Nossos governos, todos eles, quase nunca atacam as causas dos desarranjos, apenas suas consequências. Distorções causadas por gastos públicos excessivos – impostos elevados, infraestrutura precária, juros altos e câmbio apreciado – limitam a competitividade de vários setores. As respostas? Tentar forçar, na marra, a queda dos juros e a queda do Real, ou então elevar impostos de produtos importados. Isto transfere a conta das empresas para o consumidor, através de uma alta da inflação, transformando o Brasil em um país caro, ao invés de um país rico.
Por Ricardo Amorim (Revista
Istoé)
Novamente, o governo adotou várias
medidas para combater a desaceleração da economia causada pelos efeitos globais
da crise europeia.
Tais medidas ilustram bem os defeitos
da economia brasileira. Somos o país do plano B. Falta o plano A. Não
planejamos, nem temos um modelo de desenvolvimento. Também na economia, somos o
país do puxadinho, do combate à doença, ao invés da prevenção. Já dizia Peter
Drucker que a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo. Nós não prevemos,
não criamos, nem agimos. Apenas reagimos.
O governo alega que a crise europeia e
suas consequências eram imprevisíveis. Mentira. Meus leitores já sabem disto faz tempo.
Nossos governos, todos eles, quase
nunca atacam as causas dos desarranjos, apenas suas consequências. Distorções
causadas por gastos públicos excessivos – impostos elevados, infraestrutura
precária, juros altos e câmbio apreciado – limitam a competitividade de vários
setores. As respostas? Tentar forçar, na marra, a queda dos juros e a queda do
Real, ou então elevar impostos de produtos importados. Isto transfere a conta
das empresas para o consumidor, através de uma alta da inflação, transformando
o Brasil em um país caro, ao invés de um
país rico.
Reações favoráveis da maior parte da
opinião pública a algumas medidas recentes mostram o quanto o capitalismo ainda
tem de evoluir por aqui.
O melhor exemplo é o uso de bancos
públicos para forçar bancos privados a reduzirem suas taxas de juros. Sou
favorável ao máximo de competição possível em qualquer setor da economia.
Entretanto, não dá para esperar que um país com os mais altos níveis de juros
básicos, tributação do sistema financeiro e alíquotas de depósitos compulsórios
do mundo não tenha também as mais altas taxas de juros ao consumidor e às
empresas. “Mas os bancos lucram demais.” Este argumento carrega uma contradição
que nos condena ao fracasso. Vivemos em um sistema capitalista onde lucrar é
pecado.
Com sua atuação onipresente, o Estado
quebra um dos pilares do capitalismo: a livre iniciativa. Casos de
favorecimento a grupos, empresas e indivíduos pelo Estado – sem falar em uma
cachoeira de corrupção – criaram a percepção de que, no capitalismo brasileiro,
qualquer lucro é suspeito. Um histórico de lucros privados e prejuízos
socializados distorceu ainda mais a percepção da sociedade em relação aos
empresários e empreendedores. Nos EUA, um empresário de sucesso desperta admiração,
no Brasil, desconfiança. Somos um pássaro com vergonha de voar. Esta não é uma
receita de desenvolvimento, mas de atraso.
Faria melhor o governo retirando
entraves à competitividade da economia, o que só será possível com redução de
gastos públicos e fim do envolvimento do Estado em tudo, e das benesses que já
chamei aqui de Bolsa-Brasil.
Feito isso, ele precisa abolir os entraves à competição, abolindo “resgates” de
setores ou empresas em dificuldade. Em um regime capitalista, para que haja
vencedores, também haverá perdedores.
O Brasil tem de adotar políticas de
redistribuição de oportunidades e capacitação, que tornam não apenas os pobres,
mas toda a sociedade mais rica. Políticas diretas de redistribuição de renda,
na maioria das vezes, tornam os ricos e a sociedade permanentemente mais
pobres, e os pobres apenas temporariamente mais ricos. Já passou da hora de
garantirmos a todos uma boa educação e substituirmos o ódio ao lucro por uma
ode ao lucro.
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