quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Eis um boa definição do governo Lula

Filósofo Alain de Botton, em entrevista a Folha. Falou sobre várias coisas, vale a pena ler toda a entrevista. Me chamou atenção a resposta dele sobre o Governo Lula;

Qual sua impressão do governo Lula?

Ele deu muita sorte em diversos pontos, pegou a alta do preço das commodities, seu antecessor havia estabilizado as coisas e feito boa parte do trabalho difícil, ele herdou um bom cenário. Mas fez algumas coisas básicas em termos de redistribuição [de renda] que assustavam a elite. Ele provou que a redistribuição não era um desastre, os ricos têm dinheiro suficiente, é possível tirar um pouco deles para ajudar a sociedade como um todo.

O que o Brasil precisa agora é educar adequadamente sua população, acabar com a corrupção para que o dinheiro vá para onde é necessário, criar um sistema de impostos mais justo e eficiente e uma infraestrutura melhor. Uma vez que isso comece a ser feito, e já está começando, o resto virá.

Nunca tinha visto um conceito tão alinhado com aquilo que penso do Brasil. Ou seja, Lula fez coisa legais, mas ganhou na mega sena (China / comodities) e teve um herança bendita, embora insista em negar isso.
O Brasil precisa agora educar as pessoas....
Vamo que vamo, com força e horna!

Empreendedorismo na veia das igrejas americanas! Senhor, não remova esta montanha. Dê-me forças para subi-la


Estou já faz algum tempo querendo escrever sobre uma cena do filme À Procura da Felicidade. Como nessa semana revi o filme, me motivei a procurá-la no Youtube. 

A cena que me refiro é a parte onde o Chris Gardner, personagem que Will Smith interpreta, vai com seu filho à igreja. Obviamente que meu olhar sobre cena não é religioso, mas sim sobre o legitimo sentimento empreendedor dos americanos.

Veja que até a Igreja "vende" a ideia de que devemos lutar, sem desanimar, em busca daquilo que queremos.  Esse pensamento é o oposto do que muitas vezes vemos no Brasil. Em qual lugar por aqui ouvimos: não remova esta montanha. Dê-me forças para subi-la. 



O que vemos no Brasil é uma população "cheia de direitos" e vitimizada. A cultura da nossa sociedade, infelizmente, é mais ou menos assim: Se está ruim, a culpa de alguém, menos minha. Esse alguém pode ser o pai, a mãe, a família, a genética, Deus, o Estado, a escola, etc. "O Estado tem cuidar de mim" é o pensamento que vigora. 

Ser dono do seu próprio destino e assumir as consequências dos seus atos e passos, pouca gente faz.


Por isso, veja essa bela lição de empreendedorismo na veia e busca pela felicidade. Antes, segue a letra da música que o coral canta.


“Senhor, não remova esta montanha
Dê-me forças para subi-la.
Não remova este obstáculo
Guie-me ao redor dele, Senhor”

“Meus fardos são tão pesados

Parecem quase insuportáveis
Mas não vou desanimar, não, não
Pois o Senhor me prometeu
Que me encontraria no altar das orações”
.


OBS: A cena a que me refiro inicia aos 2 minutos e 30 segundos

Ricos e infantis

"O pensamento paternalista e securitário não perde tempo com a lógica"

Excelente artigo de 
JOÃO PEREIRA COUTINHO na Folha de SP!


Uma das vantagens de viver na Europa é que existem dias em que não sabemos se estamos a sonhar ou acordados.
Aconteceu hoje, com o café da manhã: passando os olhos pela imprensa espanhola, descubro que a Direção Geral de Tráfego do país impôs uma multa pesada (30 mil euros) sobre a produtora cinematográfica Tripictures. Motivo da sanção?

É difícil explicá-lo sem correr o risco de o leitor pensar que eu enlouqueci de vez. Mas avanço na mesma: a produtora, responsável pelo filme "Larry Crowne" (uma comédia romântica e medíocre com os insuportáveis Tom Hanks e Julia Roberts), faz a publicidade do filme com uma foto dos dois protagonistas em cima de uma moto. E, horror dos horrores, sem capacete!
A imagem é intolerável para as autoridades espanholas, e o código de trânsito é claríssimo em seu artigo 52: toda a publicidade fílmica que promova "comportamentos de risco" na estrada deve ser banida.
E o desprezo pelo uso de capacete é um desses comportamentos. Segundo as estatísticas apresentadas pelo jornal "El Mundo", não usar capacete faz com que três em cada quatro pessoas morram em acidentes com motos. As lesões cerebrais multiplicam-se por três.
A conclusão é evidente e inquestionável: quem usa capacete aumenta em 20% as hipóteses de sair vivo de um acidente.
Se o leitor está abismado com a notícia, peço-lhe que não esteja. Anos atrás, quando a Europa foi caminhando para essa utopia securitária que regula hoje todos os comportamentos dos seus súditos, eu ainda cometia a imprudência de dizer duas ou três coisas a respeito.
Os meus argumentos começavam e acabavam na liberdade individual de cada um assumir a sua vida -e os seus riscos, porque a vida tem riscos- sem a mão paternalista de um poder político central. Avisos sobre as vantagens de usar capacete podem ser importantes, admito; mas a escolha de usar capacete é minha e só minha.
Os meus interlocutores, que me escutavam com caridosa paciência, concordavam comigo, ou fingiam concordar.
Mas depois acrescentavam que as medidas securitárias que se multiplicavam pela Europa -o uso de cinto de segurança nos automóveis ou de capacete nas motos; a proibição de níveis elevados de sal no pão; a proibição de fumo em bares ou restaurantes; impostos adicionais sobre comidas calóricas etc. etc. -tudo isso era em nome do bem comum, e não apenas uma questão de liberdade individual.
E perguntavam, retoricamente: por que motivo os hospitais públicos devem tratar indivíduos que escolhem vidas de risco? Os recursos são escassos, diziam eles; e, entre um fumante e um não fumante, devemos tratar primeiro quem teve mais cuidado com o próprio corpo.
Por essa altura, eu já não dizia nada. Nem sequer o contra-argumento óbvio de que fumantes ou não fumantes; motoristas sem capacete ou com capacete; gordos ou magros; enfim, doentes ou saudáveis -todos eles pagam impostos e, consequentemente, esperam tratamento pelos serviços que sustentam.
Eu só poderia aceitar que o Estado recusasse tratar dos meus pulmões, do meu fígado ou do meu colesterol se ele recusasse também o meu dinheiro. Mas contra-argumentar para quê?
O pensamento paternalista e securitário não perde tempo com a lógica. Ele é um subproduto de uma sociedade que enriqueceu e atingiu patamares de conforto que convidam ao tédio.
E, com o tédio, vem a irritabilidade própria de quem procura sair dele com novas formas de incomodar a liberdade do vizinho.
Aliás, se dúvidas houvesse sobre o processo, bastaria olhar para o Brasil. Com uma economia pujante e a integração de milhões de brasileiros nos confortos da classe média, leio nesta Folha que a Assembleia de São Paulo aprovou recentemente uma lei que proíbe a garupa em motos em dias da semana.
Mas não apenas a garupa; capacetes ou coletes com o número da placa da motocicleta pretendem-se igualmente obrigatórios.
Não sei o que irá decidir Geraldo Alckmin sobre essas importantíssimas matérias.
Mas, aqui da Europa, deixo uma mensagem ao senhor governador: por incrível que pareça, é possível enriquecer, sim, sem infantilizar a população ao mesmo tempo. Na Europa já é tarde para isso, mas o Brasil ainda vai a tempo.

Nunca deixe ninguém te dizer que não pode fazer alguma coisa. Nem mesmo eu!

O filme a À PROCURA DA FELICIDADE é simplesmente fodástico. Repleto de lições de vida.
Veja essa cena!
"Nunca deixe ninguém te dizer que não pode fazer alguma coisa. Nem mesmo eu!"



terça-feira, 29 de novembro de 2011

Coitado dos fumantes! A ofensiva politicamente correta contra o cigarro deve matar mais fumantes que o próprio cigarro.

A mais nova ofensiva do Governo contra o cigarro escancara, mais uma vez, seu viés autoritário. A saga da turma para "construir um novo homem" não descansa. Eles realmente acreditam que podem tudo, inclusive entrar em locais privados e dizer como você deve se comportar. Isso é lamentável, por mais benevolente que a ação possa parecer!

Se você chegou até aqui, quero deixar claro que eu não fumo. Não fumo e não gostaria que as pessoas fumassem porque estou relativamente informado do mal que o cigarro faz. Mas minha vontade não pode sobrepor a vontade do outro, não é mesmo! Nem mesmo quando se trata da relação Estado X Indivíduo. Acho sim que o estado ou a mídia pode informar, promover campanhas, etc., mas proibir não. A questão toda aqui é: Até quando abriremos mão da nossa liberdade?

Para não me alongar, digo o seguinte: 
Gordura mata, mas Mcdonalds e companhia está vendendo e fazendo propaganda a vontade;
Carro em alta velocidade mata, mas todas as montadoras estão vendendo e fazendo propaganda a vontade;
Alcóol mata, mas a AMBEV está vendendo e fazendo propaganda a vontade.

Em todos os casos acima, o que distingue o veneno do remédio é a dose, assim como o cigarro. Porque cargas d'agua apenas o cigarro não pode?


Rodrigo constantino adaptou um poema de Martin Niemöller, ícone da resistência ao nazismo:

“Um dia vieram e levaram meu vizinho que era fumante.
Como não sou fumante, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram
meu outro vizinho que era beberrão.
Como não sou beberrão, não me incomodei.
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho obeso.
Como não sou obeso, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar.”





Aproveito para sugerir dois bons artigo sobre o tema:


- Coitado do cigarro


- É proibido Fumar


Vamo que vamo, com força e honra!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Não pode haver poder mais discricionário e asqueroso do que o das vítimas se transformado em categoria de pensamento

Esse é daqueles artigos que merece ser registrado!

Por Reinaldo Azevedo


Meus heróis não morreram de overdose. Alguns dos meus amigos de infância é que morreram no narcotráfico! E foi uma escolha!

ferrorama
Este será um texto difícil, leitores! Avançarei por um trilho que sempre evitei porque tenho tal horror à demagogia que o risco remoto de que nela pudesse resvalar sempre me impediu de continuar. Mas chega a hora, como disse o poeta, em que os bares se fecham. E então restamos com nossas verdades. E elas precisam ser não exatamente anunciadas, mas enunciadas. Chegou a hora de vocês saberem um pouco mais deste escriba. Mas vamos devagar nesta longa viagem noite adentro.
Enganam-se aqueles que supõem que tenho debatido, nestes dias, a formação de chapas para disputar o DCE da USP, da Unirio ou da UFPR. A questão, entendo, é bem mais ampla: trato aqui de regras de civilidade, da democracia e do estado de direito. Espanta-me que seja justamente nas universidades — em particular nas públicas — que direitos essenciais garantidos pela Constituição sejam aviltados; direitos que custaram os esforços de gerações de brasileiros. Modestamente, fiz parte dessa trajetória e corri riscos, desde bem menino, por isso. Constato, não surpreso, mas nem por isso menos indignado, que a defesa da lei no Brasil pode ser, sim, uma atitude perigosa, daí que eu tenha sido obrigado a tomar medidas para a minha proteção. Nem por isso vou desistir. Releiam o título deste post. Eu vou chegar lá.
Ontem, enquanto alguns leitores de Vladimir Safatle, o professor pró-invasão, liam a sua corajosa fuga do debate (ver post abaixo), um panfleto era distribuído na USP, com tiragem anunciada de 3 mil exemplares. Ataca-me com impressionante violência. Mais do que isso: incita o ódio, a agressão. Acusa-me, em última instância, de interferir numa questão que seus autores parecem considerar privada. Isto mesmo: eles privatizaram a Universidade de São Paulo e rejeitam por princípio a crítica. O curioso é que, em sua não-resposta, Safatle me acusava — este rapaz precisa tomar cuidado com seu eventual lado mitômano — de promover a violência retórica. Escreveu em sua “não-resposta” que ele pertence àquela categoria de pessoas que “nunca responderão a situações nas quais a palavra escrita resvala para o pugilato, nas quais ela flerta com as cenas da mais tosca briga de rua com seus palavrões e suas acusações ‘ad hominen‘. Seria, simplesmente, ignorar a força seletiva do estilo.” Bem, noto à margem que o latim de Safatle não é melhor do que seu português, sua filosofia, seus argumentos e seu talento de polemista. O certo é “ad hominem”, com “m”. A alternativa é não recorrer ao latim.
Não, eu não desferi um só palavrão contra este rapaz. Em compensação, aqueles aos quais ele dá suporte — costuma ministrar “aulas” em áreas públicas ocupadas, como já fez em Salvador! — percorrem todo o vocabulário da desqualificação para me atacar, com impressionante vulgaridade e boçalidade. Em suma: acusam-me de promover aquilo que eles próprios promovem. Quando um delinqüente intelectual divulga um panfleto asqueroso, que faz a apologia da pancadaria e da tortura, em vez de pedirem cadeia para o autor, preferem jogá-lo nas costas de seus adversários. É uma gente, parece, para a qual o crime sempre é útil, os próprios  ou os alheios.
Ataques e povo consumidorNos ataques que prosperam na rede, as Mafaldinhas e os remelentos mimados me acusam, ora vejam!, de ser um representante da “classe dominante” — ou de estar a serviço dela — e fechar os olhos e tapar os ouvidos ao sofrimento do povo, de que eles seriam os procuradores. Se o povo os ignora e, na verdade, repudia a sua pauta, então é porque está ainda esmagado pela opressão do capital e pelas artimanhas da ideologia dominante, que lhe incute uma falsa consciência que o impede de ter clareza de seu papel revolucionário. É aí que entra, então, o partido — o deles — com o seu papel de vanguarda e de organizador da luta. Escrevo isso e dou um meio-suspiro. Imaginem vocês se Marx estabeleceria esse encadeamento se os “revolucionários” em questão fossem estudantes universitários…
O que essa gente sabe “do povo”, Deus Meu? No máximo, tem notícia dele por intermédio de suas respectivas empregadas, certamente mais “reacionárias” do que eles próprios. Esses radicais, que hoje se querem à esquerda do PT — os petistas assistem aos absurdos da USP pensando apenas em como tirar proveito eleitoral do episódio —, explicam por que foi um operário meio ignorantão, Luiz Inácio Lula da Silva, a empurrá-los para a absoluta indigência intelectual e para o flerte com o banditismo.
Se Lula e seu PT têm promovido o que considero um contínuo rebaixamento institucional do Brasil por conta do aparelhamento do estado e de sua vocação para se estabelecer como partido único, o que certa esquerda considera “progressista”, é fato que o sucesso do Apedeuta, desde quando era sindicalista, se deve justamente a aspectos de sua pregação que esses radicalóides consideram “conservadores”, até mesmo reacionários. Desde quando era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, Lula prega a uma platéia de consumidores, não de revolucionários. As três campanhas eleitorais vencidas pelo PT exercitaram, todos sabemos, à farta a lógica do “nós” contra “eles” — aquela bobajada tipicamente esquerdista —, mas sempre ancoradas na democratização das conquistas do capitalismo. Há, sim, uma vasta literatura de esquerda que provaria que Lula é um grande “reacionário”.
O ponto, meus caros, é que o povo vive o, como chamarei?, “malaise” da carência, enquanto esses esquerdistas enfatuados conhecem o “malaise” da abastança. PCO, LER-QI, PSOL e assemelhados oferecem “consciência revolucionária” aos pobres, e estes querem é geladeira nova. Os extremistas do sucrilho e do toddynho lhes propõem utopias, e eles estão de olho no computador. Os delirantes, em suma, lhes acenam com o socialismo, e eles só esperam que o capitalismo também lhes sorria. Foi Lula quem conduziu esses delinqüentes intelectuais para o hospício da política. Em certa medida, ninguém foi, segundo a ótica deles, mais contra-revolucionário do que o ex-presidente — o que não quer dizer que ele seja um democrata convicto. Eu não considero.
Desconhecem o povoEsses extremistas de terceiro grau, sejam alunos, professores ou funcionários, não sabem o que é o povo, quem é o povo, o que quer o povo — e o resultado que logram nas urnas deixa isso muito claro. E então virá a pergunta fatal: “E você, Reinaldo, conhece?” Pois é, conheço, sim! SEM ME CONSIDERAR SEU REPRESENTANTE PORQUE NÃO FUI ELEITO POR NINGUÉM, DEIXO CLARO! E agora começa o caminho um tanto pedregoso, que sempre evitei, porque tenho verdadeiro asco de certas parvoíces sociologizantes. Mais do que isso: a cada vez que vi Lula tentando justificar algumas de suas escolhas equivocadas por causa de sua infância pobrezinha, meu estômago deu alguns corcovos. O Lula que mobilizou os consumidores, se querem saber, merece o meu respeito. O Lula que tenta fazer da pobreza uma cultura merece o meu solene desprezo.
Vamos lá, Reinaldão, coragem! Sabem os meus familiares, sabem os meus amigos próximos, alguns deles jornalistas (sim, os tenho, e queridos!), que fui muito pobre, muito mesmo! E nunca dei uma de coitadinho porque não pode haver poder mais discricionário e asqueroso do que o das vítimas — de quaisquer vítimas — se transformado em categoria de pensamento. A pobreza não existe nem para culpar nem para enobrecer ninguém. Vamos lá ao título. Não! Os meus heróis não morreram de overdose porque isso é luxo que não se consente a determinadas faixas de renda. Essa “overdose” sempre supõe que o tal “herói” foi uma espécie de paladino da luta contra a opressão. Qual opressão? Qualquer uma que possa servir de pretexto para enfiar o pé na jaca.
Se meus heróis não morreram de overdose, tive, isto sim, amigos de infância e pais de amigos que se meteram com a bandidagem e o narcotráfico e que hoje estão mortos. Morreram de “overbalas”. Meu pai trocava molas de caminhão; minha mãe chegou a trabalhar como doméstica. Não me orgulho da profissão que tiveram. Orgulho-me das pessoas que eram — minha mãe, felizmente, viva, forte e ainda mais cheia de opiniões do que eu, hehe. Orgulho-me de seu caráter. Orgulho-me de seu senso de honra. Morei em dois cômodos de madeira até os 5 anos; depois, em dois cômodos de alvenaria até os 15. No fundo do terreno, corria um rio fétido. Nas chuvas, a água invadia a casa. O que isso me ensinou? Digo daqui a pouco. E talvez surpreenda muita gente!
Eu era livre para escolherTive todas as oportunidades de delinqüir, às quais alguns sucumbiram, numa periferia aonde o asfalto chegou tardiamente, para ter um “Kichute” novo (ainda existe?), uma calça “Lee Americana”, como chamávamos à época, uma “vitrola” para os bailinhos — faziam-se “bailinhos” então. E sempre disse “não!” E fiquei sem o Kichute, a Lee Americana e a vitrola. Eu tenho uma novidade para esses delinqüentes encapuzados e seus professores picaretas: OS POBRES TAMBÉM FAZEM ESCOLHAS MORAIS. Não são umas bestas à espera da iluminação que vocês possam proporcionar. Aliás, eles as fazem mais freqüentemente do que os abastados porque, de fato, suas carências são maiores e maiores as chances de tentação de encontrar um caminho mais curto para obter o desejado.
Disse “não” muitas vezes — e não vai nisso heroísmo nenhum! Não fui o único. Sempre que leio textos de supostos especialistas a demonstrar como os pobres da periferia são vítimas passivas das circunstâncias, sou tentado a pegar um chicote. Porque essa gente não sabe O que nem DO que está falando.
Não, eu não acho que essa minha origem me qualifique para isso ou para aquilo. Não me liguei a grupos socialistas porque quisesse subir na vida (claro!) ou porque achasse que o estado tinha a obrigação de me dar moradia ou o que fosse. A minha questão, desde sempre, tinha a ver com a democracia. Achava, e ainda acho, inaceitável que um governo possa decidir o que devemos pensar, o que devemos dizer, o que devemos calar. Nem governos nem milícias comuno-fascistas da USP ou de qualquer outro lugar.
A propósito da ignorância dos extremistas. Lembro-me, eu tinha 15 anos, de uma “aula” com um “intelequitual” da Convergência Socialista (que está na pré-história do PSTU) a esculhambar o então apenas “sindicalista” Lula, em começo de carreira, porque este seria um “reformista”, empenhado “apenas” em conquistar salários melhores, o que, entendi, era ruim para a libertação dos trabalhadores. O que aquela gente sabia do povo, Deus Meu? Nada! O que sabe ainda hoje? Nada!
Todos os dias, recebo centenas de comentários mais ou menos assim: “Você, que nunca andou de ônibus…”; “Você, que nunca andou de trem…”; “Você, que nasceu em berço de ouro…” Costumo ignorar porque tenho outra novidade para os delinqüentes encapuzados: a abastança pode ser tão opressora quanto a carência! Os que não sabem o que fazer dos benefícios que herdaram podem ter um destino tão ou mais duro do que os que não sabem o que fazer das carências que herdaram. O ponto, desde sempre, não é o que fizeram de você, mas o que você vai fazer do que fizeram de você, compreenderam?
Ignorância com efeitos trágicosEssa ignorância do que são e do que querem os pobres tem efeito terrível na vida dos próprios pobres. A cada vez que vejo ONGs nas favelas do Rio ou na periferia de São Paulo ensinando criança pobre a batucar, a fazer rap, a fazer funk (lá vem chiadeira…), vem-me de novo a vontade de pegar o chicote. Por que pobre tem de batucar? Aos 14 anos, eu já tinha lido toda a poesia de Cecília Meireles e boa parte do que sei de Drummond, por exemplo. Ali, na cozinha de casa. Não porque eu fosse um gênio, o que não sou, mas porque há pobres que se interessam por literatura e não estão dispostos a representar o papel de pobres para satisfazer os anseios dos remelentos e das Mafaldinhas revolucionárias. E não estão dispostos pela simples e óbvia razão de que… JÁ SÃO POBRES. NÃO PRECISAM REPRESENTAR!
Eu conheço o povo, aqueles alunos e professores remelentos não conhecem. Para a chateação e a fúria deles todos, conheço também os textos que lhes servem de referência, com a ligeira diferença de que os li. Safatle, aquele rapaz do cinturão do agronegócio, a esta altura, deve estar radiante: “Eu sabia! Esse Reinaldo é um pobre que se tornou reacionário para subir na vida; um arrivista!” E se sentirá, então, pacificado. Ele, das classes abastadas, se regozijará com a generosidade de sua entrega à causa popular, mesmo vindo das camadas superiores. Já eu, vejam que desastre!, em vez de estar na rua, carregando bandeira; em vez de estar empenhado na libertação da minha classe; em vez de estar exercendo o papel que me foi reservado pelo marxismo sem imaginação dessa canalha, eu, olhem que coisa!, estou aqui a dizer para Safatle que sua citação de um texto de referência é descabida. Corrijo também o seu português. Corrijo, para arremate dos males, o seu latim. Pobre reacionário é mesmo uma merda, né, Safatle? É só ler alguma coisinha, já sai corrigindo os ricos progressistas…
Por que isso tudo?Por que isso tudo? Para tentar ganhar algumas credenciais junto à escumalha moral que anda me satanizando por aí? Eu quero mais é que essa gente se dane. Mas não venha, como se dizia na minha vila, “botar panca” (sim, o certo é “banca”) pra cima de mim, tentando me dar aula do que é povo, do que é pobreza, do que é carência. Eu lhes ensino, seus delinqüentes, como transformar dois ovos e um tomate numa refeição para quatro pessoas, com o acréscimo de farinha de rosca numa omelete sem queijo e sem presunto. A boa notícia para nós é que era gostoso. Fiz Dona Reinalda preparar o prato dia desses. Ficou bom, mas não era a mesma coisa, porque, para citar um trecho que decorei de “No Caminho de Swann, de Proust (só trechinhos, viu? Não quero passar falsas impressões, hehe), “tentamos achar nas coisas, que, por isso, nos são preciosas, o reflexo que nossa alma projetou sobre elas, e desiludimo-nos ao verificar que as coisas parecem desprovidas, na natureza, do encanto que deviam, em nosso pensamento, à vizinhança de certas idéias”. No caso, a omelete de farinha de rosca estava ali, mas as circunstâncias eram outras, como a água do rio que não passa duas vezes pelo mesmo lugar.
A minha história não me faz nem mais nem menos qualificado para coisa nenhuma! Também a pobreza pregressa não é categoria de pensamento. Eu espero que aqueles vagabundos que ficam demonizando meu nome por aí me desprezem ainda mais por isso. Têm a chance de descobrir que as nossas diferenças não estão apenas nas escolhas, mas também nas origens. A pobreza não me ensinou nada de especial. Cabe a cada um de nós o esforço ao menos de tomar a rédea do nosso destino, feito muito mais de opções do que freqüentemente supomos. Mas isso não é uma particularidade da pobreza. Também os ricos, reitero, podem ser oprimidos pela riqueza. “Mas qual opressão é melhor?”, pode perguntar um cínico.
Olhem aqui, minhas caras, meus caros, é claro que governos e políticas públicas têm de se ocupar da melhoria das condições de vida do povo. Com uma escola melhor, uma saúde melhor, uma segurança melhor, aumentam as chances de felicidade. Negá-lo seria uma estupidez. Chances de felicidade, no entanto, não são felicidade garantida. Na pobreza ou na abastança, o que quer que nos faça infelizes sempre está dentro de nós. E não há revolução que dê jeito.
Ah, sim: algum anseio insatisfeito da pobreza ainda me assalta hoje, já que “o menino é o pai do homem”, como escreveu Wordsworth, frase depois retomada por Machado de Assis em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”?
Um ferrorama lindão, gigantesco, cheio de traquitanas. No mais, nada faltou, nada excedeu. Cada vida existe na sua exata medida.
Beijo do Tio Rei.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

EMPREGUISMO EXPLÍCITO. Ou: Como são atraentes as tetinhas do Estado


Um parlamentar do Distrito Federal trava uma luta solitária no Congresso para reduzir o excesso de cargos comissionados na máquina pública. Em entrevista publicada na mais recente edição da revista Veja, o deputado José Antonio Reguffe (PDT-DF) divulgou informações que recebeu do Ministério do Planejamento sobre o loteamento da máquina pública por servidores em cargos de confiança. São, segundo o próprio governo federal, 23.579 funcionários nomeados sem a necessidade de concurso público, muitos dos quais sem qualquer habilitação para ocupar o posto e escolhidos fundamentalmente por apadrinhamento político. Por isso, a cruzada do deputado pedetista deveria se transformar numa bandeira de políticos preocupados com a ética e motivar a presidente Dilma Rousseff a corrigir essa deformação na reforma política.

A comparação com outros países é vexatória para o Brasil, e o excesso de servidores nessa condição, sem uma avaliação por mérito para ingresso e sem um compromisso maior com a máquina pública, ajuda a entender por que o país enfrenta tantas denúncias de corrupção nos relacionamentos entre governo e iniciativa privada. A Inglaterra, por exemplo, tem 300 servidores comissionados, o Chile tem 600, e a França, 4 mil. Os Estados Unidos, de dimensões continentais como o Brasil, têm 8 mil, quase três vezes menos. Além da quantidade excessiva de servidores em cargo de confiança, há uma desconsideração no país com a qualidade técnica dos contratados, o que talvez seja um dos maiores prejuízos.

O aspecto preocupante é que cada vez mais vigora no Brasil o modelo conhecido como porteira fechada, por meio do qual um único partido – o PDT no Ministério do Trabalho e o PC do B no do Esporte, por exemplo – comanda todos os postos de uma estrutura administrativa. A lista inclui desde os próprios ministros e secretários executivos até os chamados DAS (cargos de direção e assessoramento superior), numa hierarquia que vai do 1, o mais baixo, até o 6, diretamente subordinado ao ministro. Nessa escala, só os DAS 4 e superiores podem contar com auxílio-residência, enquanto os DAS 5 e 6 têm direito a usar carro oficial – o 5, o branco, com logotipo do órgão ao qual serve, e o 6, o preto, discreto. Os mais graduados, em geral, se transferem de seu Estado de origem para Brasília, fazendo com que não raramente também cônjuge e até filhos sejam contemplados com cargos de confiança. A conta, claro, é custeada pelos contribuintes.

Como ressalta o próprio parlamentar do Distrito Federal, o preenchimento de alguns cargos comissionados é necessário, mas esses servidores, em sua maioria, estão mais preocupados em atender o político responsável por sua indicação do que o contribuinte. A presidente da República está diante de uma oportunidade única de aproveitar a pretendida reforma ministerial para extinguir uma prática nefasta como o loteamento da máquina pública.

Editorial ZH (23.11.11)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Eu não sei bem se ta perto, mas se um dia der certo, foi de tanto tentar..

"Eu trabalhei um bocado,

Ainda não deu resultado, eu sei...

Eu não sei bem se ta perto, mas se um dia der certo, 

Foi de tanto tentar.."



Ouvi essa música hoje no rádio e, embora não goste de reggae, a letra me chamou atenção. Fica ai um mensagem bacana de vida, para aqueles que adoram se "vitimizar", chorar e não lutar pelo seus sonhos.. 
Enxuga esse rosto, levanta a cabeça e volte a lutar...


Se os professores consideram “formação de mão de obra barata” a conexão entre os temas ensinados em sala de aula e a realidade, péssimo para o RS


Mão de obra barata (Rosane de Oliveira)

No discurso dos professores que rejeitam as mudanças no Ensino Médio propostas pelo governo do Estado, uma acusação tem sido recorrente: a de que as alterações têm por objetivo fornecer mão de obra barata para as empresas. Trata-se de uma simplificação que não se sustenta na realidade e que deve ser debitada não apenas ao clima belicoso entre o Cpers e o governo, mas à falha na comunicação em relação às mudanças. O uso da expressão politécnico para o Ensino Médio preparatório ao Enem e ao vestibular contribui para a confusão generalizada entre os professores.

Se os professores consideram “formação de mão de obra barata” a conexão entre os temas ensinados em sala de aula e a realidade, péssimo para o Rio Grande do Sul. Pior ainda se estão se manifestando contra a educação profissional integrada ao Ensino Médio, outra opção a ser oferecida em algumas escolas. Os professores deveriam ser os primeiros a se preocupar em dar sentido ao que se ensina aos alunos. Ter consciência de que, em língua portuguesa, não adianta forçar os alunos a decorar regras gramaticais, se não souberem aplicá-la na hora de redigir um requerimento, uma carta comercial ou a conclusão de um seminário sobre aquecimento global.

Têm razão os professores que cobram mais clareza da SEC e reclamam do pouco tempo para a adaptação, da falta de estrutura, da dificuldade para a realização de atividades extraclasse. Inadmissível é não reconhecer que algo precisa ser feito para tornar a escola mais interessante e, assim, reduzir a evasão e a repetência.

Se a reação é à educação profissional integrada ao Ensino Médio, pior ainda. Porque significa rejeitar a possibilidade de jovens de 17 anos saírem da escola em condições de disputar uma vaga no mercado de trabalho e, com o salário, continuar os estudos. Hoje, o Rio Grande do Sul tem mais de 30 mil vagas em aberto, por falta de candidatos qualificados. Será melhor preparar técnicos de nível médio ou continuar formando estudantes que nem conseguem disputar uma vaga nas melhores universidades, nem têm preparação para buscar um emprego digno?

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O erro de Foucault

As ciências humanas (das quais faço parte) se caracterizam por sua quase inutilidade prática e, portanto, quase impossibilidade de verificação de resultados. (Pondé)


Você sabia que o pensador da nova esquerda Michel Foucault foi um forte simpatizante da revolução fanática iraniana de 1979? Sim, foi sim, apesar de seu séquito na academia gostar de esconder esse “erro de Foucault” a sete chaves.
Fico impressionado quando intelectuais defendem o Irã dizendo que o Estado xiita não é um horror.
O guru Foucault ainda teve a desculpa de que, quando teve seu “orgasmo xiita”, após suas visitas ao Irã por duas vezes em 1978, e ao aiatolá Khomeini exilado em Paris também em 1978, ainda não dava tempo para ver no que ia dar aquilo.
Desculpa esfarrapada de qualquer jeito. Como o “gênio” contra os “aparelhos da repressão” não sentiu o cheiro de carne queimada no Irã de então? Acho que ele errou porque no fundo amava o “Eros xiita”.
Mas como bem disse meu colega J. P. Coutinho em sua coluna alguns dias atrás nesta Folha, citando por sua vez um colunista de língua inglesa, às vezes é melhor dar o destino de um país na mão do primeiro nome que acharmos na lista telefônica do que nas mãos do corpo docente de algum departamento de ciências humanas. E por quê?
Porque muitos dos nossos colegas acadêmicos são uns irresponsáveis que ficam fazendo a cabeça de seus alunos no sentido de acreditarem cegamente nas bobagens que autores (como Foucault) escrevem em suas alcovas.
No recente caso da USP, como em tantos outros, o fenômeno se repete. O modo como muito desses “estudantes” (muitos deles nem são estudantes de fato, são profissionais de bagunçar o cotidiano da universidade e mais nada) agem, nos faz pensar no tipo de fé “foucaultiana” numa “espiritualidade política contra as tecnologias da repressão”.
E onde Foucault encontrou sua inspiração para esse nome chique para fanatismo chamado “espiritualidade política”?
Leiam o excelente volume “Foucault e a Revolução Iraniana”, de Janet Afary e Kevin B. Anderson, publicado pela É Realizações, e vocês verão como a revolução xiita do Irã e seu fascínio pelo martírio e pela irracionalidade foram importantes no “último Foucault”.
As ciências humanas (das quais faço parte) se caracterizam por sua quase inutilidade prática e, portanto, quase impossibilidade de verificação de resultados.
Esse vazio de critérios de aplicação garante outro tipo de vazio: o vazio de responsabilidade pelo que é passado aos alunos.
Muitos docentes simplesmente “lavam o cérebro” dos alunos usando os “dois caras” que leram no doutorado e que assumem ter descoberto o que é o homem, o mundo, e como reformá-los. Duvide de todo professor que quer reformar o mundo a partir de seu doutorado.
Não é por acaso que alunos e docentes de ciências humanas aderem tão facilmente a manifestações vazias, como a recente da USP, ou a quaisquer outras, como a dos desocupados de Wall Street ou de São Paulo.
Essa crítica ao vazio prático das ciências humanas já foi feita mesmo por sociólogos peso pesado, em momentos distintos, como Edmund Burke, Robert Nisbet e Norbert Elias.
Essa crítica não quer dizer que devemos acabar com as ciências humanas, mas sim que devemos ficar atentos a equívocos causados por essa sua peculiar carência: sua inutilidade prática e, por isso mesmo, como decorrência dessa, um tipo específico de cegueira teórica. Nesse caso, refiro-me ao seu constante equívoco quanto à realidade.
Trocando em miúdos: as ciências humanas e seus “atores sociais” viajam na maionese em meio a seus delírios em sala de aula, tecendo julgamentos (que julgam científicos e racionais) sem nenhuma responsabilidade.
Proponho que da próxima vez que “os indignados sem causa” ocuparem a faculdade de filosofia da USP (ou “FeFeLeCHe”, nome horrível!) que sejam trancados lá até que descubram que não são donos do mundo e que a USP (sou um egresso da faculdade de filosofia da USP) não é o quintal de seus delírios.
Agem com a USP não muito diferente da falsa aristocracia política de Brasília: “sequestram” o público a serviço de seus pequenos interesses.
No caso desses “xiitas das ciências humanas”, seus pequenos delírios de grande “espiritualidade política”.
Por Luiz Felipe Pondé Folha de SP