O
rancor provocado pelo Walmart nos ungidos só pode estar ligado a um latente
inconformismo com o fato de que ele consiga abastecer o mercado de forma
eficiente, abundante e econômica, algo que as suas utopias socialistas jamais
conseguiram. O êxito do WM está diretamente relacionado aos preços baixos que
pratica, os quais beneficiam milhões de consumidores, especialmente de baixa
renda. Estivessem os ungidos realmente em sintonia com os seus discursos e
preocupados com os mais pobres, deveriam ser os primeiros a desejar-lhe vida
longa e próspera. No entanto, o sucesso de empresas como esta representa um
perigo real para todos aqueles que ainda insistem em enxergar o capitalismo
como algo nocivo.
Por
João Luiz Mauad (Ordem Livre)
O
tempo passa, as sociedades evoluem, as ideias se renovam, mas há coisas que não
mudam jamais. O ódio das esquerdas ao livre mercado, por exemplo, é uma delas.
Esse ódio, entretanto, tem contornos extremamente contraditórios, pois parte
daqueles que, pelo menos da boca para fora, se intitulam defensores dos fracos
e dos oprimidos. Afinal, o capitalismo tem como principal virtude oferecer
produtos e serviços de forma abundante e a preços accessíveis, transformando os
consumidores de baixa-renda nos seus principais beneficiários.
Peguemos,
por exemplo, a fúria dos ungidos¹ contra o Walmart. A acusação mais
frequente a esse maldito conglomerado — que insiste em vender mais barato que a
concorrência — é de que ele paga salários muito baixos aos seus empregados,
além de não conceder certos benefícios extras, “exigidos” por sindicatos de
trabalhadores. A ladainha é a mesma de sempre: o capitalista ganancioso explora
o trabalhador indefeso, pagando-lhe salários injustos.
O
que os ungidos nunca dizem é que a empresa da Família Walton costuma empregar
muitos jovens, sem qualquer experiência profissional anterior, e idosos, que
trabalham para complementar suas aposentadorias. “Esquecem” ainda que, se esses
indivíduos não estivessem trabalhando para o Walmart, estariam provavelmente
engordando os índices de desemprego, já que em qualquer país livre, como os EUA
e outros onde o WM está instalado, ninguém pode obrigar os demais a trabalhar.
Os contratos são atos voluntários entre as partes e, portanto, se existe gente interessada
em vender serviços a um patrão ganancioso e malvado, é porque as alternativas
certamente seriam piores. Porém, nada disso importa diante do indefectível
argumento da exploração do trabalhador pelo bicho-papão capitalista, que dá
origem à não menos famosa e estapafúrdia teoria da luta de classes, sofisma
marxista subjacente à maioria das críticas ao processo capitalista.
A
ciência econômica é, frequentemente, contraintuitiva (oposta ao senso comum) e,
por isso, quase sempre mal compreendida pela maioria das pessoas (muito por
culpa dos próprios economistas, que fazem questão de torná-la ininteligível
para os reles mortais). A vanguarda do atraso se vale exatamente dessa
dificuldade cognitiva para espalhar desinformação e, de quebra, todas as
falácias que lhes interessam.
Ludwig
Von Mises foi um dos economistas que fugiu à regra acima. No seu
monumental Ação Humana, ele discute o
tema do trabalho de forma brilhante e exaustiva, explicando detalhadamente como
e porque a labuta só é preferível ao ócio (termo usado aqui no sentido de
“não-trabalho”) até onde o produto daquela é mais urgentemente desejado do que
satisfação gerada por este. O homem, ao considerar o esforço físico, mental ou
psicológico do trabalho, avalia não somente se haveria um fim mais desejável
para o emprego de suas energias, mas também, e não menos, se não seria mais
conveniente e satisfatório abster-se dele. O ócio seria, portanto, “objeto da
ação intencional do ser humano”, ou, nas palavras do autor, um “bem econômico
de primeira ordem”, enquanto o trabalho é somente um dos meios utilizados para
alcançá-lo.
Qualquer
que seja o nível de renda, portanto, a maioria dos homens estará propensa a
largar o trabalho no ponto em que não mais considere a sua utilidade como compensação
suficiente para o desconforto gerado por ele. Por esse mesmo raciocínio, se
houver alguém disposto a pagar para que não façamos nada, o produto do trabalho
terá que ser bem mais alto e, consequentemente, compensador, para que nos
disponhamos a abandonar o ócio remunerado (vide o resultado de programas como
seguro-desemprego, Bolsa-Família e congêneres na oferta de mão-de-obra).
Esta
lição simples é constantemente negligenciada pelos ungidos ao vomitar sobre nós
os seus sofismas econômicos. Malgrado a fantasia marxista da “mais valia” já
tenha sido sobejamente desmentida por inúmeros economistas, a imagem
apresentada ao público continua sendo a de que as grandes corporações se
beneficiam dos baixos salários pagos aos funcionários ou, em palavras mais
exatas, que o capital é o grande vilão do trabalho.
Não
é outra a razão por que essa gente é contrária a qualquer avanço econômico ou
tecnológico. No passado, espernearam contra inovações que melhoraram muito a
vida do ser humano em geral, como a linha de montagem e a mecanização
industrial. Hoje, combatem a robótica, os computadores e tudo quanto possa
aumentar a produtividade de um trabalhador. Aqui no Brasil, por exemplo, os
ungidos lutam contra o agro-negócio e defendem a volta de uma extemporânea
agricultura familiar.
O
rancor provocado pelo Walmart nos ungidos só pode estar ligado a um latente
inconformismo com o fato de que ele consiga abastecer o mercado de forma
eficiente, abundante e econômica, algo que as suas utopias socialistas jamais conseguiram.
O êxito do WM está diretamente relacionado aos preços baixos que pratica, os
quais beneficiam milhões de consumidores, especialmente de baixa renda.
Estivessem os ungidos realmente em sintonia com os seus discursos e preocupados
com os mais pobres, deveriam ser os primeiros a desejar-lhe vida longa e
próspera. No entanto, o sucesso de empresas como esta representa um perigo real
para todos aqueles que ainda insistem em enxergar o capitalismo como algo
nocivo.
Nota
[*]
Uma gente que “acredita estar de posse de alguma sabedoria especial capaz de
fazer do mundo um lugar melhor”. (Thomas Sowell, em The Vision of The Anointed:
Self-Congratulation as a Basis for Social policy)
*
Publicado originalmente em 26/08/2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário