Por Reinaldo Azevedo
– prometem a Idade de Ouro;
– apresentam-se como salvadores da pátria;
– apontam uma permanente conspiração de inimigos;
– sempre alertam para o risco representado pelos estrangeiros;
– demonstram que a luta contra os inimigos implica sacrifício pessoal;
– o que deu errado é sempre culpa desses inimigos.
Aí dirá alguém: “Ah, Reinaldo, todos são assim! Isso é próprio da política!”. Bem, meus caros, o Brasil mesmo demonstra que isso não é verdade. Pegue-se o caso do político que chegou ao topo sem exercitar nenhuma dessas vigarices: FHC. Apontem uma só dessas pilantragens no discurso do ex-presidente, dentro ou fora do poder. Ao contrário até: o tucano é uma espécie de fanático da racionalidade, enxergando sempre conexões lógicas e necessárias entre passado, presente e futuro; entre o antes e o depois. Já ocorreu de ser generoso demais na leitura do tal “processo”, de sorte que já chegou a ver no próprio Lula o desdobramento da era tucana. Acho isso falso. Mas fica para outra hora.
Pois é… Nesta quarta, o Globo informou que três empreiteiras arcam com os custos da viagem de Lula à África. Reproduzo trecho de texto publicado nesta quinta na VEJA.com (em vermelho). Volto em seguida:
Três construtoras com histórico de doações eleitorais para as campanhas presidenciais petistas e de execução de obras do governo federal custearam a viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a África, encerrada na terça-feira. Lula ficou seis dias no continente e passou por Gana, Benin, Guiné Equatorial e Nigéria.
Durante a viagem, fez duas palestras custeadas por empreiteiras. A primeira, em Gana, foi paga em conjunto pela Odebrecht e pela Queiroz Galvão, além de uma empresa de seguros local chamada SIC. A segunda foi bancada pela construtora Andrade Gutierrez, que doou mais de 2 milhões de reais a Lula quando ele concorreu à reeleição, em 2006. Naquele ano, a Odebrecht injetou cerca de 200 000 reais na campanha do petista. A Queiroz Galvão não fez doações.
Em 2010, a campanha da presidente Dilma Rousseff recebeu 9,38 milhões de reais da Queiroz Galvão, 15,7 milhões da Andrade Gutierrez e 2,4 milhões da Odebrecht. A informação de que a viagem fora paga pelas empreiteiras foi publicada nesta quarta-feira pelo jornal O Globo e confirmada pelo Instituto Lula, que, no entanto, não informou os valores pagos sob a alegação de que são dados “reservados”.
(…)
Refaço a pergunta: que nomes, afinal de contas, se escondem no pronome “eles”? Lula, por certo, não considera que os trabalhadores sejam os inimigos. Ao contrário: ele se quer seu porta-voz. As empreiteiras, ainda as maiores financiadoras de campanhas eleitorais, também são amigas de Lula. Os grandes industriais, hoje dependentes do BNDES e das bondades “desonerantes” de Guido Mantega, não perfilam com o tal “eles”. O setor financeiro… Bem, esse não mesmo! Quem é esse “eles”? Onde está esse “eles”?
Depois de uma semana dedicada a articulações políticas para a eleição do ano que vem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retoma, a partir de hoje, a vida de palestrante internacional. Contratado pelas empreiteiras OAS e Queiroz Galvão, o petista irá à Bolívia, à Costa Rica e a El Salvador. Nos três países, o ex-presidente também terá atividades políticas e se encontrará com os presidentes locais.
O tema de todas as palestras será o mesmo: integração regional e o desenvolvimento social e econômico dos países da América Latina. Lula viaja em jatos particulares bancados pelas empreiteiras e acompanhado de assessores. Ele recebe cerca de US$ 300 mil por palestra no exterior.
O giro do ex-presidente começou ontem, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, onde participaria à noite, com o presidente boliviano Evo Morales, de uma reunião com movimentos sociais no estádio da cidade. Hoje de manhã, pago pela OAS, Lula falará a empresários, industriais, produtores rurais e integrantes da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos. A empreiteira brasileira é responsável pela construção no país de uma estrada de US$ 415 milhões (cerca de R$ 660 milhões), que enfrenta protestos por cortar uma área indígena.
As viagens de Lula e quem lhe paga as contas não teriam a menor importância se o PT não fizesse do estado uma extensão do partido (e também o contrário). Isso tudo seria irrelevante se ele não se colocasse — e não fosse de fato — um condestável da República. Que se virasse lá com seus financiadores! Seria mesmo irrelevante se o Apedeuta fosse hoje, com efeito, apenas um homem privado, que não se imiscui nos assuntos de estado nem dá as cartas no partido que está no poder; se não houvesse uma fatia enorme do governo que obedece mais a seu comando do que ao de Dilma.