sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Série de reportagem sobre CUBA. Viva a miséria distribuída igualitariamente!

Segue a série de reportagem da Globo sobre Cuba.

Obviamente que a Globo, embora seus trezentos anos no mercado, lider de audiência, etc., mente e faz parte da mídia golpista. Por isso não acreditem em nada do que for dito! Eles mandaram arrancar os dentes do pessoal e compraram carros velhos apenas para reportagem. O que vocês assistirão é tudo feito por atores contratados da globo.

E ainda tem gente que vota em PC do B e PSB da vida. Viva a miséria distribuída igualitariamente! Os desdentados tudo se abraçando feito irmãos. Carne é artigo de luxo. Viva Che Guevara!



Pra concluir cito Winston ChurchillA desvantagem do capitalismo é a desigual distribuição das riquezas; a vantagem do socialismo é a igual distribuição das misérias. 









quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Está insatisfeito, pede demissão! Você não está com uma bola de ferro amarrado no seu tornozelo.



Já faz tempo que tenho um certo preconceito aos sindicatos. Quando é de empresa pública então, mais ainda. Tenho a impressão que eles só querem receber mais e trabalhar menos sem que para isso tenham adquirido alguma habilidade ou formação extra.

Sempre pensei que os sindicatos poderiam ser a força propulsora dos trabalhadores, apontando os melhores caminhos e fomentando formação qualificada para que seus associados se mantenham com força no mercado de trabalho. Mas não. Ao invés de promoverem cursos de aperfeiçoamentos, cursos alternativos e de medir o impacto de cada trabalhador na produção para ter poder de barganha com o patrão, etc., ficam fazendo arruaça e infernizando a vida de quem quer trabalhar. 

Não está satisfeito amigo, pede demissão. Você não está com uma bola de ferro amarrada no seu tornozelo. Você não tem o direito de querer que as pessoas se nivelem por baixo igual você!

Peguei uma partezinha do texto de Leandro Roque a qual concordo totalmente.


Sindicatos nada mais são do que uma organização de pessoas que têm ódio visceral a seus benfeitores, os empregadores (ou aos contribuintes, no caso de funcionários públicos).  Quando eles não conseguem o que querem — isto é, receber mais e trabalhar menos —, eles simplesmente recorrem a medidas que irão prejudicar a empresa para a qual trabalham (e todos os trabalhadores não sindicalizados), quase sempre utilizando de violência ou de ameaça de violência.  Desnecessário dizer, é claro, que essa coerção sindical é totalmente defendida pelo governo, formado majoritariamente por gente oriunda desse mesmo ambiente.

Prejudicar seus patrões e seus consumidores — que são justamente quem garante seu sustento — é exatamente o que os sindicatos querem, dado que essa gente possui a mesma visão e a mesma ética do escorpião da fábula de Esopo, que, ao ferroar o sapo sobre o qual está montado atravessando o rio, morre junto com ele.


Glórias acadêmicas Lulianas

Todo mundo sabe que, neste país, para subir na carreira universitária não é preciso conhecimento nenhum, apenas ter as amizades certas e emitir, nos momentos decisivos, as opiniões políticas recomendáveis. 

ESCRITO POR OLAVO DE CARVALHO | 27 DEZEMBRO 2011 



O sr. Paulo Moreira Leite, que no exercício do jornalismo assumiu como sua particular missão e glória nunca entender nada, escreve que as reclamações contra a pletora de títulos universitários concedidos ao ex-presidente Luís Inácio da Silva refletem um preconceito, um pedantismo acadêmico que não se conforma em ver subir na vida um self made man cuja pobreza o impediu de adquirir educação escolar.


Anos atrás dei ao sr. Moreira o apelido de sr. Moleira, por me parecer que a formação do seu aparato craniano tinha sido ainda mais incompleta que a educação do sr. Lula. Seu palpite de agora sugere que ela tenha mesmo retrocedido um pouco.

Quem quer que conheça a história intelectual do nosso país sabe que é uma constante da sociedade brasileira o ódio à inteligência, misto de temor e despeito, e acompanhado, à guisa de compensação neurótica, pelo culto devoto aos títulos, cargos e honrarias exteriores que a substituem eficazmente em festividades acadêmicas e homenagens parlamentares.

A mentalidade geral, já antiga e tão bem retratada por Lima Barreto, segue a das vizinhas fofoqueiras do Major Quaresma, que, ao ver pela janela a biblioteca daquele infausto patriota, comentavam: "Para que tanto livro, se ele não é nem bacharel?"

Que, em contrapartida, faltem livros nas estantes dos bacharéis e doutores, onde abundam garrafas de uísque e fotos de viagens internacionais, é coisa que não ofende nem choca a alma nacional. O estudante universitário brasileiro lê em média menos de dois livros por ano, e nem por isso deixa de receber seu diplominha e tornar-se, no devido tempo, chefe de departamento, reitor ou ministro. 

Um amigo meu, nascido e criado no Morro da Rocinha, no Rio de Janeiro, confessava: "Sofri mais discriminação na favela, por ler livros, do que aqui na cidade por ser preto".

Todo mundo sabe que, neste país, para subir na carreira universitária não é preciso conhecimento nenhum, apenas ter as amizades certas e emitir, nos momentos decisivos, as opiniões políticas recomendáveis. Pessoas ilustres como o dr. Emir Sader, o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, o ex-reitor da UnB, Christovam Buarque, assim como inumeráveis outras cujos pensamentos e obras exaltei em O Imbecil Coletivo, já deram provas sobejas de que uma sólida incultura e uma inépcia pertinaz são não somente úteis mas indispensáveis ao sucesso acadêmico, desde que acompanhadas de uma carteirinha do PT ou documento equivalente.

Se os títulos acadêmicos são tidos como valores absolutos em si mesmos, independentemente de quaisquer méritos intelectuais correspondentes, e se estes, por sua vez, nada valem se desacompanhados daqueles, a razão disso está nos profundos sentimentos democráticos do povo brasileiro. 

A inteligência e o talento são dons inatos, que a natureza ou a Providência distribuem desigualmente aos seres humanos, criando entre eles uma diferenciação hierárquica que, do ponto de vista dos mal dotados, é uma humilhação permanente, uma ofensa intolerável e um mecanismo de exclusão verdadeiramente fascista. 

Os títulos acadêmicos foram inventados para aplanar essa diferença, dando aos incapazes e medíocres uma oportunidade de se sentir, ao menos em público e oficialmente, igualados aos maiores gênios criadores das artes, das letras, das ciências e da filosofia, se não mesmo aos santos da Igreja, aos anjos do céu e até à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, como é precisamente o caso do sr. Lula.

Ao contrário do que diz o sr. Moleira, o que faltou a este último não foi a educação formal, foi justamente a educação informal, aquela que um trabalhador impedido de frequentar escola adquire em casa, em ônibus, em trens ou no metrô, lendo livros. O sr. Lula já expressou mais de uma vez sua invencível ojeriza a essa atividade dolorosa, na qual tantos escritores brasileiros, pobres como ele ou ainda mais pobres, adquiriram a única formação que tiveram.

A diferença entre eles e o sr. Lula reside precisamente aí: eles conquistaram seus méritos intelectuais por seu próprio esforço solitário, sem a ajuda de professores, do Estado ou de qualquer entidade que fosse, ao passo que o sr. Lula preferiu subir na vida sem precisar de méritos intelectuais ou morais nenhuns, contando apenas com a ajuda de algumas dezenas de organizações bilionárias – empresas, bancos, sindicatos, partidos – e o dinheiro do Mensalão.

Isso não o torna nem um pouco diferente dos bacharéis e doutores, apenas mostra que ele levou à perfeição o sonho de todos eles: ostentar um punhado de títulos universitários sem precisar, para isso, ter estudado ou aprendido absolutamente nada exceto a arte sublime do alpinismo social.

Quando cidadãos de nível universitário reclamam das glórias acadêmicas lulianas, não o fazem, como o imagina o sr. Moleira, por elitismo intelectual genuíno, que ao menos supõe algum amor ao conhecimento. Fazem-no por pura inveja do concorrente desleal que conquistou mais títulos sabendo ainda menos. 

Quem fala pela boca deles não é a inteligência humilhada pelo sucesso da ignorância: é o corporativismo do establishment acadêmico, que gostaria de reservar para si o monopólio da produção de analfabetos diplomados, sem dividi-lo com a mídia e os partidos políticos.

O sr. Moleira imagina que se opõe a essas criaturas, mas na verdade expressa melhor que ninguém o sentimento delas todas, ao proclamar que os títulos acadêmicos de Lula devem ser motivo de orgulho nacional. Que maior motivo de orgulho existe, numa alma de brasileiro, senão o título enquanto tal, o título em si, o título sem nada dentro?

Ricos Pagam 80% dos Impostos


Este meme que foi espalhado no Brasil pelo IPEA, que pobre paga mais imposto do que rico não corresponde à realidade.


Screen Shot 2011-12-19 at 7.14.36 PMPor  Stephen Kanitz
Todos sabem que eu argumento com números e estatísticas. 
E odeio quem mente descaradamente sem mostrar factualmente o que diz. 
Eis um gráfico que mostra que os 10% mais ricos dos Estados Unidos pagam 70% dos impostos.
E os 50% mais pobres pagam 4% dos impostos.
Este meme que foi espalhado no Brasil pelo IPEA, que pobre paga mais imposto do que rico não corresponde à realidade.
A verdade é que todos nós pagamos mais imposto do que deveríamos em troca de nada.
Mesmo que os números acima tenham erros, bota 20% de erro e a conclusão é a mesma. 
Veja o mais dramático.
Os 1% mais ricos pagam 30% dos impostos, e muitos pagarão ainda muito mais o Imposto sobre herança quando morrerem que não está computado.
Ou sejam, pagam 30 vezes mais proporcionalmente ao número pequeno que são.  

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Um Conar para os políticos

A mesma televisão que me oferece um carro “popular” pela bagatela de  R$ 30 mil tenta me vender o Partido dos Trabalhadores (PT) como símbolo de honestidade e transparência. Não estou a fim de comprar nenhum dos dois.


De Dirceu Martins Pio (Instituto Millenium)

A mesma televisão que me oferece um carro “popular” pela bagatela de  R$ 30 mil tenta me vender o Partido dos Trabalhadores (PT) como símbolo de honestidade e transparência. Não estou a fim de comprar nenhum dos dois. Gostaria apenas de poder ver a Gisele Bündchen com as roupas íntimas da Hope, mas não consigo – a publicidade foi tirada do ar por pressão da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República.
A impossibilidade suscita a pergunta: quem pressiona o PT ou qualquer um dos demais partidos a tirar do ar algum tipo de propaganda enganosa? Ninguém. Os políticos estão autorizados a divulgar no antigamente chamado “horário gratuito” qualquer bobagem, qualquer baboseira, qualquer mentira, inclusive esta de que o PT é o partido da transparência. E o fazem com o meu dinheiro ou, melhor dizendo, com o dinheiro do contribuinte: passou de R$ 1 bilhão, entre verbas destinadas aos fundos partidários e renúncia fiscal – oferecida a emissoras de rádio e TV –  o valor gasto pelo governo federal com a propaganda política só na campanha do ano passado.
Que tal instituirmos um Conselho Nacional de Autoregulamentação Publicitária (Conar) para a propaganda eleitoral ou política? É o mínimo que os contribuintes – e eleitores – teriam direito. Algum órgão, alguma instituição, precisa defendê-los do festival de mentiras que freqüenta esses horários políticos do rádio e da televisão.
Para quem não sabe, o  Conar é o órgão que defende os consumidores da propaganda enganosa. Funciona assim: qualquer consumidor que se sentir atingido em seus direitos de contribuintes ou cidadãos por qualquer espécie de publicidade exibida por qualquer mídia no Brasil pode entrar com uma representação no Conar. As denúncias são julgadas pelo Conselho de Ética, com total e plena garantia de direito de defesa aos responsáveis pelo anúncio. Quando comprovada a procedência de uma denúncia, é  responsabilidade do Conar recomendar alteração ou suspender a veiculação do anúncio. O órgão foi instituído em 1980.
Com o Conar dos Políticos ganharia o cidadão, ganharia o contribuinte, ganharia o eleitor e ganhariam também os telespectadores e ouvintes do rádio: é bem provável que, por falta de discurso, o horário político, de modo geral, seria retirado do ar.
O problema, na verdade, está  na raiz dessa crise, que se aprofunda a cada ano, da ainda jovem, quase adolescente, democracia brasileira. Os partidos políticos ficaram sem discurso. Perderam toda a credibilidade. OU mentem de modo descarado ou ficam sem ter o que dizer.  Eleitores e cidadãos olham para as casas legislativas, das três instâncias da federação, como quem olha para uma espécie de feira de Bagdá, atividade movida exclusivamente por interesses pecuniários. E olham também para a imagem dos políticos como quem olha para a imagem do Fernandinho Beira-Mar. Nunca se viu tanta indignação contra a classe política em pelo menos 50 anos de República.
Se eu fosse político de carreira estaria muito preocupado, pois não se sabe até quando a grande massa da população vai suportar tanta mentira e tanta roubalheira. Uma hora a casa pode ruir.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Estamos precisando de um presidente estadista e não populista. A verdade dos fatos sobre a 6º colocação do Brasil

Na minha opinião, esse "avanço" do Brasil para a 6º posição não tem nada a comemorar. Se usássemos o PIB per capita, que é o que importa, pois é o dinheiro no bolso do trabalhador, estaríamos na 84º. Dá pra comemorar isso? Dá pra comemorar o 82º no IDH (Indice de Desenvolvimento Humano)?

Como diz Luís Stuhlberger, considerado um dos melhores gestores de recursos do Brasil:

"O Brasil evoluiu. Começou com Fernando Henrique Cardoso e o PT do Lula e da Dilma foi aprendendo. Governos têm de ser impopulares. Se todo mundo gosta de você, significa que você está fazendo algo muito errado. É impossível agradar a todos. Outra coisa que Lula e Dilma aprenderam com Fernando Henrique: é melhor não fazer nenhuma reforma e o País crescer 3% ao ano do que fazer a reforma, que é duro e dá briga, crescer 6%, mas quem vai ganhar é o outro. Isso reflete o espírito com que o Brasil é governado. O medo do confronto para um futuro melhor."

"O Brasil está bem, mas há sinais de que algo está errado. Exemplos: imóvel está caro, nosso Big Mac é o mais caro do mundo, nosso Corolla é o mais caro do mundo, a nossa arte está ficando a mais cara do mundo. As vendas no varejo estão crescendo muito acima da indústria de transformação. A balança comercial mostra que a indústria de transformação passou de um superávit de US$ 25 bilhões para um déficit de US$ 43 bilhões em quatro anos. A razão investimento/consumo mostra o Brasil como um dos piores do mundo. O investimento público também é um dos mais baixos do mundo. Nossa previdência é a pior. A Alemanha gasta como a gente, mas tem 19% da população idosa. Nós temos 8%. Esse dinheiro está sendo usado para o Lula ter 90% de popularidade."

O obstinado empreendedor brasileiro nos coloca na 6º posição em economia e, em retribuição, o Estado nos coloca pra correr uma maratona com uma mochila de 50kg nas costas. O pior é ver PT na TV se auto exaltando como o partido que mais mobilizou o país. Piada de mal gosto não?

Estamos precisando de um presidente estadista e não populista. 

Comentário muito feliz de Luiz Carlos Prates sobre o assunto. Que a verdade seja dita!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Saudades de Deus

LUIZ FELIPE PONDÉ, Folha de SP

Tem coisa mais monótona do que discutir sobre a existência ou não de Deus? Ninguém crê em Deus "por razões lógicas". Isso é papo furado. Ninguém "decide" ter fé.
Tentar provar que Deus existe porque ele seria "uma necessidade da razão" me parece um engodo.
Primeiro porque a razão é risível em suas necessidades, como diria o cético Michel de Montaigne (século 16). A pergunta pela origem de tudo que existe (como numa espécie de aristotelismo aguado) não prova nada. Temos inúmeras necessidades que não são autoevidentes -por exemplo, que o bem deva vencer ao final das coisas.
Muitas vezes o mal vence e pronto. Quase sempre. Por outro lado, é interessante se pensar de onde veio a matéria que explodiu um dia e o lugar onde ela explodiu.
Mas isso nada prova acerca do Deus ocidental. O princípio pode ser uma mecânica estúpida.
Aliás, o chamado "argument from evil" (argumento a partir do mal) do ateísmo é famoso. Autores grandes como Dostoiévski e Kafka, entre outros, já o frequentaram de forma brilhante.
O argumento basicamente é o seguinte: se Deus é bom, por que o mundo é mau? Alguns já chegaram a supor que Deus seria mesmo mau, como o próprio Kafka.
Duas questões são importantes apontar nesse debate, uma com relação aos crentes, outra aos ateus.
Primeiro os crentes. Uma falácia comum por parte dos crentes é supor que seria impossível você ser uma pessoa razoavelmente moral sem alguma forma de religião. A história prova que ateus e crentes dividem o mesmo lote de miséria moral. Pouco importa ser ou não crente.
Pessoalmente, acho que o acaso decide: o temperamento (o acaso de você ter nascido "assim ou assado") é quase sempre o juiz do comportamento humano e não "valores" religiosos ou éticos seculares (não religiosos).
Portanto, a tentativa de afirmar que, se você é ateu você necessariamente não é "bom", é pura falácia. Tampouco penso que uma religião faça falta para todas as pessoas. Muita gente vive sem crise sem acreditar em coisa nenhuma "do outro mundo". Isso não significa que ela seja sempre feliz (tampouco os religiosos o são), a (in)felicidade depende de inúmeros fatores.
E mais: "crer ou não crer" não é algo que você escolhe, "acontece". Grandes teólogos como Santo Agostinho, Lutero e Calvino diziam que a "fé é uma graça" (simplificando a coisa), alguns receberam o dom e outros não (portanto, ela "acontece", como eu dizia acima, não é você quem escolhe ter ou não). Acho essa ideia bem mais elegante do que esse papo furado acerca das necessidades racionais, sociais, morais ou psíquicas da crença.
Quanto aos ateus, acho risível a ideia de que o ateísmo seja uma "conquista" da razão ou de alguma forma de rigor moral ou "coragem cosmológica".
Nada disso, como já disse antes, e repito, até golfinhos conseguem ser ateus em sua maravilhosa vida aquática. Fiquei ateu quando tinha oito anos.
O ateísmo me parece, entre todas as hipóteses sobre o universo, a mais fácil, simples, rápida e quase "fast food theory" (teoria fast food).
Não precisamos nos esforçar muito para perceber que podemos talvez um dia descobrir a causa "natural" do universo, ou acabarmos como espécie antes de descobrir qualquer coisa. E "who cares" se sumirmos um dia?
E mais: é quase evidente que somos uma raça abandonada na face da Terra e a indiferença dos elementos naturais para conosco (sejam eles externos ou internos ao nosso corpo) salta aos olhos.
E mais: a possibilidade de estarmos sozinhos é sempre mais fácil do que acompanhados por um ser maravilhoso, dono do universo e que sabe cada fio do cabelo que você tem na cabeça.
Não há nenhuma evidencia definitiva de que Deus ou que qualquer outra entidade divina exista. O ônus da prova é de quem crê. Além do fato de que os japoneses, caras bem inteligentes, não creem em Jesus na maioria das vezes.
Acho Deus uma hipótese acerca da origem das coisas mais elegante do que a dos golfinhos. Mas, por outro lado, a ideia de que um dia o pó tomou consciência de si mesmo e constatou sua dolorosa solidão cósmica é bela como uma ópera.

Concurso público é para quem não se garante!

A generalização, como todas, é injusta. Mas vamos refletir?




quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Para o PT é preciso “regular” o direito alheio de oferecer uma ideia eventualmente contrária

Por José Serra O Globo, 22/12/2011.


Nos anos recentes, o ímpeto petista para cercear a liberdade de expressão e de impressa vem sendo contido por dois fatores: a resistência da opinião pública e a vigilância do Supremo Tribunal Federal. Poderia haver também alguma barreira congressual, mas essa parece cada vez mais neutralizada pela avassaladora maioria do Executivo.
É um quadro preocupante, visto que o PT só tem recuado de seus propósitos quando enfrenta resistência feroz. Aconteceu no Programa Nacional de Direitos Humanos, na sua versão petista, o PNDH-3. Aconteceu também na última campanha eleitoral, quando a candidata oficial precisou assumir compromissos explícitos com a liberdade para evitar uma decisiva erosão de votos.
Mas não nos enganemos. Qualquer compromisso do PT com a liberdade e a pluralidade de opinião e manifestação será sempre tático, utilitário, à espera da situação ideal de forças em que se torne finalmente desnecessário. Para o PT, não basta a liberdade de emitir a própria opinião, é preciso “regular” o direito alheio de oferecer uma ideia eventualmente contrária.
O PT construiu  e financia ao longo destes anos no governo toda uma rede para não apenas emitir a própria opinião e veicular a informação que considera adequada, mas para tentar atemorizar, constranger, coagir quem por algum motivo acha que deve pensar diferente. Basta o sujeito trafegar na contramão das versões oficiais para receber uma enxurrada de ataques, xingamentos e agressões à honra.
Outro dia um prócer do petismo lamentou não haver, segundo ele, veículos governistas. Trata-se de um exagero, mas o ponto é útil para o debate. Ora, se o PT sente falta de uma imprensa governista, que crie uma capaz de estabelecer-se no mercado e concorrer. Mas a coisa não vai por aí. O que o PT deseja é transformar em governistas todos os veículos existentes, para anular a fiscalização e a crítica.
O governo Dilma Rousseff deve ter batido neste primeiro ano o recorde mundial de velocidade de ministros caídos sob suspeita de corrupção. E parece ainda haver outros a caminho. As acusações foram veiculadas pela imprensa, na maioria, e a presidente considerou que eram graves o bastante, tanto que deixou os auxiliares envolvidos irem  para casa. Mas no universo paralelo petista,  e mesmo na alma do governo,  trata-se apenas de uma conspiração da imprensa.
Pouco a pouco, o PT procura construir no seu campo a ideia de que uma imprensa livre é incompatível com a estabilidade política, com o desenvolvimento do país e a busca da justiça social. E certamente tentará usar a maioria congressual para atacar os princípios constitucionais que garantem a liberdade de crítica, de manifestação e o exercício do direito de informar e opinar.
Na vizinha Argentina assistimos ao fechamento do cerco governamental em torno da imprensa. A última medida nesse sentido é a estatização do direito de produzir e importar papel para a atividade. O governo é quem vai decidir a quanto papel o veículo tem direito. É desnecessário estender-se sobre as consequências desse absurdo.
O PT e seus aliados continentais têm tratado do tema de modo bastante claro, em todos os fóruns possíveis. Seria a luta contra o “imperialismo midiático”, conceito que atribui toda crítica e contestação a interesses espúrios de potências estrangeiras associadas a “elites” locais. Um arcabouço mental que busca legitimar as pressões liberticidas. Um fascismo (mal) disfarçado.
No cenário sul-americano, o Brasil vem por enquanto resistindo bastante bem a esses movimentos, na comparação com os vizinhos. Ajudam aqui a Constituição e a existência de uma sociedade civil forte e diversificada. Mas nenhuma fortaleza é inexpugnável. Especialmente quando a economia depende em grau excessivo do Estado, e portanto do governo.
Nenhuma liberdade se conquista sem luta, sabemos disso. Lutamos contra a ditadura, ombreados, inclusive, aos que só estavam conosco porque a ditadura não era deles. Mas essa liberdade que obtivemos precisa ser defendida a todo momento, num processo dinâmico, pois os ataques a ela também são permanentes.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Têm plasil ai? Estou enjoado! Partido da @deputadamanuela apoia regime ditatorial e miserável da Coreio do Norte

Olhem a carta de apoio do PC do B ao regime ditatorial e miserável da Coreio do Norte.

Você pensaria em votar em alguém filiado desse partido? Imaginaria que não, mas Manuela D'ávila, eleita deputada federal com uma das maiores votação do Brasil (mais de 500 mil votos), é desse partido. E ela vem a prefeita de Porto Alegre!




Têm plasil ai? Estou enjoado!



Estimado camarada Kim Jong Um
Estimados camaradas do Comitê Central do Partido do Trabalho da Coréia

Recebemos com profundo pesar a notícia do falecimento do camarada Kim Jong Il, secretário-geral do Partido do Trabalho da Coreia, presidente do Comitê de Defesa Nacional da República Popular Democrática da Coreia e comandante supremo do Exército Popular da Coreia.

Durante toda a sua vida de destacado revolucionário, o camarada Kim Jong Il manteve bem altas as bandeiras da independência da República Popular Democrática da Coreia, da luta anti-imperialista, da construção de um Estado e de uma economia prósperos e socialistas, e baseados nos interesses e necessidades das massas populares.

O camarada Kim Jong Il deu continuidade ao desenvolvimento da revolução coreana, inicialmente liderada pelo camarada Kim Il Sung, defendendo com dignidade as conquistas do socialismo em sua pátria. Patriota e internacionalista promoveu as causas da reunificação coreana, da paz e da amizade e da solidariedade entre os povos.

Em nome dos militantes e do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) expressamos nossas sentidas condolências e nossa homenagem à memória do camarada Kim Jong Il.

Temos a confiança de que o povo coreano e o Partido do Trabalho da Coreia irão superar este momento de dor e seguirão unidos para continuar a defender a independência da nação coreana frente às ameaças e ataques covardes do imperialismo, e ao mesmo tempo seguir impulsionando as inovações necessárias para avançar na construção socialista e na melhoria da vida do povo coreano.

Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB e Ricaro Abreu Alemão secretário de Relações Internacionais do PCdoB

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A crise do Brasil é de gestão - Galló, presidente das Lojas Renner

Olha que bacana. Encontrei um pessoa de peso pensando e falando mais ou menos o que penso. O Brasil precisa de gestão! Escrevi um pouco sobre isso nesse artigo aqui.

José Galló, presidente da Lojas Renner








Prontos para qualquer cenário

É lógico que a gente se preocupa com o curto prazo, mas não construímos a Renner para o curto prazo. Estamos é preocupados com a companhia daqui a cinco, 10 anos. Vamos enfrentar a situação em 2012, talvez até um pouco mais séria no primeiro semestre e com recuperação mais adiante. Como a nossa diretriz é austera, extremamente controlada e com custos baixos, se vier uma situação desfavorável, estaremos preparados para qualquer ambiente.

Espaço para oportunidades

Com relação a aquisições, a gente não deixa de olhar as oportunidades, mas não estamos vendo nada tão significativo. O que tínhamos de fazer já fizemos neste ano com a compra da Camicado, líder no seu segmento. Nem somos tão pretensiosos. Na atual situação, nem bem uma crise porque o PIB (Produto Interno Bruto) crescerá 2,5%, certamente terá gente mais assustada e menos eficiente do que nós. Então, há boa oportunidade para ganhar mercado. E tem mais: a questão da concentração do varejo, muito pulverizado. Os cinco maiores players de moda têm 10% do mercado, enquanto os cinco maiores de supermercados contam com 42%. Há espaço para chegarmos a 20% ou 22%.

Governo gastador

O que vemos é um governo gastador, sem controlar as despesas. Isso, sim, é crise, aliás de gestão, terrível. A crise de gestão do Estado brasileiro é muito pior do que qualquer crise econômica. O Estado gasta muito e, pior de tudo, com baixa eficiência. Se você verificar qualquer análise da atividade governamental, a parte que fica para alimentar a máquina é enormemente desproporcional ao benefício. Pesando na pior hipótese em relação à carga tributária, que é deixá-la como está, se tivéssemos racionalidade de gestão, contaríamos com mais investimentos. Isso que nem estou falando na melhor hipótese: reforma tributária com o governo mudando o seu comportamento, ao usar melhor os recursos que são de todos nós. Sem falar na devida atenção que se deve dar à redução da informalidade.

Apenas com o encanto

Como a sociedade não aceita mais aumento de alíquotas, o governo precisará ampliar a base e, fazendo isso, muita gente não sobreviverá porque só vivia sonegando. Ou seja, essas vendas serão transferidas para o varejo formal, onde estamos e queremos crescer ainda mais. E como? Encantando o cliente, superando suas expectativas. Hoje, quem satisfaz consumidores sobrevive, mas quem encanta cresce. Se nossa coleção e nossas lojas estão iguais às do concorrente, não estamos encantando. Queremos o diferencial competitivo. E o varejo se diferencia na maior simplicidade: os famosos 4 P – produto, preço, propaganda e promoção e ponto de venda. Tudo isso com muito conhecimento de mercado, trabalho sério que requer paixão pelo que se faz.

Caldo horroroso

Acredito que a presidente Dilma está firme, faz mais até do que fala. Talvez eu esperasse um comportamento um pouco mais ágil em relação à corrupção, ou seja, evitar o desgaste de tantos dias nessas denúncias, porque isso pesa, mostra indecisão que, talvez, ela não tenha. Mas também entendo que enfrenta um processo terrível implantado no país: loteamento de cargos para apoio que fomentou a criação desnecessária de inúmeros partidos. Apesar desse caldo horroroso, ela está se saindo muito bem e, além disso, vem tendo de pagar contas atrasadas do gestor anterior. A partir de 2012, talvez comece a governar para valer, já que este ano foi o de acertar contas de gestão e limpar a área de corruptos. Aí veremos a Dilma operadora, a Dilma eficiente.

Nunca tivemos situação tão boa

O Brasil está ganhando reconhecimento no mundo, mas isso é complicado. Realmente, acredito que nós nunca estivemos em situação tão boa, diferenciada, que nos permite até ter poder de barganha e nos dá autoridade para alcançar maior participação no mercado internacional. Mas isso é autoridade econômica, e nós precisamos adquirir autoridade em educação, ética, em não aceitar a corrupção. Se não conseguirmos ser líderes e modelos nesses indicadores, também não poderemos ter uma liderança mais consistente e mais completa no mundo.

O bonde perdido

Com alto nível de endividamento, poucos investimentos e baixíssima margem de manobra, o nosso Estado perdeu o bonde da história quando a Ford não ficou aqui. Precisamos nos dar conta de que a saída da Ford não foi só o prejuízo de perdermos o investimento, mas a sinalização de que seu projeto na Bahia é a possibilidade de a indústria automobilística atuar fora do eixo Rio-São Paulo. Se a Ford tivesse ficado aqui, teríamos um polo automobilístico, de autopeças, de mão de obra especializada. Ou seja, a saída da Ford não foi apenas a perda de uma indústria automobilística, mas o desvio do foco, um dano irreparável. Agora, precisamos apostar tudo em novas vocações para o Estado, talvez tecnologia, informática. O Tecnopuc está aí e é um bom exemplo.

Avanços, apesar dos entraves

Mesmo com todo o dinheiro que tem vindo do Exterior, não resolvemos a inadequada infraestrutura brasileira, um freio incrível ao desenvolvimento. Isso sem falar que todo o dinheiro que vem de fora quer regras claras e estabilidade jurídica, com menor burocracia, vitais para esses projetos a longo prazo. Se não proporcionarmos isso, seremos prejudicados não só no volume de recursos, como na velocidade. Apesar de todo esse cenário, o Brasil é uma grande oportunidade.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Vendi brotos de feijão. Sou um capitalista reaça?

ESCRITO POR KAMARADA ROBSON
(Vanguarda Popular)

Kamaradas,

Venho aqui, vergonhosamente, pedir auxílio sobre uma questão que não encontrei em nenhum dos 48.343 manuais, leis, documentos e epístolas do Partido.

O caso é o seguinte: outro dia recebi minha cota de 200 calorias de ração diária na qual continha alguns feijões. Mas eu, desastradamente, deixei um deles cair no chão da minha casa, que foi gentilmente convertida de um estábulo e cedida pelo Partido em troca de alguns anos de trabalho braçal. Pois bem, não achei mais o tal feijão até que, uma semana depois, vi um broto crescendo...

Deixei-o lá. E, para minha surpresa, vagens de feijão surgiram.

Comi parte daquela comida extra e replantei alguns outros feijões.

Em pouco tempo eu já estava com quase toda a minha casa de 10m2 tomadas por brotos de feijões e passei a fazer DUAS refeições diárias!

Como eu prefiro não fazer três refeições diárias, porque, além de engordar, pode trazer algum problema estomacal devido a grande quantidade de calorias consumidas (quase 600 por dia!), resolvi me desfazer do excedente.

O vizinho do lado pediu para trocar alguns brotos por algumas colheres de açúcar. O outro vizinho me deu água em troca de feijões. E, afinal, me deparei com um império capitalista nas minhas mãos.

Hoje minha casa tem uns 50m2, forno à lenha, 5 litros de água, faço DUAS refeições diárias, rádio à pilha, luz elétrica e agora penso em ter uma geladeira.

Será que essa aberração de capitalismo, será que fazer trocas voluntárias está presente no nosso DNA?

Estou assustado kamaradas!

Tenho recitado "A Internacional" 50 vezes por dia, cantando voltado para Cuba, com a foto de Stálin na parede. QUE FAZER?

Fazia calor, e ele sorria (David Coimbra)


Ali estava um homem que sabia viver. Fosse outro, passaria se queixando do emprego inferior à sua dignidade, do salário inferior ao seu merecimento, do chefe que o colocara ali por perseguição, do governo que não o amparava por incompetência.


Fazia calor, e ele sorria
Era uma dessas tardes de canícula que faziam pensar sobre os milênios que o ser humano atravessou sem ar-condicionado. Como conseguimos? Como chegamos até aqui?

Havia deixado o carro num estacionamento, já ia alcançando a calçada, quando o vi. Estava dentro da guarita da portaria, uma dessas casinholas onde mal cabe uma pessoa. Era um homem de pele negra luzidia, de certa idade, imaginei que tivesse filhos e netos. Suava às catadupas dentro do uniforme. Só de vê-lo fiquei com calor. Estiquei o pescoço e brinquei, meio em solidariedade, meio para lhe aliviar o sofrimento:

– Vida dura...

Ele abriu um sorriso.

– Nem tanto – respondeu com animação surpreendente para aquele dia pastoso. – Pior seria se não tivesse trabalho. Além disso, economizo com sauna!

E atirou de dentro do seu esconderijo uma risada de satisfação com a própria piada.

Despedi-me dele sentindo-me bem. Ali estava um homem que sabia viver. Fosse outro, passaria se queixando do emprego inferior à sua dignidade, do salário inferior ao seu merecimento, do chefe que o colocara ali por perseguição, do governo que não o amparava por incompetência.

Na verdade, pouco interessa a condição em que alguém se encontra. Se o ambiente é desta ou daquela forma. É difícil encontrar duas pessoas que, estando na mesma situação, vivam no mesmo mundo. O interior é que vai fazer com que o exterior seja positivo ou negativo.

Você pode constatar isso todos os dias. Em tudo e em todos há coisas boas e ruins. Você é quem escolhe o que vai pegar para você. E a sua escolha depende do que você é. Pessoas boas enxergam o lado bom das outras pessoas e alegram-se com isso e tornam a convivência leve. Mas há quem só veja os defeitos dos outros e assim os defeitos se aprofundam, tornam-se mais graves e mais feios, e a convivência fica pedregosa. Ou seja: a responsabilidade não é de quem é julgado, é de quem julga. As coisas não são bonitas à sua volta? Olhe para dentro. Talvez lá é que elas sejam feias.

Como o brasileiro vê o Brasil e os governantes do Brasil?

Parece que houve gente enriquecendo com as privatizações do governo tucano, leio isso na Carta Capital. Parece que nunca houve tanta corrupção como a que grassa no governo petista, leio isso na Veja. A impressão é de que o Brasil afunda num mar de lama, para repetir a expressão de Vargas.

Mas não é bem assim. O Brasil melhorou de Itamar Franco para cá. São 18 anos de estabilidade econômica e política, o que resta provado até pela quantidade e pela profundidade das denúncias de corrupção, que antes havia, mas não aparecia.

Então, por que o brasileiro não se comporta mais como aquele homem cordial e fagueiro de tempos muito piores, como, por exemplo, os tempos do mar de lama de Vargas? Por que o brasileiro não percebe que o Brasil evoluiu? Será que o brasileiro “piorou”? Ou será que há mais homens como o vigia do estacionamento, suando em silêncio, mas contentes com a vida?

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

E ainda tem gente que não gosta do capitalismo…

Domingo no shopping
A primeira parada foi no cinema. Um enorme complexo, com quase vinte salas, modernas e confortabilíssimas, som e imagem perfeitos. O ingresso foi bem caro, já que estamos entre aqueles que financiam a demagogia dos políticos com idosos e estudantes, além da malandragem dos falsários. Esse, aliás, é um dos motivos que me afastaram dos cinemas. Mas no fim, valeu a pena, pois o filme era realmente muito bom.

Saímos com sede e paramos para um chope gelado. A choperia ficava bem em frente à saída do cinema, num ponto estratégico, cujo aluguel deve custar uma fortuna. O serviço, porém, era muito ruim. Ficamos ali uns cinco minutos sem que chegasse alguém para nos atender. Desse jeito, pensei, esses caras não vão durar muito tempo. Fomos embora correndo, já que um pouco mais adiante havia um concorrente.

Desta vez não houve erro e degustamos alguns deliciosos chopes gelados, cremosos, com espuma no ponto certo, sem falar no atendimento cordial e eficiente. Eis aí uma das grandes vantagens do regime de concorrência. Caso não goste de um produto ou serviço, o consumidor é livre para buscar outro fornecedor. A fuga dos clientes é, ademais, a maior punição que empresários ineficientes podem receber, muito mais efetivas e dolorosas do que qualquer multa imposta pelos códigos de defesa do consumidor.

A terceira parada foi numa loja de tênis. As opções são tantas que torna-se difícil a escolha. Havia centenas de pares ali expostos, nas cores e modelos mais variados. Os preços, novamente, eram salgados, porém, se lembrarmos que perto de 50% são tributos, não dá para crucificar o comerciante. Escolhi, inicialmente, três modelos para experimentar. Não gostei de nenhum deles e pedi ao atendente para ver outros dois. Ele sorriu e correu para apanhá-los. Enquanto esperava, comentei com minha mulher sobre o fato de o funcionário haver permanecido cordial e solícito, ainda que eu fosse um cliente muito chato e indeciso.

Enquanto esperava na fila do caixa, minha veia de administrador raciocinava sobre o destino do dinheiro que eu deixaria ali. Uma parcela seria destinada a pagar os salários do atendente, do balconista, dos funcionários administrativos. Outra parte serviria para o aluguel, impostos, taxas e comissões. Um bom pedaço iria para reposição do estoque, que envolve custos de transporte, armazenagem, etc. A última porção, provavelmente a menor de todas, seria contabilizada como lucro.

Eis algo que muita gente ignora ou sequer pensa a respeito. A maioria das pessoas entra numa loja dessas, examina as mercadorias expostas, não raro aluga o tempo dos funcionários e, no fim, vai embora sem comprar nada. Faz parte do negócio. Cabe a nós, e somente a nós, consumidores, decidir se vamos trocar o dinheiro que trazemos no bolso por algum produto ou não. Se eu, por exemplo, depois de ter experimentado todos aqueles pares de tênis, resolvesse finalmente que nenhum deles me agradara, não haveria qualquer penalidade por isso.

Um pensamento puxa outro e comecei a imaginar quanto os donos daquela loja teriam investido em instalações, estoques, treinamento, etc., sem que tivessem qualquer garantia de que o negócio se tornaria rentável. Concluí que foram necessários alguns milhões de reais. E então, pensei, o que fariam eles com os eventuais lucros, depois de pagas todas as despesas? Provavelmente, reinvestiriam a maior parte no próprio negócio. Mas por que deveriam eles repor aquele par de tênis que eu acabara de comprar ou investir na ampliação do negócio? Concorrência. Se quiserem permanecer no negócio, têm que ofertar sempre o que houver de mais moderno no mercado, a um preço sempre mais barato, sob o risco de serem engolidos pelos concorrentes.

Pensando bem, não é nada fácil a vida dos capitalistas. E, no entanto, a imagem desses caras é péssima. Pouca gente se dá conta de quantos empreendedores “quebram a cara” todo santo dia, pelos mais variados motivos, e que somente uma minoria consegue vencer os percalços e seguir em frente. Ou que os grandes e odiados magnatas são pessoas cuja renda provém, na maioria dos casos, do empenho para satisfazer os exigentes e gananciosos consumidores. Quase ninguém pensa que a poupança de gerações pode virar pó, da noite para o dia, bastando para isso um breve cochilo. A maioria só enxerga a riqueza e o fausto de uns poucos privilegiados.

Paguei pelo tênis que comprara e despedi-me do solícito vendedor com um “muito obrigado”. A resposta dele não foi outra: “obrigado”. Já notaram como essa costuma ser a despedida padrão, sempre que acabamos de comprar alguma coisa? E, pensando bem, isso faz todo sentido. Encerrava-se ali uma transação que foi vantajosa para todos os envolvidos. Eu disse “obrigado” porque acabara de adquirir algo que valia, para mim, mais do que o dinheiro que dei em troca. O vendedor agradeceu por si – já que acabara de embolsar uma comissão – e pelos donos da loja – que fizeram uma troca também lucrativa.
E ainda tem gente que não gosta do capitalismo…

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Guido Mantega: A cigarra irresponsável que crê que o verão será eterno

"A economia brasileira ganhou na loteria chinesa e está gastando por conta, hipotecando seu futuro. Parece uma cigarra irresponsável, acreditando que o verão será eterno. Mas o inverno inexoravelmente chegará. O governo não tem como impedir este fato com mais estímulos. Isso pode apenas postergar um pouco o encontro com a realidade. Em contrapartida, aumentará o sofrimento futuro também. Não existe almoço grátis."


Rodrigo Constantino


Leia o artigo na íntegra

O retrocesso está mudando de nome


Política e costumes - DENIS LERRER ROSENFIELD

O grau de liberdade de um país se mede pela liberdade de seus costumes, pelas escolhas que cada cidadão faz do que estima ser melhor para si, sabendo reconhecer no outro um portador dos mesmos direitos. A sociedade brasileira tem tornado um valor seu a liberdade dos costumes, alterando velhos hábitos e mesmo legislações restritivas à liberdade de escolha. Recentemente, contudo, surge uma onda, patrocinada por agentes governamentais, do politicamente correto que procura reverter essa tendência, fazendo-o em nome de uma posição aparentemente "progressista". O retrocesso está mudando de nome.

Há setores do governo, que têm uma visão definitivamente autoritária das relações políticas, invadindo, sem nenhum pudor, a esfera do privado, daquilo que é próprio de cada um. O poder passa a ser exercido sob a forma de controle da vida individual, em que, por princípio, nada se coloca fora do seu alcance. A liberdade de escolha - e, por extensão, de iniciativa -, econômica, de imprensa, de publicidade, é fortemente atingida. Engana-se quem pensa que se trata de ações apenas pontuais. Em cada caso específico se revela toda uma concepção de mundo, das relações pessoais e, mais particularmente, dos costumes.

A última em série - mas, infelizmente, não a última de um processo que parece interminável - está na tentativa da Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República de enquadrar a novela Fina Estampa, da Globo. O motivo, aparentemente anódino, diz respeito a um personagem que na trama humilha e bate na mulher. Segundo o enredo, a personagem agredida é aconselhada por amigas a prestar queixa do marido, porém não o faz porque diz amá-lo. Trata-se, na verdade, de um retrato do que ocorre com muitos casais pelo País afora, sem que intervenha aqui nenhum juízo de valor. Cabe, isso sim, ao telespectador elaborar o seu.

Mas a secretária sugere em ofício enviado à TV Globo que esta mude seu enredo. Segundo ela, a mulher agredida deveria procurar a Rede de Atendimento à Mulher, ligando para o telefone 180. Sugere ainda que o agressor seja não só punido, mas encaminhado aos centros de reabilitação da Lei Maria da Penha. Aqui, a secretária já está se tornando especialista em dramaturgia. A "lei" do politicamente correto deveria, então, passar a reger a elaboração das novelas e - por que não? - do cinema também.

O assunto é especialmente grave porque implica interferência governamental direta na liberdade de expressão, ainda que feita sob a forma de "sugestão". Sugestão de ministra não é conselho de uma cidadã qualquer, mas de uma agente estatal. Trata-se de uma recomendação oficial. Num primeiro momento, estamos diante de um fato menor, mas o problema é que a moda pode pegar. Logo, num segundo momento, qualquer agente público estaria no direito de se tornar um dramaturgo oficial.

Retomando o genial Stanislaw Ponte Preta, estamos diante de outro episódio do festival de besteiras que assola o país. O problema é que esse festival se apresenta como politicamente correto, estabelecendo normas de como deveriam ser os costumes e de como a liberdade de escolha deveria ser cerceada. 

No festival em curso temos várias peças dignas de menção. Uma delas é sobre advertências, que deveriam estar inscritas em roupas íntimas de homens e mulheres, quanto aos perigos do câncer de próstata e de mama. Trata-se de uma invasão do domínio daquilo que é mais próprio de cada um, de sua vida íntima. Imaginem uma situação amorosa em que o homem olha o sutiã da companheira e lhe pergunta se tem feito mamografia. Ela, surpresa, olhando a cueca, retruca se ele fez exame de próstata. No auge da relação amorosa, o câncer, a morte, introduz-se numa relação de Eros, de vida. Não há clima que resista!

O clima, evidentemente, se esvai, dando lugar a uma conversa sobre os perigos de uma doença que pode ser mortal. Tânatos, a pulsão de morte, toma o lugar de Eros, pulsão de vida. E isso é feito pelo Estado, que diz proteger a vida contra a morte! A vida privada deveria, acima de tudo, ser preservada de intervenções estatais, por mais politicamente corretas que sejam. Eis o perigo maior. O Estado torna-se agente de Tânatos. 

O festival não tem fim. A reincidente Secretaria de Políticas para Mulheres também vem tentando tirar do ar um comercial de lingerie com a modelo Gisele Bündchen por esta se insinuar, no uso de seus atributos femininos, num pedido ao marido. Nada de muito particular no fato, não fosse a "polícia" do politicamente correto procurando ditar o que deve ou não ser veiculado numa propaganda televisiva.

Seja dito de passagem que o anunciante da tal lingerie agradece, compadecido, a iniciativa governamental, pois a publicidade alcançada foi muito maior do que a prevista, seja ou não tirada a propaganda do ar. Jamais esse comercial teria atingido tal grau de publicização não fosse a interferência estatal.

O assunto encontra-se atualmente no Conar, órgão autônomo de regulação da publicidade, para análise de sua adequação ou não ao seu Código de Ética. Espera-se que essa entidade tenha o bom senso de rechaçar a interferência naquilo mesmo que é o fundamento da ética: a liberdade de escolha, livre das amarras governamentais. 

O assunto é da maior gravidade, apesar de seu aspecto francamente cômico. Um agente estatal tem a pretensão de passar a decidir o que deve ou não ser veiculado na publicidade, interferindo em sua própria mensagem e criatividade. O mais preocupante, contudo, é que ele se crê imbuído da "crença correta" do que devem ser os costumes humanos. O governo arroga-se em instrumento de uma espécie de dever-ser moral que teria como função passar a ditar as normas dos comportamentos politicamente corretos.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Marketing do desejo

"O desejo nos aproxima do nada (morte) porque desvaloriza tudo que temos. Por isso, quando movidos por ele, sem o cuidado de quem se sabe parte de uma espécie louca, flertamos com o valor zero de tudo."


LUIZ FELIPE PONDÉ, Folha de SP

"Mais importante do que o sucesso é passar uma imagem de sucesso." Você pode ouvir uma frase como esta em qualquer palestra brega de motivação em recursos humanos.
Já disse antes que acho palestras assim a coisa mais brega que existe. Mais brega do que isso só mesmo achar que o mundo melhorou porque existe o Facebook.
A melhor forma de manter a dignidade na era do Facebook (se você não resistir a ter um) é não contar para ninguém que você tem um Facebook. Quase tudo é bobagem nas redes sociais porque o ser humano é banal e vive uma vida quase sempre monótona e previsível.
E a monotonia é o traje cotidiano do vazio. E a rotina é o modo civilizado de enfrentar o caos, outra face do vazio.
A ideia de que aprendemos a falar porque quisemos "conhecer" o mundo é falsa. Segundo os evolucionistas, é mais provável que tenhamos aprendido a falar para falar mal dos outros e fofocar.
O "Face" é, neste sentido, um artefato paleontológico que prova que nada mudou.
Sempre se soube que não basta à mulher de Cesar ser honesta, ela tem que parecer honesta, portanto, a imagem de honesta é mais importante do que a honestidade em si.

Mas aqui, o foco é diferente: aqui a questão é a hipocrisia como substância da moral pública. Todo mundo sabe que a mentira é a mola essencial do convívio civilizado.
No caso de frases como a citada no primeiro parágrafo, comum em palestras de motivação em recursos humanos, é que são oferecidas como "verdades construtivas de comportamento". E não como o que verdadeiramente são: estratégias para desgraçados e "losers" se sentirem melhor.
Ficamos covardes. Fosse esta geração de jovens europeus (que só sabe pedir direitos e iPads) que tivesse que enfrentar Hitler, ele teria ganhado a guerra.
Provavelmente esses estragados por décadas de "estado de bem-estar social" teriam dito "não à guerra em nome da paz". Grande parte do estrago que Hitler fez no início foi causada por gente que gostava de dizer que a paz sempre é possível. Gente medrosa mesmo.
Mas nossa época, como eu costumo dizer muitas vezes, é a época do marketing de comportamento. A "ciência da mentira dos losers". Dentro desta disciplina geral, existe o marketing do desejo, especializado em mentir para as pessoas dizendo que "sim, confie no seu desejo que tudo dará certo".
Mesmo alguns psicanalistas (vergonha da profissão) embarcaram nesse otimismo de classe média. "Nunca traia seu desejo", dirão os traidores da psicanálise.
Sabe-se muito bem que é o desejo que nos trai porque ele está e vai além do que, muitas vezes, conseguimos suportar.
Uma das grandes tragédias de nosso tempo é o fato de que não existem mais recursos "simbólicos" para aqueles que resistem ao desejo em nome de "um bem maior", como no caso da família, do casamento, ou simplesmente resistir a virar canalhas com desculpas do marketing. O legal é ser "escroto" se dizendo "livre". A "ética do desejo", que recusa abrir mão do próprio desejo em nome de algo maior do que ele, destruiu a noção de caráter.
Para a moçada do marketing do desejo, resistir ao desejo é coisa de gente idiota e mal resolvida porque ter caráter não deixa você muito feliz o tempo todo.
É verdade que resistir ao desejo não garante felicidade alguma, mas uma cultura dominada pela ideia de felicidade é uma cultura de frouxos. Mas outra verdade, não menor do que a anterior, é que o desejo pode ser um companheiro traiçoeiro. A afetação da felicidade faz de nós retardados mentais. Eu nunca confio em gente feliz.
O mestre Freud dizia que o desejo é desejo de morte. Afirmação dura. Mas o que ela carrega em si é o que já sabemos: o desejo nos aproxima do nada (morte) porque desvaloriza tudo que temos. Por isso, quando movidos por ele, sem o cuidado de quem se sabe parte de uma espécie louca, flertamos com o valor zero de tudo.
Nada disso significa abrir mão do desejo, mas sim saber que ele nos faz animais que caminham sobre tumbas que sorriem para nós como mulheres fáceis. Resistir ao desejo talvez seja uma das formas mais discretas de amar a vida.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Abaixo Chapeuzinho

Por João Ubaldo Ribeiro - O Estado de S.Paulo


Como temos visto, parece estar na moda o Estado se meter cada vez mais na vida privada dos cidadãos. Na convicção de que existem, universalmente, comportamentos "certos" ou "corretos", tecnocratas fazem tudo para impingir-nos essa correção. É comum que sejam alegadas bases "científicas" para definições do normal e do desejável, com frequência misturando-se asininamente a neutralidade da ciência com valores que não têm, nem pretendem ter, fundamento científico, mas cultural, filosófico ou religioso. Acaba-se gerando - e suspeito que isso se vem intensificando - a expectativa de que todos assumam diante da vida a mesma atitude "normal" ou "sadia" e ajam sempre de acordo com ela. Se alguém não se encaixa nessa fôrma, não só padecerá de culpa e estresse, convencido de que, de alguma maneira, é um réprobo anormal ou doente, como, em atos cada vez mais numerosos, o Estado força o cidadão a proteger-se do que é oficialmente considerado danoso ou inapropriado, cerceando-lhe, "no seu próprio interesse", a liberdade. O Estado sabe o que é bom para nós e não temos o direito de contestá-lo.
Um exemplo dessa mentalidade e das práticas que engendra é a leitura. Parece agora implantada a convicção de que existe uma leitura correta para cada livro. Poemas e romances, devem ser "contextualizados" e depois interpretados segundo a ótica recomendável. Remove-se assim toda a aventura de ler um poema ou romance, a atitude diante deles é a de um patologista diante de um cadáver. Não duvido nada de que, acostumado a essa leitura tutelada, o sujeito saia da escola, torne-se adulto e fique incapaz de ler, a não ser que alguém "contextualize" o texto para ele. Não é preciso contextualizar Dom Quixote, Hamlet ou qualquer outro personagem clássico, assim como não é necessário contextualizar Tarzan ou Sherlock Holmes. Deve-se mergulhar nos clássicos sem intermediários, as descobertas e sustos são pessoais e íntimos. A tutela só é legítima se fruto da decisão do leitor. Se ele pede, que se faça a tutela. Mas, se ele não pede, que sua liberdade, seus horizontes e sua sensibilidade se expandam sozinhos através de leitura, em experiências individuais que não se pode, em rigor, repartir com ninguém.
E a tutela não para por aí, como sabemos. As próprias histórias são alvo dos tutores, que já reescreveram as letras de canções folclóricas infantis, como Atirei o Pau no Gato e O Cravo e a Rosa. Não se atira mais o pau no gato, nem o cravo sai ferido ou a rosa despedaçada. Tudo isso é nocivo, corrompe e perverte e teremos uma sociedade bem menos violenta, quando as gerações assim educadas chegarem ao poder. Imagino que alguém já possa ter tido a ideia, ora sob análise no Ministério da Educação, de ensinar somente as "partes boas" da História, deixando de lado crueldades, desumanidades, atrocidades e tudo mais que possa dar mau exemplo à juventude. Os assírios, por exemplo, não esfolavam ninguém vivo, faziam peeling. Assim como o Santo Ofício não torturava ninguém, aqueles aparelhos todos eram de ginástica.
Estive pensando nessas coisas com algum vagar e a conclusão é que muitas novidades nos esperam. Não creio, por exemplo, que a história de Chapeuzinho Vermelho venha a ser conhecida no futuro. Talvez agora mesmo uma comissão lá no ministério esteja examinando o assunto, para depois baixar normas estritas, que redundarão na proibição dela e de semelhantes. Um mero exame superficial e preliminar é suficiente para demonstrar como é nociva a história de Chapeuzinho e como somos irresponsáveis ao transmiti-la a nossas crianças.
Em primeiro lugar, tão à vista que passa despercebida a quase todos, vem a cor do chapéu. Por que vermelho? Durante a Guerra Fria, era uma óbvia tentativa de instilar subliminarmente, no inconsciente da juventude, o apego a um dos símbolos do comunismo, a cor vermelha de sua praça, sua bandeira e seu Exército. Passada essa era, o vermelho é atualmente a cor do PT. Não fica bem para o partido uma menina como Chapeuzinho, hoje desmascarada como uma pequeno-burguesinha preconceituosa e reacionária, usar um chapéu com a cor dele. Nesse caso, que outra cor, amarelo? Não, também fica chato. Além de ser uma das cores do Brasil, o amarelo pode ofender as minorias de raça amarela. O mesmo se diz do preto, acrescida a circunstância de que, neste caso, os mais radicais poderiam exigir que fosse Chapeuzinho Afro-brasileiro. E por aí marcha uma discussão infindável, terminando-se afinal por abolir a cor e deixar somente Chapeuzinho.
Também grave, embora da mesma forma poucos reparem, é o presente que Chapeuzinho leva para a vovó. Doces? A esta altura da evolução da medicina, levar doces para uma senhora já velhinha? Doces nessa idade deveriam ser evitados. Eles engordam e a maior parte dos ingredientes das gulodices é nociva para os idosos. Para não falar que o consumo de açúcar pode deflagrar um caso de diabete. Não, não, não se pode permitir que o exemplo de Chapeuzinho transforme gerações de jovens em envenenadores de vozozinhas.
O caçador é outro exemplo gritante de incorreção. A caça e o porte de armas no Brasil são proibidos e, portanto, esse pseudo-herói um criminoso. Numa clamorosa falta de consciência ecológica, esse fora da lei mata um lobo. O lobo é uma espécie ameaçada em toda parte e tem seu lugar na Natureza. E, para piorar, é também caluniado, porque o caçador abre a barriga dele e encontra a vovozinha viva, quando se sabe que não há lobo capaz de engolir uma pessoa inteira. Enfim, a história de Chapeuzinho tem tudo para ser banida de escolas e bibliotecas. Quando chegará o dia em que precisaremos de autorização oficial para dar um livro de presente a um filho?