segunda-feira, 25 de março de 2013

Onde se esconde o “eles” satanizado por Lula? Ou: O discurso da pilantragem política bem remunerada


Esse “eles” é capaz das maiores maldades. O “eles” está sempre conspirando contra o Brasil. O “eles” tem sempre as piores intenções. O “eles” atua em nome de uma agenda secreta. O “eles” é contra os benefícios aos mais pobres… Assim, ao longo desses anos, tenho indagado: “Mas, afinal de contas, quem forma esse ‘eles’?”


Por Reinaldo Azevedo


Há muitos anos invoco com um certo sujeito frequentemente atacado nos discursos logorreicos de Lula. Trata-se de um sujeito simples, mas oculto; presente, mas indeterminado, reconhecível, mas ausente. Vindo do Apedeuta, haveria de ser uma revolução da sintaxe. Não tem nome, mas pronome: “Eles” — eventualmente, há a variante “as elites”, mas o Babalorixá de Banânia tem recorrido menos a essa palavra. Ele gosta mesmo é de atacar um certo “eles”, caso em que temos, então, o objeto oculto, o objeto indeterminado, o objeto reconhecível, mas ausente.

Esse “eles” é capaz das maiores maldades. O “eles” está sempre conspirando contra o Brasil. O “eles” tem sempre as piores intenções. O “eles” atua em nome de uma agenda secreta. O “eles” é contra os benefícios aos mais pobres…

Assim, ao longo desses anos, tenho indagado: “Mas, afinal de contas, quem forma esse ‘eles’?”. Quais são os nomes designados por esses pronomes? Onde estão os “quens” que lhe conferem substância política? Como transformar esse pronome do caso reto em pronome interrogativo, em pronome relativo? Impossível!

Já lhes falei aqui, em 2010, sobre um livrinho chamado “Mitos e Mitologias Políticas”, do francês Raoul Girardet. É de fácil leitura e não traz nada de especialmente fabuloso. Sua virtude principal é sistematizar com muita clareza as características do discurso da manipulação política autoritária. Leiam abaixo as suas características e depois me digam se vocês não reconhecem aí tipos como Chávez (agora Maduro), Cristina Kirchner, Rafael Correa, Evo Morales — e, é evidente, Lula! Notem como todos os tiranos do século passado também seguiram rigorosamente o roteiro. Segundo Girardet, os assassinos da razão política investem nos seguintes mitos:
– prometem a Idade de Ouro;
– apresentam-se como salvadores da pátria;
– apontam uma permanente conspiração de inimigos;
– sempre alertam para o risco representado pelos estrangeiros;
– demonstram que a luta contra os inimigos implica sacrifício pessoal;
– o que deu errado é sempre culpa desses inimigos.

Todos são assim?
Aí dirá alguém: “Ah, Reinaldo, todos são assim! Isso é próprio da política!”. Bem, meus caros, o Brasil mesmo demonstra que isso não é verdade. Pegue-se o caso do político que chegou ao topo sem exercitar nenhuma dessas vigarices: FHC. Apontem uma só dessas pilantragens no discurso do ex-presidente, dentro ou fora do poder. Ao contrário até: o tucano é uma espécie de fanático da racionalidade, enxergando sempre conexões lógicas e necessárias entre passado, presente e futuro; entre o antes e o depois. Já ocorreu de ser generoso demais na leitura do tal “processo”, de sorte que já chegou a ver no próprio Lula o desdobramento da era tucana. Acho isso falso. Mas fica para outra hora.

Lula, ao contrário, cumpriu à risca o roteiro (os “estrangeiros” em sua fala, são os americanos; os “brancos de olhos azuis”), com ênfase na suposta e permanente conspiração dos inimigos — aquele “eles” sujeito, aquele “eles” objeto de demonização.

Quem paga a conta?
Pois é… Nesta quarta, o Globo informou que três empreiteiras arcam com os custos da viagem de Lula à África. Reproduzo trecho de texto publicado nesta quinta na VEJA.com (em vermelho). Volto em seguida:
Três construtoras com histórico de doações eleitorais para as campanhas presidenciais petistas e de execução de obras do governo federal custearam a viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a África, encerrada na terça-feira. Lula ficou seis dias no continente e passou por Gana, Benin, Guiné Equatorial e Nigéria.
Durante a viagem, fez duas palestras custeadas por empreiteiras. A primeira, em Gana, foi paga em conjunto pela Odebrecht e pela Queiroz Galvão, além de uma empresa de seguros local chamada SIC. A segunda foi bancada pela construtora Andrade Gutierrez, que doou mais de 2 milhões de reais a Lula quando ele concorreu à reeleição, em 2006. Naquele ano, a Odebrecht injetou cerca de 200 000 reais na campanha do petista. A Queiroz Galvão não fez doações.
Em 2010, a campanha da presidente Dilma Rousseff recebeu 9,38 milhões de reais da Queiroz Galvão, 15,7 milhões da Andrade Gutierrez e 2,4 milhões da Odebrecht. A informação de que a viagem fora paga pelas empreiteiras foi publicada nesta quarta-feira pelo jornal O Globo e confirmada pelo Instituto Lula, que, no entanto, não informou os valores pagos sob a alegação de que são dados “reservados”.
(…)

Voltei
Refaço a pergunta: que nomes, afinal de contas, se escondem no pronome “eles”? Lula, por certo, não considera que os trabalhadores sejam os inimigos. Ao contrário: ele se quer seu porta-voz. As empreiteiras, ainda as maiores financiadoras de campanhas eleitorais, também são amigas de Lula. Os grandes industriais, hoje dependentes do BNDES e das bondades “desonerantes” de Guido Mantega, não perfilam com o tal “eles”. O setor financeiro… Bem, esse não mesmo! Quem é esse “eles”? Onde está esse “eles”?

A prática não é nova. No dia 30 de agosto de 2011, Sérgio Roxo, no mesmo Globo, informava (em vermelho):
Depois de uma semana dedicada a articulações políticas para a eleição do ano que vem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retoma, a partir de hoje, a vida de palestrante internacional. Contratado pelas empreiteiras OAS e Queiroz Galvão, o petista irá à Bolívia, à Costa Rica e a El Salvador. Nos três países, o ex-presidente também terá atividades políticas e se encontrará com os presidentes locais.
O tema de todas as palestras será o mesmo: integração regional e o desenvolvimento social e econômico dos países da América Latina. Lula viaja em jatos particulares bancados pelas empreiteiras e acompanhado de assessores. Ele recebe cerca de US$ 300 mil por palestra no exterior.
O giro do ex-presidente começou ontem, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, onde participaria à noite, com o presidente boliviano Evo Morales, de uma reunião com movimentos sociais no estádio da cidade. Hoje de manhã, pago pela OAS, Lula falará a empresários, industriais, produtores rurais e integrantes da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos. A empreiteira brasileira é responsável pela construção no país de uma estrada de US$ 415 milhões (cerca de R$ 660 milhões), que enfrenta protestos por cortar uma área indígena.

Encerro
As viagens de Lula e quem lhe paga as contas não teriam a menor importância se o PT não fizesse do estado uma extensão do partido (e também o contrário). Isso tudo seria irrelevante se ele não se colocasse — e não fosse de fato — um condestável da República. Que se virasse lá com seus financiadores! Seria mesmo irrelevante se o Apedeuta fosse hoje, com efeito, apenas um homem privado, que não se imiscui nos assuntos de estado nem dá as cartas no partido que está no poder; se não houvesse uma fatia enorme do governo que obedece mais a seu comando do que ao de Dilma.

Ocorre que nada disso é verdade. O Apedeuta se transformou num misto de chefe de estado informal e lobista — com a graça de que nem tem o ônus da governança.

Lula está no topo da cadeia alimentar da política. Não tem predadores naturais. Mesmo assim, vive apontando a conspiração dos gnus, das zebras, dos cervos… Sempre deixando claro que pode resolver tudo com uma patada na espinha ou uma mordida na jugular. E toda a savana lhe presta reverência.

Onde, afinal de contas, se esconde o tal “eles”?




sexta-feira, 22 de março de 2013

De volta ao passado


´Aqueles que não conseguem se lembrar do passado estão condenados a repeti-lo." (George Santayana)

Por Rodrigo Constantino, O GLOBO

Acelerei a minha máquina do tempo DeLorean e regressei aos anos 80. Às vezes, precisamos mergulhar no passado para prever o futuro.

Um senhor bigodudo era o presidente. Vi na televisão o anúncio de um novo plano econômico, chamado "Cruzado". Entre as principais medidas, estava o congelamento de preços e da taxa de câmbio. Maria da Conceição Tavares, assessora do Ministério do Planejamento, chorou de emoção diante das câmeras da TV Globo. Literalmente.

A euforia era contagiante. Muitos pensavam que um novo Brasil estava sendo construído, mais justo e mais próspero. Mas a realidade... Essa ingrata não permite que as leis econômicas se submetam aos caprichos políticos. O congelamento de preços levou à escassez, e nas prateleiras começaram a faltar produtos. O que fazer?

Claro que a culpa só podia ser da ganância dos empresários, esses insensíveis que só querem lucrar. Mas o homem do bigode tinha a solução: caçar bois no pasto! Afinal de contas, não podemos deixar faltar carne no açougue. Há estabelecimentos desrespeitando o preço tabelado? Simples: fiscais do governo para controlar esses perversos!

Alguns economistas coçavam a cabeça, perplexos. Eles sabiam que nada daquilo funcionaria. Não se ignora as leis econômicas impunemente. Não eram os "desenvolvimentistas" da Unicamp, os mercantilistas ou os adeptos da "teoria da dependência". Esses tinham receitas parecidas, pensando que o governo é uma espécie de sábio clarividente que pode simplesmente decretar o progresso da nação.

Mas o importante é constatar que havia lucidez em meio a tanta euforia irracional. Infelizmente, tal como Cassandra, seus alertas eram ignorados. A turma estava empolgada demais com o futuro prometido, com a sensação de esperança. Apontar que o rei está nu é estragar a festa de muita gente míope e embriagada.

Após essa experiência nostálgica, retornei ao presente. Liguei a TV e vi que o bigodudo ainda estava lá, com tanto ou mais poder concentrado nele. Vi também que aquela mesma economista com sotaque de Portugal era extremamente respeitada e vista como uma mentora pela própria presidente. "Memória curta dessa gente", pensei.

Depois notei que nossa taxa de câmbio praticamente não oscila mais, e que a inflação fica acima da meta o tempo todo, mesmo com crescimento pífio da economia. Mas o Banco Central nada faz, preferindo manter a taxa de juros reduzida, claramente por razões eleitoreiras.

Em seguida, vi o ministro Guido Mantega avisando que iria fiscalizar se as desonerações fiscais eram mesmo repassadas para o preço final. Déjà Vu! Tive calafrios na espinha. Quer dizer que o próprio governo faz de tudo para despertar o dragão inflacionário, estimulando o crédito público, criando barreiras protecionistas, aumentando gastos, reduzindo artificialmente os juros, e depois pensa que vai segurar a inflação com fiscalização?

Qual será o próximo passo? Recriar a Sunab? Fazer uma campanha difamatória contra os empresários? Criar os "fiscais da Dilma", usando senhoras com tabelas nos mercados? Manipular os índices oficiais de inflação? É uma visão assustadora, um flashback de um filme de quinta categoria que já conhecemos e sabemos como termina.

Quem não tem idade suficiente ou não tem boa memória, basta olhar para o lado e ver o presente da Argentina. O novo Papa pode ser argentino, mas sem dúvida Deus não o é, caso contrário não permitira que o casal K ficasse tanto tempo no poder causando esse estrago todo.

Mas, pelo andar da carruagem, não poderemos zombar dos "hermanos" por muito mais tempo. O governo petista tem feito de tudo para alcançar as trapalhadas deles. E não adianta culpar fatores exógenos, pois dessa vez não vai colar. O Peru, a Colômbia e o Chile, com modelos diferentes e mais liberais, crescem muito mais com bem menos inflação. Nossos males são "made in Brazil", fruto da incompetência da equipe econômica e da própria presidente.

Finalmente, liguei o rádio e ouvi um ex-ministro tucano endossando a ideia de que era, sim, preciso fiscalizar os donos dos estabelecimentos, para não permitir aumentos de preços. Depois vi que o PSDB fazia uma campanha não pela privatização, mas pela "reestatização" da Petrobras, quase destruída pelo PT.

Quando lembrei que essa é a nossa "oposição" a este modelo terrível que está aí, peguei minha DeLorean e ajustei a data para 2030, na esperança de que lá teremos opções realmente liberais contra essa hegemonia de esquerda predominante no Brasil atual.

quinta-feira, 21 de março de 2013

CESTA DE FRUSTRAÇÕES


Estou fechado com o editorial de ZH de hoje: "Indústria e comércio devem esforçar-se para provar que produtos com menos impostos serão sempre mais acessíveis, ou estará desmoralizada a pregação empresarial contra a ganância do governo."

Não há explicações convincentes para o estranho fenômeno econômico provocado pela decisão do governo de desonerar de impostos federais os produtos da cesta básica. Ao contrário do que previa a presidente Dilma Rousseff ao anunciar a medida, de que os preços poderiam cair até 9%, a cesta vem ficando mais cara. Diante da expectativa criada pela retirada dos tributos, é compreensível que os sentimentos se confundam entre frustração e revolta. Uma decisão governamental que terá, este ano, impacto de mais de R$ 5 bilhões na arrecadação da União não pode oferecer um efeito inverso do que deveria provocar.

A desoneração zerou PIS-Cofins de carnes, ovos, café, óleo, manteiga, açúcar, pasta de dentes, sabonete e outros produtos, muitos dos quais já não pagavam IPI. Com uma inflação mensal ao redor de 6%, são as camadas de baixa renda as que mais se ressentem dos transtornos causados por aumentos que, vê-se agora, nem sempre são plenamente justificados. Não só essa faixa da população, mas todos os brasileiros tentam entender por que um tributo menor resulta em preços maiores, quando todos sabem que a alta tributação sempre foi atacada por quem produz, em quaisquer atividades. Frustra-se também a expectativa do governo em torno da provável reação de cumplicidade dos empresários, que poderia resultar em reduções ainda maiores do que as previstas.

A medida completa duas semanas amanhã, e não havia até ontem, em nenhuma capital, indicadores de queda de custo na cesta básica. O lamentável, conforme atestam manifestações de economistas, é que esta não é a primeira vez que tal fato acontece. Experiências anteriores, em períodos de inflação alta, também resultaram em nada. Agora, o varejo oferece uma lista de explicações: ou o atacado não repassou a redução, ou os preços que vinham sendo cobrados eram promocionais, ou será preciso um bom tempo para que as consequências da medida sejam sentidas. São desculpas, não são justificativas. Já não seria razoável supor que a cesta básica pudesse continuar com os mesmos valores de antes da decisão. É inconcebível que os preços tenham aumentado.

Em nome de maior competitividade, a redução da carga tributária sempre é citada como prioridade, num país em que os governos se apropriam, via tributação, de mais de um terço do PIB. O fortalecimento do poder de compra dos mais pobres, em especial, depende de ações decididas nessa área, desde que o setor privado seja parceiro de iniciativas como a anunciada no último dia 8. Conspirar contra uma providência reclamada por empresários e consumidores é desqualificar as próprias queixas a respeito do peso dos tributos no país. Indústria e comércio devem esforçar-se para provar que produtos com menos impostos serão sempre mais acessíveis, ou estará desmoralizada a pregação empresarial contra a ganância do governo.

terça-feira, 19 de março de 2013

A paixão até impulsiona um negócio, mas o que sustenta o crescimento é a razão

Veja essa série "GESTÃO POR INDICADORES" do site MBA 60 segundos. Muito bom!


Desembarques na Normandia


Clássico do Clássico. Antes do texto, destaco três passagens. Leia o artigo. Acredite em mim, vale muito a pena. Thiago

Chegar a universidades de elite apenas pela cor da pele é uma espécie de desembarque pedagógico nas praias da Normandia

O que fazer perante os números aterradores das políticas afirmativas? Escondê-los tem sido uma opção, o que significa arruinar silenciosamente a vida de milhares de pessoas para que as consciências progressistas possam dormir com as suas vaidades intactas.

Pretender corrigir no fim o que vem torto desde o início é destruir vidas adultas com ilusões politicamente corretas.


Cotas raciais nas universidades: os argumentos são conhecidos.

Para o pensamento progressista, as cotas são uma forma de corrigir injustiças passadas, abrindo as portas das melhores universidades a candidatos negros, ou hispânicos, ou nativos-americanos etc.

Para temperamentos mais conservadores, as cotas são uma nova forma de racismo, ainda que invertido, ao reduzir a singular individualidade de cada um à mera pigmentação da pele. E são, claro, um atentado às mais elementares noções de mérito.

Os argumentos são conhecidos, repito. Mas o que dizer quando duas bíblias do progressismo americano --o "New York Times" e a revista "Atlantic"-- publicam matérias altamente críticas sobre as políticas afirmativas no país?

Aconteceu. Nenhuma delas repete argumentos gastos porque a discussão deixou de ser ideológica. Passou a ser empírica: estarão as políticas afirmativas a produzir efeitos contrários aos pretendidos?

Ambas respondem que sim e dão nome ao descalabro: "mismatch". Ou, traduzindo o conceito, alunos impreparados que entram em universidades de elite através de preferências raciais têm desempenhos acadêmicos sofríveis.

E esse "mismatch" não se limita aos anos de formação. Ele acompanha os indivíduos para o resto das suas vidas profissionais.

O problema é particularmente pronunciado nas ciências, nas engenharias e nas matemáticas, o que não admira: o conhecimento nas "ciências exatas", relembra o "New York Times", é um conhecimento contínuo, onde é necessária uma forte preparação de base para haver progressos contínuos também.

Sem essa preparação, chegar a universidades de elite apenas pela cor da pele é uma espécie de desembarque pedagógico nas praias da Normandia.

A "Atlantic" quantifica essa carnificina: os alunos negros continuam a preferir mais cursos de ciências ou de engenharia do que os brancos; mas o "mismatch" faz com que a desistência entre negros seja o dobro da verificada entre os brancos.

O mesmo acontece depois da universidade: em direito, por exemplo, os alunos negros são reprovados no exame de acesso à profissão quatro vez mais do que os alunos brancos; o "mismatch" explica metade desses fracassos. O que fazer perante os números aterradores das políticas afirmativas?

Escondê-los tem sido uma opção, o que significa arruinar silenciosamente a vida de milhares de pessoas para que as consciências progressistas possam dormir com as suas vaidades intactas.

Outra opção, sugerida sem um pingo de vergonha pelo "New York Times", é "convidar" as instituições de elite a serem um pouco menos de elite. No fundo, "convidar" Harvard a não ser Harvard --uma forma de corrupção intelectual e um caminho para o atraso científico do país.

Mas existe uma terceira via: defender a velha ideia de que competências médias devem frequentar universidades médias.

A "Atlantic", aliás, revela uma curiosa experiência: em 1998, a prestigiada UCLA deixou de usar critérios raciais nas suas admissões. Resultado imediato: queda acentuada de alunos negros (menos 50%) e hispânicos (menos 25%). Escândalo e protestos.

Porém, o mais espantoso é que, nos anos seguintes à abolição dos critérios raciais e, apesar da queda, o número total de negros e hispânicos graduados pela UCLA era semelhante ao número de negros e hispânicos que terminaram os seus cursos antes da abolição. Por quê?

Razões várias. Cito duas. Primeiro, porque a UCLA acabou por atrair os melhores alunos negros e hispânicos que assim puderam frequentar uma universidade sem o "estigma" das políticas afirmativas.

E, mais importante ainda, porque aumentou o número de alunos negros e hispânicos que iniciaram a sua formação em universidades mais modestas -e só depois se transferiram para a UCLA.

Sim, ideologicamente, sou contra discriminações positivas (ou negativas) porque sou incapaz de reduzir qualquer ser humano a um "grupo" ou uma "raça". E não creio que seja função da universidade prosseguir agendas igualitárias. Apenas científicas.

Mas existem evidências empíricas que reforçam as ideológicas: a igualdade de oportunidades deve ser uma igualdade de base na formação de qualquer indivíduo.

Pretender corrigir no fim o que vem torto desde o início é destruir vidas adultas com ilusões politicamente corretas.

Helena não tem culpa

Uma ideia assim (que somos bons e a sociedade nos corrompe, e aqui você pode colocar no lugar de "sociedade" a família, o patriarcado, a igreja, o capital, os EUA, o patrão, seu pai autoritário) faz almas fracas gozarem de prazer. Porque o que ela diz é que, ao final, não sou responsável por nada que faço. Não fosse pela "sociedade", eu seria um homem bom.

Responsabilizar a mulher pelos males do mundo é coisa de homem brocha que, por não conseguir penetrá-la, recorre à falsa culpa feminina para aplacar sua desgraça.



Por 
Luis Felipe Pondé

Dias atrás, uma amiga, alta executiva paulista, radicada no Rio, me mandou um e-mail com a cópia de uma resenha sobre um livro (fruto de pesquisa de campo) de um antropólogo,

Napoleon Chagnon, que estudou os índios ianomâmis no Brasil e na Venezuela por muitos anos. 

Suas conclusões não são aquelas que a comunidade acadêmica, ideologicamente orientada na sua quase totalidade, costuma gostar. 

Quem sabe, este "desgosto ideológico dos pares" (gente ávida por destruir oponentes teóricos) tenha sido responsável pelos desdobramentos negativos que o antropólogo teve em sua vida profissional por conta desta pesquisa. 

O livro ("Noble Savages"), que logo comprei, deveria ser lido nas escolas. Um tratado contra a tradição marxista, não só em antropologia, mas em tudo mais. Mas o que especificamente tem esse livro contra esta tradição? 

Engana-se quem pensa que a tradição marxista comece com Marx, ela começa com Rousseau e seu bom selvagem. O princípio é que o homem é bom e a sociedade é que o perverte. A perversão do bom selvagem pelo "Das Kapital" é apenas uma decorrência do principio do Rousseau, só que para Marx não partimos do bom selvagem, mas sim chegaremos a ele quando superarmos esta sociedade má. 

Uma ideia assim (que somos bons e a sociedade nos corrompe, e aqui você pode colocar no lugar de "sociedade" a família, o patriarcado, a igreja, o capital, os EUA, o patrão, seu pai autoritário) faz almas fracas gozarem de prazer. Porque o que ela diz é que, ao final, não sou responsável por nada que faço. Não fosse pela "sociedade", eu seria um homem bom. 

Ao contrário do que parece, essa tradição pegou porque alimenta algo de muito banal: que somos homens bons em nossa natureza essencial. Esta ideia alimenta nossa vaidade e não foi por outro motivo que Burke, filósofo britânico do século 18, chamava Rousseau de "filósofo da vaidade". 

Nossa origem é o bom selvagem? É por isso que australianos que não têm o que fazer se pintam de aborígenes e gritam por aí? Quanta bobagem! Quanto lixo escrito com tinta cara! 

Também concordo que devemos olhar para o "passado" para entendermos como somos hoje. A diferença é que minha ideia de "estado natural do homem" é diferente da de Rousseau, o filósofo da vaidade. Partilho da ideia que para nos entendermos devemos olhar para a pré-história de fato, e não a mítica, como a do Rousseau. 

Este mito alimenta uma outra bobagem: a ideia de que toda diversidade cultural é linda. "Viva a diferença!", dizem os festivos por aí. 

A "humanidade", na sua capacidade frágil de não ser bicho malvado, foi tirada das pedras, à custa de muito sangue. Sempre bebemos o sangue dos outros no café da manhã. 

E aí voltamos ao livro. A conclusão de Chagnon é que os ianomâmis, parentes nossos que vivem muito perto do que seria o neolítico, tribos que permaneceram bastante "puras" enquanto outras já haviam sido "contaminadas pela maldade do homem branco" (risadas?), sempre se mataram por uma razão nada complexa: "mulher, mulher, mulher". 

Inclusive, quem tinha mais mulher, tinha mais descendentes. 

Qualquer evolucionista gargalharia diante de tamanha obviedade ocultada pelas interpretações ideológicas pueris da falsa história do bom selvagem. 

Os ianomâmis também têm suas Helenas de Troia. Entre eles, quem matava mais tinha mais mulher. Entre nós, quem é mais "adaptado" tem mais mulher. 

Não se trata de culpar as mulheres porque são filhas de Eva. Responsabilizar a mulher pelos males do mundo é coisa de homem brocha que, por não conseguir penetrá-la, recorre à falsa culpa feminina para aplacar sua desgraça. 

Reconhecer que os ianomâmis se matam em troca de mulheres (ou se matavam enquanto eram "puros" ou "bons selvagens") não é uma prova contra as mulheres. É uma prova contra Rousseau e sua tradição do bom selvagem. 

Eu, pessoalmente, acho até uma boa causa. Quero dizer, nos matarmos por mulheres. Neste caso, o troféu é bem concreto e todo mundo sabe de seu "valor de uso". 

Isto é, não precisamos de provas metafísicas para reconhecer o valor de uma mulher.


Lágrimas para o déspota

Não existe na história humana um único exemplo de sociedade sadia que não tenha respeitado a garantia de que cada cidadão possa buscar a própria felicidade e a de sua família. Sempre que deixaram ou foram forçadas perseguir a utopia do bem coletivo à custa do sacrifício dos direitos individuais, as nações viram seus governos degenerar em regimes totalitários.

Carta ao leitor REVISTA VEJA

As instituições formam o alicerce de todas as organizações sociais que permitiram o funcionamento de governos democrático, com alternância de poder e pleno respeito aos direitos humanos, entre eles a fundamental liberdade de expressão. Não existe na história humana um único exemplo de sociedade sadia que não tenha respeitado a garantia de que cada cidadão possa buscar a própria felicidade e a de sua família. Sempre que deixaram ou foram forçadas perseguir a utopia do bem coletivo à custa do sacrifício dos direitos individuais, as nações viram seus governos degenerar em regimes totalitários. O governo do venezuelano Hugo Chávez, morto de câncer na semana passada, em Caracas, foi apenas mais um desses desastres anunciados.

Teria passado despercebido não fosse a Venezuela vizinha do Brasil e dona de uma das maiores reservas de petróleo do nundo. Teria sido inofensivo para os brasileiros e para a América Latina se Chávez não tivesse usado o dinheiro dos venezuelanos pobres para exercer um imperialismo primitivo na região, com a tentativa de corromper militares no Paraguai, apoiar terrorismo na Colômbia, financiar campanhas presidenciais de esquerdistas na Argentina e no Uruguai, fomentar o desrespeito à Constituição em Honduras e comprar simpatias no Brasil.

Uma reportagem desta edição de Veja mostra que Chávez deixa uma herança maldita de desestabilização em um continente que, dado seu passado turbulento, precisa de estabilidade mais do que de oxigênio. O coronel paraquedista Chávez, autor de um golpe fracassado e depois eleito democraticamente, passou como um tanque sobre as instituições, pressionando e aparelhando os tribunais superiores. Intimidou e inviabilizou o funcionamento de redes de televisão independentes, encarcerou adversários políticos e criou milícias partidárias armadas que se confundem com os bandos de criminosos comuns. Fiel à farda, trouxe de volta os militares à cena política, o que há poucas décadas abriu as portas do inferno em quase todas as nações latino-americanas.

As multidões formadas predominantemente por pessoas pobres, as mesmas que o reelegeram três vezes para a Presidência da República, choravam nas ruas de Caracas lágrimas de genuíno pesar pela morte de seu líder. Chávez atendeu às demandas de curto prazo das massas e, no melhor estilo populista, mandou a conta para as gerações futuras. Ele fez com as ruas um pacto emocional, o que não é novidade na história das sociedades humanas. Cantores, atores, esportistas, papas e políticos populistas antes dele foram levados ao túmulo por correntes humanas de adoradores. Getúlio Vargas, no Brasil, e Perón, na Argentina, são os exemplos mais próximos. Secas as lágrimas, serenada a emoção, o povo vai aos poucos percebendo que seus santos padroeiros na política nada fizeram pela prosperidade duradoura, pela garantia das liberdades ou pelo fortalecimento das instituições. Chávez foi mais um desses.

quarta-feira, 13 de março de 2013

La muerte del caudillo


Y tiene ahora una oportunidad extraordinaria para convencer al pueblo venezolano de que la verdadera salida para los enormes problemas que enfrenta no es perseverar en el error populista y revolucionario que encarnaba Chávez, sino en la opción democrática, es decir, en el único sistema que ha sido capaz de conciliar la libertad, la legalidad y el progreso, creando oportunidades para todos en un régimen de coexistencia y de paz.
Por Mario Vargas Llosa
El comandante Hugo Chávez Frías pertenecía a la robusta tradición de los caudillos, que, aunque más presente en América Latina que en otras partes, no deja de asomar por doquier, aun en democracias avanzadas, como Francia. Ella revela ese miedo a la libertad que es una herencia del mundo primitivo, anterior a la democracia y al individuo, cuando el hombre era masa todavía y prefería que un semidiós, al que cedía su capacidad de iniciativa y su libre albedrío, tomara todas las decisiones importantes sobre su vida. Cruce de superhombre y bufón, el caudillo hace y deshace a su antojo, inspirado por Dios o por una ideología en la que casi siempre se confunden el socialismo y el fascismo —dos formas de estatismo y colectivismo— y se comunica directamente con su pueblo, a través de la demagogia, la retórica y espectáculos multitudinarios y pasionales de entraña mágico-religiosa.
Su popularidad suele ser enorme, irracional, pero también efímera, y el balance de su gestión infaliblemente catastrófica. No hay que dejarse impresionar demasiado por las muchedumbres llorosas que velan los restos de Hugo Chávez; son las mismas que se estremecían de dolor y desamparo por la muerte de Perón, de Franco, de Stalin, de Trujillo, y las que mañana acompañarán al sepulcro a Fidel Castro. Los caudillos no dejan herederos y lo que ocurrirá a partir de ahora en Venezuela es totalmente incierto. Nadie, entre la gente de su entorno, y desde luego en ningún caso Nicolás Maduro, el discreto apparatchik al que designó su sucesor, está en condiciones de aglutinar y mantener unida a esa coalición de facciones, individuos e intereses encontrados que representan el chavismo, ni de mantener el entusiasmo y la fe que el difunto comandante despertaba con su torrencial energía entre las masas de Venezuela.
Pero una cosa sí es segura: ese híbrido ideológico que Hugo Chávez maquinó, llamado la revolución bolivariana o el socialismo del siglo XXI comenzó ya a descomponerse y desaparecerá más pronto o más tarde, derrotado por la realidad concreta, la de una Venezuela, el país potencialmente más rico del mundo, al que las políticas del caudillo dejan empobrecido, fracturado y enconado, con la inflación, la criminalidad y la corrupción más altas del continente, un déficit fiscal que araña el 18% del PIB y las instituciones —las empresas públicas, la justicia, la prensa, el poder electoral, las fuerzas armadas— semidestruidas por el autoritarismo, la intimidación y la obsecuencia.
En los catorce años que Chávez gobernó Venezuela, el barril de petróleo multiplicó unas siete veces su valor, lo que hizo de ese país, potencialmente, uno de los más prósperos del globo. Sin embargo, la reducción de la pobreza en ese período ha sido menor en él que, digamos, las de Chile y Perú en el mismo periodo. En tanto que la expropiación y nacionalización de más de un millar de empresas privadas, entre ellas de tres millones y medio de hectáreas de haciendas agrícolas y ganaderas, no desapareció a los odiados ricos sino creó, mediante el privilegio y los tráficos, una verdadera legión de nuevos ricos improductivos que, en vez de hacer progresar al país, han contribuido a hundirlo en el mercantilismo, el rentismo y todas las demás formas degradadas del capitalismo de Estado.La muerte de Chávez, además, pone un signo de interrogación sobre esa política de intervencionismo en el resto del continente latinoamericano al que, en un sueño megalómano característico de los caudillos, el comandante difunto se proponía volver socialista y bolivariano a golpes de chequera. ¿Seguirá ese fantástico dispendio de los petrodólares venezolanos que han hecho sobrevivir a Cuba con los cien mil barriles diarios que Chávez poco menos que regalaba a su mentor e ídolo Fidel Castro? ¿Y los subsidios y/o compras de deuda a 19 países, incluidos sus vasallos ideológicos como el boliviano Evo Morales, el nicaragüense Daniel Ortega, a las FARC colombianas y a los innumerables partidos, grupos y grupúsculos que a lo largo y ancho de América Latina pugnan por imponer la revolución marxista? El pueblo venezolano parecía aceptar este fantástico despilfarro contagiado por el optimismo de su caudillo; pero dudo que ni el más fanático de los chavistas crea ahora que Nicolás Maduro pueda llegar a ser el próximo Simón Bolívar. Ese sueño y sus subproductos, como la Alianza Bolivariana para los Pueblos de Nuestra América (ALBA), que integran Bolivia, Cuba, Ecuador, Dominica, Nicaragua, San Vicente y las Granadinas y Antigua y Barbuda, bajo la dirección de Venezuela, son ya cadáveres insepultos.
Chávez no estatizó toda la economía, a la manera de Cuba, y nunca acabó de cerrar todos los espacios para la disidencia y la crítica, aunque su política represiva contra la prensa independiente y los opositores los redujo a su mínima expresión. Su prontuario en lo que respecta a los atropellos contra los derechos humanos es enorme, como lo ha recordado con motivo de su fallecimiento una organización tan objetiva y respetable como Human Rights Watch. Es verdad que celebró varias consultas electorales y que, por lo menos algunas de ellas, como la última, las ganó limpiamente, si la limpieza de una consulta se mide sólo por el respeto a los votos emitidos, y no se tiene en cuenta el contexto político y social en que aquella se celebra, y en la que la desproporción de medios con que el gobierno y la oposición cuentan es tal que ésta corre de entrada con una desventaja descomunal.
Pero, en última instancia, que haya en Venezuela una oposición al chavismo que en la elección del año pasado casi obtuvo los seis millones y medio de votos es algo que se debe, más que a la tolerancia de Chávez, a la gallardía y la convicción de tantos venezolanos, que nunca se dejaron intimidar por la coerción y las presiones del régimen, y que, en estos catorce años, mantuvieron viva la lucidez y la vocación democrática, sin dejarse arrollar por la pasión gregaria y la abdicación del espíritu crítico que fomenta el caudillismo.
Ni Chávez ni caudillo alguno son posibles sin un clima de escepticismo y de disgusto con la democracia como el que llegó a vivir Venezuela cuando, el 4 de febrero de 1992, el comandante Chávez intentó el golpe de Estado contra el gobierno de Carlos Andrés Pérez, golpe que fue derrotado por un Ejército constitucionalista y que envió a Chávez a la cárcel de donde, dos años después, en un gesto irresponsable que costaría carísimo a su pueblo, el presidente Rafael Caldera lo sacó amnistiándolo. Esa democracia imperfecta, derrochadora y bastante corrompida había frustrado profundamente a los venezolanos, que, por eso, abrieron su corazón a los cantos de sirena del militar golpista, algo que ha ocurrido, por desgracia, muchas veces en América Latina.No sin tropiezos, esa oposición, en la que se hallan representadas todas las variantes ideológicas de la derecha a la izquierda democrática de Venezuela, está unida. Y tiene ahora una oportunidad extraordinaria para convencer al pueblo venezolano de que la verdadera salida para los enormes problemas que enfrenta no es perseverar en el error populista y revolucionario que encarnaba Chávez, sino en la opción democrática, es decir, en el único sistema que ha sido capaz de conciliar la libertad, la legalidad y el progreso, creando oportunidades para todos en un régimen de coexistencia y de paz.
Cuando el impacto emocional de su muerte se atenúe, la gran tarea de la alianza opositora que preside Henrique Capriles está en persuadir a ese pueblo de que la democracia futura de Venezuela se habrá sacudido de esas taras que la hundieron, y habrá aprovechado la lección para depurarse de los tráficos mercantilistas, el rentismo, los privilegios y los derroches que la debilitaron y volvieron tan impopular. Y que la democracia del futuro acabará con los abusos del poder, restableciendo la legalidad, restaurando la independencia del Poder Judicial que el chavismo aniquiló, acabando con esa burocracia política elefantiásica que ha llevado a la ruina a las empresas públicas, creando un clima estimulante para la creación de la riqueza en el que los empresarios y las empresas puedan trabajar y los inversores invertir, de modo que regresen a Venezuela los capitales que huyeron y la libertad vuelva a ser el santo y seña de la vida política, social y cultural del país del que hace dos siglos salieron tantos miles de hombres a derramar su sangre por la independencia de América Latina.

domingo, 10 de março de 2013

Oscar de efeitos especiais vai para o PT

Por Guilherme Fiuza

Abraham Lincoln e Luiz Inácio da Silva não são a mesma pessoa, mas quase. Na festa de 30 anos da CUT, o filho do Brasil e pai da maior máquina de perpetuação no poder já vista neste país voltou a se queixar em grande estilo, como é próprio das vítimas profissionais. Declarou que ele e o companheiro Lincoln são uns injustiçados: “Fiquei impressionado como a imprensa batia no Lincoln em 1860. Igualzinho bate em mim.”

As semelhanças não param por aí: Lincoln não ganhou o Oscar, Lula também não. Mais uma armadilha do sistema capitalista contra os heróis do povo. Como um sujeito que sai limpinho do mensalão, convencendo mais de 100 milhões de pessoas de que não sabia de nada, pode não ser premiado com o Oscar? É muita injustiça social mesmo. Só pode ser preconceito das elites contra o ex-operário.

Lincoln e Lula, os irmãos siameses da resistência contra a imprensa burguesa, passarão juntos à história da CUT apesar do boicote de Hollywood. Mas que os americanos não se animem muito com essa dobradinha. Mesmo com as incríveis semelhanças entre os dois estadistas, Lula é melhor. Lincoln jamais seria capaz de eleger uma Dilma, e depois de um governo inoperante, preguiçoso, fisiológico, perdulário, destruidor das instituições com tarifas mentirosas e contabilidade idem, se encaminhasse para reelegê-la. Com todo respeito à mitologia yankee e ao talento de Spielberg, uma façanha dessas não cabe na biografia de Lincoln. Como transformar uma militante inexpressiva em símbolo feminino nacional, sem que ela manifeste um único pensamento original em anos de vida pública? Lincoln teria que nascer de novo duas vezes para aprender essa com Lula.

Enquanto o líder máximo de todos os tempos das Américas demonizava a imprensa, ensinando a classe operária a suspeitar da informação livre, odiar o contraditório e só confiar no que o seu guru diz, notava-se ao lado os sorrisos divertidos de Gilberto Carvalho, o chefe de gabinete vitalício do Brasil. Carvalho é uma espécie de entroncamento entre Lula e Dilma, um avalista da continuação do final feliz petista no berço esplêndido do Estado brasileiro. Como se sabe, para que esse final feliz dure bastante, é necessário que o conto de fadas do oprimido prevaleça sobre a vida real – daí a implicância sistemática com a imprensa.

Ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho está sempre nos fóruns partidários prometendo à militância que o governo vai criar uma imprensa nova, confiável. Parece piada chavista, mas é verdade. Por acaso, foi um subalterno de Carvalho que voltou de Cuba com um dossiê contra a blogueira Yoáni Sanchez, caprichosamente gravado num CD. É o velho estilo petista de conspirar com o rabo de fora.

Na chegada da blogueira cubana ao Brasil, surgiram subitamente patrulhas organizadas de apoio ao regime de Fidel Castro, um movimento que ninguém imaginava que existia, que nunca mostrara sua cara em lugar nenhum. De repente, num Brasil supostamente democrático e tolerante às diferenças ideológicas, esses grupos surgidos do nada simplesmente impediram os debates públicos com Yoáni – no grito, na marra. Quem será que instrumentalizou essa turminha braba?

A inacreditável operação-abafa contra uma blogueira, nesse espetáculo deprimente de censura que o Brasil engoliu, veio mostrar que o chavismo só não prosperou no Brasil porque o oxigênio da liberdade por aqui ainda é maior do que na Venezuela. Mas o estado-maior petista não desistiu de sua doutrina da democracia dirigida, e baba de inveja dos índices fabricados pela companheira Cristina Kirchner, em sua cruzada bolivariana pela informação de laboratório. Assim como Lincoln e Lula, Cristina também é uma vítima da imprensa reacionária, que tem essa mania mórbida de querer divulgar indicadores públicos verdadeiros.

O lucro do BNDES acaba de ser maquiado, graças a mais uma manobra genial dos companheiros que produzem superávit de proveta e passam blush na inflação. Quando se trata de picaretagem para se agarrar ao poder, é impressionante como a mediocridade do governo popular se transmuta em brilhantismo. Como disse Lula na CUT: “Nós sabemos o time que temos.”

É mesmo um timaço. Merece no mínimo o Oscar de efeitos especiais

sábado, 9 de março de 2013

"Prosperidade, filha da democracia". Por Sandro Vaia

A prosperidade, a equidade e as sociedades mais justas, são filhas da democracia e não do autoritarismo


Quem conhece os mistérios da alma humana? Quem é capaz de dizer por qual razão os entes políticos tratam as pessoas comuns como um bando de rematados idiotas?

A foto de Hugo Chávez todo coradinho ao lado de suas duas filhas lendo uma edição do Granma, obviamente plantada aí por um photoshop , nao difere em nada da foto do ditador Artur da Costa e Silva , de perfil, ao lado de sua mulher Yolanda, vendendo saúde depois de um derrame, ou da foto de Tancredo Neves como um ectoplasma , cercado por sua equipe médica alguns dias antes de morrer.

Querem nos fazer crer que os políticos são imortais? Uma hora ou outra eles acabam morrendo, como todo mundo, e quem tentou nos enganar sai de fininho como se nunca tivesse estado aí.

Pois aí está. Apesar de a multidisciplinar doutora Dilma ter-nos garantido, do alto de seus conhecimentos médicos, no dia 23 de fevereiro que “o quadro do presidente Chavez não é preocupante”, ele morreu porque imortal não era.

Não é decente nem digno festejar , como alguns fizeram nas redes sociais, a morte de um ser humano, por mais pecados políticos que se possam atribuir a ele. Também não é digno mentir às pessoas tentando esconder-lhes a verdade.

Não chega a ser indigno, mas é apenas patético,senão cômico, tentar atribuir o nascimento, a evolução e o desfecho da doença a fantasmagóricas intervenções externas de supostos inimigos, como se o vírus do câncer fosse uma arma química que um agente secreto pudesse carregar na mochila.

Chavez morreu, novas eleições serão realizadas na Venezuela dentro de 30 dias, e apesar de todas as incertezas o vice-presidente de um voto só, Nicolás Maduro, que conta com o apoio dos militares, deverá vencer sem muitos problemas.

Chavez estava no início de seu quarto mandato consecutivo e sua morte reavivou velhas discussões sem fim sobre se a Venezuela era uma democracia ou não e sobre se ele fez bem ao seu povo ou não.

Caudilhos são caudilhos exatamente porque são amados por seu povo, e são amados porque são carismáticos e distribuem benesses.

A democracia, nesses casos, principalmente na América Latina, passa a ser um enfeite de prateleira, e o desrespeito às formalidades democráticas se justifica, segundo seus defensores, por eventuais “avanços sociais” que venham a ser conseguidos.

O raciocínio “ad absurdum” que passa a vigorar é este: quer dizer que não dá para conseguir “avanços sociais” sem sacrificar a democracia? Estão aí as prósperas democracias do Ocidente para mostrar que essa é uma falácia.

A prosperidade, a equidade e as sociedades mais justas, são filhas da democracia e não do autoritarismo

quinta-feira, 7 de março de 2013

Se você quer realmente trabalhar com aquilo que você quer e gosta, tem que estar disposto a lutar consigo mesmo!

Projeto CONTINUE CURIOSO é mais um projeto bacana que surge, é só é possível, nesse mundo maravilhoso da internet. Abaixo uma das histórias contadas de superação, ousadia, coragem de buscar aquilo que você é, fazer o que você gosta e fugir, irremediavelmente, da zona de conforto que de certa forma a sociedade lhe condiciona.

Como diz o rapaz do vídeo que eu assino em baixo pois sei que não é fácil: Se você quer realmente trabalhar com aquilo que você quer e gosta, tem que estar disposto a lutar consigo mesmo!



thiago frias cc from continue curioso on Vimeo.

Vamos que vamos, com força e honra!
Thiago

quarta-feira, 6 de março de 2013

2013, o ano que já terminou

Os simpatizantes do governo popular ficarão felizes com a farta distribuição de bolsas, cargos, convênios a granel para os ministérios parasitários, e Dilma marchará tranquila para a reeleição. Aécio Neves assistirá a tudo escondido nas Alterosas e rezando para que Eduardo Campos o ultrapasse na corrida para não chegar. 

Enfim, você não tem a menor importância na República do Oprimido, mas nem tudo são espinhos. Ninguém lhe pedirá para cantar “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula” em desagravo ao filho do Brasil – o que já é um vidão. 



Por Guilhereme Fiuza (Revista Época)
O ano de 2012 se encerrou de forma absolutamente normal no Congresso Nacional. Em sua última sessão, o Senado aprovou um trem da alegria para os Três Poderes, com a criação de milhares de cargos numa só canetada. É normal porque a caneta era de José Sarney, companheiro de Dilma Rousseff, uma aliança que, todos sabem, serve ao Brasil de todos – todos os que fizeram as amizades certas. Se você está fora dessa, terá de cumprir em 2013 o destino trágico dos reles mortais, esses infelizes que não têm uma Rosemary para chamar de sua – e que ainda fazem uma coisa primária que os companheiros revolucionários não precisam mais fazer: trabalhar.
Mas não se desespere. A vida dos excluídos (do banquete petista) tem lá suas compensações. É bem verdade que você nunca verá um filho seu ficar famoso da noite para o dia por ter arranjado uma boquinha na Anac ou no Senado. Nunca o convidarão, também, para uma reunião com José Dirceu para “reforçar o Marco Maia”.
Enfim, você não tem a menor importância na República do Oprimido, mas nem tudo são espinhos. Ninguém lhe pedirá para cantar “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula” em desagravo ao filho do Brasil – o que já é um vidão.
Para consolar os excluídos, os que vivem miseravelmente sem acesso a uma única teta do Estado brasileiro, uma ponderação: o Brasil se tornou um país previsível, de rumo firme. Isso torna possível antecipar o que acontecerá em 2013. Isso jamais seria possível antes do Descobrimento (em 2003) – portanto, não reclame de barriga cheia.
Em março, Dilma Rousseff convocará a primeira cadeia nacional de rádio e TV da série 2013. Fará um pronunciamento à nação pelo Dia Internacional da Mulher. Falará com a voz embargada, sobre um fundo de violinos, e, se a iluminação do estúdio estiver correta, parecerá ter os olhos molhados. Encherá os brasileiros de orgulho por ser governados por uma “presidenta” – palavra que seus assessores saberão encaixar no discurso – e anunciará algum programa social novo, tipo Brasil Caridoso, Brasil Sem Tristeza ou Brasil Fofo. Apresentará uma estatística impressionante, encomendada ao Ipea e à FGV, mostrando que nos anos Fernando Henrique lugar de mulher era na cozinha.
A inflação em 2013 continuará subindo, e a aprovação a Dilma também
Em 2013, o Brasil sofrerá novos apagões, provocados por raios neoliberais e elitistas. A tarifa populista de energia será implantada, ajudando a sucatear as empresas do setor, que por isso investirão menos ainda em manutenção – mas os blecautes não terão nada a ver com isso. O ministro Edison Lobão explicará que nosso sistema é um dos melhores do mundo e que essa mania de ter luz o tempo todo é coisa de burguesia consumista. Sarney ficará orgulhoso de seu afilhado – e pedirá a Roseana, com jeito, que deixe Lobão governar um pouquinho o Maranhão (“Filha, agora descansa e deixa seu colega brincar também.”).
A inflação em 2013 continuará subindo, e a aprovação a Dilma também. Explica-se o paradoxo: a principal causa da subida dos preços será um novo aumento explosivo dos gastos públicos, incluindo a distribuição de mais dinheiro de graça para a população – através dos programas carinhosos, o Bolsa Tudo. É a “destruição invisível” da economia nacional, que em 2013 será caprichada, porque em 2014 tem eleição. Os simpatizantes do governo popular ficarão felizes com a farta distribuição de bolsas, cargos, convênios a granel para os ministérios parasitários, e Dilma marchará tranquila para a reeleição. Aécio Neves assistirá a tudo escondido nas Alterosas e rezando para que Eduardo Campos o ultrapasse na corrida para não chegar.
Joaquim Barbosa, o redentor, fará muitos comícios sociais na presidência do Supremo, deixando pela primeira vez os brasileiros na dúvida: talvez exista outro ser tão bonzinho quanto Lula da Silva. Barbosa evidentemente será mordido pela mosca azul, mas o eleitor acabará ficando mesmo com o pacote Lula/Dilma, para não arriscar a mesada (o mensalão popular).
Rosemary não entregará seu chefe. Terá um ano sofrido, sem passaporte diplomático, mas ficará firme. Afinal, Lula não sabia (dona Marisa muito menos), e o amor sempre vence.
Como se vê, 2013 já foi. Se quiser uma passagem direta para 2014, passe no caixa da revolução, que o pessoal da Rose na Anac arranja para você.

terça-feira, 5 de março de 2013

Brasil, imposto de rico, serviço de pobre! Entenda como o atual sistema de impostos atrapalha o país


Ontem o jornal nacional fez uma longa matéria (reportagem abaixo) sobre o que os especialistas chamam de "O Custo Brasil". A turma do poder acha que justiça social é arrecadar muito e depois distribuir bolsas para lá e pra cá (que fique claro que sou a favor da bolsa família). Eu e outros tantos "reacionários" por ai, achamos que o que realmente ajudaria o Brasil é emprego sustentável (vindo de um ambiente de negócios propícios, favorável aos investimentos, com estado menor, mais eficiente e respeitando contratos) e preços baixos em todos os produtos (competição genuína entre empresas e não canetadas governamentais). O governo trabalha na contramão desse negócio. Prefere isentar um imposto ali, outro aqui conforme lobby. Prefere aumentar os juros e fazer manobras contábeis, sacrificando BNDES, Petrobras e outros, para "controlar" a inflação. Prefere acusar os que o criticam de antipatriotas, neoliberais, etc. A única coisa que eles não fazem é realizar de vez as reformas tão necessárias para o país.

Os governos, em especial os do PT, não admite a tese de que muita coisa pode funcionar, e bem, sem sua presença. Como não acredita nisso, quer controlar tudo e acaba criando uma burocracia asfixiante, que emperra os negócios, que custa muito caro pro cidadão e para as empresas, além de fomentar um caminho livre para a corrupção (coloca dificuldades para vender facilidades).

E a inflação? Quem vai ao supermercado sabe que a inflação está no teto do aceitável. Isso tudo acontecendo quando o agronegócio está no ápice da sua produtividade. Ou seja, o alimento sai do campo barato, mas dai tem de enfrentar estradas esburacadas (onde estão as ferrovias?), portos que não funcionam, além do custo inacreditável da folha de pagamento nos serviços. 

Quando o alimento sai do campo e entra no caminhão, IMPOSTO!
Quando o alimento sai do caminhão e entra no supermercado, IMPOSTO!
Quando o alimento sai do supermercado e entra na sua casa, IMPOSTO!
Resultado: Alimento caro, muito caro, na sua mesa. Simples quanto isso!

E o governo popular? Cada vez mais popular, ora essa... 

Veja a reportagem, vale a pena! Se não quiser ler, pode ver o vídeo clicando na imagem.
Vamos que vamos, com força e honra. Thiago




Todo o país monta a sua infraestrutura com o dinheiro que arrecada em impostos. Eles são fundamentais. No ano passado, o Brasil arrecadou muito. Foram 36,27% da riqueza representada pelos bens produzidos aqui e pelos serviços realizados. É um recorde histórico. O problema é que aquilo que o Brasil devolve aos cidadãos e às empresas não está à altura do que se paga.

Pouco importa se o produto é supérfluo ou de primeira necessidade. O leão da Receita Federal vai entrar na empresa, morder e levar um naco na forma de impostos. Uma fábrica de pães é um bom exemplo. Mesmo tendo algumas isenções de impostos por produzir alimentos, a mordida é de 13% do que ela fatura. Isso apenas para fazer o pão, sem contar a matéria-prima que entra na fábrica já carregada de impostos: óleo, energia elétrica, gás. Até a essencial farinha de trigo vem tributada. Para chegar à mesa do consumidor, o governo ainda vai cobrar impostos pelo transporte e pela venda.

No ano passado, a máquina do estado arrecadou o equivalente a 36,3% de tudo o que foi produzido no Brasil. De 1947 até hoje, a carga tributária cresceu duas vezes e meia.

“O Brasil tem uma carga tributária excessiva em relação ao desenvolvimento e o nível de renda que ele tem. Talvez devíamos ter em média, hoje, na ordem de 27% a 28% de carga tributária”, opina Juarez Rizzieri, pesquisador da Fipe.

Países com renda per capita próxima à do Brasil têm carga tributária bem menor. O peso dos impostos aqui é comparável ao de países ricos com bom serviço público.

“Nós pagamos realmente carga tributária de país desenvolvido, mas os serviços ficam em nível de país subdesenvolvido”, critica a tributarista Ives Gandra.

O técnico em eletroeletrônica Gabriel Texeira, funcionário da fábrica de pães, reclama do pouco que o estado devolve em troca do que recolhe. Na casa dele, nós calculamos quanto ele e sua mulher Carla pagam de contribuições e impostos diretos, como imposto de renda, IPVA, INSS. Deu R$ 873 por mês.

“Ainda tem os impostos que são incluídos no alimento, no transporte, nos veículos. A carga tributária é altíssima. Esse é o maior problema. Não é só o salário. Em tudo que a gente consome tem imposto”, diz Gabriel.

O peso dos impostos indiretos pagos por Gabriel e sua família pode ser estimado com base nas tabelas do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário. O exame dos gastos mensais - prestação de carro, escola, alimentos, luz, água, telefone e outros - mostra que os impostos indiretos ficam em torno de R$ 1.590. A renda bruta mensal é boa, R$ 5.969, mas, somando os impostos diretos com os indiretos, cerca de R$ 2.463 vão para os cofres do governo.

Apesar disso, Gabriel e Carla têm de pagar escola particular para os filhos e plano de saúde para a família para terem ensino e atendimento médico eficientes.

“O maior problema é o retorno desses impostos que a gente não tem. Se tivesse um serviço público de qualidade, valeria a pena pagar este e até mais impostos, mas desde que tivesse um retorno satisfatório pela parte do poder público”, acrescenta Gabriel.

“Era de se esperar que um país que arrecada muito também investisse muito. Infelizmente, o Brasil quebra essa regra. Temos uma carga tributária alta, das maiores do mundo, e estamos na lanterna do mundo em termos de investimento público. A proporção do nosso orçamento que destinamos para obras, seja de portos, estradas, seja de escolas ou hospitais, é muito baixa”, reforça o economista José Roberto Affonso.

Além do peso dos impostos, é preciso levar em conta também a burocracia para pagar os impostos. A legislação é complicada. Só um exemplo: o pão francês, por fazer parte da cesta básica, é isento de PIS, Confins e ICMS. Mas se ele levar um pouco de gergelim por cima, deixa de ser francês e os impostos voltam. A isenção é estadual. Esse pãozinho francês, quando é vendido no Nordeste, tem 7% de ICMS. Nos outros estados, 12%. É um custo que vai parar no preço do pãozinho.

A fábrica de pães recolhe 11 impostos e contribuições diferentes e tem de preencher pelo menos 18 formulários. Cada obrigação é regida por disposições que mudam a toda hora.

“Você tem cerca de 3.500 normas, mais ou menos, normas governamentais. E para você absorver tudo isso, controlar tudo isso, demanda muito tempo, demanda muito valor”, conta Daniel Nascimento, diretor financeiro da fábrica.

Um tributarista diz que a constituição de 1988 transferiu receitas da União aos estados e municípios. Para recuperar o que perdeu e fazer frente a garantias sociais, como aposentadoria rural e seguro desemprego, o governo federal elevou alíquotas e criou novas contribuições. A carga aumentou e a legislação ficou ainda mais emaranhada.

“Desde 1988, desde a nova constituição é que os impostos, especialmente os impostos estaduais, ICMS, vêm sendo degradados ano após ano, mês após mês. Eu costumo dizer que a cada edição do Diário Oficial, o sistema tributário piora”, conclui Clóvis Panzarini, ex-secretário da Fazenda de São Paulo.