segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

BANCADO POR BENEFÍCIOS DO GOVERNO, CASAL DESISTE DE PROCURAR EMPREGO


"Nós não sentimos vergonha de viver de benefícios", disse Gina. "Nenhum de nós tem a menor culpa porque nossos pais pagaram muito em impostos nos últimos 30 anos. Estamos apenas pegando de volta as grandes contribuições que nossos pais fizeram. O problema está com o sistema, não conosco.
A vida de Danny Creamer, de 21 anos, e Gina Allan, de 18, se resume em passar o dia inteiro assistindo à televisão de 47 polegadas e fumar cerca de 40 cigarros por dia. Emprego? Com benefícios pagos pelo governo que chegam a R$ 4.725 por mês, o casal desistiu de procurar por trabalho ao perceber que poderia viver bem sem fazer nada.
Semanalmente, eles recebem 150 libras do governo por morarem em uma casa alugada de baixo custo, 60 libras como crédito fiscal, 20 libras como benefício por ter uma filha de quatro meses e 110 libras de seguro-desemprego. Com uma remuneração assim, o casal disse ao The Sun que seria difícil encontrar empregos que pagassem o mesmo.
"Nós não sentimos vergonha de viver de benefícios", disse Gina. "Nenhum de nós tem a menor culpa porque nossos pais pagaram muito em impostos nos últimos 30 anos. Estamos apenas pegando de volta as grandes contribuições que nossos pais fizeram. O problema está com o sistema, não conosco. Por que iríamos abrir mão de viver assim?"Semanalmente, eles recebem 150 libras do governo por morarem em uma casa alugada de baixo custo, 60 libras como crédito fiscal, 20 libras como benefício por ter uma filha de quatro meses e 110 libras de seguro-desemprego. Com uma remuneração assim, o casal disse ao The Sun que seria difícil encontrar empregos que pagassem o mesmo.
A mulher chegou até a dizer que trabalharia, mas com o estudo que ela e o marido possuem seria possível ganhar apenas R$ 3.700. "As pessoas não entendem. Nós, na verdade, nos sentimos presos a esses benefícios. Estamos encurralados", completou Gina, que disse não estudar por "não saber por onde começar".

sábado, 26 de janeiro de 2013

Uma oposição que se deixou massacrar. Há saída?


As oposições têm de perder o receio de falar abertamente ao povo que trabalha e estuda. Que estuda e trabalha. Em vez de tentar dividir os louros da caridade, tem de ser porta-voz do progresso. 

(..) Esses libertadores (a turma que coabita o poder) não vêem a si mesmos como expressão de um conjunto de valores em meio a tantos outros, com o quais teriam de competir, mas como a evolução do pensamento, o seu desdobramento superior. Assim, ou se está com eles ou se está com o atraso, com o retrocesso, com a reação. Ora, se o “outro”, o que pensa diferente, não é um adversário, mas um inimigo da civilização, então não merece respeito e tem de ser eliminado. 

(..) No fim das contas, no Brasil de hoje, é preciso saber onde está o conservadorismo para que ele possa, se preciso, proteger de si mesmos até os “progressistas”. A lâmina começou a descer sobre o pescoço de Robespierre quando ele mandou cortar a cabeça do primeiro “reacionário”.


Escrevi ontem alguns posts sobre o bom comportamento das oposições no Brasil — o que quer dizer, na verdade, mau comportamento. Abaixo, segue o artigo que publiquei na última edição de 2010 da revista VEJA. Acho que ele toca em alguns aspectos relevantes desse debate. Trata-se de um texto bastante longo. Mas esse nunca foi um empecilho na nossa relação, certo?

*

“Em nosso país, queremos substituir o egoísmo pela moral (…); os costumes pelos princípios; as conveniências pelos deveres; a tirania da moda pelo império da razão; o desprezo à desgraça pelo desprezo ao vício; a insolência pelo orgulho; a vaidade pela grandeza d’alma; o amor ao dinheiro pelo amor à glória (…); a intriga pelo mérito (…); o tédio da volúpia pelo encanto da felicidade; a pequenez dos grandes pela grandeza do homem; um povo cordial, frívolo e miserável por um povo generoso, forte e feliz; ou seja, todos os vícios e ridicularias da Monarquia por todos os milagres da República.”

As palavras acima são parte de um discurso feito por Robespierre, um dos líderes jacobinos, a corrente mais radical da primeira safra dos revolucionários franceses, e foram pronunciadas no dia 5 de fevereiro de 1794. É grande o risco de o leitor ter ouvido de um professor, em algum momento de sua vida escolar, que ali estava um cara batuta, que queria “liberdade, igualdade e fraternidade”. Quem de nós pode ser contra o horizonte que ele propõe? No dia 28 de julho daquele mesmo ano, Robespierre perdeu a cabeça na guilhotina. Ainda retornarei à França do fim do século 18 depois de passar pelo Brasil do começo do século 21.

De volta para o futuro, pois:

Quem contesta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva odeia o país. Quem manifesta contrariedade com a concessão de um prêmio literário a uma celebridade, em um jogo de cartas marcadas, está com inveja. Quem enfrenta a patrulha politicamente correta quer fazer a história marchar para trás. Os dias andam hostis à crítica – a qualquer uma e em qualquer área. Não é a voz do povo que expressa intolerância, mas a dos que se querem seus intérpretes privilegiados. As urnas demonstraram que a massa de eleitores é bem mais plural do que os donos do “Complexo do Alemão” mental da política, da ideologia, da cultura e até de setores da imprensa, que tentam satanizar o dissenso.

Nesse ambiente, fazer oposição ao governo liderado pelo PT, partido que atribui a si mesmo a missão de depurar a história, é tarefa das mais difíceis, especialmente quando a minoria parlamentar será minoria como nunca antes na democracia deste país. Ao longo de oito anos, é preciso convir, os adversários de Lula não conseguiram encontrar o tom e se deixaram tragar pela voragem retórica que fez tabula rasa do passado e privatizou o futuro. O PT passa a impressão de já ter visitado o porvir e estar entre nós para dar notícias do amanhã.

A pergunta óbvia é com que discurso articular o dissenso, sem o qual a democracia se transforma na ditadura do consentimento?

Não existem receitas prontas. Mas me parece óbvio que o primeiro passo consiste em libertar a história do cativeiro onde o PT a prendeu. Isso significa mostrar, e não esconder, os feitos e conquistas institucionais que se devem aos atuais oposicionistas e que se tornaram realidade apesar da mobilização contrária bruta e ignorante do PT.  Ajuda também falar a um outro Brasil profundo, que não aquele saído dos manuais da esquerda, sempre à espera de reparações e compensações promovidas pelo pai-patrão dadivoso ou a mãe severa e generosa, à espera da “grande virada”, que nunca virá!

Temos já um Brasil de adultos contribuintes, com uma classe média que trabalha e estuda, que dá duro, que pretende subir na vida, que paga impostos escorchantes, diretos e indiretos, a um estado insaciável e ineficiente. Milhões de brasileiros serão mais autônomos, mais senhores de si e menos suscetíveis a respostas simples e erradas para problemas difíceis quando souberem que são eles a pagar a conta da vanglória dos governos. É inútil às oposições disputar a paternidade do maná estatal que ceva mega-currais eleitorais. Os órfãos da política, hoje em dia, não são os que recebem os benefícios – e nem entro no mérito, não agora, se acertados ou não -, mas os que financiam a operação. Entre esses, encontram-se milhões de trabalhadores, todos pagadores de impostos, muitos deles também pobres!

Esse Brasil profundo também tem valores – e valores se transformam em política. O que pensa esse outro país? O debate sobre a descriminação do aborto, que marcou a reta final da disputa de 2010, alarmou a direção do PT e certa imprensa “progressista”. Descobriu-se, o que não deixou menos espantados setores da oposição, que amplas parcelas da sociedade brasileira, a provável maioria, cultivam valores que, mundo afora, são chamados “conservadores”, embora essas convicções, por aqui, não encontrem eco na política institucional – quando muito, oportunistas caricatos os vocalizam, prestando um desserviço ao conservadorismo.

Terão as oposições a coragem de defender seu próprio legado, de apelar ao cidadão que financia a farra do estado e de falar ao Brasil que desafia os manuais da “sociologia progressista”? Terão as oposições a clareza de deixar para seus adversários o discurso  do “redistributivismo”, enquanto elas se ocupam das virtudes do “produtivismo”? Terão as oposições a ousadia de não disputar com os seus adversários as glórias do mudancismo, preferindo falar aos que querem conservar conquistas da civilização? Lembro, a título de provocação, que o apoio maciço à ocupação do Complexo do Alemão pelas Forças Armadas demonstrou que quem tem medo de ordem é certo tipo de intelectual; povo gosta de soldado fazendo valer a lei. Ora, não pode haver equilíbrio democrático onde não há polaridade de idéias. Apontem-me uma só democracia moderna que não conte com um partido conservador forte, e eu me desminto.

Antes de saber quem vai liderar um dos pólos, é preciso fazer certas escolhas. O Congresso aprovou há pouco, por exemplo, o sistema de partilha para o pré-sal. Não se ouviu a voz da oposição, a exceção foi a senadora Kátia Abreu (DEM-TO). O PT inventou a farsa, amplamente divulgada na campanha eleitoral, de que não passava de “privatização” o sistema de concessão, que conduziu o país à quase auto-suficiência e que fez dobrar a produção de petróleo no governo FHC. Mentiu, mas venceu o embate. Podem vir por aí as reformas. Quais setores da sociedade as oposições pretendem ter como interlocutores? Continuarão órfãos de representação milhões de eleitores que não se reconhecem na ladainha pastosa do  “progressismo”? As oposições têm de perder o receio de falar abertamente ao povo que trabalha e estuda. Que estuda e trabalha. Em vez de tentar dividir os louros da caridade, tem de ser porta-voz do progresso.

Essa oposição tem, em suma, de enfrentar uma esquerda que, se morreu há muito tempo na economia, exerce inquestionável hegemonia na cultura e na política, onde se esforça para aplicar o seu programa, cuja marca é ódio à divergência, que ela entende ser expressão da má consciência. Não houve um só teórico esquerdista relevante cujo objetivo não fosse a superação dos “limites” da democracia. Sem esse horizonte escatológico, inexiste esquerdismo.

Esses libertadores não vêem a si mesmos como expressão de um conjunto de valores em meio a tantos outros, com o quais teriam de competir, mas como a evolução do pensamento, o seu desdobramento superior. Assim, ou se está com eles ou se está com o atraso, com o retrocesso, com a reação. Ora, se o “outro”, o que pensa diferente, não é um adversário, mas um inimigo da civilização, então não merece respeito e tem de ser eliminado. Em um comício em Santa Catarina, Lula defendeu, por exemplo, que o DEM seja “extirpado” da política, como se um governo não fosse legitimado pela oposição, sem a qual ou se tem uma ditadura, ainda que de maioria, ou se tem um concerto de políticos contra a população. Não se enganem: em um regime em que todas as forças estivessem unidas em um grande pacto, sobraria apenas o povo como adversário.

Em uma anedota trágica, a aversão de Lula à oposição é tal que ele combate até a do Irã! Referindo-se aos protestos contra a reeleição fraudulenta de Mahmoud Ahmadinejad, comparou-os à reação de uma torcida de futebol que visse seu time perder. O apedrejamento da democracia é considerado “variante cultural” pelo petismo. Lula tomaria pau no Enem dos direitos humanos.  E não está só. Nesse ambiente, a crítica virou ou sabotagem ou expressão do isolamento ressentido de quem não pertence ao grupo dos “vitoriosos”, onde se encontram políticos, ideólogos, autores, pensadores e até jornalistas. Quem não fala como um deles o faria só por não ser um deles, como se a essência de um regime de liberdades não estivesse justamente no direito de… não ser um deles! Nas ditaduras também é possível dizer “sim”. O que caracteriza a democracia é a possibilidade de dizer “não”. Quando forças vitoriosas, convertidas em falanges do oficialismo, já não se ocupam mais em combater “o que” se diz, mas o direito de dizê-lo  – e, eventualmente, “quem” diz –  instala-e um regime de intolerância, ainda que seja aquela doce “intolerância dos tolerantes”. Como chegamos a isso?

Valores autoritários, considerados hoje em dia inquestionáveis ou incontrastáveis, não alcançaram essa condição apenas por força da militância de seus prosélitos. Seus adversários políticos e intelectuais também recuaram intimidados. Há pelo menos três eleições,  o PT opõe “estatismo” a “privatismo” (se me permitem os neologismos de uma luta velha). Na contramão de todas as evidências da história, o partido assegura as qualidades do primeiro contra os vícios do segundo, embora as melhores virtudes da moderna economia brasileira tenham nascido de escolhas feitas por Fernando Henrique Cardoso, antecessor de Lula, que tirou um pouco de estado da sociedade e pôs um pouco mais de sociedade no estado. As atuais oposições, é fato, têm sido fracas na defesa de suas conquistas e de seu legado. Recuaram diante da guerra promovida pelo PT.

Esse comportamento vexado, assustadiço, gerou outro fenômeno. Os setores da imprensa que não abrem mão de fazer o seu trabalho – e um deles é a crítica ao poder, a qualquer um – são, então, identificados pelos petistas como “o verdadeiro partido” a ser combatido e como o “real inimigo”. Por isso, os poderosos da hora se esforçam para criar mecanismos de censura e se declaram em guerra contra o que chamam “mídia”. No dia 20 de novembro, o Diretório Nacional do PT se reuniu para saudar a vitória de Dilma Rousseff e estabeleceu, numa resolução nacional, quatro objetivos estratégicos: erradicar a pobreza absoluta; reagir à guerra cambial; fazer a reforma política e democratizar os meios de comunicação. No caso desse último intento, pregou a necessidade de um “debate qualificado acerca do conservadorismo que se incrustou em setores da sociedade e dos meios de comunicação”. Ainda que tal “conservadorismo” existisse nos meios de comunicação -  o que, infelizmente, é mentira -, caberia indagar: seria ele ilegítimo, um mal a ser eliminado, uma excrescência a ser extirpada, um atraso a ser vencido? Em uma sociedade em que não houvesse “conservadores”, quem se encarregaria de institucionalizar os eventuais benefícios oriundos das “revoluções”?

A intolerância, que é primariamente política, a identificar no adversário não alguém com idéias eventualmente erradas, mas um sabotador, migra para o jornalismo, para a cultura, para os costumes – para a vida, enfim. Equipara-se então o confronto de idéias a um conflito típico de uma etapa anterior da civilização política, superada pela chegada ao poder daqueles que seriam os reais representantes do povo, do qual Lula se disse a própria “encarnação” em um “comício” realizado no dia 30 de novembro, quatro anos antes das eleições de 2014!  A fórmula consagrada pelo presidente – “nunca antes na história deste país” – torna toda a “história deste país” nada mais do que pré-história, mero rascunho daquilo que, agora, seria realização efetiva. A chegada do PT ao poder teria sido o “fiat lux”, o advento, o “Ano I da Civilização Brasileira”.

Em uma manifestação ilegal na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, USP,  em favor da então candidata Dilma Rousseff, a petista Marilena Chaui, que ali leciona filosofia, comentando a vitória do oposicionista José Serra em oito estados no primeiro turno, lançou a teoria de que ele só triunfara nos locais onde predomina o latifúndio. Ora, o latifúndio, que tanta literatura esquerdista de baixa qualidade gerou no Brasil, nem existe mais. Para essa senhora, os votos dados à candidata de seu partido expressam uma vontade legítima do povo, que ela identifica com a dos oprimidos; já o oposicionista teria sido o escolhido ou por opressores ou por eleitores sob o seu jugo e representaria, portanto, uma vontade deformada, que tem de ser corrigida. Um dos blogueiros de Lula – o Planalto criou uma incubadora deles, alimentados com ração oficial paga pelo brasileiro trabalhador – já estimulou os jornalistas a identificar quem são os 3% que consideram, segundo as pesquisas, o governo “ruim ou péssimo”. Só faltou sugerir que os descontentes sejam identificados por algum sinal denunciador de sua condição de minoria ou usem uma tornozeleira eletrônica. A inferência é que o real tamanho da divergência no Brasil não passa de um gueto. Será mesmo?

Estavam habilitados a votar 135.803.366 pessoas; desse total, 29.197.152 decidiram não se apresentar às urnas; 4.689.428 anularam o seu voto; 2.452.597 houveram por bem não escolher ninguém; 43.711.388 preferiram Serra, e 55.752.529 ficaram com Dilma. A petista é a legítima presidente eleita, com 56,05% dos votos válidos, o que corresponde a 41% do eleitorado. Lula empenhou a sua popularidade no triunfo de sua criatura eleitoral. Seus 80% de aceitação, segundo as pesquisas ao menos, não foram suficientes para mover a vontade de quase 60% do eleitorado.

Especular sobre as virtudes e riscos de uma sociedade cindida é inútil aqui, até porque não existe cisão nenhuma. Isso é bobagem! O que temos, felizmente, é um país unido pelo pluralismo, que, à sua maneira, resiste às tentações do partido que se quer “único”. Legendas identificadas com a oposição fizeram o governo em dez estados, onde estão 52% da população e quase 60% do PIB.  É a sociedade brasileira, mais do que as oposições organizadas, que diz “não” à mexicanização da política, alusão ao PRI (Partido da Revolução Institucional), que governou o México por sete décadas, abrigando correntes que iam da direita à extrema esquerda.  Dado o quadro, estamos diante de uma óbvia dificuldade. Ela se define pelo fato de as oposições, um tanto acovardadas, precisarem ter a coragem de enfrentar os monopolistas da esperança.

Vem aí a presidente Dilma Rousseff. Será melhor ou pior? Não sei. Mais do que pessoas, o petismo é um sistema. De todo modo, estou convicto de que ninguém consegue, nem Dilma, emular com Lula nas manhas do auto-elogio; na satanização do “outro” porque outro; na diluição do sentido das palavras; na impressionante capacidade de submeter a história a uma torção tal que seus piores vícios acabam sendo saudados como suas melhores virtudes. O Brasil deixa de ser governado por um mito uspiano e volta a ser governado por um político, cujas ações serão avaliadas segunda a sua eficiência, não segundo as auroras que anuncia.

É chegada, então, a hora de voltar à França de Robespierre.

Suas ambições não eram pequenas. Na seqüência da exortação que abre este texto, ele antevê um país que cumpra “os desejos da natureza, o destino da humanidade e as promessas da filosofia, absolvendo a providência do reinado do crime e da tirania”. Queria um país que fosse “o terror dos opressores e a consolação dos oprimidos”; esperava ver brilhar a “aurora da felicidade universal”. O governo que ele liderou de 1792 até a sua morte ficou conhecido como a fase do “Terror”. Para realizar todos os seus sonhos de justiça, começou por mandar à guilhotina os adversários, até que chegou a hora de liquidar os aliados, destino fatal de toda revolução. O marxismo chinfrim que domina os livros de história, especialmente no Brasil, ensina que uma grande conspiração de reacionários concorreu para separar o corpo de Robespierre de sua cabeça. Falso! Ele próprio havia doutrinado o povo sobre as “virtudes” de um modelo no qual a eliminação física do outro é uma forma de superar os entraves da história, colocando-a em um novo patamar de racionalidade.

Lênin, o líder da revolução russa, assassino meticuloso, levou a lição ao pé da letra. Antes do terror revolucionário robespierriano, a morte do inimigo ou era conseqüência óbvia do confronto dos litigantes ou evidência de que a sociedade precisava de um contrato ou de um estado tirano para controlar os apetites individuais. Robespierre deixou uma herança perversa, abraçada com entusiasmo por Karl Marx e pelos marxistas: a noção de que a eliminação do adversário é uma forma de humanismo e uma expressão do progresso social e da história. Esse princípio é parte do DNA das esquerdas. Ele pode se manifestar com mais ou com menos virulência ainda hoje, movendo-se, muitas vezes, no molde institucional de regimes democráticos, mas sempre empenhado em mudar a sua natureza sob o pretexto de ver brilhar a “aurora da felicidade universal”.

Um país não precisa de oposição porque seu programa é necessariamente melhor do que o do governo de turno. Um país precisa de oposição porque ela é a evidência de que se vive numa democracia e a garantia de que as disputas políticas não acabarão sendo resolvidas pela guilhotina – ainda que uma guilhotina moral. No fim das contas, no Brasil de hoje, é preciso saber onde está o conservadorismo para que ele possa, se preciso, proteger de si mesmos até os “progressistas”. A lâmina começou a descer sobre o pescoço de Robespierre quando ele mandou cortar a cabeça do primeiro “reacionário”.




Cuidado! Uma ONG pretende estatizar seus filhos porque acha que você é idiota demais para educá-los


(..) Essa história da colher de mingau com “olha o aviãozinho”, leitor amigo, é uma forma de perverter as crianças. (..) suspeito que, se aprovados (leis que restriguem propagandas infantis), o Kinder Ovo terá de sumir das prateleiras do estado, e os ovos de Páscoa serão recheados com trechos dos diários de Che Guevara…

Agradeço o esforço do Alana, tão preocupado com a gente e com nossos filhos. Mas que vá vender sua cantilena autoritária em outra freguesia. Quem lhe conferiu licença para ser polícia da publicidade, de nossa consciência e de nossos lares? Por que não troca sua obsessão autoritária por uma criança pobre?

Por Reinaldo Azevedo

Já escrevi alguns textos tratando dos delírios totalitários de uma ONG chamada Instituto Alana, que se propõe a defender os direitos da criança. Se há coisa que não falta no país, como se sabe, é infante maltratado. A Alana, no entanto, não parece especialmente preocupada com a criança de rua, com a precariedade das escolas, com o trabalho infantil e tal. Nada disso! Sua obsessão é impedir que o capitalismo perverta a mente dos inocentes, incitando-os ao consumo irresponsável, o que poderia ser prejudicial à sua saúde. Huuummm…

A entidade está há muito tempo numa cruzada que busca, vejam que mimo!, proibir a veiculação de publicidade de alimentos “pobres em nutrientes e com alto teor de açúcar, gorduras saturadas ou sódio no rádio e na TV” entre as 6h e as 21h. Só isso! Assim, nesse intervalo, só poderiam ser veiculados anúncios de espinafre, abobrinha, ricota e, creio, óleo de fígado de bacalhau, que me rendeu, na infância, golfadas épicas. Eu tinha bronquite, e alguém assegurou que a Emulsão Scott “fortalecia os pulmões”… O rótulo continua o mesmo. É o único bacalhau com cabeça que se conhece no mundo…

Mas atenção! Nada de dar um brinquedinho para estimular a criança a tomar aquele troço. A Alana também é contra porque seria antiético associar o regalo ao alimento. Essa história da colher de mingau com “olha o aviãozinho”, leitor amigo, é uma forma de perverter as crianças.

A Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou dois projetos de lei que fazem justamente isto: um restringe a propaganda nos alimentos pobres em nutrientes, e outro proíbe os brindes — suspeito que, se aprovados, o Kinder Ovo terá de sumir das prateleiras do estado, e os ovos de Páscoa serão recheados com trechos dos diários de Che Guevara…

Ontem, representantes da Alana estiveram no Palácio dos Bandeirantes para pedir que o governador Geraldo Alckmin sancione as duas leis — o que, obviamente, ele não pode fazer porque se trata de duas flagrantes inconstitucionalidades. A regulação da propaganda é de competência federal. Foram recebidos pelo secretário estadual da Casa Civil, Edson Aparecido. Leio na Folha o que diz o secretário:
“A equipe técnica ouve todo mundo, e tem que ter uma análise constitucional, jurídica. Colocamos toda a equipe para analisar, ver o que aconteceu em outros Estados e países. O mais importante é que o governo se abriu pra debater a matéria”.

Entendo a fala de Aparecido, especialmente nestes tempos em que há tantas pessoas querendo ajudar a velhinha a atravessar a rua, ainda que ela não queira… Mas noto que nem toda matéria é passível de debate, especialmente aquelas que afrontam de maneira tão flagrante a Constituição. O Artigo 220 da Carta é claro como a luz do dia — reproduzo em azul:
A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
(…)
§ 3º – Compete à lei federal:
I – regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada;
II – estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
§ 4º – A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso.

Retomo
As leis aprovadas pela Assembleia Legislativa são inconstitucionais, e chega a ser ridículo que o Alana vá ao Palácio dos Bandeirantes reivindicar que o governador jogue a Constituição no lixo.

E há, obviamente, a questão de mérito. Entregue o país para ser governado por engenheiros segundo os fundamentos da engenharia, e teremos uma ditadura. Entregue o país para ser governado por médicos segundo os fundamentos da medicina, e teremos uma ditadura. Entregue o país para ser governado por jornalistas segundo os fundamentos do jornalismo, e teremos uma ditadura… Felizmente, o gênio humano criou — vejam que coisa! — a política e os políticos, que representam, nas democracias, uma média e um equilíbrio das vontades.

As duas leis aprovadas na Assembleia e o Alana estão querendo estatizar as nossas crianças, tirando dos pais o poder e o direito de decidir o que seus filhos veem ou não na televisão. Mais ainda: cabe a eles decidir o que compram ou não para suas crianças. Não precisamos de um estado babá para cuidar desses assuntos. Uma coisa é reivindicar, e eu apoio, que os produtos tragam de forma visível, em letra legível, a sua composição, teor de gordura, de açúcar, de sódio etc. Outra, distinta, é o poder público atuar como censor.

Fiquem atentos: os mesmos “progressistas” que tratam com simpatia a censura à propaganda de biscoito costumam defender a descriminação das drogas.  Ainda vamos liberar a venda de maconha e proibir a de chocolate…

Encerrando
Se a proposta do Alana um dia virasse uma lei federal — e todo cuidado é pouco —, a própria liberdade de expressão estaria em risco. Por que não proibir a propaganda de produtos poluidores como os carros, por exemplo? Ou dos que exploram a “usura”, como os bancos? Ou dos que investem no medo do futuro — os planos de previdência e seguro-saúde? Depois de algum tempo, restaria só a propaganda oficial. Seria a morte da liberdade de opinião e de expressão. É a publicidade que financia a pluralidade da imprensa. Não por acaso, veículos que dependem de estatais para sobreviver rastejam por aí a sua subserviência.

Isso tudo é tara autoritária. É saudável que se discuta, sim, a ética na publicidade — para crianças ou adultos. Mas não precisamos do Alana ou do estado como babás. As famílias cuidam de seus respectivos filhos, e a sociedade cobra do setor publicitário a autorregulação.

Agradeço o esforço do Alana, tão preocupado com a gente e com nossos filhos. Mas que vá vender sua cantilena autoritária em outra freguesia. Quem lhe conferiu licença para ser polícia da publicidade, de nossa consciência e de nossos lares? Por que não troca sua obsessão autoritária por uma criança pobre?



quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Lágrimas por um panda


Chore por um panda e defenda o aborto de crianças. Você será top na balada.
 Por Luiz Felipe Pondé
Em 500 anos, não seremos lembrados como a geração do iPad, porque ele será mais parecido com a idade da pedra do que com o que existirá em termos de tecnologia.

Seremos lembrados como a era da vulnerabilidade e do sentimentalismo barato. Somos uma cultura de frouxos viciados em conforto, que se lambem o tempo todo e culpam os outros por tudo.

Proponho a leitura de dois livros que ainda não têm tradução para o português (até onde sei), infelizmente. O primeiro, já antigo, de 2004, do sociólogo inglês Frank Furedi, "Therapy Culture: Cultivating Vulnerability in an Uncertain Age" (cultura da terapia: cultivando a vulnerabilidade numa era incerta), ed. Routledge, London.

O segundo, de 2011, do psiquiatra inglês (já falei dele nesta coluna e vou repetir mil vezes até alguma editora se tocar e publicá-lo no Brasil) Theodore Dalrymple, "Spoilt Rotten: The Toxic Cult of Sentimentality" (podre de mimado: o culto tóxico do sentimentalismo), da Gibson Square, London.

Furedi é um egresso da formação frankfurtiana, portanto, de esquerda, mas com forte influência do trabalho do historiador americano Christopher Lasch, um dos desbravadores da categoria de narcisismo como matriz da alma contemporânea.

Dalrymple, psiquiatra de cadeias e hospitais dos pobres ingleses, que atuou anos na África, identificado com o pensamento conservador anglo-saxão, explode muitas das soluções da psicologia social foucaultiana a partir de sua experiência clínica: as pessoas não são vítimas de sistema nenhum, e o serviço público, quando institucionaliza esta crença idiota no "sistema", faz das pessoas retardados morais.

Já é hora de ultrapassarmos a barreira da ignorância alimentada pela esquerda brasileira, que gosta de identificar o pensamento conservador anglo-saxão com fascismos racistas, religiosos e sexistas. Pura má-fé deles. Estão morrendo de medo de quem não tem mais medo deles. Risadas?

A marca do pensamento conservador anglo-saxão é seu empirismo cético contrário às especulações que marcam a crítica social francesa e alemã do século 20. Como diz a historiadora conservadora americana Gertrude Himmelfarb, "a realidade não parece encorajar especulações".

Esquerda e direita podem, sim, dialogar quando não está em questão "propor" mundos ideais, mas sim identificar nossas misérias
contemporâneas.

Mas o que vem a ser a cultura da terapia e seu culto da vulnerabilidade (Furedi)? Trata-se da contaminação da cultura pela ideia de que todos temos problemas e devemos confessá-los publicamente, e, por isso mesmo, somos vítimas eternas.

Ninguém é, de fato, responsável pelos males que faz, mas sim vítima de "problemas psicológicos ou sociais". Vejamos dois exemplos dados por Furedi em seu livro.

O primeiro se dá no Reino Unido. Empregado negro acusa patrão de racismo. Abre um processo. Apesar de outros empregados afirmarem nunca terem visto atitudes racistas no patrão, ele é condenado sob a alegação de que, se o empregado negro se sentiu constrangido, é o bastante, porque somos racistas inconscientemente, porque o "inconsciente é ideológico", como numa espécie de doença psicossocial. Hilário, não?

O segundo caso se dá nos EUA. Um bebê é encontrado morto na casa dos pais pela avó materna. A mãe, que estava num bar bebendo com o pai da criança no momento, quando julgada, argumenta que não tinha sido criada pela mãe com o afeto correto, por isso não tinha aprendido a ser mãe. Ridículo?

E o que vem a ser o culto do sentimentalismo barato (Dalrymple)? Entre vários sintomas, um dos mais fortes se sente na educação.

Toda criança é linda, boa e pode amar seus colegas. Hoje em dia, todo mundo tem problema. Um dia, será proibido reprovar um aluno sob pena de que você está sendo insensível para com seus limites psicológicos ou sociais.

Outro sintoma é a obrigação das pessoas mostrarem que "care" (se importam) com alguma coisa. Se você colocar a foto de uma criança africana pobre no "Face", você come (quase) todo mundo.

Chore por um panda e defenda o aborto de crianças. Você será top na balada.

Eis LULA. O legitimo populista barato, autoritário e clarividente!

Eis LULA. O legitimo populista barato e autoritário falando mal de populista autoritários, assumindo em suma, que em quanto tivermos politicos como ele o Brasil não sairá do atraso. Eita clarividência essa!
Depois ele diz que nunca se prestaria a ser um politico desse tipo. Pelo jeito as mentiras de LULA não são de agora. Ele já usa desse expediente faz tempo.




sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Manifesto por um Brasil mais rico, não um Brasil mais caro

Quem pagará a conta do encarecimento dos produtos importados e da redução da competição com os nacionais é você, o consumidor. Aliás, já paga. No ano passado, impostos sobre importação arrecadaram mais que o Imposto de Renda Pessoa Física. Você pagou ambos. Os primeiros, nos preços elevadíssimos praticados no Brasil e o IRPF, na fonte.

Por Ricardo Amorim 

Na Idade Média, o tratamento para a peste bubônica era forçar o doente a penitenciar-se com um padre. Buscava-se tratar sintomas como febre, calafrios e delírio através da graça de Deus. O resultado: um terço da população europeia foi dizimada pela peste.

De lá para cá, muito mudou, mas nem tanto assim. Vários tratamentos médicos continuam lidando exclusivamente com os sintomas e não as causas das doenças. Na economia, também.
 

Na história brasileira, há mais casos de tratamentos de sintomas de problemas econômicos do que episódios onde as verdadeiras razões dos desarranjos foram confrontadas.


Nesta semana, tivemos mais um. Para lidar com dificuldades da nossa indústria, o governo e o Banco Central vem adotando uma série de medidas, incluindo redução temporária de impostos para alguns subsetores, aceleração da queda da taxa de juros, adoção de restrições à entrada de capitais estrangeiros para enfraquecer nossa moeda e elevação de impostos sobre produtos importados.


Além de sujeitarem o país a eventuais retaliações comerciais, estas medidas criam um Brasil mais caro, não mais rico. Quem pagará a conta do encarecimento dos produtos importados e da redução da competição com os nacionais é você, o consumidor. Aliás, já paga. No ano passado, impostos sobre importação arrecadaram mais que o Imposto de Renda Pessoa Física. Você pagou ambos. Os primeiros, nos preços elevadíssimos praticados no Brasil e o IRPF, na fonte.


A própria indústria, beneficiária no curto prazo, acaba perdendo no longo prazo, à medida que a elevação de preços reduz o número de consumidores que podem arcar com preços mais elevados.


O governo deve, sim, adotar medidas enérgicas para elevar a competitividade do país. Para isso, precisa cortar gastos públicos excessivos e de péssima qualidade. Somos pouco competitivos e nossos preços são elevados porque, no Brasil, compramos o produto ou o serviço e pagamos junto nosso governo gastão.
Não raro, pagamos duas vezes pelo mesmo serviço. Saúde e educação são exemplos óbvios. Através de nossos impostos, pagamos os sistemas públicos, mas, devido à baixa qualidade, quem pode paga também por serviços privados.


Com menos gastos públicos, os impostos também cairiam e, com eles, os preços. Com preços menores, o consumo aumentaria e a geração de empregos também.
Sobrariam mais recursos para investimentos em infraestrutura, reduzindo custos de transporte, energia, comunicação, etc. O governo necessitaria de menos dinheiro emprestado, permitindo que a taxa de juros caísse, sem gerar desequilíbrios. Juros menores atrairiam menos capital estrangeiro, levando a uma taxa de câmbio menos apreciada.


Menos gastança governamental e impostos são a receita para um país mais rico. Mais impostos sobre produtos importados constroem apenas um país mais caro.
Nossa presidente tem reclamado do tsunami financeiro dos países ricos – que ela não controla – mas não tem atacado sistematicamente o tsunami de gastos públicos, sob seu controle.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A crise é moral


 O Estado de bem-estar social criou uma bomba-relógio, mas ninguém quer pagar a fatura. (..) Acostumados com o conforto ocidental, essas pessoas passaram a crer que a opulência era o estado natural da humanidade, e não a miséria. Em vez de pesquisar as causas da riqueza das nações, como fez Adam Smith, eles acharam que bastava distribuir direitos e jogar a conta para o governo.

Por Rodrigo Constantino

O Japão está em crise há décadas. A Europa está em grave crise. Os Estados Unidos cada vez se parecem mais com a Europa. Não seria exagero falar em uma grande crise das democracias modernas. O que pode explicar tal fenômeno?

A esquerda vai apontar para os bodes expiatórios de sempre: o capitalismo, o liberalismo, o individualismo. E a esquerda vai errar o alvo, como sempre. Foi o capitalismo liberal com foco no indivíduo que tirou milhões da miséria e permitiu uma vida mais confortável a essa multidão. Quem está mais longe desse sistema está em situação muito pior.

O que explica as crises atuais então? Claro que um fenômeno complexo tem mais de uma causa. Mas eu arriscaria uma resposta por meio de um antigo provérbio conhecido: avô rico, filho nobre, neto pobre. Isso quer dizer, basicamente, que o próprio sucesso planta as sementes do fracasso, só que de outra geração.

Somos os herdeiros de uma geração mimada, que colheu os frutos do árduo trabalho de seus pais, acostumados com vidas mais duras, com guerras, com diversas restrições. Essa geração, principalmente na década de 1960 e 70, pensou que bastava demandar, e todos os seus desejos seriam atendidos, sabe-se lá por quem.

Acostumados com o conforto ocidental, essas pessoas passaram a crer que a opulência era o estado natural da humanidade, e não a miséria. Em vez de pesquisar as causas da riqueza das nações, como fez Adam Smith, eles acharam que bastava distribuir direitos e jogar a conta para o governo.

O Estado se tornou, nas palavras de Bastiat, “a grande ficção pela qual todos tentam viver à custa de todos”. O conceito de escassez foi ignorado, e muitos passaram a acreditar na ilusão de que basta um decreto estatal para se obter crescimento e progresso. Vários olharam para esse deus da modernidade em busca de milagres.

Foi assim que a impressão de moeda por bancos centrais passou a ser confundida com criação de riqueza. Ou que gastos públicos passaram a ser sinônimo de estímulo ao PIB, colocando o termo “austeridade” na lista dos inimigos mortais. O crédito sem lastro para consumo passou a ser visto como altamente desejável, e a poupança individual como algo prejudicial ao crescimento econômico.

Toda uma geração acreditou que era possível ter e comer o bolo ao mesmo tempo, esquecendo o alerta de Milton Friedman, de que não existe almoço grátis. Esmolas estatais foram distribuídas a vários grupos organizados, privilégios foram criados para várias “minorias” e o endividamento público explodiu.

O Estado de bem-estar social criou uma bomba-relógio, mas ninguém quer pagar a fatura. Acredita-se que é possível jogá-la indefinidamente para frente.Os banqueiros centrais vão criar mais moeda ainda, os governos vão gastar mais e assumir novas dívidas, as famílias vão manter o patamar de consumo e tomar mais crédito, e todos serão felizes. E ai de quem alertar que isso não é possível: será um ultraconservador reacionário e radical.

A postura infantil se alastrou para outras áreas além da econômica. Os adultos agem como adolescentes e delegam ao governo a função de cuidar de seus filhos e de si próprios. O paternalismo estatal assume que indivíduos não são responsáveis, mas sim mentecaptos indefesos que necessitam de tutela.

Intelectuais de esquerda conseguiram convencer inúmeras pessoas de que elas não são responsáveis por suas vidas, e sim marionetes sob o controle de forças maiores e determinísticas. Roubou alguém? É vítima da sociedade desigual. É vagabundo? Culpa do sistema. Matou uma pessoa? A arma é a culpada, e a solução é desarmar os inocentes.

Notem que o mundo atual exime o indivíduo de responsabilidade por quase todas as atrocidades por ele cometidas. Sob a ditadura velada do politicamente correto, ninguém mais pode dar nome aos bois e colocar os pingos nos is. Os eufemismos são a regra, e a linguagem perdeu seu sentido. O criminoso vagabundo é a vítima, e sua vítima é o verdadeiro culpado: quem mandou ter mais bens?

Portanto, engana-se quem pensa que para sair dessa crise precisamos de mais do mesmo: mais crédito, mais dívida pública, mais gastos de governo, mais impostos sobre os ricos e mais impressão de moeda. Não! A receita proposta por Obama e companhia é o caminho da desgraça. Ela representa estender artificialmente a “dolce vita” dos filhos nobres (e mimados), como se o dia do pagamento nunca fosse chegar. Ele chega, inexoravelmente.

Os netos pobres seremos nós, ou nossos filhos, se essa trajetória não mudar logo. A crise não é apenas econômica; ela é moral.


segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Lucro: ode ou ódio?

 Nossos governos, todos eles, quase nunca atacam as causas dos desarranjos, apenas suas consequências. Distorções causadas por gastos públicos excessivos – impostos elevados, infraestrutura precária, juros altos e câmbio apreciado – limitam a competitividade de vários setores. As respostas? Tentar forçar, na marra, a queda dos juros e a queda do Real, ou então elevar impostos de produtos importados. Isto transfere a conta das empresas para o consumidor, através de uma alta da inflação, transformando o Brasil em um país caro, ao invés de um país rico.


Por Ricardo Amorim (Revista Istoé)


Novamente, o governo adotou várias medidas para combater a desaceleração da economia causada pelos efeitos globais da crise europeia.

Tais medidas ilustram bem os defeitos da economia brasileira. Somos o país do plano B. Falta o plano A. Não planejamos, nem temos um modelo de desenvolvimento. Também na economia, somos o país do puxadinho, do combate à doença, ao invés da prevenção. Já dizia Peter Drucker que a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo. Nós não prevemos, não criamos, nem agimos. Apenas reagimos.

O governo alega que a crise europeia e suas consequências eram imprevisíveis. Mentira. Meus leitores já sabem disto faz tempo.


Nossos governos, todos eles, quase nunca atacam as causas dos desarranjos, apenas suas consequências. Distorções causadas por gastos públicos excessivos – impostos elevados, infraestrutura precária, juros altos e câmbio apreciado – limitam a competitividade de vários setores. As respostas? Tentar forçar, na marra, a queda dos juros e a queda do Real, ou então elevar impostos de produtos importados. Isto transfere a conta das empresas para o consumidor, através de uma alta da inflação, transformando o Brasil em um país caro, ao invés de um país rico.

Reações favoráveis da maior parte da opinião pública a algumas medidas recentes mostram o quanto o capitalismo ainda tem de evoluir por aqui.

O melhor exemplo é o uso de bancos públicos para forçar bancos privados a reduzirem suas taxas de juros. Sou favorável ao máximo de competição possível em qualquer setor da economia. Entretanto, não dá para esperar que um país com os mais altos níveis de juros básicos, tributação do sistema financeiro e alíquotas de depósitos compulsórios do mundo não tenha também as mais altas taxas de juros ao consumidor e às empresas. “Mas os bancos lucram demais.” Este argumento carrega uma contradição que nos condena ao fracasso. Vivemos em um sistema capitalista onde lucrar é pecado.


Com sua atuação onipresente, o Estado quebra um dos pilares do capitalismo: a livre iniciativa. Casos de favorecimento a grupos, empresas e indivíduos pelo Estado – sem falar em uma cachoeira de corrupção – criaram a percepção de que, no capitalismo brasileiro, qualquer lucro é suspeito. Um histórico de lucros privados e prejuízos socializados distorceu ainda mais a percepção da sociedade em relação aos empresários e empreendedores. Nos EUA, um empresário de sucesso desperta admiração, no Brasil, desconfiança. Somos um pássaro com vergonha de voar. Esta não é uma receita de desenvolvimento, mas de atraso.

Faria melhor o governo retirando entraves à competitividade da economia, o que só será possível com redução de gastos públicos e fim do envolvimento do Estado em tudo, e das benesses que já chamei aqui de Bolsa-Brasil. Feito isso, ele precisa abolir os entraves à competição, abolindo “resgates” de setores ou empresas em dificuldade. Em um regime capitalista, para que haja vencedores, também haverá perdedores.

O Brasil tem de adotar políticas de redistribuição de oportunidades e capacitação, que tornam não apenas os pobres, mas toda a sociedade mais rica. Políticas diretas de redistribuição de renda, na maioria das vezes, tornam os ricos e a sociedade permanentemente mais pobres, e os pobres apenas temporariamente mais ricos. Já passou da hora de garantirmos a todos uma boa educação e substituirmos o ódio ao lucro por uma ode ao lucro.