“Sempre chega um momento em que você diz: isso é maior do que nós somos, será muito difícil, não é o momento... É preciso ir”, aconselhou Roberto Civita, citando a coragem e a ousadia como as principais qualidades para as próximas gerações de empreendedores. “Você não chega a lugar nenhum se não ousar”, refletiu o presidente do conselho de administração do Grupo Abril, que morreu neste domingo, 26, em São Paulo, após dedicar mais de cinco décadas da sua vida a transformar a editora criada em 1950 por seu pai, Victor Civita, em um dos maiores conglomerados editoriais da América Latina.
Em uma conversa com o presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, durante o CEO Summit em 2011, Civita observou que, embora o Brasil de hoje seja muito diferente do Brasil em que começou a trabalhar, algumas coisas atravessaram os anos e continuaram valendo de uma geração para outra.
Contou por exemplo que seu pai nunca distribuiu um dividendo, por mais de 40 anos, para reinvestir o tempo todo no negócio. “Ele não pensava em termos de dinheiro, pensava só em fazer”, relatou o empreendedor. Outra questão que coloca é a obsessão por fazer bem feito. “Todos os diretores das revistas sabem: posso aceitar qualquer coisa, menos que não sejam o número 1 no seu segmento”.
Civita ressaltou também o foco nas pessoas: “quem você contrata, como você trata”. A seu ver, qualquer empresa depende em primeiro lugar das pessoas que trabalham nela. Além disso, o exemplo que você dá é fundamental. Por último, destacou a necessidade de ser obsessivo: “Eu não acredito em sucesso de quem não trabalha mais que os outros. Ninguém que eu respeito não trabalha sábado e domingo. Lamento: se não quiser, tudo bem, mas a sua empresa não irá a lugar algum”. Para ele, a paixão é 90% da batalha ganha. “Se fizer algo somente para ganhar dinheiro, estou certo de que chegará ao fim da vida achando que perdeu o seu tempo.”
Uma das virtudes que mais admirava no pai era a capacidade de deixar os filhos fazerem e, principalmente, errarem. “Quando eu já havia estudado e trabalhado fora, estabeleci uma condição para voltar: queria fazer uma revista como a Time, onde estava trabalhando, uma revista como a Fortune, por ser uma revista de negócios, e uma como a Playboy, porque eu tinha 22 anos”, contou, em tom bem-humorado. “Meu pai disse: Não tem a menor condição de fazermos isso agora, mas venha e faremos”, e teve a paciência de esperar seis anos até que a revista Veja – que idealizou e lançou em 1968 – desse um retorno positivo para a empresa.
No que se trata de sucessão, Roberto Civita acredita que passar uma empresa de uma geração para outra muitas vezes é uma questão de sorte. Em sua opinião, é muito difícil conseguir alguém com competência, vontade e no momento certo de vida para isso. Mas conta que o seu sonho grande é que, nos próximos 50 anos, a Abril continue relevante na discussão, no esclarecimento e na conscientização dos brasileiros. O que poderia possibilitar isso? Não perder o objetivo. “O importante não é o que você coloca na página, mas o que sai da página para a cabeça do leitor”, citou o empreendedor, parafraseando Henry Luce, fundador da revista Time.
Veja o vídeo com sua entrevista no portal da endeavor, clicando AQUI
Por Carolina Pezzoni, editora do Portal Endeavor.
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