quarta-feira, 28 de março de 2012

E mais um gênio se vai! Salve Millôr Fernades

"Se todos os homens recebessem exatamente o que merecem, ia sobrar muito dinheiro no mundo"

"A Linha reta só é o caminho mais curto entre dois pontos quando o poder está distraído"

Essas duas nunca sairão de moda!


República dos privilégios (por @rosaneoliveira)


Azar dos que nasceram para pagar com seus impostos a conta dos privilégios que uma elite desfruta por ter conquistado um mandato, passado num concurso público ou simplesmente feito as articulações necessárias para chegar a determinado posto no topo da pirâmide de cristal. 

Os que bancam a maior parcela da conta das benesses injustificáveis são os mesmos que têm de pagar plano de saúde privado porque o SUS funciona de forma precária, matricular os filhos em escola privada porque as públicas estão sucateadas ou investir em alternativas que compensem as deficiências da segurança pública.

Por que, afinal, um senador deve ter direito ao ressarcimento de despesas médicas pelo resto da vida, mesmo que só tenha cumprido um mandato? Por que deputados estaduais, federais e senadores têm de receber 14º e 15º salários, se os trabalhadores em geral só têm 13º? A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou ontem o fim do 14º e do 15º salários, mas há um longo caminho a percorrer até que a extinção se torne realidade.

Privilégios não são exclusividade da Câmara e do Senado. Pródigo na distribuição de benesses, o Tribunal de Justiça de São Paulo acaba de brindar os contribuintes com mais uma novidade: o auxílio-alimentação de R$ 29. O pagamento é retroativo a abril de 2006, o que dá uma conta estimada em R$ 145 milhões em atrasados. A resolução se baseia numa decisão do Conselho Nacional de Justiça que, se não for derrubada pelo Supremo Tribunal Federal, pode ser estendida a juízes de todo o país.

Comida retroativa é coisa difícil de entender. Quer dizer que suas excelências serão compensadas pelo que comeram nos últimos seis anos e pagaram do próprio bolso ou pelo que deixaram de comer? Não é a primeira vez que a máquina de incrementar contracheques produz uma aberração. O pagamento de auxílio-moradia a juízes pelo Brasil afora é fruto da mesma árvore de benefícios. O que está sendo depositado ainda hoje é a diferença pelo auxílio-moradia pago a deputados e senadores entre 1994 e 1998 e estendido aos ministros do STF. Com juros e correção monetária, um desembargador gaúcho pode chegar a quase R$ 1 milhão, pagando Imposto de Renda apenas sobre uma parcela ínfima.
Por Rosane de Oliveira (ZH)

segunda-feira, 26 de março de 2012

O CUSTO DA BUROCRACIA

Enquanto a maioria das nações interessadas em avançar e em expandir sua economia trata de reduzir custos e encurtar caminhos, o Brasil segue preso a uma cultura paternalista, que contribui para o atraso, estimulando a ineficiência e a corrupção.


Editorial ZH (26.3.12)

Preocupado em reverter o processo de desindustrialização, que se intensificou com as dificuldades de as empresas brasileiras competirem com as de outros mercados, o Brasil precisa dedicar especial atenção a um dos maiores obstáculos à sua expansão econômica: a burocracia. Basta o alerta do Banco Mundial (Bird), que inclui o país na 126ª posição numa lista de 183 nações em facilidade para fazer negócios, para demonstrar que esse é um problema crucial. Enquanto a maioria das nações interessadas em avançar e em expandir sua economia trata de reduzir custos e encurtar caminhos, o Brasil segue preso a uma cultura paternalista, que contribui para o atraso, estimulando a ineficiência e a corrupção.



O apego a esse modelo de Estado cartorial tem sido justificado historicamente pela ideia de que mais regulamentação implica maior proteção e controle, portanto maior segurança para os negócios. O que se constata, porém, é uma situação inversa – na prática, o pior dos mundos para quem tenta empreender, por opção ou como saída para compensar a falta de oportunidades de emprego no mercado formal. Além da burocracia e de questões pontuais como o câmbio irrealista, responsável pelo fato de hoje ser mais fácil importar do que produzir internamente, a economia brasileira tem deformações para serem enfrentadas de imediato e de forma simultânea. É o caso, entre outras, do crédito caro, da carga tributária elevada demais e de uma infraestrutura precária em todos os sentidos.

Mas é a burocracia, de fato, o aspecto que, historicamente, mais emperra o desenvolvimento. Nos últimos cinco anos, por exemplo, o tempo exigido para a abertura de uma empresa diminuiu 20%, mas ainda segue entre os maiores do mundo. Além do excessivo número de dias exigido, o pedido de registro precisa ser feito separadamente em diferentes órgãos das instâncias municipal, estadual e federal, tornando o processo mais demorado e mais dispendioso. Vencida essa etapa, o empreendedor ainda esbarra numa série de outras, como a longa espera pela liberação de projetos, os elevados custos de contratação, o excesso de guias e de documentos exigidos para o pagamento de contribuições fiscais.

Em consequência, empresas precisam gastar com consultorias que as ajudem a compreender e pagar suas obrigações. Indústrias demoram mais do que concorrentes estrangeiros para despachar mercadorias em portos, encarecendo o frete. Construtoras continuam pagando salários de pedreiros e engenheiros enquanto seus projetos viajam por dezenas de repartições públicas à espera de aval. Quem paga a conta é o consumidor, a quem são repassados os custos nos produtos e serviços. E é por isso que o país precisa encarar de vez o desafio de simplificar processos, para que os empreendedores possam reduzir tempo e custos, tornando as empresas mais competitivas e afastando as chances de ameaças como a desindustrialização.

As filhas da desgraça


Os homens temem as mulheres, e as prostitutas são aquelas de quem eles podem ter menos medo porque acham que as tem em suas mãos.(..) a prostituta é a companheira fácil, por tempo determinado e custo previamente estabelecido.

A realidade é mesmo insuportável, e a verdade é uma ferida incurável.

Luiz Felipe Pondé, Folha de SP

"Eu sou um ex-covarde", escreveu Nelson Rodrigues, no "Globo", no dia 18/10/1968. E continua: "... o medo começa nos lares, e dos lares passa... para as universidades, e destas para as Redações... Sim, os pais têm medo dos filhos; os mestres, dos alunos".
Sobre Nelson, leia "Inteligência com Dor, Nelson Rodrigues Ensaísta", de Luís Augusto Fischer (ed. Arquipélago). Grande livro, rodriguiano até a medula: a inteligência é mesmo uma ferida aberta.
Paulo Francis dizia que um dia o mundo seria tomado pelos comissários do povo. Chegamos perto disso: os comissários dos ofendidos babam de vontade de tomar conta do pensamento público, esmagando tudo o que não concorda com sua autoestima.
Não conseguirão porque o pensamento público é como uma guerra. A arena do pensamento público cria valores na mesma medida em que enfrenta seus algozes.
Não ter medo é um tema mais filosófico do que parece. O filósofo alemão Nietzsche, crítico feroz do cristianismo e da metafísica, era na realidade um crítico do medo. A chave de sua crítica ao ressentimento é a identificação do medo como morte do Eros. E Eros é tesão pela vida.
Quando ele diz que o homem do futuro não necessitará de artigos de fé, ele não pensa apenas na religião, nível menor da sua crítica e onde muita gente fica, mas sim em artigos de fé menos evidentes como "meu eu", "meus valores", "minha dignidade", "minha concepção de vida" ou "meu direito a autoestima".
Enfim, toda essa parafernália brega em moda hoje em dia entre os puritanos seculares (aqueles que perderam Deus, mas continuam derretendo de medo dos seus demônios). Escondidos atrás de esquemas para garantir que seu "eu" não seja inundado pelo pânico da "hostilidade primitiva do mundo", da qual fala Camus.
Por isso basta falar de figuras malditas que o horror sobe à superfície. Uma das figuras que mais carrega esse halo de mal é a prostituta, essa filha da desgraça, como dizia Nelson. Basta mencioná-la e o atávico horror vem à tona.
E aí..., pânico na bancada da classe média. A classe que se define pelo medo, principalmente quando assume ares de rigor moral: treme em surtos de eterno puritanismo.
O problema com a classe média é seu espírito. Diria um marxista blasé que "espírito" é mero epifenômeno do "bolso", mas, como não sou marxista, dou o benefício da dúvida para classe média. O espírito da classe média é um ressentido, por isso teme qualquer abalo em seu mundo do bem. Para ele, enxergar o mundo de frente é fora do orçamento, como uma BMW para alguém que ganha salário mínimo.
Mas o que é a prostituta e por que ela é eterna? A prostituta não é apenas o sexo fácil, é a mulher fácil. É o "lugar" onde o homem descansa e, por isso, é parte essencial de toda civilização. Por isso é um mito.
Para mim, ver o mito da prostituta nos sonhos femininos mais misteriosos é um elogio ao Eros da mulher. Enfim, talvez nem todos os homens amem as prostitutas, só os normais. O amor à promiscuidade confessa é uma arte rara.
Às vezes, segundo as profissionais do ramo, o consumidor nem quer sexo, quer uma "namorada" que o ouça e que ele saiba exatamente quanto custa. Sem ter que pagar pelo "amor" dela (jantares, joias, discussões sobre a relação, cobranças, desempenho sexual, atenção).
Os homens temem as mulheres, e as prostitutas são aquelas de quem eles podem ter menos medo porque acham que as tem em suas mãos.
Mas é difícil para muitas mulheres entender isso. Quer ver?
Colaborei com um veículo importante da mídia numa pesquisa sobre garotas de programa de luxo. Meninas caras, mas nunca tão "caras" quanto namoradas e esposas de verdade.
O que disse acima aparece na pesquisa: a prostituta é a companheira fácil, por tempo determinado e custo previamente estabelecido.
Mas o incrível é que, mesmo essas profissionais, quando indagadas se achariam que seus futuros maridos precisariam de suas ex-colegas um dia, respondem: "Não, nós seríamos mais do que suficiente para eles".
"Ignorance is bliss." A realidade é mesmo insuportável, e a verdade é uma ferida incurável.

O Brasil ainda se comporta como se fosse um império


O extinto Ministério da Desburocratização, criado no governo João Figueiredo (1979-1985), deveria exterminar uma das maiores pragas estruturais do país. Mas o ministério foi exterminado antes. Durou sete anos, e seu último titular foi o ex-deputado e economista Paulo Lustosa, quando José Sarney era presidente. Entre 1985 e 1986, Lustosa inaugurou os juizados de pequenas causas, instituiu o Estatuto da Microempresa e idealizou o Código Nacional do Consumidor. Cearense de 67 anos, membro do Conselho Superior de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o ex-ministro atendeu ZH por telefone. Veja os principais trechos da entrevista:

Zero Hora – Por que o Brasil é tão burocratizado?

Paulo Lustosa –
 O Brasil sempre foi um Estado cartorial. O cidadão só tem direito se o Estado lhe conceder esse direito. Qual é o sentido do reconhecimento de firma? Ela expõe a cultura de que, até provarem o contrário, o cidadão é culpado. Nos EUA, não há reconhecimento de firma. Lá um cidadão é honesto até provarem o contrário.

ZH – O Ministério da Desburocratização tentou acabar com o reconhecimento de firma, não?

Lustosa –
 E acabou, por meio de um decreto. Isso foi na época do meu antecessor no ministério, Hélio Beltrão (ainda no governo Figueiredo). Mas não vingou. É muito comum o cidadão chegar a uma repartição, dizer “estou me valendo desta lei aqui” e o atendente responder que “esta lei não pegou”. Depois, alguém baixou outro decreto dizendo que, em alguns casos, o reconhecimento de firma era necessário. E logo virou obrigatório de novo.

ZH – É como se a sociedade não assimilasse um direito dela?

Lustosa –
 Exatamente isto. Mas é só uma parte do problema. A burocracia passa pelo cipoal de leis. Quando eu era ministro, existia um decreto estabelecendo o que era queijo ricota. Precisava ter superfície rugosa com furos circulares feitos mecanicamente de cinco milímetros, densidade pastosa, cor amarelada e cheiro característico.

ZH – Cite um exemplo, por favor.

Lustosa –
 Veja o que há de resoluções no Banco Central sobre títulos, mercado de capital, mercado financeiro, derivativos e bancos. Essa quantidade de leis faz a alegria dos advogados e entulha os tribunais. E ainda tem outro problema: somos um país muito centralizado no poder federal.

ZH – O senhor se refere a quê?

Lustosa –
 O Brasil precisa aceitar que é uma federação, porque ainda se comporta como se fosse um império. Os municípios, para atender seus habitantes, recebem uma parcela muito pequena do bolo tributário, que é centralizado na União. Se o poder municipal funcionasse no Brasil, as decisões ocorreriam perto do cidadão e, portanto, de forma mais rápida e legítima.

ZH – E por que o Brasil não muda?

Lustosa –
 Não há interesse do governo federal, porque ele tem o controle político da sociedade e do cidadão. Os parlamentares dependem do governo para garantir suas emendas. Os Estados e municípios também evitam a briga, porque dependem dos repasses da União. E lembrei de outro problema: a quantidade de órgãos. É a política do “ao ao”. O assunto é encaminhado ao secretário, depois ao diretor, ao chefe do departamento. E, de “ao” em “ao”, o cidadão vai sofrendo.

paulo.germano@zerohora.com.br
PAULO GERMANO


Burocracia ganha 15 novas regras por dia


O emaranhado burocrático do Brasil alcança o cerne da economia: o poder de competir das empresas. Na segunda reportagem da série O peso da burocracia, Zero Hora mostrará como o excesso de normas tributárias e a lentidão nas alfândegas encarecem e atrasam a atividade de companhias.

Burocracia excessiva e impostos são quase sinônimos no Brasil. Decifrar e se adequar ao universo de leis, portarias, regulamentações, alíquotas, normas de compensação e antecipação e outras nomenclaturas que regulam os tributos exige 2,6 mil horas de trabalho de uma empresa a cada ano – o equivalente ao expediente de um funcionário em tempo integral, conforme estudo do Banco Mundial.

Havia no país quase 250 mil normas em 2010, e um apetite insaciável por novas medidas: governos federal, estaduais e municipais, juntos, lançam 15 novas regulamentações por dia, mostra o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Isso significa mais variações de cobrança, que, mesmo que não tragam aumento direto de imposto, representam custos à sociedade.

– O emaranhado de novas leis exige que empresas gastem alto com departamentos contábeis ou serviços de consultorias especializadas. É um gasto que não melhora a qualidade de seus produtos, apenas aumenta os custos e, em consequência, os preços – afirma Ricardo Santos Gomes, presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE).

Impostos em cascata, cobrados sobre cada etapa da produção, diferença nas alíquotas entre Estados e variação das taxas sobre os mesmos produtos tornam os cálculos complexos. Gomes dá um exemplo cômico para mostrar quão confusa pode ser a legislação tributária no Brasil: as alíquotas cobradas sobre a venda de um frango congelado em um supermercado são diferentes daquelas que incidem sobre um frango assado em uma padaria.

Melhorou, mas complicou

Em países desenvolvidos, a incidência de taxas é mais simples. Nos Estados Unidos, é cobrado um tributo único no consumo, o Imposto sobre Valor Agregado. A alíquota varia em cada Estado, mas gira em torno de 8%.

– Não é de se admirar que companhias estrangeiras que se instalam no Brasil tenham imensas dificuldades em entender nosso sistema tributário – afirma Ronald Krummenauer, presidente executivo da agência de desenvolvimento Polo RS.

Para se adaptar à medida provisória editada ano passado que substituiu a tributação de 20% sobre a folha de pagamento de empregados por uma cobrança de 2,5% do faturamento, o presidente da empresa de Tecnologia da Informação Sadig, Moacir Pogorelsky, teve de treinar seus funcionários dos setores financeiro e contábil. Eles tiveram assistência jurídica e precisaram estudar as mudanças da lei.

– A medida desonerou o setor, pena que trouxe uma complicação a mais – lamenta Pogorelsky.

POr ERIK FARINA (ZH)

domingo, 25 de março de 2012

O PESO DA LENTIDÃO

Como a burocracia eleva o custo das empresas

Equipes inteiras encarregadas de acompanhar e desbravar novas normas tributárias. Mesas tomadas por pilhas de guias, declarações e obrigações fiscais. Rotina de filas e autenticações em uma dezena de guichês para abrir uma empresa. Terrenos que passam anos à espera de autorizações para virar prédios. A burocracia que sufoca empresas brasileiras e gaúchas tem muitas facetas e cada uma torna a vida dos empreendedores mais cara e difícil.
O Banco Mundial coloca o país na 126ª posição em uma lista de 183 nações em facilidade para fazer negócios. De cinco fatores que mais atormentam empresários brasileiros, dois são ligados à burocracia. Isso tem um preço
Empresas gastam muito com consultorias que as ajudem a compreender e pagar suas obrigações. Indústrias demoram mais do que concorrentes estrangeiros para despachar mercadorias em portos, encarecendo o frete. Construtoras continuam pagando salários de pedreiros e engenheiros enquanto os projetos viajam por dezenas de repartições públicas à espera de aval. Quem paga a conta é o consumidor, a quem são repassados os custos de produtos e serviços.
A Federação de Indústrias de São Paulo estima que a burocracia custe ao país 2,7% do Produto Interno Bruto, o dobro da média mundial. Se o número for repartido por Estados, conforme sua participação na riqueza nacional, a conta paga pelo Rio Grande do Sul chega a R$ 7,3 bilhões.
– O excesso de normas é fruto da cultura paternalista do Estado brasileiro, que acha que mais regulamentação significa proteção e controle. É uma premissa equivocada: criadas de forma desordenada, muitas leis se sobrepõem e atrapalham quem pretendiam defender– afirma Renato Fonseca, economista da Confederação Nacional da Indústria.


sexta-feira, 23 de março de 2012

Novas mães, novos pais


"As mulheres de hoje são assim também devido à infalível lei de compensações da Natureza. As mulheres tiveram de “sair de casa” para trabalhar. Não foi uma opção delas, não foi uma luta delas. Não. Foi uma exigência da realidade capitalista. O mercado precisava das mulheres trabalhando e consumindo, e o mercado sempre alcança o que precisa."

Por David Coimbra (ZH 23.3.11)

Volta e meia vejo mulheres encantadas com uma mudança no comportamento dos homens de hoje. Constatam elas, embevecidas, que os homens se transformaram em bons pais. E é verdade. Em geral, os pais da minha geração tratam os filhos com desvelo e carinho, ao contrário de seus próprios pais, que não se comoviam com crianças, nem com as que eles produziam.

O que as mulheres não compreenderam ainda é que isso é fruto da infalível lei de compensações da Natureza. Os homens de hoje são melhores pais porque elas, as mulheres, são piores mães.

Os homens cozinham como antes não cozinhavam, cuidam da casa como antes não cuidavam e tratam os filhos como antes não tratavam porque as mulheres deixaram de fazer tudo isso tão bem como faziam.

Mas esse fenômeno não vilaniza as mulheres, de jeito algum. As mulheres de hoje são assim também devido à infalível lei de compensações da Natureza. As mulheres tiveram de “sair de casa” para trabalhar. Não foi uma opção delas, não foi uma luta delas (recomendo a leitura desse artigo sobre isso). Não. Foi uma exigência da realidade capitalista. O mercado precisava das mulheres trabalhando e consumindo, e o mercado sempre alcança o que precisa.

Então, entrou em ação mais uma vez a infalível lei de compensações da Natureza. Servir a dois senhores ao mesmo tempo é tarefa árdua, como já ensinou Jesus. Uma mulher que dá mais atenção ao trabalho dará menos atenção aos filhos. Olhe em volta. Todas essas mulheres trabalhando. Onde elas estariam há 40 anos? Em casa, zelando pelos filhos. Se não estão lá, com quem estão seus filhos? Com educadores terceirizados. Para suprir um pouco essa falta, os homens tiveram de dar menos atenção ao trabalho e mais aos filhos.

Mas não basta. A figura da mãe é poderosa demais para ser substituída por pais em meio período ou por babás em período integral. O resultado é a depressão endêmica e a decadência moral, ambas subprodutos da carência emocional. Por que alguns bandidos não se limitam a roubar, e usam de crueldade? Por que as pessoas são agressivas nas redes sociais, no trânsito ou no contato com indefesas operadoras de telemarketing? Por que as pessoas têm cada vez menos respeito pelas outras pessoas? Porque tiveram mãe o suficiente. Porque não tiveram AMOR DE MÃE o suficiente.

Mas não adianta, nunca mais as pessoas sentirão nostalgia por mães com o chinelo na mão, o avental todo sujo de ovo, porque essas mães estão extintas feito mamutes e pássaros dodôs. Hoje, as mulheres têm orgulho de não saber cozinhar, imagine. O único paliativo reside... na infalível lei de compensações da Natureza: contrabalançar com doses maciças de educação formal e punição dura, receita empregada na velha Europa. Punir é mais didático e econômico do que fiscalizar, ressalte-se. Punir também educa – vide o chinelo na mão das mães de outrora. Não resolverá o problema da depressão, mas será um paliativo para a decadência moral.

É assim, tudo muda. O que nem sempre é ruim. Até no caso das novas mães. Olhe para elas. Para suas roupas. Para a forma como caminham pela superfície do planeta. Uma mãe de 40 anos, hoje, equivale a uma de 28 da geração passada. Uma mulher no mercado de trabalho é uma mulher atenta às aparências. À sua aparência. Ela se besunta com cremes de US$ 150, ela faz pilates, cada pequeno pedaço do corpo dessa mulher é tratado como se deve tratar... um filho. A infalível lei de compensações da Natureza tem suas vantagens.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Pequenas e micro empresas: descaso leva à informalidade e sonegação

“Instituições com a Justiça do Trabalho matam milhares de pequenas empresas todos os anos, por tratar o pequeno empresário como explorador de mão de obra e não como empregador. Os encargos nas folhas de pagamento estão asfixiando as pequenas empresas.”

Por Dirceu Martins Pio

A legislação representa um entrave para o crescimento de micro e pequenas empresas no Brasil. Para driblar os problemas jurídicos, muitos micro e pequenos empreendedores acabam indo parar na informalidade.
De acordo com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), existem 8 milhões de micro e pequenas empresas em situação informal. Estima-se que de cada um real arrecadado pelo governo R$ 0,25 sejam sonegados, e as pequenas empresas contribuem para a manutenção desse índice.

Pio criticou a burocratização a que os pequenos e micro empreendedores estão submetidos no Brasil. “Instituições com a Justiça do Trabalho matam milhares de pequenas empresas todos os anos, por tratar o pequeno empresário como explorador de mão de obra e não como empregador. Os encargos nas folhas de pagamento estão asfixiando as pequenas empresas.”O especialista do Instituto Millenium e jornalista,Dirceu Martins Pio, foi contundente ao falar sobre a questão da informalidade no segmento. “Não há possibilidade de sobrevivência na formalidade.”

Para o jornalista, o governo precisa encarar a possibilidade de conceder a anistia fiscal para as pequenas empresas. “Falar em anistia fiscal é uma heresia. Essa visão fiscalista de governo quer arrecadar sempre mais, sem se importar com os problemas sociais.”
Pio disse, ainda, que é preciso agir de acordo com a seguinte frase do presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), o ministro João Oreste Dalazen: “Igualdade é tratar desigualmente os desiguais.”

O jornalista cobrou a criação de estruturas voltadas para o segmento. “Uma das promessas de campanha da Dilma foi a criação de um Ministério exclusivo da pequena empresa. Hoje, o governo administra as questões da pequena empresa através do Sebrae e do Ministério do Desenvolvimento, estruturas criadas para atender as grandes empresas.”

O especialista também criticou a desprezo das autoridades ao potencial das pequenas empresas e o adiamento da implementação do Simples Trabalhista. “Esse ano o governo esta empenhado em fazer o país crescer mais do que cresceu no ano passado. Agora, ninguém considera a contribuição que a pequena empresa pode dar para esse desenvolvimento. O governo quer a adiar a conclusão do Simples Trabalhista, mecanismo que oferece uma série de vantagens fiscais para as pequenas empresas, para 2013, após o ano eleitoral.”

Pio sugere ainda que o Brasil siga o exemplo dos países desenvolvidos: “Em todo país desenvolvido, a começar pela Itália, a liberdade do empreendedorismo é total. Os governos desses países aprenderam que isentar as pequenas empresas de impostos torna a máquina de arrecadação muito mais eficaz. Fiscalizar a pequena empresa é muito trabalhoso e dispendioso. As receitas fiscais perdem tempo ao fiscalizar as pequenas empresas e se esquecem das grandes onde ocorrem as grandes sonegações.”

Veja 10 maneiras erradas de um gestor motivar sua equipe


Para especialistas, gestores esquecem que os profissionais se motivam de formas diferentes, o que pode gerar efeito contrário

Por administradores.com.br

O que toda empresa quer é profissionais motivados, animados e interessados em fazer seu melhor. Para isso, porém, é preciso saber estimular esse comportamento, oferecendo promoções, novos desafios e mais autonomia, por exemplo. O problema é que nem todo gestor sabe que, muitas vezes, ao invés de estar motivando ele pode estar desmotivando seus funcionários.

Pensando nisso, elaboramos uma lista com 10 maneiras erradas de motivar os funcionários. Contamos, para isso, com a ajuda de especialistas em gestão de carreira e motivação. Confira:

1. Os profissionais são únicos - “não existe motivação em massa”, explica o especialista em motivação, Roberto Recinella. Uma das maneiras erradas de motivar os profissionais é acreditar que o que motiva um motiva todos. Os líderes que não conhecem cada um dos membros de suas equipes podem cometer esse erro.

Na prática, o gestor acredita que determinado elemento vai motivar um profissional, pois foi o mesmo elemento que já motivou um outro trabalhador. Mas, segundo Recinella, isso não funciona sempre. A sugestão é conhecer cada um dos membros da equipe, entendendo suas necessidades e interesses.

2. Desafios megalomaníacos - a maioria das pessoas sabe que os profissionais, para se sentirem motivados, querem desafios constantes. Ou seja, uma oportunidade de superar uma meta e de mostrar um bom trabalho. O erro acontece quando o líder, pensando que vai motivar, estipula um desafio absurdo, que dificilmente será atingido. “O profissional sabe que não vai conseguir e logo fica desmotivado”, analisa o especialista. Os desafios devem sempre ser propostos, mas precisam ser palpáveis.

3. Sempre em cima - ainda na lógica do item um, o líder pode desmotivar, tentando motivar, se não entender as necessidades e os interesses dos profissionais. Nesse caso, a desmotivação acontece porque o chefe fica em cima demais do funcionário, acreditando que ele quer esse acompanhamento de perto, quando, na realidade, o que ele deseja é mais autonomia e liberdade.

Novamente, os profissionais são diferentes uns dos outros. Se o chefe entende que acompanhar de perto o trabalho de um profissional o motiva, ele não deve acreditar que isso vai motivar todos os demais. Portanto, é importante identificar as necessidades de cada um.

4. Falta de clareza - o líder também pode desmotivar alguns membros da equipe quando está tentado motivar outros. Promover um funcionário, por exemplo, sem dúvida fará com que esse profissional se motive. Porém, se essa promoção não for clara, ou seja, se os demais não entenderem os motivos dela, será um grande fator desmotivacional para os demais membros da equipe.

5. Feedback mal dado - alguns líderes acreditam que fazer uma crítica fará com que o profissional queira mudar, melhorar e virar o jogo. Por isso, ao dar um feedback, criticam alguns pontos do trabalho do profissional – pensando que ele vá querer melhorar. O problema, novamente, é que as pessoas são diferentes, ou seja, alguns são automotiváveis, enquanto outros desanimam totalmente.

A sugestão é fazer um feedback bem estruturado, ou seja, apontar os pontos que deveriam ser melhorados, observando a maneira de falar e ainda ressaltar os pontos positivos do trabalho do profissional.

6. Falta de feedback - na mesma linha do item anterior, o feedback é uma questão bastante delicada. Se o líder prefere não fazer, pensando que o profissional vai achar que a ausência de feedback significa que não há nada de errado com seu trabalho, isso pode ser um “grande tiro no pé”, explica a professora do Núcleo de Estudos e Negócios em Desenvolvimento de Pessoas da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), Adriana Gomes.

Sem uma avaliação do seu trabalho o profissional pode sentir que não é importante, que seu trabalho não faz nenhuma diferença.

7. Promoção sem remuneração - promover uma pessoa de cargo é um ótimo fator motivacional, mostra que seu trabalho foi reconhecido e que ele está pronto para novos desafios. Mas, novamente, nem todos os profissionais são iguais, e se o líder pensar que uma promoção sem aumento de salário é sinônimo de motivação para qualquer profissional, ele pode estar muito enganado. Mesmo que o funcionário se motive num primeiro momento, com o tempo ele vai entender que só tem mais trabalho, pelo mesmo salário.

8. Possibilidades que nunca chegam - Adriana explica que outro fator que pode gerar grande desmotivação, apesar do objetivo não ser esse, é prometer coisas e nunca cumpri-las. Desde sinalizar uma promoção que nunca chega, até coisas menores, como uma visita ao cliente, a participação em um projeto, novos desafios e remuneração maior. Claro que inicialmente o profissional vai se motivar, mas, quando ele entender que nada acontece, a situação pode ficar muito ruim.

9. Delegar sem dar suporte - se o líder delega funções extras a um membro da equipe, é preciso que ele também dê o suporte necessário. Muitas vezes os profissionais podem sentir que não estão preparados para assumir determinadas tarefas e, se não puderem contar com o suporte do líder, o que deveria ser um fator motivacional, acaba desmotivando.

10. Delegar sem dar autonomia - o líder também deve saber que autonomia é importante para alguns profissionais. Logo, se ele delegar algumas funções, mas continuar centralizador demais, isso pode ofuscar a motivação inicial de ter assumido novas responsabilidades.

terça-feira, 20 de março de 2012

Conhece-te a ti mesmo

"Decidi mudar (...) Direi para todo mundo que não gosto de dinheiro e que gosto das pessoas pelo que elas são e não pelo que elas têm. Perguntarei aos artistas com consciência social o que posso dizer e fazer."

Maravilhoso! Se você chegou até aqui, não perca essa leitura!

Por Luiz Felipe Ponde, Folha de SP

Decidi mudar. Não serei mais aquela pessoa que acha que as pessoas não mudam e que não há história, mas sim um eterno retorno do mesmo. Nietzsche nunca mais, só Rousseau e seu estado de natureza angelical.
Acredito agora nas primaveras que cortam o mundo. Fui à livraria mais próxima, ou melhor, ao iPad mais próximo, e comprei um livro que me indicaram: "Dez passos para ser um novo Pondé", autoria de um certo sábio chinês que talvez seja um neto de coreano nascido na Califórnia de pais porto-riquenhos.
O primeiro passo é aprender a respirar. Sou dono da minha respiração agora. Em seguida, alimentação. Nunca mais carne vermelha. De início, ainda frango e peixe, mas em breve pretendo me tornar um amante das rúculas e alfaces, mas sempre pedindo perdão por precisar tirá-las de sua vida doce e promissora fazendo fotossíntese. Coca-Cola, nem pensar. Além do mais, é americana! Vinho, só natural.
Um segredo: continuarei a ir aos EUA porque um tênis lá custa cinco dólares! Irei escondido e voltarei com dez malas. Mas, temos ou não direito a ter tênis baratos? Acho uma falta de respeito proibir as pessoas de comprar tênis e jogos eletrônicos baratos em Miami.
Amarei a África. Abraçarei todas as ONGs do mundo. Direi às pessoas que elas são lindas e que o mundo faz parte de uma confederação cósmica. Os maias foram o povo mais avançado da história e decidi frequentar escolas aborígenes para aprender seu complexo modo de criar sociedades mais justas.
Religião: nunca mais essa coisa pesada de judaísmo e cristianismo, religiões que nos estragam com sua moral "imposta". Candomblé também não. Claro, como é religião africana, seria aprovada pelo meu novo eu, mas em alguns terreiros baixam pombagiras, e elas foram prostitutas e adúlteras, e não quero nem chegar perto disso! Aliás, decidi que essas coisas não existem.
Minha nova religião será uma forma de budismo light, aquele tipo que cultua a energia do universo. Sei que existem outros tipos, mas aqueles são autoritários. Toco as plantas com mais cuidado e percebi que elas são mais sábias do que Freud. Claro, comprei uma estatueta de um golfinho e joguei fora aquela esfinge do Édipo horrorosa que minha irmã me deu em Londres.
Nunca mais tragédia grega, agora só revistas que nos ensinam como o mundo pode ser melhor se arrumarmos nossos sofás de forma mais harmônica com as estrelas. Contratei uma mestra em decoração oriental. Ela é uma mulher supermagra e equilibrada. Imagine que curou um câncer em seu gato com reiki.
Direi para todo mundo que não gosto de dinheiro e que gosto das pessoas pelo que elas são e não pelo que elas têm. Perguntarei aos artistas com consciência social o que posso dizer e fazer.
Vendi meu horroroso carro inglês. Estou aprendendo a andar de bike (já sabia andar de bicicleta, mas bike é outra vibe). Ainda que tenha que atravessar as ladeiras das Perdizes para ir trabalhar (pena que ainda tenha que fazer parte desse mundo terrível de pessoas que trocam sua dignidade por dinheiro), já me explicaram que cada pedalada evita duas moléculas de gás carbônico, o que faz de mim uma pessoa com pegada de carbono sustentável.
Sexo, agora, só verde. Se provarem que esperma polui o mundo, evitarei o orgasmo, assim como na Idade Média dizem que mulheres santas evitavam gozar para serem puras aos olhos de Deus. Enfim, sinto-me leve com meu novo eu. Provavelmente, serei mais amado, e isso é que conta, não? Acredito, agora, num mundo melhor.
De repente, acordei. Sentei na cama. Ao lado, minha mulher dormia, com seu corpo de pecadora.
Fui até a biblioteca e vi os livros de Nietzsche, Freud, Pascal, Dostoiévski, Cioran, Bernanos, Roth, Camus, Nelson Rodrigues me olhando com olhos de profetas.
Os dedos indicadores em riste apontavam para mim.
Ao lado de minha estatueta da esfinge de Édipo, lia-se: "Conhece-te a ti mesmo". Voltara a ser eu mesmo. Esse miserável escravo das moiras, de felicidade complicada, doçura rara, boca seca e olhos vermelhos. Reconheci-me: sou o mesmo pecador de sempre, sem esperança.

Sobre o poder, seus excessos e sua finitude


Tão menores seriam as atrocidades, burrices, brigas e rabugices se os detentores de poder tivessem mais humildade. Se tivessem consciência, a cada nascer do sol, que o poder não lhes pertence, apenas foi concedido por algum tempo(..) Se não se rodeassem tanto de bajuladores e tão pouco de equivalentes. Se fizessem mais o óbvio no lugar de excêntricas invencionices. 
Ney Michelucci, atual diretor do Trensurb e meu ex-chefe, é um homem de frases originais. Simples, porém certeiras. Sempre que um poderoso caia do trono – algo cada vez mais corriqueiro no cotidiano do Brasil –, ele repetia uma sentença: “Todo espertalhão, em algum momento da vida, se depara com alguém mais esperto do que ele”.
Essa assertiva deveria estar constantemente próxima à consciência de quem exerce algum cargo de comando. Ricardo Teixeira, por exemplo. É preciso ter noção da finitude do poder. Tal como uma onda, o poder vai e vem. Sobe e desce. Talvez não venha, mas é certo que irá. Talvez não suba, mas é certo que descerá. Nunca perdura para sempre. E não haveria de ser diferente: nem a vida terrena consegue sobreviver, quanto menos uma ordem.
É claro que, em alguns casos, pode durar décadas e gerações – aos moldes do aparentemente interminável Sarneyzismo. Mas sempre acaba, passa. Sempre. Foi o que ocorreu, a propósito, para permanecer na parte geograficamente alta do país, com o reinado de Antônio Carlos Magalhães, o painho baiano. Outrora imbatível, seu legado restou reduzido quase a pó. Pisoteado e humilhado, às vezes até com um tantinho de injustiça.
Nelson Rodrigues relata, em O Reacionário, a passagem de sua visita a um amigo que se tornara ministro interino. Em uma reunião na qual o cronista se fez presente, o novo poderoso usava e abusava de suas prerrogativas. Fazia questão de mostrar que estava grandão. Mas disse que mantinha uma equipe unida, a começar pelos contínuos do Ministério. Esse seria seu segredo de sucesso. Ao ir embora, intrigado, Nelson lascou ao primeiro estagiário que lhe cruzou pela frente: “Que tal o nosso ministro interino?”. Resposta: “Uma besta. Um cavalo”. Ou seja: na real, o chefe não tinha o respeito sequer de seu reles contínuo.
O psiquiatra Dacio Wichrowski – calma, só fui tratar de uma dolorosa perda familiar –, há alguns anos, me ensinou que existem três fontes principais de poder humano: beleza, dinheiro e discernimento. (De pronto, me apeguei ao discernimento – minha única chance de ter algum poder na vida, pensei eu.) A beleza tem prazo de validade logo ali. Que dó dos que casam tão-somente em virtude dela. É um amor, apenas aparente, que cai junto com a força da gravidade. O dinheiro, ator principal das aspirações mundanas, se não estiver bem acompanhado, nada consegue além de prazeres vazios de essência. E o discernimento, pobre moço, tem a força apenas dos argumentos.
Por falar em força, pretensiosamente a incluo na lista do Dr. Dácio. A força das armas, por exemplo, gera poder no ambiente político internacional. Nas mãos de um bandido, pode causar a morte. Os músculos de um pitboy amedrontam, afastam, machucam e até matam. Mas essas fibras carnais logo embrandecem. As armas dependem das mãos e da decisão. Sozinhas, são nada mais do que metal fundido. A força, portanto, precisa de algo que a preceda. Senão é apenas poder em potencial.
Em comum, todos esses predicados têm a finitude. Terminam. Senão em vida, inequivocamente com a morte – por isso que o poder, quando exercido por alguém com elevação espiritual, tem chance de ser mais consciente, humilde, na medida. Quem crê que a vida acaba por aqui mesmo tende a abusar dos meios para chegar aos seus fins. Porque seus fins são puramente terrenos, materiais. Nada esperam do transcendente.
Nos anos de observação política que a vida até aqui me possibilitou, um dos desvirtuamentos mais comuns que constatei foi o exercício do poder como se fosse infinito. E não apenas de governadores, ministros, secretários ou deputados, senão que também de assessores e amigos do rei. Muitos são os que se lambuzam com a doce geleia do poder – chimia, se diz lá em Casca. Alguns, coitados, quando jovens promotores de Justiça derrubam seus castelos de carta, ainda estão todos melecados. E eis que vai pelo ralo não apenas o poder que detinham, senão que, desgraçadamente, também a estrutura emocional e familiar que possuíam.
Caio Rocha, hoje secretário nacional da Agricultura, também tem uma assertiva perfeita sobre isso: “Todo político se acha mais do que realmente é”. Vindo dele, um político, a frase adquire verdade ainda maior. Durante alguns meses de minha vida, fui assessor parlamentar. E também comprovei, presencialmente, que Caio estava certo. Poucos são os que, como ele, conseguem ter autocrítica e consciência da limitação de suas próprias possibilidades. Os flashes da admiração pública inibem com facilidade quem não tem os pés no chão. Alguém já escreveu que não há orgasmo mais intenso do que esse, inclusive o orgasmo propriamente dito.
Tão menores seriam as atrocidades, burrices, brigas e rabugices se os detentores de poder tivessem mais humildade. Se tivessem consciência, a cada nascer do sol, que o poder não lhes pertence, apenas foi concedido por algum tempo. Se, ao olhar o outro, tivessem mais compreensão e menos arrogância. Se ouvissem mais do que falassem. Se não invocassem uma sapiência suprema, admitindo erros e voltando atrás. Se, em vez de tanta maledicência, elogiassem mais. Se não intrigassem pessoas umas contra as outras. Se não se rodeassem tanto de bajuladores e tão pouco de equivalentes. Se fizessem mais o óbvio no lugar de excêntricas invencionices.
Nestas idas e vindas – ainda atuo no mundo político, mas agora como profissional de comunicação sem vínculo –, continuo vendo muitos se estatelando com o famoso dia seguinte. O dia em que a pesada caneta perde a tinta. O dia em que o café esfria para sempre. Alguns sabem resolver seus próprios dilemas – os que anteviram a finitude do poder. Outros, os embevecidos, caem sem a menor proteção. E não lhes restam sequer amigos para aparar a queda, nem mesmo os bajuladores – normalmente já abrigados debaixo de outra saia. Basta olhar para a história política recente do Rio Grande do Sul, por exemplo, para constatar quantas vezes isso aconteceu. E continuará acontecendo. Muitos se foram, outros tantos irão.
Volta-me Michelucci, meu ex-chefe, homem de boas frases – e um grande executivo do setor público. Dizia também: “A pessoa é o que ela é, todos sabem”. Ou seja: para além do poder, o que perdura mesmo é a essência das pessoas, sua integridade, dignidade, postura, o jeito com que trata os demais. Seus feitos, suas atitudes. Quem cuida disso permanece depois dos mandatos ou dos cargos. Mantém o respeito. E é dessa mesma vertente, que exercita a humildade e respeita o próximo, que nasceram os maiores estadistas da humanidade. São os que passarinho, enquanto os outros apenas passarão – para concluir com Mario Quintana, neste post de tão afetuosas citações.
Então, poderosos de ontem, hoje e amanhã, tenham para si: o poder humano é finito. E para os que creem: o único poder eterno é o de Deus. Simples assim.

segunda-feira, 19 de março de 2012

É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade

"É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade.

Por cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber.

O governo não pode dar para alguém aquilo que não tira de outro alguém.

Quando metade da população entende a ideia de que não precisa trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação.

É impossível multiplicar riqueza dividindo-a"

Adrian Rogers (1931)

quinta-feira, 15 de março de 2012

Meus heróis não morreram de overdose

Poucas vezes li algo tão próximo daquilo que sinto e penso. Eis um daqueles artigos que sou obrigado a marcar como TOP POST.

No verdadeiro capitalismo – onde a eficiência é recompensada, a ineficiência é punida e os favores do Estado estão fora do alcance - a luta pela sobrevivência é tão dura que o bom empresário não pode se dar ao luxo de olhar o interesse social, mas unicamente os seus próprios interesses, sob pena de sucumbir ante a concorrência alheia ou a ineficiência própria. Contudo, foi justamente este famigerado “egoísmo” o responsável pela criação de produtos e serviços que transformaram o mundo num lugar muito melhor para viver.  

Por João Luiz Mauad ( O Globo em 02/01/2012)

A repercussão da morte de Steve Jobs e as merecidas homenagens a ele prestadas, inclusive e principalmente aqui no Brasil, são dignas de registro, pois mostram talvez uma mudança profunda na opinião pública, historicamente avessa ao capitalismo em geral e aos capitalistas em particular.

Devido a uma persistente cultura de privilégios e do intenso compadrio entre agentes públicos e privados, vigente por aqui desde priscas eras, a imagem dos empresários sempre foi a pior possível, não raro considerados ladrões, sonegadores ou exploradores do trabalho alheio.

O egoísmo é outra pecha frequentemente lançada contra os empreendedores para desmerecer seu trabalho e realizações. Os detratores anticapitalistas esquecem, claro, que quase todos nós trabalhamos somente em proveito próprio. A única diferença é que a compensação pelo trabalho, seja ele de um humilde servente ou de um renomado cientista, é o salário, enquanto a dos empresários é o lucro. Aliás, há outra importante diferença: o risco. Os assalariados recebem pelo trabalho executado independentemente do resultado alcançado, mas os capitalistas serão recompensados apenas caso os seus investimentos e esforços se tornem lucrativos.

No verdadeiro capitalismo – onde a eficiência é recompensada, a ineficiência é punida e os favores do Estado estão fora do alcance - a luta pela sobrevivência é tão dura que o bom empresário não pode se dar ao luxo de olhar o interesse social, mas unicamente os seus próprios interesses, sob pena de sucumbir ante a concorrência alheia ou a ineficiência própria. Contudo, foi justamente este famigerado “egoísmo” o responsável pela criação de produtos e serviços que transformaram o mundo num lugar muito melhor para viver.

Por mais que isso possa parecer estranho a alguns, foi graças à ambição de homens como Steve Jobs que a imensa maioria dos nossos contemporâneos goza hoje de um padrão de vida bem acima do que, há apenas poucas gerações, era impossível até aos mais abastados. Ou alguém duvida que o auto-interesse dos capitalistas está por trás de quase todas as inovações tecnológicas que, de alguma forma, concorreram para satisfazer boa parte das carências humanas?

Convido o leitor a pensar algumas das maravilhas já criadas pelo engenho humano. Pense nos automóveis, locomotivas, navios e aviões, que possibilitam deslocamentos cada vez mais rápidos e seguros de pessoas e mercadorias. Pense nos eletro-eletrônicos que facilitam a vida e entretêm bilhões de indivíduos mundo afora: geladeiras, televisores, máquinas de lavar, microondas, condicionadores de ar, computadores, telefones celulares. Pense nos equipamentos hospitalares, que ajudam a tornar a medicina muito mais eficiente e prática, como tomógrafos, centrífugas, aparelhos de ultra-sonografia, de ressonância magnética, microscópios eletrônicos, micro-chips, marca-passos. Pense na indústria farmacêutica, nos avanços e nas descobertas freqüentes que ela faz. Pense, por exemplo, que, há apenas vinte e poucos anos, a maior parte dos doentes com úlcera gástrica terminava numa mesa de operações e hoje aquela é uma doença facilmente tratável com medicamentos. Pense na agricultura e nos avanços de produtividade nessa área, que permitem alimentar um contingente humano que cresceu de forma geométrica nos últimos duzentos e poucos anos, contradizendo as previsões catastróficas de Thomas Malthus e seus seguidores.

Esses avanços, e toda a fantástica geração de riquezas conseguida pelo homem através dos tempos, foram obtidos graças à divisão e especialização do trabalho e, acima de tudo, ao interesse pessoal dos indivíduos, principalmente dos execrados capitalistas. Sem isso, talvez a maior parte da população ainda estivesse labutando de sol a sol, morando sem qualquer conforto e sujeita a condições extremas de insalubridade. Sem falar do cotidiano monótono, restrito a atividades básicas de sobrevivência.

Sem a recompensa pessoal, seja ela fruto da remuneração do trabalho ou do capital (lucro) não há incentivo para que os indivíduos produzam, invistam, pesquisem, desenvolvam novas tecnologias, criem e coloquem novos produtos e serviços a disposição dos demais. Analisem a relação de ganhadores do Prêmio Nobel nas áreas de ciência e tecnologia. Onde está (ou esteve) domiciliada a imensa maioria deles? Sem dúvida, em países onde há liberdade econômica (capitalismo) e, conseqüentemente, a busca pelo lucro. Será que isso acontece por acaso?



quarta-feira, 14 de março de 2012

Salários: Quando se combate o mérito, aniquila-se a criatividade, o esforço próprio, o progresso individual e o crescimento de uma sociedade livre

"Com todo respeito, nobre deputado. Vejo no seu projeto de lei uma tentativa de acabar com o sistema de mérito. Isso é muito perigoso. O comunismo ruiu por vários motivos, mas o combate ao mérito foi um dos principais. Quando se combate o mérito, aniquila-se a criatividade, o esforço próprio, o progresso individual e o crescimento de uma sociedade livre."

JOSÉ PASTORE, O GLOBO

No Brasil, nem o passado é previsível. Essa frase, tantas vezes repetidas, seria apenas engraçada se não fosse verdadeira. Isso é o que se vê no projeto de lei 6.393/2009 que o Congresso Nacional está examinando.

Se transformado em lei, as empresas serão multadas retroativamente toda vez que uma mulher ganhar menos do que um homem. A multa será de cinco vezes a diferença verificada em todo o período de contratação.

O efeito retroativo é apenas um dos absurdos que habitam aquele projeto de lei. Outro é o direcionamento da multa à empregada prejudicada. Eu sempre soube que as multas são sempre recolhidas aos cofres do governo. Por aí se vê as confusões que uma lei mal feita pode acarretar. Ademais, quem vai determinar a aludida diferença de salários e o valor da multa? Serão os auditores do trabalho ou os juízes? Com base em quê? É mais um complicador.

E os homens? O que dirão dessa medida? O que podem eles fazer se o seu salário for mais baixo do que o de uma mulher? Essa lei dá amparo para uma reclamatória trabalhista por parte dos homens ou vale apenas para as mulheres? Será que isso é democrático? É justiça social? Entrando no mérito, o autor do projeto de lei, deputado Marçal Filho (PMDB/MS), passou por cima de princípios sagrados da administração dos recursos humanos - que são o reconhecimento e a valorização do mérito dos funcionários. Isso é fundamental para estimular os empregados e para gratificá-los à altura.

No projeto de lei há não apenas o desprezo, mas um combate frontal ao mérito. Levado às ultimas consequências, isso faria as empresas pagarem todos os seus funcionários pelo piso salarial da categoria. Sim, porque nenhuma delas iria correr o risco de ser pesadamente punida por praticar salários diferenciados entre empregados que apresentam desempenhos diferentes.

Será que uma lei desse tipo vai mesmo proteger as mulheres ou vai promover o nivelamento por baixo da remuneração de homens e mulheres? Diferenciar salários não é discriminar.

Os salários são diferenciados segundo um conjunto muito grande de atributos individuais dos empregados como é o caso, por exemplo: (a) da experiência que o funcionário acumulou na profissão, no cargo e na empresa; (b) do conhecimento da sua profissão e das demais profissões com as quais se relaciona; (c) do seu desempenho pessoal e da sua produtividade; (d) de assiduidade, pontualidade, zelo, relacionamento com colegas, fregueses e clientes; (e) de sua formação geral, cursos feitos, domínio de língua, habilidades especiais; (f) da sua capacidade de liderar pessoas e bem se entrosar com as equipes de trabalho; (g) de curiosidade, exposição a leituras, vontade de estudar continuamente e inúmeros outros fatores. A lista é infindável. E a lei atual diz que os salários devem ser iguais para trabalhos de igual valor.

Com todo respeito, nobre deputado. Vejo no seu projeto de lei uma tentativa de acabar com o sistema de mérito. Isso é muito perigoso. O comunismo ruiu por vários motivos, mas o combate ao mérito foi um dos principais. Quando se combate o mérito, aniquila-se a criatividade, o esforço próprio, o progresso individual e o crescimento de uma sociedade livre. Tenho certeza que não foi essa a intenção de Vossa Excelência: mas, ao tentar proteger as mulheres, o seu projeto desprotege a todos e a própria democracia. Essa proposta é descabida e inoportuna.

sexta-feira, 9 de março de 2012

São Paulo, a última fronteira


Na largada de sua campanha, Fernando Haddad já mostrou que também é bom de improviso. Com a debandada do prefeito Gilberto Kassab – o curinga de aluguel da política brasileira – para a candidatura recém-anunciada de José Serra, o ex-ministro da Educação disse o seguinte: “Fico mais tranquilo, porque vou representar melhor as ideias em que acredito. Está mais adequado o candidato ao discurso”. Tradução: eu ia fazer um discurso favorável à situação, mas, como o atual prefeito deixou de ser meu aliado eleitoral, vou poder fazer um discurso de mudança. 
Por GUILHERME FIUZA
As eleições na capital paulista não serão municipais. A política nacional está se mudando de malas e bagagens para a cidade de São Paulo. O debate dos problemas locais será o pretexto para o próximo capítulo da disputa pelo poder no Brasil – se é que ainda se pode chamá-la de disputa, com o arrastão dos oprimidos profissionais aproximando-se da hegemonia.
São Paulo é o último reduto a ser conquistado pelos companheiros. Minas Gerais ainda está sob governo inimigo, mas não chega a ser um problema tático: Belo Horizonte já é dos amigos do consultor Fernando Pimentel, que mata o tempo no ministério de sua comadre enquanto não vira governador. O Rio de Janeiro já estava anexado, o Rio Grande do Sul com Tarso Genro é praticamente a nossa Cuba e o Nordeste é todo do filho do Brasil. Falta São Paulo.
E, desta vez, Lula resolveu não brincar. Pediu licença a Martas e Mercadantes, consultou o oráculo (Dirceu) e preparou a bomba: Dilma. Não aquela que está no Palácio do Planalto, claro. O ex-presidente arranjou outra Dilma. Esta se chama Fernando Haddad, mas o nome não importa. Ou melhor, importa: tem de ser inexpressivo. Assim, o padrinho poderá dar vida a seu Pinóquio, embalá-lo para presente, e os súditos acreditarão no que vier escrito na caixa.
Se a alquimia funcionou com Dilma, não pode ter erro. Na semana passada mesmo o país assistiu a mais um showroom do produto. Após o incêndio na base brasileira da Antártica, a presidente saiu de trás dos discursos escritos e dos teleprompters e alçou voo com suas próprias palavras. Foi comovente. Dilma tentava completar cada frase com bravura, fazia pausas olhando para o nada, persistia em sua obsessão de fazer sentido e, mesmo não tendo completado um raciocínio, embaralhada em sua própria mensagem sobre prejuízos materiais e humanos, mostrou que é brasileira e não desiste nunca.
As pesquisas não mentem (ou não mentem muito): essa brasileira tenaz, que ainda há de brindar o país com uma ideia própria, tem índice recorde de aprovação como estadista. E quem tira uma presidente da cartola haverá de tirar um prefeito.
Na largada de sua campanha, Fernando Haddad já mostrou que também é bom de improviso. Com a debandada do prefeito Gilberto Kassab – o curinga de aluguel da política brasileira – para a candidatura recém-anunciada de José Serra, o ex-ministro da Educação disse o seguinte: “Fico mais tranquilo, porque vou representar melhor as ideias em que acredito. Está mais adequado o candidato ao discurso”. Tradução: eu ia fazer um discurso favorável à situação, mas, como o atual prefeito deixou de ser meu aliado eleitoral, vou poder fazer um discurso de mudança.
Depois dessa declaração, podem acusar Haddad de qualquer coisa, menos de inibição. Nunca se viu um político assumir com tanta franqueza: eu quero o poder, o discurso eu vejo na hora.
Desinibido e coerente. Da mesma maneira que é secundário o que Haddad pretende fazer em São Paulo, também era secundário o que ele fazia no MEC. Todos viram o Enem infernizando os estudantes brasileiros com vazamentos e erros primários de impressão, enquanto o ministro Haddad pulava de palanque em palanque para eleger Dilma Rousseff. Um missionário.
A capital paulista é o último reduto que falta para os companheiros. Desta vez, Lula resolveu não brincar 
Depois sobreveio o tricampeonato do caos no Enem, refletindo a profunda dedicação do ministro Haddad a seu trabalho: montar a candidatura a prefeito de São Paulo. Cuidar direito do Enem não dá notoriedade a ninguém. Haddad foi à luta do eleitorado gay, lançando uma cartilha escolar sobre homossexualismo. Infelizmente, essa revolução pedagógica não resistiu à patrulha evangélica, que também é filha de Deus (e como adversária eleitoral é o diabo).
Se educar não dá ibope, Haddad teve uma sacada genial no MEC: deseducar. Foi a público defender livros didáticos com erros de português, dizendo ao povo que não aceitasse a discriminação linguística. Viva a revolução.
Mas tudo isso é detalhe diante de um momento verdadeiramente histórico. Na despedida de Haddad do ministério, Lula aparece de chapéu, para tirá-lo em seguida, exibindo o visual transformado pela quimioterapia. Abraça seu candidato, enquanto Dilma chora. É a perfeição.
Que outro candidato terá uma plataforma dessas para administrar São Paulo?

FREIO NO PRIVILÉGIO. Adoro esse novo jeito neoliberal do PT de governar!

Só por essa desigualdade já se percebe a necessidade de correção urgente, mas tem mais: em 2011, os investimentos da União em obras chegaram a apenas R$ 42 bilhões. Significa que os recursos arrecadados de todos através dos impostos estão sendo desviados para cobrir uma conta que não fecha, em vez de serem devolvidos à população na forma de obras e serviços.


A questão da previdência historicamente é um problema e finalmente podemos ver um avanço nessa questão. Parabéns ao Governo! 
Concordo com editorial abaixo: Porque o trabalhador da iniciativa privada, que ganha mais que o teto do INSS, tem que se preocupar com o seu futuro e o funcionário público não? Qual a justificativa desse privilégio? Um grande amigo argumenta que o servidor tem que despender sua energia na sua atividade fim e não ter que ficar preocupado com os investimentos feitos para complementar a aposentadoria. Então eu repito: Isso também não vale pro trabalhador da setor privado?


Não poderia também deixar de registrar, mais uma vez, a incoerência do partido que governa nosso país. Historicamente eles defenderam a aposentadoria pública integral. Adoro esse novo jeito neoliberal do PT de governar (hehe). 


FREIO NO PRIVILÉGIO

Editorial ZH (10.3.12)

Passou com relativa folga de votos pela Câmara Federal (318 a 134) e já tramita no Senado o projeto de lei que cria o Fundo de Previdência Complementar para os Servidores Públicos Federais (Funpresp). A proposta que acaba com a aposentadoria integral e estabelece para o funcionalismo o mesmo teto da iniciativa privada ainda sofre contestações por parte de algumas categorias de servidores, mas dificilmente deixará de ser aprovada, porque não há mesmo outra saída para desativar a verdadeira bomba-relógio da previdência pública. Se as regras não forem alteradas, em breve o país terá que imitar as nações europeias que hoje estão cortando impiedosamente benefícios sociais e empregos para sobreviver à crise econômica.

Os números são implacáveis: para garantir o pagamento de benefícios a 955 mil servidores inativos no ano passado, o governo teve que suportar um déficit de R$ 60 bilhões; no mesmo período, teve um prejuízo de R$ 36 bilhões com a previdência dos trabalhadores da iniciativa privada, mas custeou 29 milhões de benefícios. Só por essa desigualdade já se percebe a necessidade de correção urgente, mas tem mais: em 2011, os investimentos da União em obras chegaram a apenas R$ 42 bilhões. Significa que os recursos arrecadados de todos através dos impostos estão sendo desviados para cobrir uma conta que não fecha, em vez de serem devolvidos à população na forma de obras e serviços.

As projeções feitas por especialistas apontam para uma quebra. Se nada for feito agora, o déficit provocado pelas aposentadorias do setor público saltará para R$ 66 bilhões este ano e continuará crescendo num ritmo de 10% ao ano. Por isso, e também porque partidos que historicamente se opunham à mudança estão agora no poder, criaram-se as condições políticas para um debate mais conclusivo a respeito da aposentadoria integral. Evidentemente, as novas regras valerão apenas para quem ingressar no serviço público depois da sua aprovação.

Os defensores da manutenção do privilégio _ é inquestionável que se trata de um privilégio, especialmente na relação com o trabalhador do setor privado _ alegam que se trata de uma compensação, pois não desfrutam de benefícios concedidos aos celetistas, e dizem também que a extinção da vantagem tirará a atratividade do serviço público. Há, ainda, os que se apegam à teoria da conspiração, alegando que o movimento pela reforma tem o propósito de favorecer grupos econômicos que atuam na área da previdência privada.

Nenhum argumento, porém, é mais forte do que os números _ e eles apontam inexoravelmente para a urgência na aprovação da nova lei que criará o fundo dos servidores públicos e colocará todos os trabalhadores do país no mesmo patamar de aposentadoria. Nada mais justo: quem quiser uma renda maior terá que contribuir com mais.

domingo, 4 de março de 2012

A dama de ouro

Hoje, com a Europa a arder por causa de uma moeda comum totalmente utópica e insustentável, o euroceticismo de Thatcher, que na verdade a liquidou politicamente em 1990, é mais uma prova da sua clarividência.

Por João Pereira Coutinho

Meryl Streep recebe o Oscar de melhor atriz por "A Dama de Ferro", batendo Michelle Williams em "Minha Semana com Marilyn". Nunca esperei ver isto: o dia em que Hollywood preferiria Margaret Thatcher a Marilyn Monroe.

Verdade que não havia alternativa: "A Dama de Ferro" é Meryl Streep do princípio ao fim. De tal forma que, a meio do show, já não sabemos se é Meryl Streep quem interpreta Margaret Thatcher ou se a própria Thatcher tomou conta da tela e mandou Streep para casa.

Mas a vitória não é apenas artística. Espero. Quero acreditar que é também o reconhecimento possível, embora tardio, de um dos nomes mais importantes do século 20. Comparável a Churchill na política mundial?

Sem dúvida. O velho Winston esteve certo, desde o início, sobre a ameaça nazista na Europa e a necessidade de a enfrentar e derrotar sem compromissos de qualquer espécie. Foi a sua batalha solitária durante toda a década de 1930, perante o silêncio (e o riso) da "intelligentsia" britânica.

Margaret Thatcher também conheceu esse silêncio - e esse riso. Não apenas por ser mulher num mundo de homens (também). Mas porque havia na elite política britânica duas ideias que era heresia contestar.

A primeira ideia lidava com a natureza alegadamente imperecível do regime comunista. Para que afrontar Moscovo, perguntavam os iluminados da época, quando a "cortina de ferro" que descera sobre a Europa estava para durar?

Thatcher nunca comprou essa versão: uma ditadura inumana, como a comunista, teria que ser derrotada por uma mistura de diplomacia agressiva e por uma corrida armamentista que a União Soviética não conseguiria, como de fato não conseguiu, suportar. Thatcher chegou ao poder em 1979. Em 1989, dez anos depois, caía o Muro de Berlim.

Mas Thatcher esteve igualmente certa ao confrontar uma segunda ideia que, desde 1945, era intocável para trabalhistas ou conservadores: a ideia generosa de que o Estado poderia crescer indefinidamente, substituindo (ou "complementando") as forças "incontroláveis" do mercado.

Thatcher nunca participou na fantasia: a estatização da economia britânica não conduzira apenas o país à triste estagnação em que ele se encontrava na década de 1970. Seguindo o raciocínio do economista austríaco Friedrich Hayek, uma das suas referências intelectuais, o crescimento incontrolado do Estado era uma ameaça à própria liberdade individual. Thatcher empenhou-se, como nenhum outro político britânico depois da Segunda Guerra, em reverter esse crescimento.

A juntar a tudo isso, convém recordar a desconfiança de Thatcher face ao projeto federalista europeu. Não que a premiê fosse hostil a uma comunidade econômica de nações livres. Desde que essa comunidade não fosse uma ameaça para a soberania - política, econômica, monetária - dos seus membros.

Hoje, com a Europa a arder por causa de uma moeda comum totalmente utópica e insustentável, o euroceticismo de Thatcher, que na verdade a liquidou politicamente em 1990, é mais uma prova da sua clarividência.

Regresso ao início: Margaret Thatcher venceu Marilyn Monroe? Depende da perspectiva. François Mitterand, antigo presidente francês, deixou para a posteridade a melhor caracterização de Maggie: "Ela tem os olhos de Calígula e os lábios de Marilyn Monroe".

Pensando melhor, Marilyn também teve uma vitória na noite de ontem em Hollywood.
Wanda Visión/Efe

Meryl Streep, vencedora do Oscar de melhor atriz, interpreta Margaret Thatcher em "A Dama de Ferro"