O capitalismo de estado e o capitalismo de compadres, que são a própria negação do capitalismo de livre mercado, criaram um ambiente perfeito para o desenvolvimento de uma cultura de dependência e de prosperidade sustentada pelo governo. (..) No lugar de um conflito de classes, uma divisão entre privilegiados e desprivilegiados pelo governo.
Por BrunoGarschagen
O capitalismo de estado e o
capitalismo de compadres, que são a própria negação do capitalismo de livre
mercado, criaram um ambiente perfeito para o desenvolvimento de uma cultura de
dependência e de prosperidade sustentada pelo governo. Em vez
de um conflito de classes sociais, que tanto aquece o coração dos marxistas,
temos uma clivagem muito bem estabelecida entre a elite política e seus
beneficiários diretos e indiretos e a sociedade, que é obrigada a financiá-los
mediante os tributos. No
lugar de um conflito de classes, uma divisão entre privilegiados e
desprivilegiados pelo governo.
Considerando que os indivíduos
agem e reagem diante dos incentivos disponíveis, não impressiona o fato de que
uma parte dos empresários brasileiros queira se aproximar dos poderes políticos
a fim de desenvolver suas atividades, aceitando as regras do jogo (corrupção e
outros tipos de crimes), e uma parcela cada vez mais numerosa da população veja
o serviço público, este oxímoro, como o fim último de sua vida profissional.
No primeiro caso, torna-se mais
fácil e rentável, na perspectiva dessa categoria especial de empresários, ser
um dos privilegiados com contratos públicos e com todas as benesses advindas da
relação íntima com quem está na cadeia de comando do que atuar no mercado
disputando consumidores. Quando
uma empresa decide persuadir políticos e servidores públicos em vez de
convencer consumidores, está mais próxima do Código Penal do que de uma economia
de mercado. Se não
temos no Brasil uma sociedade politizada que faz suas escolhas políticas de
acordo com as ideologias dos partidos, por que será que parte dos empresários
continua a financiar legal e ilegalmente as campanhas dos candidatos, muitos dos
quais notórios críticos do mercado?
Do lado do governo, os incentivos
não deixam dúvidas de quem pretende privilegiar. A
iniciativa privada (das micro às grandes empresas) é constantemente
desestimulada, atacada, violada mediante milhares de burocracias; a obscena
carga tributária; as sistemáticas mudanças nas regras do jogo; as escolhas de
vencedores na concessão de empréstimos e na expansão do crédito pelos bancos
públicos; o subsídio às exportações; os vários incentivos fiscais para setores
favoritos do governo, etc.
No que se refere ao interesse
crescente pelo serviço público, além de atacar direta e indiretamente a
iniciativa privada, o governo (considerando aqui os poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário) se apresenta ao mesmo tempo como o melhor empregador:
o que oferece remunerações iniciais mais altas, estabilidade, aposentadoria
integral, crédito com juros especiais para compra da casa própria, enfim,
milhares de escandalosos benefícios e garantias sem qualquer risco e maiores
exigências para o servidor. Considerando que se trabalhar o
servidor recebe seus vencimentos, e se não trabalhar, também recebe, qual é o
incentivo que aquele servidor competente terá para melhorar o seu desempenho? Quem o
faz por conta própria, já tem um lugar garantido no céu.
Para quem estuda o assunto, não
impressiona o fato de que ao longo da história, e especialmente a partir da
segunda metade do século XX, o governo tenha ampliado as suas atribuições, os
seus poderes e a sua dimensão e que o estado tenha crescido proporcionalmente. Quanto
mais poder concentra, sobra menos espaço na sociedade civil para que os
privados, que são a maioria da população, possam viver suas vidas sem serem
incomodados, atacados e espoliados legalmente.
Sendo este o ambiente cultural,
político e econômico ordinário, não causa espanto que os empresários
privilegiados pelo governo queiram manter as coisas como estão e que a maioria
dos empresários desprivilegiados tenha receio de qualquer tipo de confronto ou
mesmo de defender a liberdade de mercado ou o capitalismo de livre mercado
(considerando que eles saibam o que ambos significam). É
tragicamente natural que, diante desse quadro, os desprivilegiados tenham
receio ou vergonha de serem o que são e de fazerem o que fazem e que contribuam
para o desenvolvimento do capitalismo envergonhado.
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