shinyashiki – Olhe para dentro de você e veja onde nasce esse impasse. Se em muitas situações da vida você tende a sentir-se incomodada, é bom analisar a razão desse desejo. Existem pessoas que têm a tendência de estar insatisfeitas em qualquer lugar onde estão. Se for esse o caso, em vez de mudar de emprego, aprenda a ficar inteira no que você está vivendo. Se, ao contrário, sua tendência é se acomodar com uma situação, é melhor começar a procurar dentro de si coragem para mudar.

Quando dou sugestões, colegas transformam os resultados positivos em seu marketing pessoal. Se me calo, dizem que não sei trabalhar em equipe. O que fazer?
Getúlio

Shinyashiki – Cuidado com a postura de vítima dos outros, ela não leva ninguém à presidência da empresa. Se a ideia é sua, vá lá e assuma isso.

O que fazer depois de identificar que o problema da organização é o chefe?
Lúcia, Santos, SP

Shinyashiki – É dever do subordinado é abrir os olhos do chefe. Adoro a gerente-geral da minha empresa não só porque ela faz o que peço, mas porque muitas vezes vem, com seu jeito doce, questionar um projeto meu. E, se o chefe insistir em errar, faça o que os profissionais competentes fazem: demita-o. Muitas pessoas mudam de emprego não para trocar de empresa, mas para trocar de chefe. Nós não trabalhamos para empresas, e sim para pessoas. Quando elas atrapalham nossa evolução, também merecem ser demitidas.

Que conselho você dá a quem fica reclamando da empresa ou do chefe?
Ismael de Lima

Shinyashiki – Reclamar, acusar ou dar desculpas são sinais de incompetência profissional. Pessoas com esse comportamento mostram que não assumem a responsabilidade pelo seu trabalho.

Como motivar uma pessoa?
Roberto Guimarães, Brasília, DF

Shinyashiki – Ter profissionais motivados para uma ação depende muito de escolher aqueles que têm paixão por determinado trabalho. Creio cada vez mais em escolher a pessoa certa para a função e menos em treinamentos de motivação. Quando uma pessoa é apaixonada pelo que faz, não existem problemas que a tirem do foco de seu trabalho por tempo suficiente para prejudicar seu desempenho.

PEQUENA LIÇÃO DE LIBERDADE


“Gostaria que as pessoas em meu país pudessem fazer o mesmo e tivessem essa mesma liberdade para se manifestar” (Yoani Sánchez blogueira Cubana sobre as manifestação que recebeu em sua chegada no Brasil)

Editorial ZH (19.02.2013)

Foi emblemática a reação da blogueira e dissidente política Yoani Sánchez ao desembarcar no Brasil e ser recebida por manifestantes favoráveis ao regime cubano, que gritaram palavras hostis e lançaram dólares falsos na sua direção. Com a mesma serenidade com que recebeu a permissão para sair de Cuba depois de 20 tentativas frustradas, ela comentou: “Gostaria que as pessoas em meu país pudessem fazer o mesmo e tivessem essa mesma liberdade para se manifestar”. Goste-se ou não do que ela faz e representa, é inquestionável que seu comentário contém uma pequena lição de liberdade, além de ser um tapa de luvas no autoritarismo de quem se julga detentor da verdade única.

O direito de livre manifestação e o direito de ir e vir são princípios basilares da democracia. Ao negar essas prerrogativas a seus cidadãos durante tantos anos, o socialismo cubano comprometeu até mesmo avanços sociais inegáveis, como a oferta de educação e de um sistema qualificado de saúde a todos os cidadãos do país. Crítica implacável do regime de Fidel Castro e de seu sucessor Raúl Castro, a jornalista Yoani Sánchez conquistou prêmios internacionais por suas publicações no blog Generación Y, que mantém desde abril de 2007. A tecnologia e o acesso à rede mundial de computadores deram amplitude à sua luta por abertura política. Embora o regime tenha imposto um filtro que impede o acesso do blog por cidadãos cubanos, os textos de Yoani já são traduzidos para 15 países e representam um contraponto para a imprensa oficial.

A pressão externa teve efeito sobre o governo cubano, que começou a afrouxar as restrições para seus cidadãos saírem da Ilha. Desde janeiro último, como parte da chamada reforma migratória, os cubanos não precisam mais de uma carta-convite de parentes ou amigos residentes no Exterior para justificar suas viagens. Neste novo cenário, Yoani conseguiu o visto de saída e começou esta semana um roteiro que inclui, além do Brasil, Argentina, Chile, México e vários países europeus. Ao chegar a Recife, ela enfrentou a primeira manifestação por parte de um grupo de socialistas que leram uma carta aberta, acusando-a de pregar a desinformação e de fazer campanha anti-Cuba em seu blog. Em Salvador, cerca de duas dezenas de pessoas ligadas a ONGs de esquerda também a hostilizaram. Sua resposta elegante repete a frase célebre de um dos maiores poetas da terra que visita, o inesquecível Vinicius de Moraes: “O destino do homem é a liberdade”.

A viagem de Yoani Sánchez tem este significado para ela e para Cuba. Não representa apenas um questionamento do regime, mas também, e principalmente, a possibilidade de uma abertura irreversível que beneficiará todos os cubanos e facilitará as relações do país com as demais nações. É uma viagem para a liberdade e, como disse Albert Camus, liberdade é sempre a possibilidade de ser melhor.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Lucrar no Brasil é visto como suspeito

 “Desde quando ganhar dinheiro é um problema? Nos Estados Unidos, o Steve Jobs virou um herói. Lá, ganhar dinheiro é uma coisa boa. No Brasil, não se admite o sucesso empresarial. Aqui, ganhar dinheiro é suspeito, é aparentemente incorreto, não é bem-visto”


Portal Infomoney


Alexandre Schwartsman tem se transformado em um dos mais ferinos críticos da política econômica do governo. À medida que cresce o intervencionismo estatal na economia, o ex-diretor do Banco Central, ex-economista-chefe do Santander e sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica eleva o tom de suas críticas.

Para ele, é um erro forçar as empresas mais lucrativas do país a contribuir com o desenvolvimento. “Desde quando ganhar dinheiro é um problema? Nos Estados Unidos, o Steve Jobs virou um herói. Lá, ganhar dinheiro é uma coisa boa. No Brasil, não se admite o sucesso empresarial. Aqui, ganhar dinheiro é suspeito, é aparentemente incorreto, não é bem-visto”, diz ele à Revista InfoMoney. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Revista InfoMoney – Há um excesso de intervenção do governo na economia?
Alexandre Schwartsman – Há um grau de intervenção que não deu certo em nenhum país do mundo. Por que daria certo no Brasil? Só porque Deus é brasileiro?

IM – As maiores e mais lucrativas empresas do Brasil parecem estar sendo chamadas a dar sua contribuição ao país. Você concorda com essa política?
AS – Parece um mau critério. Desde quando ganhar dinheiro é um problema? Nos Estados Unidos, o Steve Jobs virou um herói. Lá, ganhar dinheiro é uma coisa boa. No Brasil, não se admite o sucesso empresarial. Ganhar dinheiro aqui é suspeito, é aparentemente incorreto, não é bem-visto. Qual é o problema de a Vale ganhar dinheiro? Ela não tem que dividir com ninguém, não.

IM – A produção de petróleo e de etanol não tem crescido como esperado. Seriam dois exemplos de como a maior interferência estatal pode afastar investimentos?
AS – Sim. Não temos um desempenho pífio em produtividade por acaso. Estamos colhendo o que plantamos. No caso do pré-sal, antes de se discutir como o petróleo seria extraído, já se discutia como o dinheiro seria dividido. A galinha dos ovos de ouro ainda não tinha posto ovo nenhum, mas já se discutia a partilha desses ovos. Precisa primeiro produzir, não é? Em relação ao etanol, o governo pressiona os usineiros a não reajustar os preços na entressafra, mas depois não vem mais investimento.

IM – Foi errada a forma como o governo lidou com a renovação das concessões do setor elétrico?
AS – Reduzir o preço da energia com a eliminação de impostos é correto. Mas foi feito de uma maneira bem forçada. Eles desvalorizaram brutalmente o valor das concessões. Não é à toa que está havendo destruição de valor do setor elétrico, da Petrobras ou do setor bancário na Bolsa. Os acionistas desses setores devem estar bem infelizes.

IM – No setor bancário, não faz sentido o governo tomar medidas para reduzir os spreads?
AS – Os bancos não são tão lucrativos assim. Ainda que o Itaú tenha uma rentabilidade sobre o patrimônio líquido acima de 20%, a média do setor bancário está em 13% a 14%. É bem menor que o retorno da Vale, por exemplo. A história do spread bancário é curiosa. Os spreads são muito menores do que o número apresentado pelo BC, que deixou criar-se uma lenda de que os bancos têm um ganho gigantesco. De qualquer forma, você acha que o governo deve punir o Itaú e a Vale porque eles lucram muito?

IM – No caso das teles, em que o serviço é ruim, o governo não deveria pressioná-las?
AS – As teles têm uma regulamentação diferente porque são monopólios ou oligopólios que lidam com serviços públicos. Se a qualidade despencou, tem que se cumprir o marco regulatório. O governo chegou a fazer uma intervenção e proibir a venda de novas linhas, mas semanas depois levantou a proibição. Eu garanto que, em algumas semanas, o serviço não melhorou. O próprio governo é que esvaziou as agências que deveriam tomar conta desses serviços. Ficar avaliando se o setor lucra muito ou pouco é um erro. O que importa é se ele está cumprindo ou não o contrato de concessão. Serviço público deve ter compromisso de qualidade.

IM – O que muda na cabeça do empresário com tantas intervenções estatais?
AS – O governo não dá incentivos ao empreendedorismo. O que vale mais a pena no Brasil de hoje: pensar em um produto inovador ou se aproximar do BNDES para conseguir a liberação de um empréstimo subsidiado? O que o empresário quer é tomar dinheiro com juros de 6% ao ano ou então negociar barreiras a concorrentes estrangeiros. Pense no produtor de vinho brasileiro. Vale mais a pena investir para aumentar a qualidade do produto nacional ou tentar convencer o governo a impor barreiras aos importados? Investir em lobby é muito mais barato do que investir em produção. Quem está protegido não precisa se preocupar com aumento da produtividade. A Apple só tem tantas sacadas geniais porque sabe que, se pisar na bola, a Samsung estará no encalço deles.

IM – Quando o governo aumenta as barreiras para carros importados, ele diz que é para proteger os empregos no país...
AS – Mas não estamos com falta de emprego. O setor automotivo é um negócio extraordinário. Eles têm proteção quando estão mal e incentivos quando estão bem. Quanto as montadoras já levaram em pacotes de estímulos? R$ 1 milhão por emprego? Seria melhor distribuir esse dinheiro aos trabalhadores.

IM – Alguns setores beneficiados com juros subsidiados são os de frigoríficos e celulose. Nesse caso, o governo prega a formação de campeões nacionais em setores em que o país é competitivo. Faz sentido?
AS – Se somos tão bons, por que o governo precisa ajudá-los? A ideia de formação de campeões nacionais tem criado verdadeiros monopólios. A consolidação de setores geralmente envolve o fechamento de algumas plantas. Só aqui o governo subsidia até a redução do emprego. No fundo, quem é próximo do poder consegue arrancar um subsídio contando uma historinha.

A mágica dos batedores de carteira acabou. A farsa mostra os dentes

Distribuiram cargos a incompetentes. Bastava que fossem fiéis ao comando da quadrilha. Ressuscitaram cadáveres que sepultamos em cova rasa. Uniram-se à podridão, a tal ponto que não conseguimos mais distinguir a lama do esgoto. São uma coisa só. É caso de festejar o que está por vir? O retorno da inflação, o perverso imposto que sufoca a todos?


Por REYNALDO ROCHA

Havia uma herança, qualificada de maldita pelos asseclas dos corruptos que transformaram um país real em uma ilusão de circo.
Esta herança permitiu que embriagados governantes e mentirosas coléricas assumissem o comando do Brasil, E fossem mitificados. Como se tivessem participado de construções que sequer os admitiriam como auxiliares de pedreiro.
Como vulgares batedores de carteira, proclamaram-se donos do que roubaram. E tentaram mais: roubar a história.
Distribuiram cargos a incompetentes. Bastava que fossem fiéis ao comando da quadrilha. Ressuscitaram cadáveres que sepultamos em cova rasa. Uniram-se à podridão, a tal ponto que não conseguimos mais distinguir a lama do esgoto. São uma coisa só.
É caso de festejar o que está por vir? O retorno da inflação, o perverso imposto que sufoca a todos?
Não creio. Não quero. Não desejo.
Mas parece-me inevitável. Nada do que se disse, expôs e cobrou foi levado em conta. Os ignorantes orgulhosos preferiram debitar as críticas na conta de sempre: só discordam do governo iluminado os que sempre são do contra.
Reclamar do inchaço da máquina administrativa? Da ineficiência derivada da falta de planejamento? Da corrupção que multiplica por dois o valor de qualquer obra? Dos companheiros que nunca souberam administrar sequer uma loja de R$ 1,99? Da ingerência absurda do Estado na economia, só chamando a odiada (por eles) iniciativa privada quando não há mais conserto nem recurso?
Valeu trocar “privatização” por “desestatização”, como agora se lê?
A fórmula de FHC não era poção mágica. Era caminho, direção. Eles nunca entenderam isto. Os ignorantes que nada sabem fingem saber de tudo.
A Petrobras arrasada por Gabrielli e Lula. O BNDES reduzido a agência de socorro para amigos do governo. Fundos de pensões estatais aplicam mal e porcamente o dinheiro dos associados.
E assim se cria uma ilusão. Guido Mantega, como Cristina Kirchner, já é uma piada internacional. A credibilidade que o Brasil conseguiu ─ a duras penas ─ no governo FHC e foi mantida por Henrique Meireles (tucano, nunca aceito pelos geniais economistas do PT!) está perdida.
A nós resta a certeza de que virão dias difíceis. A mágica acabou. A farsa mostra os dentes.
Restará uma herança. Esta sim, maldita.
Na era da mediocridade, perdemos o que ganhamos.
A dignidade, a ética, a supremacia da verdade, o respeito ao estado de direito e à diversidade de ideias, isso já estava perdido.
Perderemos a última construção de governos anteriores.
Eles não se importam. Nunca se importaram com nada que não fosse elogio ou histérica idolatria.
O que vai sobrar?
Sem oposição, sem crítica e sem quem nos represente, resta observar o covil dos lulopetistas destruindo com as patas sujas o que nunca conseguiram entender.
E que nós, mais uma vez, teremos que reconstruir.
Resta saber com quem.



quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

PODER DE MEIA PATACA

E agora, senhores? Tendes os pés enfiados na lama dos maus negócios, depreciais a democracia que outrora desprezáveis, andais com os piores dentre os piores. Aviltais a política, tendes o parlamento a soldo. Para escândalo da pátria, numa expiação às avessas, jogais no precipício as virtudes que ela civicamente reclama.

        Por  Percival Puggina
  

          O Senado Federal decidiu. Quer ser aquilo que vem sendo - um poder nanico, reles, de meia pataca. Não creio que exista na história universal algo semelhante ao que passa a constar da biografia de Renan Calheiros: um senador que tendo renunciado à presidência do poder de modo vexatório, por pressão dos colegas, denunciado por conduta indigna, retorna ao posto, cinco anos mais tarde, arrebatando voto e aplauso de setenta por cento de seus pares.


             Alguém poderá dizer que não existem mais senadores biônicos, que todos estão lá pelo sufrágio de seus concidadãos. É verdade. O pior é que é verdade. A maioria dos eleitores alagoanos, de fato, não leva muito em consideração as virtudes morais e cívicas de seus escolhidos. Lá, o que mais conta numa campanha eleitoral é a conta a mais que se tenha no banco. Um povo pobre, com o pior índice de desenvolvimento humano, a maior taxa de analfabetismo e o terceiro menor PIB per capita do país tem exigências que não vêm do espírito mas do aparelho digestório. Critique-se, então, as elites alagoanas e não o povo por suas péssimas contribuições ao Congresso Nacional.


            No entanto, bem diferente é o que acontece quando o Senado, ou melhor, a ampla maioria dos senadores referenda a escolha dos desvalidos e pouco exigentes alagoenses e reconduz Renan Calheiros à presidência do Congresso. O homem da boiada mais valiosa do Brasil tornou-se o terceiro na sucessão presidencial. E veja bem o leitor: os senadores que o consagraram com seus votos secretos e que destapadamente o aplaudiram têm IDH altíssimo, invejável PIB per capita, são alfabetizados e ocupam a tribuna com frases que parecem provir de espíritos elevados. Há cinco anos, narizes torcidos, se retiravam do plenário quando Renan aparecia para presidir a sessão. Negavam-lhe cumprimento, mudavam de calçada. O homem não entrava em casa de respeito. Agora o aplaudem.

  
            Eu me lembro, eu me lembro. Eu me lembro do PMDB que mobilizou o país nos anos 80 com homens da mais elevada estatura moral. Eu me lembro do PT crescendo sem poder nem obras, como partido político de massas, eleição após eleição, tendo como ferramenta de maior serventia o lança-chamas das suspeitas com que - justa e injustamente - fazia arder a honra de seus adversários. Quanto fingimento! E agora, senhores? Tendes os pés enfiados na lama dos maus negócios, depreciais a democracia que outrora desprezáveis, andais com os piores dentre os piores. Aviltais a política, tendes o parlamento a soldo. Para escândalo da pátria, numa expiação às avessas, jogais no precipício as virtudes que ela civicamente reclama.


       Renan presidente do Senado serve ao projeto de poder? As ordens do governo serão obedecidas? Então, Renan neles! Quanto pior, quanto menor, quanto mais nanico, quanto mais comercial for o parlamento, melhor para o Palácio do Planalto. Sabem por quê? Porque aquele poder, em tudo que realmente interessa, é igualmente nanico, reles, de meia pataca. Seria incompatível com um legislativo que se desse o respeito.