sexta-feira, 25 de abril de 2014

O PT começou a morrer. Quem bom!

Há nas ruas, nas redes sociais, em todo canto, sinais claros de enfraquecimento da metafísica petista. Percebe-se certo cansaço dessa estridência permanente contra os adversários, tratados como inimigos a serem eliminados. Se, em algum momento, setores da sociedade alheios à militância política profissional chegaram a confundir esse espírito guerreiro com retidão, vai-se percebendo, de maneira inequívoca, que aquilo que se apresentava como uma ética superior era e é apenas uma ferramenta para chegar ao poder e nele se manter.
Por Reinaldo Azevedo (Folha de SP)
O PT ensaiou uma reação quando veio a público a avalanche de malfeitorias óbvias na Petrobras: convocou o coração verde-amarelo da nação. Tudo não passaria de uma conspiração dos defensores da "privataria", interessados em doar mais essa riqueza nacional ao "sagaz brichote", para lembrar o poeta baiano Gregório de Matos, no século 17, referindo-se, em tom de censura, aos ingleses e a seu espírito mercantil. Não colou! A campanha não pegou. A acusação soou velha, do tempo em que a ignorância ainda confundia capitalismo com maldade.
Desta vez, parece, os larápios não vão usar o relincho ideológico como biombo. Até porque, e todo mundo sabe disto, ninguém quer nem vai vender a Petrobras. Infelizmente, ela continuará a ser nossa, como a pororoca, o amarelão e o hábito de prosear de cócoras e ver o tempo passar –para lembrar o grande Monteiro Lobato, o pai da campanha "O petróleo é nosso". A intenção era certamente boa. Ele não tinha como imaginar o tamanho do monstro que nasceria em Botocúndia.
Há nas ruas, nas redes sociais, em todo canto, sinais claros de enfraquecimento da metafísica petista. Percebe-se certo cansaço dessa estridência permanente contra os adversários, tratados como inimigos a serem eliminados. Se, em algum momento, setores da sociedade alheios à militância política profissional chegaram a confundir esse espírito guerreiro com retidão, vai-se percebendo, de maneira inequívoca, que aquilo que se apresentava como uma ética superior era e é apenas uma ferramenta para chegar ao poder e nele se manter.
A arte de demonizar o outro, de tentar silenciá-lo, de submetê-lo a um paredão moral seduz cada vez menos gente. Ao contrário: há uma crescente irritação com os estafetas dedicados a tal tarefa. Se, antes, nas redes sociais, as críticas ao petismo eram tímidas, porque se temia a polícia do pensamento, hoje, elas já são desassombradas. E se multiplicam. Os blogs sujos viraram caricatura. A cultura antipetista está em expansão. E isso, obviamente, é bom.
Notem: não estou a fazer previsões eleitorais. Não sei se Dilma será ou não reeleita; não me importa se o PT fará mais parlamentares ou menos; mais governos de Estado ou menos. Quem me lê deve supor o meu gosto para cada uma dessas possibilidades. Ainda que o partido venha a ter o melhor desempenho de sua história, terá começado a morrer mesmo assim. Refiro-me, à falta de expressão mais precisa, a uma "agitação das mentalidades" que costuma anunciar as mudanças realmente relevantes.
Pegue-se o caso do PT: não nasceu em 1980. Surgiu alguns anos antes, de demandas geradas por valores a que a política institucional, as esquerdas tradicionais e o nacionalismo pré-64, que remanescia, já não conseguiam responder. À diferença do que ele próprio deve pensar, Lula não inventou o PT. O espírito do tempo é que inventou Lula.
"Ah, mas a oposição não tem projeto!" A cada dia, fica mais evidente que essa história de "projeto" é conversa para embalar idiotas. Não é preciso parir a novidade a cada eleição. Ao contrário: o espírito novidadeiro costuma traduzir um vazio de ideias. Estancar a ladroagem nas estatais é uma boa proposta. Parar de flertar com a inflação é uma boa proposta. Desmontar o aparelhamento do estado é uma boa proposta. Estabelecer parcerias com o setor privado, em vez de comprar a sua adesão com subsídios e renúncia fiscal, é uma boa proposta. E nada disso compõe, exatamente, um "projeto". A propósito: qual é o do PT?
Se querem, para o bem do país, tirar Dilma do trono, seus adversários devem se ocupar menos de encontrar a "pedra filosofal da oposição" do que de lembrar que estão a falar com um povo, na média, decente, a cada dia menos tolerante com bandidos que prometem a nossa salvação. Espero que Aécio Neves e Eduardo Campos descubram, finalmente, a força dos indivíduos e de seu senso de moralidade. São eles que criam o espírito do tempo. E que formam o povo.


terça-feira, 22 de abril de 2014

No Brasil, Mark Zuckerberg não criaria o Facebook pois estaria na fila de um cartório. Ou: Um desabafo do empreendedor sobre a burocracia no Brasil

Conhecem o jogo do “Vence, Vence”? É aquele jogo que você tira a certidão negativa e alguma outra vence (expira); quando você tira esta, alguma outra vence. O desafio é ter todas na validade ao mesmo tempo. É um jogo tão demorado quanto o Quadribol (dos livros do Harry Potter) pode demorar. Só em fantasia para se criar um negócio desses.
Sonho com o dia que a burocracia e os tributos não forem mais nossos maiores desafios para empreender. Nesse dia me sentirei livre de verdade para empreender e enfrentar os desafios que os grandes empreendedores devem enfrentar com 100% de seu foco: concorrência, inovação, gestão, formação de talentos.
Por Caio Bonatto é sócio-fundador da TecVerde. (Endeavor)

Quando fui convidado para escrever um artigo sobre a burocracia no Brasil, a primeira imagem que me veio à cabeça foi do Mark Zuckerberg na fila de um cartório. Confesso que ri. Ri para não chorar.

Há poucos meses, nossa empresa conseguiu o feito hercúleo de ser aprovada para receber um financiamento atrelado à inovação. E vou abrir um parêntese aqui para explicar porque foi tão difícil: provar que o negócio era inovador e o projeto de alto impacto foi o menor dos desafios. Aliás, a maior preocupação não estava aqui, e sim nas garantias, na documentação dos proprietários das garantias, na documentação dos sócios da empresa proprietária das garantias, e fiquei pasmo quando chegou ao nível de documentação dos cônjuges dos sócios da empresa proprietária das garantias para um financiamento que estava sendo tomado por nós. Assinaturas e mais assinaturas, registros em cartórios no Paraná, Santa Catarina e São Paulo, por conta de onde os sócios se encontravam.
E sem falar nas certidões... Aqui a história entra em seu clímax. Nem preciso dizer que aqui foi onde os burocratas conseguiram seus maiores feitos, certo? Aqui eles usaram toda criatividade e dedicação para deixar a coisa o pior possível. Tornaram o processo tão amarrado e ineficiente quanto ninguém poderia imaginar. É certidão para tudo que você faz na vida. O processo com as certidões para esse financiamento me deixaram sequelas: a Síndrome do Pânico das Certidões. Os sintomas são: palpitação nas pálpebras, formigamento nos lábios, dor no pescoço, arritmia cardíaca, perda de apetite. Conhecem o jogo do “Vence, Vence”? É aquele jogo que você tira a certidão negativa e alguma outra vence (expira); quando você tira esta, alguma outra vence. O desafio é ter todas na validade ao mesmo tempo. É um jogo tão demorado quanto o Quadribol (dos livros do Harry Potter) pode demorar. Só em fantasia para se criar um negócio desses.
No nosso caso, uma das centenas de certidões não estava dando negativa – ou seja, estava barrando o empréstimo. E quando fomos tentar entender o porquê, o sistema da Receita estava fora de ar. Durante uma semana, fomos todos os dias e não conseguimos respostas. No décimo dia, alguém conseguiu verificar que a receita havia processado erroneamente uma informação e que precisaria corrigi-la. Eram R$200,00 que constavam como não pagos, mas que já haviam sido quitados por nós. Mas não importava. Eles sabiam disso, mas precisavam de outros papeis, precisavam seguir o protocolo. Porém, havia um grande porém: o sistema estava fora de ar.
Nosso financiamento estava travado por conta disso. E por conta de todo o restante da burocracia o processo de obtenção do financiamento já estava em seu quarto mês. O sistema ficou fora de ar por 15 dias, aproximadamente. Demoraram mais uma semana para processar a informação. E finalmente conseguimos a certidão. Aí, o processo já estava quase em seu quinto mês. Haviam nos passado um prazo máximo de 60 dias para obtenção do crédito. Nós nos planejamos para termos até dois meses de atraso. Mas estava demorando muito mais do que isso. As contas começavam a chegar, porque havíamos dado continuidade aos investimentos, acreditando que o financiamento entraria logo.
De repente, nosso foco estava todo na luta para sobreviver. Uma luta diária para levantar caixa, conseguir outras linhas de giro, etc. O foco, que deveria estar no projeto, na inovação, estava na sobrevivência pelo caixa, por conta de uma Certidão Negativa de Crédito (CND) que ficou travada por R$200,00. E quando achávamos que o dinheiro entraria... Opa! Espera lá! Temos que averbar o contrato e as garantias em cartório!! Demora 30 dias!!!! Imaginei novamente o Mark Zuckerberg na fila do cartório e esperando 30 dias para poder lançar o Facebook em outra Universidade americana, em seus primeiros meses de existência.
Isso é só uma amostra do que existe por ai, e existem situações muito piores do que a nossa. Milhares de pequenas e médias empresas já passaram ou estão passando por isso.
Um dos valores de nosso negócio é: acredito fielmente que nada é impossível!
Às vezes acho que os burocratas descobriram esse valor e tentam fazer de tudo para que o mudemos para: acredito que nada é impossível, desde que eu vença a burocracia primeiro.
Como podemos esperar viver em um mercado menos burocrático e mais eficiente sendo que nem o Estado está preocupado com sua eficiência? Essa é minha maior dúvida. Que esperança podemos ter por eficiência enquanto o Estado não estiver lutando para ser mais eficiente?
E o pior é que a burocracia se estende para nosso sistema de educação, saúde, serviços básicos (água, luz, telefone, internet). Ao invés de nosso Estado ser exemplo em meritocracia, em resultados, em empreendedorismo, se tem justamente o contrário.
Sonho com o dia que a burocracia e os tributos não forem mais nossos maiores desafios para empreender. Nesse dia me sentirei livre de verdade para empreender e enfrentar os desafios que os grandes empreendedores devem enfrentar com 100% de seu foco: concorrência, inovação, gestão, formação de talentos.
Ah! E só para concluir: já experimentaram lançar um produto bem inovador? É até engraçado. O sistema tributário é tão falho que há 99% de probabilidade de não existir um imposto correto para ele. Aí, ou você opera no risco, ou espera meses até conseguir criar um tributo correto para seu produto... E vamos à luta! Amanhã tenho mais uma certidão para tirar.



terça-feira, 15 de abril de 2014

Sheherazade: SBT cede à patrulha dos autoritários e cassa as opiniões da jornalista

PCdoB e PSOL resolveram recorrer ao Ministério Público contra Sheherazade. Pedem abertamente a cabeça da jornalista, ameaçando a emissora com o corte de verbas de publicidade oficial. PCdoB e PSOL falando em nome da democracia? Dois partidos que defendem a ditadura chavista? Que defendem a ditadura cubana? Que defendem regimes que prendem pessoas por delitos de opinião? Que se alinham com as milícias bolivarianas?

Quem vai dar aula de tolerância a Rachel Sheherazade? A deputada Jandira Feghali? O partido que, até outro dia, foi flagrado em relações incestuosas com ONGs de mentirinha para enfiar a mão do dinheiro público? Que ainda não perdoou Krushev? Nem chego a considerar a tal Jandira um ser da nossa era! Espero que ela não tente me calar também!

Por Reinaldo Azevedo (Veja.com)

O SBT cedeu à pressão, ao alarido e à gritaria dos censores em tempos democráticos e decidiu proibir os comentários da jornalista Rachel Sheherazade. Os autoritários, os imbecis e os esquerdopatas estão felizes. São, ademais, mentirosos porque fingem uma indignação que não têm para alimentar os preconceitos que têm. Na origem da polêmica, está um comentário que Sheherazade fez no ar quando um jovem assaltante foi detido por moradores e atado a um poste. Já escrevi um post a respeito no dia 10 de fevereiro. Embora eu não endosse o comentário da jornalista, É UMA MENTIRA ESCANDALOSA QUE ELA TENHA APOIADO AQUELE TIPO DE TRATAMENTO.

Ela disse outra coisa. Afirmou que, numa sociedade em que o estado é omisso e em que a violência se dissemina, é “compreensível” aquela atuação da população. Dias depois, diga-se, o rapaz foi detido novamente por suas vítimas habituais. Para não apanhar, começou a gritar: “Eu sou o do poste. Sabe com quem está falando”. Ele sabia que os cretinos deslumbrados o tinham tornado uma celebridade.

Certamente haverá um bando de tontos, inclusive no meio jornalístico, aplaudindo a decisão, sem se dar conta de que está botando a própria cabeça na guilhotina. É mentira que Sheherazade esteja sendo punida por aquela opinião. Ela está sendo calada porque não emite, na TV, ponto de vista consideradas consensuais; porque não lustra os preconceitos politicamente corretos que tomam conta da TV aberta; porque não segue, enfim, a manada.

Vocês já se deram conta do vocabulário que se tornou usual nas TVs brasileiras — sem exceção — a partir das 21h? Temas de relativa complexidade moral — de dilemas éticos à questão da sexualidade — são levados em cena aberta, e é certo que há crianças do outro lado da tela, não é? Ah, mas em matéria se sexualidade, de formação familiar, de consumo de drogas, de desassombro vocabular, mesmo quando, reitero, há crianças envolvidas inclusive nas cenas, aí somos todos libertários; aí ninguém quer correr o risco de parecer reacionário; aí a mãe pode levar o filho para o ambiente em que mantém flertes lésbicos. Afinal, o que é que tem? Lesbianismo é comum.

E não serei eu aqui a dizer que seja incomum, não é? Não estou defendendo censura nenhuma, antes que algum bobalhão leia que o que não está escrito. Eu já disse que não brigo com TVs, com programas de humor na Internet, com nada disso. Defendo apenas que se desligue a TV e que não se veja o tal programa. E pronto!  Mas sigamos. Aprendi, dada a educação moral e cívica ora em  vigência, que um gay esmagado pelo pai pode sequestrar e jogar uma criança no lixo, tentar matar uma pessoa, financiar o sequestro dessa mesma criança; chantagear, extorquir, fazer o diabo. Se ele descobrir o amor verdadeiro e se isso significar a adesão da maior emissora do país a uma causa “progressista”, tudo vale a pena. O bandido merece perdão. Já a bandida heterossexual morre eletrocutada numa cerca para deixar de ser safada. O pai homofóbico termina seus dias babando e dependendo daquele a quem tanto hostilizou. Quem mandou ser tão malvado e, em certa medida, literalmente cego de heterossexualismo e machismo? E não duvido que muitas mulheres tenham achado “liiinda” a novela misógina. O Brasil está ficando burro.

Essa mesma televisão, no entanto, não pode comportar as opiniões de Rachel Sheherazade. Quais opiniões? Aquela de que é “compreensível” que a população se revolte e decida fazer justiça. Não! Ninguém nem está ligado pra isso. O problema são as outras opiniões que ela tem. Se há manifestantes violentos nas ruas, em vez de ela verter a baba adesista, tão comum hoje em dia, ela critica; se bandidos cometem atrocidades, em vez de ela se compadecer com a suposta origem social da violência — uma mentira! —, ela pede cadeia; se há invasão de propriedade privada, em vez de ela se solidarizar com invasores, deixa claro que aquele não é o caminho.

Isso não pode! Sheherazade poderia estar emitindo opiniões com esse conteúdo em qualquer democracia do mundo. Não na nossa! Na nossa democracia, todos têm de estar alinhados com os cânones do pensamento politicamente correto. Ou não pode trabalhar. Vejam os debates sobre os 50 anos do golpe militar de 1964. Eu falei “debates”? Uma ova! Não houve! Ao contrário: sob o pretexto de que todos defendemos a democracia, o que se viu nas TVs foi um espetáculo de mistificação. Mais um pouco, João Goulart só não foi chamado de competente…

PCdoB e PSOL

PCdoB e PSOL resolveram recorrer ao Ministério Público contra Sheherazade. Pedem abertamente a cabeça da jornalista, ameaçando a emissora com o corte de verbas de publicidade oficial. PCdoB e PSOL falando em nome da democracia? Dois partidos que defendem a ditadura chavista? Que defendem a ditadura cubana? Que defendem regimes que prendem pessoas por delitos de opinião? Que se alinham com as milícias bolivarianas?

Quem vai dar aula de tolerância a Rachel Sheherazade? A deputada Jandira Feghali? O partido que, até outro dia, foi flagrado em relações incestuosas com ONGs de mentirinha para enfiar a mão do dinheiro público? Que ainda não perdoou Krushev? Nem chego a considerar a tal Jandira um ser da nossa era! Espero que ela não tente me calar também!

Muito bem! Agora Sheherazade não vai mais emitir opiniões. O Brasil ficou melhor por isso? Teremos, agora, mais liberdade de expressão? A verba publicitária oficial pode ser usada por veículos de comunicação que defendem abertamente a roubalheira havida na Petrobras, mas não poderia ir para o SBT porque havia lá uma jornalista que dizia coisas incômodas. Considerando o padrão da TV aberta brasileira, Sheherazade é que virou um problema? Mostrar o traseiro e o bilau em reality show pode, mas afirmar que a população, sem estado, acaba fazendo justiça com as próprias mãos é proibido? Engraçado! Na democracia americana, a bunda e o bilau na TV abertas seriam proibidos, mas a opinião política é livre. Vai ver é por isso que os EUA são os EUA, e o Brasil é o Brasil. Na novelas das nove, se podem defender a descriminação das drogas e o aborto — hoje considerado crimes pela legislação brasileira — e da pior forma possível: no modelo merchandising ideológico, de forma mais ou menos sorrateira. Mas ai de um jornalista que emita uma opinião que ofenda as polícias do pensamento!

Sobre a violência

No primeiro texto que escrevi sobe o caso, tratei da questão da violência. Não se trata de saber se direitos humanos devem existir também para bandidos. Os direitos humanos, vejam que coisa!, humanos são — e deles ninguém se exclui ou pode ser excluído. Ponto final. A questão é de outra natureza: cumpre tentar entender por que esses prosélitos mixurucas, esses propagandistas vulgares, jamais se ocupam da guerra civil que está em curso no Brasil há décadas. Então os mais de 50 mil que morrem por ano no país não merecem a sua atenção?

Sei que pode parecer estranho a esses oportunistas, mas Sheherazade não amarrou ninguém. A violência que a gente vê é só um pouco da violência que a gente não vê. Os linchamentos se espalham Brasil afora. Os mais de 50 mil homicídios a cada ano no país é que mereciam uma “Comissão da Verdade”. Por que os que agora pedem a cabeça de uma apresentadora de TV jamais se ocuparam das 137 pessoas (média) que são assassinadas todos os dias no Brasil?

Os imbecis tentarão ler no meu texto o que nele não está escrito. Dou uma banana para os tolos. Quanto mais eles recorrem à tática da desqualificação, mais leitores vão chegando — e, agora, mais ouvintes também. Não dou a mínima. Não me deixo patrulhar. Sim, eu acho que os que prenderam aquele rapaz pelo pescoço têm de ser punidos. Eu acho que os que recorrem a linchamentos também têm de arcar com as consequências.

Mas acho igualmente que essa gente que decide resolver por conta própria — que também é pobre de tão preta e preta de tão pobre — merece ter estado, merece ter segurança, merece ter proteção. Se sucessivos governos se mostram incapazes de dar uma resposta — por mais que eu deteste, por mais que eu ache que o caminho errado, por mais que eu tenha a certeza de que a situação só vai piorar —, as pessoas farão alguma coisa.

Parece-me que foi esse o sentido que Sheherazade deu à palavra “compreensível” — o que não implica necessariamente um endosso. Os historiadores já se debruçaram sobre os fatores que tornaram “compreensível” a eclosão dos vários fascismos na Europa do século passado ou da revolução bolchevique na Rússia. Compreender um fenômeno não quer dizer condescender com ele. Eu, por exemplo, penso que é compreensível que o PT tenha chegado ao poder, entenderam?

Ainda que, reitero, avalie que o comentário foi, sim, desastrado. Mas tentar linchar Sheherazade moralmente, aí já é um pouco demais! Estranha essa gente: defende o direito de defesa para os bandidos mais asquerosos — e nem poderia ser diferente —, mas pede a execução sumária de alguém por ter emitido uma opinião infeliz.

E por quê?

E por que se silencia de maneira sistemática, contumaz, cínica, sobre a guerra civil brasileira? Num artigo da Folha, sintetizei a razão (em azul):

E por que esse silêncio? É que os fatos sepultaram as teses “progressistas” sobre a violência. A falácia de que a pobreza induz o crime é preconceito de classe fantasiado de generosidade humanista. A “intelligentsia” acha que pobre é incapaz de fazer escolhas morais sem o concurso de sua mística redentora. Diminuiu a desigualdade nos últimos anos, e a criminalidade explodiu. O crescimento econômico do Nordeste foi superior ao do Brasil, e a violência assumiu dimensões estupefacientes.

Os Estados da Região estão entre os que mais matam por 100 mil habitantes: Alagoas: 61,8; Ceará: 42,5; Bahia: 40,7, para citar alguns. Comparem: a taxa de “CVLI” de São Paulo, a segunda menor do país, é de 12,4 (descarta-se a primeira porque inconfiável). Se a nacional correspondesse à paulista, salvar-se-iam por ano 26.027 vidas.

Com 22% da população, São Paulo concentra 36% (195.695) dos presos do país (549.786), ou 633,1 por 100 mil. A taxa de “CVLI” do Rio é quase o dobro (24,5) da paulista, mas a de presos é inferior à metade (281,5). A Bahia tem a maior desproporção entre mortos por 100 mil e (40,7) e encarcerados: 134. Estudo quantitativo do Ipea (aqui) evidencia que “prender mais bandidos e colocar mais policiais na rua são políticas públicas que funcionam na redução da taxa de homicídios”.

Isso afronta a estupidez politicamente correta e cruel. Em 2013, o governo federal investiu em presídios 34,2% menos do que no ano anterior — caiu de R$ 361,9 milhões para R$ 238 milhões. Para mais mortos, menos investimento. Os progressistas meio de esquerda são eles. Este colunista é só um reacionário da aritmética. Eles fazem Pedrinhas. Alguém tem de dar as pedradas.

Retomo

Boa parte dos que estão vociferando não está nem aí para os pobres, os humilhados etc. Esses coitados servem apenas de pretexto para aquela turma perseguir os de sempre. Não fosse assim, esses bacanas estariam mobilizados, cobrando uma ação do estado brasileiro para pôr fim ao Açougue Brasil, especializado em carne humana.

Bando de censores babacas e autoritários! Ah, sim: o SBT não proibiu apenas Sheherazade de omitir opiniões. A regra vale agora para todos os profissionais de imprensa da casa. Vai ver o Sindicato dos Jornalistas do Rio, que também havia se insurgido contra ela, está feliz. Agora, sim, é que ficou bom, certo? Claro, claro! Sempre haverá um daqueles para dizer que isso só acontece porque se trata de um meio de comunicação da burguesia. O semovente não tem dúvida de que Sheherazade deve ser censurada, mas que a opinião deve ser livre para os que emitem as opiniões “corretas”…

segunda-feira, 14 de abril de 2014

O doleiro dos oprimidos

 Algumas das maiores empresas brasileiras estão sendo destroçadas, ao vivo, para fabricar bondade tarifária e esconder inflação. Esse é o jogo multibilionário que o Brasil aceita chupando o dedo, louco para virar Argentina. (..) Nem a CPI da Petrobras mobilizou os engarrafadores de trânsito. Eles devem estar achando que pode ser um golpe neoliberal para tomar o que é nosso.

Por Guilherme Fiuza (O Globo

O deputado André Vargas não fez nada de mais. Apenas cumpriu o primeiro mandamento para ascender no PT: siga o dinheiro. Ou, mais precisamente, siga e consiga o dinheiro. Sua intimidade com o doleiro Alberto Youssef, preso no centro de um esquema que teria movimentado 10 bilhões de reais, não deixa dúvidas: Vargas chegou lá. Quem não entendeu como o obscuro deputado curitibano saltou de secretário de comunicação do partido para vice-presidente da Câmara dos Deputados não entende nada de PT.

O despachante de André Vargas era o homem que operava o duto entre os cofres públicos e os políticos amigos do rei (rainha). Se alguém achar que isso se parece com a quadrilha do mensalão, esqueça. O ministro Luís Roberto Barroso já explicou que a quadrilha não existiu, e o STF assinou embaixo. A parceria fértil entre o doleiro de Vargas e o ex-diretor de abastecimento da Petrobras, também preso, tem impressionante semelhança com a tabelinha entre Marcos Valério e o então diretor de abastecimento do PT no Banco do Brasil, Henrique Pizzolato — hoje embaixador da república mensaleira na Itália. Mas isso não é quadrilha, é estilo.

E pensar que antigamente o PT mandava Waldomiro Diniz pegar dinheiro com Carlinhos Cachoeira. Que coisa cafona. Mas isso foi uma década atrás, quando o partido ainda não tinha estudado direito a planta do Estado brasileiro. Hoje está claro que a mensagem de André Vargas a Joaquim Barbosa, levantando o punho cerrado (símbolo da resistência mensaleira), era um aviso — como o de Raul Seixas sobre as moscas: se você mata uma, vem outra em seu lugar.

Os brasileiros, esses invejosos, já estão implicando com o Land Rover dado pelo doleiro ao diretor da Petrobras. Bobagem. Como ensinou Silvinho Pereira, o mais injustiçado e esquecido dos petistas, quem trabalha bem no setor petrolífero ganha Land Rover de graça. O Brasil está pensando pequeno. Diante da dimensão dos negócios no seio do governo popular, as propinas na Petrobras são o troco do cafezinho — aquelas moedas que você joga na mão do pedinte pela janela do seu Land Rover. Se o garoto ainda fizer uma graça com bolinhas de tênis, você pode até dar a ele uma refinaria superfaturada. Esse bilhão não fará a menor diferença no balanço.

Algumas das maiores empresas brasileiras estão sendo destroçadas, ao vivo, para fabricar bondade tarifária e esconder inflação. Esse é o jogo multibilionário que o Brasil aceita chupando o dedo, louco para virar Argentina. São esses dividendos populistas que garantem um ambiente de negócios seguro para os doleiros oficiais, mensaleiros reencarnados e demais sócios do país de todos (eles).

Até o FMI já espalhou por aí que o governo brasileiro passou a maquiar suas contas, para gastar escondido com a indústria do populismo. E vem aí mais uma transfusão bilionária do Tesouro para o BNDES, que vai injetando nas estatais vampirizadas e envernizando a orgia fiscal. É um complexo e fabuloso trabalho de pilhagem, com alcance de gerações — que naturalmente passou despercebido aos revolucionários da Primavera Burra. Nem a CPI da Petrobras mobilizou os engarrafadores de trânsito. Eles devem estar achando que pode ser um golpe neoliberal para tomar o que é nosso.

Com todo o seu profissionalismo, André Vargas sabe que não dá para contar a vida toda com a pasmaceira da opinião pública. Por isso, além de ter os amigos certos, ele também trabalhou com afinco no projeto petista que vale por mil doleiros espertos: o controle da informação. O PT sonha com a desinibição da companheira Kirchner na coação da mídia e no adestramento das estatísticas. André Vargas também serve para isso: assim como se presta a fazer molecagem com Joaquim Barbosa, prega sem constrangimento o “controle social da mídia”. E o ensaio vai indo muito bem, do controle social do Tesouro ao controle social do Ipea.

O tradicional e respeitado Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ganhou de presente do governo popular uma estrelinha vermelha. Passou a ser dirigido por acadêmicos-militantes, uma espécie de transgênero com vocabulário técnico e alma ideológica. Estrelas da coreografia estatística como Marcio Pochmann — que saiu de lá para ser candidato do PT a prefeito de Campinas —, capazes de fazer os números dançarem conforme a música, trouxeram o charme chavista que faltava ao Ipea. Quem acompanhou essa metamorfose revolucionária não acreditou um segundo na famosa pesquisa que transformou o Brasil num país de estupradores.

O mais alarmante, porém, não foi a pesquisa em si, pois já se sabe que, com o PT, a inépcia e a desonestidade intelectual são quase indistinguíveis. O impressionante foi o Brasil comprar de olhos fechados mais uma bandeira fabricada pelo império do oprimido. Dá até para ouvir o comentário de André Vargas: kkkkkk.



Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/o-doleiro-dos-oprimidos-12173162#ixzz2ytb0AgYv
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terça-feira, 8 de abril de 2014

Com Dash, a Amazon revoluciona novamente

Dando seguimento a série "Tenho pena de ambientalistas que sugerem salvar o mundo andando de bicicleta" "a inteligência humana me fascina" segue mais um prova sobre progresso que se pode alcançar baseado na liberdade e no empreendedorismo.


Clica na imagem e veja o que "os caras" estão inventando. 

Sair de casa pra comprar algo já é algo antiquado faz tempo. Agora, porém, esqueça também esse negócio de entrar em um site e ficar pesquisando coisas.

A amazon criou o Dash, um acessório que permite adicionar itens ao seu carrinho virtual de qualquer parte da casa. Você pode usá-lo para ler código de barras ou simplesmente falar o que deseja. (Fonte: BrainStorm)

Você imagina empresas deste tipo sendo criadas no Brasil? Impossível. O empreendedor brasileiro gasta muito tempo tentando se livrar desta selva regulatória e não sobra tempo nem dinheiro para inovar e focar no cliente.
Quer um exemplo? Nos últimos 3 anos a Petrobras passou a valer metade em valor de mercado, dever 4 vezes mais e sua produção está estagnada. 
Mas isso pouco importa, não é mesmo? Falar isso é coisa desses neoliberais, burgueses, não nacionalistas. Então vamos cantar bem alto: Aha Uhu, o petroleo é nosso / Aha Uhu, o petroleo é nosso

Salve a Amazon.
Salve o Google
Salve a Microsoft
Salve a Apple
Salve o Facebook

Vamos que vamos, com força e honra!


Veja os outros posts da série:

Com uso de drones, Amazon promete entrega de pedidos em até meia hora

Maquina que remove e transporta árvores sem danificá-las

Suécia constrói depósitos de lixo atômico debaixo do oceano

Coleta de Lixo Inteligente - Definitivamente a inteligência humana me fascina!

Genial - Impressão 3D de ferramenta de trabalho