quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Até Marx sabia que, sem riqueza criada, não há riqueza para redistribuir

Nossa, fazia tempo que eu não lia algo tão esclarecedor. Destaco três passagens do texto para quem chegou aqui e não quer ler o texto todo:
Não vale a pena repetir o óbvio: um sistema fiscal justo é aquele em que quem tem mais contribui com mais. Mas é também um sistema que não demoniza a riqueza e aqueles que a criam. Exceto se o modelo de sociedade ideal estiver em Cuba ou na Coreia do Norte, onde os únicos recursos são a fome e a violência.


Até Marx, que não era propriamente um capitalista (Engels fazia esse serviço por ele), sabia que, sem riqueza criada, não há riqueza para redistribuir. Nem riqueza, nem investimento, nem emprego.


Os ricos que paguem a crise? Erro. Em Estados balofos e sem incentivo para reformarem seus modos de vida, são os pobres que acabarão por pagar.

A fogueira das vaidades

JOÃO PEREIRA COUTINHO, Folha de SP (Via Blog de Rodrigo Constatino)

Os ricos que paguem a crise? Erro. Em Estados balofos são os pobres que acabarão por pagar

A fogueira das vaidades
JOÃO PEREIRA COUTINHO, Folha de SP

Os ricos que paguem a crise? Erro. Em Estados balofos são os pobres que acabarão por pagar

A estupidez não paga imposto. Pena. Depois de ler as palavras de Warren Buffett no "New York Times", a pedir mais impostos para ricos como ele, é a sua estupidez, não a sua riqueza, que deveria ser fortemente tributada.
Digo estupidez, mas digo mal. Vaidade, a palavra certa é vaidade. Entendo Buffett. Uma pessoa acumula uma fortuna colossal. Compra casas, carros. Excentricidades.
Mas eis que chega a gadanha do tédio para arranhar a nossa consciência mortal. Como resolver esse desconforto e fazer as pazes com a culpa primitiva?
Adotando, por exemplo. Celebridades de Hollywood foram cultivando a moda: viagens repetidas a África, Ásia e outros recantos de miséria, em busca do órfão respectivo. Toda a gente pode tomar o café da manhã na Tiffany, pelo menos a partir de um certo patamar (obrigado, Truman Capote).
Mas um órfão é outra história: exige trabalho, disponibilidade e uma dose maciça de sentimentalismo, que sempre comove as lentes fotográficas. Passear um diamante na passadeira vermelha é "kitsch". Passear um cambojano ou um etíope, o cúmulo da sofisticação. E quem não adota contribui. Tenho respeito pelos filantropos. Mas apenas pelos filantropos anônimos, que partilham a fortuna anonimamente. Não é preciso ler Kant para saber que a base da moralidade é o ato de tratar alguém como um fim, não como um meio.
Infelizmente, os filantropos que conheço, alguns pessoalmente, gostam de ajudar os pobres desde que isso renda boas matérias de jornal. O efeito, por vezes, é irônico e até perverso: eles querem partilhar a fortuna; mas, à custa da propaganda, multiplicam a fortuna porque os consumidores gostam de premiar a "consciência social".
Caro leitor: se você é rico, ou deseja ser mais rico, esqueça os mecanismos vulgares de gerar riqueza. O melhor negócio é adotar um sudanês (nunca um brasileiro!) e montar uma fundação humanitária com o seu nome em letras garrafais.
Ou então pedir mais impostos sobre sua própria fortuna. Fato: nenhum imposto especial sobre os ricos resolve os problemas estruturais dos países deficitários do Ocidente. Pelo contrário, agrava-os (já lá irei). Mas, pelo menos, consola a alma e, no caso de Warren Buffett, faz sucesso dentro e fora de portas.
Dentro de portas, já há mais bilionários americanos na fila, dispostos a ceder fortunas na fogueira das vaidades. Fora de portas, 16 bilionários franceses pediram tratamento de chicote. "Noblesse oblige": o governo Sarkozy promete descer o dito cujo sobre contribuintes cujas receitas fiscais superem € 1 milhão.
E até no exaurido Portugal, onde bato estas linhas, a ideia de Buffett promete frutificar, com presidente da República e primeiro-ministro a aceitarem um dos mantras mais famosos do "verão revolucionário" de 1975: os ricos que paguem a crise. Os ricos prometem pagar, claro. Pelo menos aqueles que não tencionam fazer as malas e fugir.
Moral da história? Não vale a pena repetir o óbvio: um sistema fiscal justo é aquele em que quem tem mais contribui com mais. Mas é também um sistema que não demoniza a riqueza e aqueles que a criam. Exceto se o modelo de sociedade ideal estiver em Cuba ou na Coreia do Norte, onde os únicos recursos são a fome e a violência.
Até Marx, que não era propriamente um capitalista (Engels fazia esse serviço por ele), sabia que, sem riqueza criada, não há riqueza para redistribuir. Nem riqueza, nem investimento, nem emprego.
Quando alguns ricos abrem as portas às predações do Estado, seja por vaidade ou interesse, eles não resolvem coisa nenhuma com suas esmolas generosas.
Apenas consolam o ego; afugentam parceiros sem sentimentos de culpa para outras paragens; e, pior, ajudam a perpetuar a exata doença que tem enterrado a Europa e os Estados Unidos: Estados falidos que, incapazes de controlar gastos, persistem de forma suicida num "modelo social" insustentável no século 21. Um modelo que, quando estourar, não vai estourar em cima de Warren Buffett e amigos. Vai estourar sobre os pobres e remendados.
Os ricos que paguem a crise? Erro. Em Estados balofos e sem incentivo para reformarem seus modos de vida, são os pobres que acabarão por pagar.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Uma boa noticia para o Brasil

Aperto no gasto para baixar juro
União pretende segurar novas despesas em R$ 10 bilhões para pressionar BC e tentar segurar inflação no caso de retração externa


Diante da possibilidade de recessão nos EUA e na Europa, o governo decidiu aproveitar o aumento da arrecadação no ano para prometer uma meta de gastos mais apertada. A estratégia é segurar R$ 10 bilhões extras que deverão entrar nos cofres do Tesouro.

Abrir espaço para o Banco Central (BC) reduzir os juros básicos da economia é a finalidade da medida. Na avaliação do governo, a redução do juro seria a principal ferramenta de estímulo à atividade econômica em caso de retração no Exterior. Países importadores poderiam comprar menos do Brasil, o que acabaria prejudicando a indústria nacional.

A medida chega um dia antes de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central iniciar a tradicional reunião para definir o futuro da taxa básica de juro, atualmente em 12,5% ao ano. Segundo economistas, a Selic deverá ser mantida, mas já existem algumas apostas de redução no encontro de outubro.

Com o ajuste da proposta anunciada ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, o governo central (formado por Tesouro, Previdência e Banco Central) deverá economizar este ano R$ 91 bilhões em vez de R$ 81 bilhões. O superávit primário é a economia que deve ser feita pela União antes do pagamento dos juros das dívidas públicas.

Classificada como preventiva pelo ministro Mantega, a estratégia do governo também é permitir que o BC interrompa a trajetória ascendente na taxa de juro básica, a Selic, em alta desde janeiro para combater a inflação. A política monetária é importante para enfrentar uma eventual desaceleração na atividade produtiva, resultante do cenário mundial.

– Não queremos ter aquele mergulho que tivemos em 2008 durante três meses (de setembro a dezembro). Se houver alguma deterioração, o BC terá mais liberdade para tomar medidas e enfrentar uma eventual desaceleração – assegurou Mantega.

O professor Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, disse que a nova meta está adequada ao cenário econômico atual e, se for contínua, pode ajudar a conter a taxa de juro. Segundo Leite, o corte orçamentário feito em fevereiro organizou a situação fiscal:

– Nosso problema é o juro alto. Qualquer aumento na despesa pública causa um efeito grande sobre a capacidade de financiamento do Estado.

Sinais de queda na atividade econômica preocupam o governo: a projeção de analistas financeiros para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011 caiu pela quarta semana seguida, passando de 3,84% para 3,79%.

Na avaliação dos economistas José Francisco de Lima Gonçalves, do Banco Fator, e Fernando Montero, da Corretora Convenção, a elevação da meta do superávit primário não será suficiente para convencer o BC a cortar o juro na reunião que termina amanhã.

domingo, 28 de agosto de 2011

O reino do faz de conta


O reino do faz de conta

27 de agosto de 2011
Nelson Motta - Convidado

Não chamar as coisas pelos seus nomes – principalmente quando são desagradáveis, ilegais ou imorais -, mas por doces eufemismos, é uma das características mais marcantes do estilo brasileiro. Já começa no nosso célebre jeitinho – o nome que damos a transgressões da lei e das normas para levar vantagem em tudo.
De gratuito, o horário eleitoral não tem nada: as emissoras recebem créditos fiscais por suas perdas de receita comercial e são os contribuintes que pagam pela boca livre dos partidos, num milionário financiamento público das campanhas. Contribuinte já é um eufemismo que sugere ser facultativo e voluntário o pagamento obrigatório de impostos. Em inglês, os que pagam a conta são chamados literalmente de “pagadores de impostos”.
“Prestar contas do mandato” significa que o parlamentar gastou verba oficial para se promover com seu eleitorado. As chantagens, achaques e acertos dos políticos com o governo são sempre em nome da “governabilidade”. É claro que ninguém fala de suborno ou propina, ou mesmo da antiga comissão, nossa inventividade criou a “taxa de sucesso”.
O companheiro Delúbio Soares deu inestimável contribuição ao nosso acervo eufemístico criando o imortal “recursos não contabilizados” em substituição ao antigo, mas sempre atual, “caixa 2″, eufemismo histórico para sonegação de impostos e dinheiro sujo.
No Brasil, quase todas as organizações não governamentais só vivem com o dinheiro governamental: o meu, o seu, o nosso. Assim como “notória capacidade técnica” é o álibi linguístico para ganhar licitações sem disputá-las, “mudança de escopo” é o superfaturamento legalizado.
O clássico “o técnico continua prestigiado” significando iminente demissão migrou do futebol para a política com sucesso. Diante de acusações da imprensa, o ministro jura que não fez nada de errado e o governo diz que ele está prestigiado. A novidade é que agora, justamente porque é inocente e está prestigiado, ele pede para sair antes de ser demitido.
No país do faz de conta, quando se ouve falar em “rigorosa investigação, doa a quem doer”, todos entendem que não vai dar em nada.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 26/08/2011

A sociedade civil gaúcha não tem voz. Não discute, não faz manifestação pública, não protesta nas redes sociais.

Esse é o tipo de artigo que deve ser registrado. Grifo as partes contundentes.
Fonte: ZH 28.08.2011


Mania de conflito empaca o Rio Grande
Moldado por uma cultura que valoriza o conflito e enredado na polarização ideológica e na força do corporativismo, o Rio Grande do Sul está ficando para trás, na comparação com outras unidades da federação, pela incapacidade gaúcha de criar consenso em torno de reformas e projetos fundamentais, um fenômeno que há décadas gera frustração entre os governantes que tentaram modernizar o Estado.



Bombachas e vestidos de prenda vão se espalhar pelas ruas, dentro de alguns dias, para as comemorações da Semana Farroupilha, um momento no qual a população gaúcha se irmana em torno de uma causa comum, a reverência ao 20 de Setembro e aos cultuados valores que, celebra o Hino Rio-grandense, devem servir de modelo a toda Terra.

Origem desse orgulho e dessa união, a Revolução Farroupilha carrega também, no ventre, a marca da nossa desunião, da discórdia que faz do Rio Grande do Sul o singular território onde as tentativas de reforma e de modernização são sistematicamente barradas por uma cultura de conflito que, se ofereceu glórias no passado, conturba o presente e compromete o futuro do Estado.

Essa tendência ao confronto que imobiliza tem como capítulo mais recente o cabo-de-guerra entre governo do Estado e Judiciário, mas é o feijão-com-arroz de todas as esferas da vida pública gaúcha. Afeta desde as iniciativas de mudança estrutural (caso das reformas na educação barradas pelo sindicato dos professores) até questões prosaicas (como a reposição das duas girafas mortas há um ano no zoológico, engavetada por causa da oposição de ativistas). Para entender as raízes do fenômeno, é preciso olhar para trás, para nossas origens históricas. O passado de guerras e revoluções que forjou a imagem do gaúcho delineou também um modelo de enfrentar os problemas baseado no conflito, e não na negociação. A cientista política Maria Izabel Noll observa:

– Por ser uma zona de fronteira, o Rio Grande do Sul foi um Estado muito militarizado, em situação de guerra constante. A tradição é de resolver pelo conflito. A Revolução Farroupilha inspira e perpetua esse modelo. O mito do gaúcho não é o do senhor civilizado e de fraque, bebendo chá, mas o do sujeito de lança e faca na mão, sempre pronto a defender seus interesses. O que vale é a lógica da defesa de território. Se uma corporação é atingida por alguma proposta de mudança, por exemplo, ela entende isso como tentativa de invasão pelo inimigo.

Quando se fala na Guerra dos Farrapos, o usual é apresentá-la como um confronto de gaúchos contra brasileiros. Escamoteia-se o fato de que ela foi, em larga medida, um embate de gaúchos contra gaúchos. Maria Izabel investiga, na UFRGS, esse pendor local à divisão entre dois campos políticos opostos. Ela identifica a persistência de um modelo partidário fortemente polarizado, que contrasta com o brasileiro e aproxima o Rio Grande do Sul da configuração política do Uruguai e da Argentina, de fronteiras também desenhadas a ponta de lança.

Mudam as siglas dos partidos, mas a polarização se mantém. Alimentados por nossa cultura de conflito, esses dois campos adotam o que Maria Izabel chama de política de soma zero: quem ganha, ganha tudo, quem perde, perde tudo:

– Os últimos governos adotaram um discurso conciliador, mas na prática o modelo persiste. A pressuposição de cada lado é a seguinte: eu e os meus somos o bem, os outros são o mal. Projetos com pontos positivos e negativos são rejeitados como um todo, porque não há negociação. O resultado é perdermos importância em relação a outros Estados, onde situação e oposição se unem em torno de questões fundamentais – diz Maria Izabel.

Um primeiro passo para construir consensos e destravar impasses seria vencer as barreiras ideológicas que polarizam o Rio Grande. O professor de Economia da UFRGS Flavio Comim nota que o Estado tem hoje uma configuração política anacrônica, dividida entre um “liberalismo pouco humano” e um “socialismo que não se preocupa com eficiência”. Diante de problemas, cada lado se agarra ao próprio ideário, em lugar de pensar no bem comum. Para complicar, a crise dos cofres públicos agravou o cenário. Como os recursos são parcos, a briga por eles ficou mais violenta.

– É um círculo vicioso. Na medida em que o conflito se acirra, as reformas não acontecem. Sem reformas, a crise do Estado se agrava e provoca mais acirramento. O fato de uma proposta partir do outro campo ideológico é suficiente para receber oposição – analisa Comim.

Sociedade civil ainda é omissa

Com isso, a receita para o imobilismo já está dada, mas o Rio Grande ainda adiciona a ela um ingrediente extra, com poder para brecar qualquer mudança: a força descomunal de que gozam corporações, sindicatos e grupos de interesse. Com alto teor de organização, esses setores têm cacife para influenciar o parlamento, mobilizar a opinião pública e gerar desgaste para os governantes que a eles se oponham. Na defesa encarniçada de seus interesses, aponta o cientista político Fernando Schüler, as corporações comprometem os serviços oferecidos pelo Estado. Os prejudicados são os mais pobres, que dependem de uma educação e de uma saúde públicas cada vez mais degradadas.

– A maior parte dos conflitos deriva da força de corporações. Para não perder privilégios e prerrogativas, são avessas a qualquer modernização. Combatem a meritocracia, a competitividade e a avaliação. Como resultado, o custo do Estado aumenta e os serviços decaem, prejudicando os pobres. Mas nunca vi passeata de pobre na frente do Piratini, só de sindicatos e corporações – afirma Schüler, que, na condição de secretário do governo passado, teve a experiência de ver um projeto para melhorar o atendimento a adolescentes infratores ser torpedeado e morrer na praia, apesar do apoio generalizado da Justiça e do Ministério Público.

Existe um ator que poderia desatar os nós cegos que atravancam o Estado, mas ele é omisso: a sociedade civil. O gaúcho enche o peito para dizer que é politizado, mas, na visão do professor Flávio Comim, o que temos é um corpo social apático, que não se posiciona diante dos grandes debates, como se eles não lhe dissessem respeito.

– A sociedade civil gaúcha não tem voz. Não discute, não faz manifestação pública, não protesta nas redes sociais. Vários conflitos seriam resolvidos se isso acontecesse. A opinião pública poderia ser o fiel da balança para fazer as decisões caírem para um dos lados.

sábado, 27 de agosto de 2011

O gosto do pecado

DAVID COIMBRA Simplesmente demais!



Há quem diga que alemães, ingleses e japoneses, povos mais adiantados, não ligam mais para isso de infidelidade. Um inglês moderno, se você deseja a esposa dele e ela deseja você, ele suspira com resignação e, logo depois, dá de ombros:

– No problem, baby.

E lá vão você e a esposa do inglês para a alcova.

Sabe como se chama isso?

Ci-vi-li-za-ção.

Porque, na essência, o ato em si não é errado. Quer dizer: o fato de uma mulher se repoltrear e se refocilar e até espadanar com um homem, qualquer homem, não prejudica nenhuma outra pessoa. É uma atividade que só diz respeito aos dois envolvidos. A infidelidade só causa dano se assim for convencionado. Por exemplo: a convenção, aqui no Brasil, é de que um homem com duas mulheres é um safado. Bem, nos países muçulmanos um homem pode ter até quatro, desde que as sustente, o que deve dar uma imensa conta de supermercado. Convenções, pois.

O pecado, nesse caso, é relativo. Até porque o chamado pecado original é uma invenção de Santo Agostinho. Por volta do século IV, Agostinho estudava em Cartago e levava uma vida dissoluta. A mãe dele, muito religiosa, vivia a censurá-lo, como costumam fazer as mães de todos os séculos. Ele pensava nos argumentos dela, mas não abandonava a esbórnia. Um dia, Agostinho estava na cama com duas mulheres. Em vez de regozijar-se por sua boa sorte, ele começou a sentir-se culpado. Então, ergueu os olhos para o céu e implorou:

– Senhor! Dai-me a castidade! – e depois de olhar para as suas companheiras e refletir por um instante, acrescentou mais do que rápido: – Mas não agora!

O Senhor o atendeu, tanto que Santo Agostinho tornou-se santo.

Com sua filosofia profundamente moral, Agostinho mudou a Igreja Católica e infiltrou nas mentes ocidentais, inclusive a sua, caro leitor, a noção do pecado. Da culpa. Você nasce culpado, porque o homem pecou desde que foi criado.

É isso, em breves e toscas letras.

Contei essa história no Pretinho Básico, dias atrás. E disse mais: disse que a culpa é o tempero da traição. A mulher que trai, e que se sente culpada por trair, trai com mais gosto. O pedaço de que ela prova é mais saboroso, porque é proibido. Agostinho, assim, transformou o sexo em uma atividade mais excitante e, de quebra, deu emprego a todos os psicanalistas do planeta.

Pois bem. Depois do programa em que disse isso, algumas mulheres infiéis se manifestaram. Enviaram emails relatando seus casos e concordando: sim, o sabor do pecado se transforma em vício, quando existe a culpa. Tudo bem, já esperava por tal reação, mas não a de uma mulher que remeteu o seguinte email, pedindo para que a mantenha no anonimato, por razões evidentes:

“Ouvi vocês falando sobre traição no PB e decidi contar o que vou fazer: vou trair meu marido com dia e hora marcados. Não tenho um motivo forte para fazer isso. Mas vou fazer. Porque ele me irrita. Ele só pensa em futebol, só fala em futebol, só quer saber do time dele. Eu já sabia disso quando casamos, mas acho que a coisa piorou com o tempo. Domingo que vem eu queria que ele fosse comigo a um lugar, não vou dizer qual, mas é importante pra mim. Ele respondeu que não deixa de ir ao Gre-Nal mesmo que me separe dele. Então está bem, ele vai ao Gre-Nal. E eu vou me encontrar com um colega do meu trabalho que há anos dá em cima de mim. Enquanto ele estiver vendo o time dele levando uma surra, vou surrá-lo bem direitinho de outro jeito. Precisava fazer esse desabafo, pra quem sabe os teus leitores prestarem mais atenção às mulheres deles”.

Se você vai ao Gre-Nal, essa história talvez o tenha deixado inquieto. Não há motivo para tal. Pense nos alemães, nos ingleses, nos japoneses. Seja ci-vi-li-za-do. Importar-se com traição é coisa de terceiro mundo.

Fonte: Zero Hora 27/08/2011

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A doença da educação brasileira é ideológica

Saiu um estudo com dados catastróficos sobre a educação brasileira. Apenas metade dos estudantes tem atingido aquilo que é esperado. Ou seja, 50% dos escolares não sabem ler, redigir ou fazer contas direito.
O problema nesse caso são vários, mas tendo a concordar com artigo abaixo que a ideologia esquerdista (escola ciclada, demonização ao mérito,etc) realmente é um entrave. Já falei disso por aqui outras vezes em artigos como A Tal da Meritrocacia...

Vale a pena a leitura!


A doença da educação brasileira é ideológica. E seu nome é “petismo”

No post das 16h13, há um retrato do ensino no Brasil, revelado pela Prova ABC. É uma vergonha! Digam o que disserem, acreditem: não chegamos a isso por falta de verba. Dada a realidade do país, o Brasil gasta bastante com a educação. Não dispomos é de mecanismos eficazes para avaliar a qualidade do trabalho feito nas escolas e intervir para corrigir as deficiências.
Sempre que o debate é colocado, tudo termina na ladainha sindical de sempre: se os professores fossem mais bem pagos, tudo seria diferente. Essa é uma das falácias mais influentes no setor. Seria estúpido afirmar que salários maiores fariam mal aos alunos — e, com efeito, há realidades dramáticas em certas áreas do país. A verdade insofismável, no entanto, é que o aumento da remuneração poderia fazer bem aos professores sem mudar uma vírgula na qualidade de ensino.
Há um coquetel de problemas que resulta nesse desastre. Embora tenham naturezas distintas, têm algo em comum: desprezam o aluno, que deixou de ser o centro da preocupação das escolas — em especial, dos educadores. Vamos ver. Os estados e municípios, pouco importa o salário que paguem, não dispõem de mecanismos para promover os competentes e punir os incompetentes.
O estado de São Paulo, na gestão Serra, instituiu um sistema de promoção salarial por mérito. A escola melhorou, provaram os exames. Os petista-cutistas da Apeoesp foram às ruas protestar. Chegaram a queimar livros didáticos em praça pública, os fascistas! Neste momento, a Apeoesp tenta negociar com a Secretaria da Educação o fim do modelo. Os valentes não querem saber de mérito. Eles gostam é do demérito que iguala todos por baixo. Os alunos que se danem! No Brasil inteiro, a educação é refém da militância política, especialmente a petista — quando não está entregue a radicais à esquerda do PT.
Embora as escolas privadas não sejam lá grande coisa, já demonstraram alguns outros indicadores, a Prova ABC evidencia que o desempenho dos estudantes dessas instituições é muito superior ao das escolas públicas. A razão é simples: a cobrança é maior.
O ensino — também em boa parte das escolas privadas, note-se — está corroído por uma doença ideológica. Boa parte dos “educadores” acredita que sua função não é ensinar português, matemática e ciências, mas princípios de cidadania, com o objetivo de formar “indivíduos conscientes”. Alunos seriam pessoas “oprimidas”, que precisam passar por um processo de “libertação”. O mal que a paulo-freirização fez à escola levará gerações para ser superado. Todos os mitos ideológicos que Paulo Freire criou com seu método de alfabetização de adultos foram transferidos para a educação de crianças e jovens. O resultado é devastador. Escrevo sobre esse assunto há anos. Era um dos temas recorrentes da revista e site Primeira Leitura.
À pedagogia “libertadora” de Paulo Freire se juntou, mais recentemente, a turma da “pedagogia do amor”, de que Gabriel Chalita é um dos formuladores. Em vez de educar, o professor liberta; em vez de educar, o professor ama. Se toda essa conversa mole der errado, há o risco até de a escola ensinar alguma coisa. O fato é que o cruzamento de Freire com Chalita resulta em ignorância propositiva e amorosa.
Enquanto objetivos claros não forem estabelecidos e enquanto as várias esferas do estado não dispuserem de instrumentos de intervenção para exigir qualidade, podem esquecer. A reação bucéfala às medidas modernizadoras implementadas pelo governo Serra, em São Paulo, demonstra que a raiz do problema é, sim, ideológica. O sindicato dos professores foi usado como mero instrumento da luta política. De dia, a presidente da entidade, a notória Bebel, fazia passeata; à noite, encontrava-se com Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência, e era tratada como heroína.
E uma última questão por ora: deixem um pouco o sociologismo fora disso. Essa conversa de que é impossível ensinar alunos com fome, vindos de lares desestruturados etc. não cola mais. A fome é exceção no Brasil. A imensa maioria das famílias pobres é mais organizada e hierarquizada do que as de classe média e média-alta — o tal “povo” é bastante conservador nessas coisas. Desorganizado e desestruturado, no que concerne à educação, é o estado brasileiro.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Agonizante social-democracia

Rodrigo Constantino, O GLOBO


A crise financeira voltou a assombrar o mundo. Assim como em 2008, a busca por bodes expiatórios é automática. Os especuladores são o alvo preferido nessas horas. Mas poucos têm focado no cerne da questão. O que está em jogo é a própria sobrevivência de um modelo de sociedade: a social-democracia.
O sonho “igualitário” conquista corações há séculos. O socialismo foi seu grande experimento no século 20. Deixou um rastro de miséria, terror e escravidão por onde passou. Seus “órfãos” encontraram refúgio na social-democracia europeia, uma espécie de “socialismo light”. Todos teriam “direito” a uma vida digna, garantida pelo Estado.
Buscando se perpetuar no poder, os políticos faziam leilões de promessas irrealistas. Aquele que oferecesse mais benesses ao maior número de pessoas seria eleito. As “conquistas” trabalhistas foram se amontoando, concomitantemente à perda de competitividade das economias. Todos passaram a esperar tudo do governo, de mão-beijada.
Se os produtos importados são mais baratos, o governo cria barreiras protecionistas. Se a produção agrícola é ineficiente, o governo oferece subsídios. Se a empresa falir, o governo a salva. Se a produtividade é baixa, o governo aumenta o salário por decreto. Se trabalhar duro é “desumano”, o governo limita a quantidade permitida de horas trabalhadas.
A economia fica menos competitiva. O governo ataca os sintomas. Se o empregado é demitido, ele pode viver à custa do governo por vários anos. Ele conta com ampla rede de proteção, tudo “grátis”. O mecanismo de incentivos é perverso, desestimulando a produção e alimentando o parasitismo. Ser funcionário público, com mais privilégios ainda, torna-se a meta de muitos.
Para agravar o quadro, o governo criou um verdadeiro esquema piramidal de Previdência Social. As pessoas se aposentam cedo, mesmo vivendo mais. E a aposentadoria guarda pouca relação com o que foi efetivamente poupado durante os anos trabalhados. Trata-se de um esquema Ponzi de transferência de recursos.
Esta ilha da fantasia pode ser mantida enquanto houver demografia favorável. Mas, inevitavelmente, a conta terá de ser paga. O inverno um dia chega para as cigarras. Com o envelhecimento da população, o sistema implode.
A entrada da China na globalização foi responsável por um dos maiores choques de produtividade da história. São milhões de formigas dispostas a produzir tudo mais barato. Os bancos centrais, cúmplices dos governos deficitários, puderam manter estímulos artificiais sem grandes impactos na inflação. O mundo todo crescia. Era a “Grande Moderação”. As cigarras estavam felizes.
Mas o inverno chegou. A bolha de crédito explodiu, sendo absorvida por governos já demasiadamente endividados. O déficit fiscal saiu de controle, e a dívida pública passou de 100% do PIB em alguns casos. Com carga tributária já na casa dos 50% do PIB, os governos ficaram sem margem de manobra. Resta cortar drasticamente os gastos públicos, desmontando o Estado social.
Claro que este encontro com a dura realidade incomoda muita gente. Inúmeras pessoas se acostumaram com a “dolce vita” das cigarras. A tensão social cresce visivelmente nas ruas. A alternativa tentadora é imprimir moeda. Mas a Europa não conta com a mesma flexibilidade dos EUA, e a Alemanha representa um obstáculo à “solução” inflacionária. Ela já viu o diabo da hiperinflação de perto e sabe como ele é feio.
Não há saída fácil para esta sinuca de bico. A crise é fruto de décadas de gastos públicos crescentes, gradual perda de competitividade econômica e envelhecimento populacional. O euro, uma criação política, fez os países mais irresponsáveis ganharem tempo. Mas chegou a hora da verdade.
O modelo de bem-estar social europeu está em xeque, ainda que Obama queira seguir no mesmo caminho. Por isso o Tea Party gera tanta revolta. Os social-democratas gostariam de crer que é possível viver eternamente no conto de fadas. Estão apavorados com a idéia de que finalmente a fatura dos anos de farra irresponsável chegou. Com juros.
“No longo prazo estaremos todos mortos”, disse um dos ícones desta mentalidade hedonista. Mas o longo prazo chegou. E se Keynes já morreu, muitos ainda estão vivos. É a social-democracia keynesiana que corre risco de vida.
E o Brasil? Seguimos aqui o mesmo modelo falido. Enquanto a China e a demografia ajudarem, a farra poderá continuar. Mas um dia a fatura chegará para os brasileiros também. Podem anotar.

Aos “hipócritas do bem” digo: Dinheiro compra sim felicidade!



DIZEM QUE DINHEIRO não compra felicidade. Você pode sim se perder por dinheiro, mas isso não torna mais verdadeira essa negativa: dinheiro não compra felicidade. Ao contrário, e é por isso mesmo que você pode se perder por dinheiro: a infame afirmação “dinheiro compra felicidade” é quase sempre verdade. Volto a citar aquela frase do grande Nelson Rodrigues: “dinheiro só compra amor verdadeiro”. 

No mundo capitalista, dinheiro é o instrumento máximo de conhecimento do que é a experiência humana concreta. Se dinheiro não comprasse amor verdadeiro, estaríamos a salvo. Mas não estamos. O cinema está cheio de exemplos de como devemos resistir ao dinheiro. As novelas e as pedagogas das escolas também vendem lições morais contra o dinheiro como ferramenta da felicidade. Fazem-no por medo ou simples mau-caráter, porque todo mundo sabe que dinheiro compra felicidade. 

O pensador americano Henry Adams, no século XVIII, dizia que um professor é um empregado encarregado de contar mentiras às crianças e de velar as verdades aos adultos. Toda vez que um professor pensa que deve “formar” seus alunos acaba caindo na função descrita por Adams. Professores ajudam seus alunos, lançando mão do repertório cultural universal à disposição, a enfrentar a terrível condição humana: efemeridade, paixões, valores sem fundamento universal, medo, finitude, injustiças, fracassos. A triste verdade é que dinheiro compra sim felicidade. De modo mais banal, compra férias, qualidade de cotidiano, bons médicos, segurança, casas em ruas com árvores, escolas decentes, conversas mais doces, fi lhos mais saudáveis, momentos de sensibilidade sofisticada.

Dinheiro deixa as mães dos seus filhos sorridentes e generosas no sexo. É claro que existem exceções. Como dizem os darwinistas, o fato de que existam algumas poucas mulheres mais altas do que alguns homens não invalida estatisticamente a seguinte generalização: mulheres são mais fracas e menores do que os homens. Portanto, caro leitor e cara leitora, deixe de mentir: quantas vezes você já viu em sua vida que dinheiro comprou sua felicidade e emocionou sua família e seus amigos? Sucesso costumar ter o mesmo efeito.

Mas dirão os hipócritas (esse tipo de praga – os “hipócritas do bem” – que infectou a vida com o pensamento desde o “projeto social para um mundo melhor”), tentando invalidar a infame afirmação de que “dinheiro compra felicidade”: a felicidade que o dinheiro compra é vã. Verdade, devo dizer. Mas qual tipo de felicidade não é? A frase “um homem vale pelo que ele é e não pelo que ele tem” seria menos vã? Como você pode dizer exatamente como um homem é? Qual garantia você tem dessa constância do “ser” de um homem? Não é ele inconstante e muda a toda hora de humor e de intenção? O fato é que todos nós optamos por dizer mentiras construtivas porque elas tornam a vida mais leve como em toda atitude de autoajuda. Dinheiro pode melhorar o “ser” de uma pessoa, assim como falta de dinheiro pode piorá-lo. O contrário é verdadeiro (a falta de dinhei ro pode melhorar alguém), mas quem em sã consciência gostaria de testar essa hipótese contra si mesmo?

Sim, você pode ter muito dinheiro e ver que, ainda assim, a vida não tem sentido. Grande verdade, mas essencialmente chique; assim como você pode ter câncer ou tédio dentro de um BMW. Na maioria das vezes em que uma pessoa menospreza a contribuição do dinheiro para sua felicidade é porque não o tem. Todo mundo tem seu preço, menos os santos, e estes nós matamos e não queremos em nossas famílias porque tornam inviáveis os acordos sombrios que fazem a vida possível. A vida necessita de um certoqua nt um de corrupção, do contrário, torna-se irrespirável. Não digo isso com felicidade. O fato de a vida ser vã não invalida essa máxima infame. É justamente porque a vida é vã que a infâmia dessa máxima é verdadeira. Pena. 

Mas o sorriso de uma criança pode sim ser comprado, assim como o amor de uma mulher ou de um homem. A imperfeição da vida nos é insuportável, temos horror a ser animais do abismo, por isso buscamos utopias de perfeição como as que se encontram na mitologia.

LUIZ FELIPE PONDÉ ("Contra um mundo melhor")

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Prova da OAB - Mais uma vez a caneta (leis) e não o mérito prevalecerá!


Novamente volta a pauta no Brasil, embora as pessoas dêem a ela vários nomes, aquilo que chama-se MERITOCRACIA (ou a falta dela).

A bola da vez é movimento de mais um grupo de "vitimizados" nesse pais. Os advogados que não passam na prova da OAB. Como diz o autor do texto abaixo, a grande maioria não passa porque não poderia mesmo passar. E veja bem, não existe um número restrito de vagas. O candidato deve apenas superar os requisitos (conhecimentos) mínimos. Ele não precisa ser melhor que ninguém. No entanto, mais uma vez a caneta (leis) e não o mérito prevalecerá. É bem provável que se extinga o valor da prova da ordem, facilitando assim a atuação dos profissionais medíocres.

As cotas raciais, a escola ciclada (aquela que o aluno não roda de ano), o ENEM, e outras tantas "medidas sociais" de "inclusão" tendem, cada vez mais, a diminuir o valor e o mérito daqueles que se esforçam para ser profissionais de qualidade.

No Brasil parece ser muito bom negócio ser vítima e medíocre, se for pobre então não se fala, pois esses sim têm amparo. Socorro!

Grifo as partes importantes do texto, vale a leitura!




Cotas, medidas penais e exame da OAB

Uma vez mais, o Supremo Tribunal Federal (STF) irá se posicionar diante de tema relevante para o país. Trata-se da obrigatoriedade de os bacharéis em Direito prestarem o exame da OAB a fim de obterem a licença para a prática da advocacia.

A cada nova edição do certame, são milhares os que não conseguem aprovação no difícil e cada vez mais seletivo teste que, como regra, impede os que não se preparam suficientemente de acessar o mercado formal. Os motivos predominantes são sempre os mesmos: falta de preparo dos candidatos e a péssima qualidade de muitos dos cursos que pululam país afora. E a grande maioria não passa porque não poderia mesmo passar. Então, eis que assume proporção nunca antes vista o movimento dos bacharéis inconformados com o exame da Ordem. E o aumento da insatisfação talvez seja resultado desse mesmo fenômeno a que me referi, o da proliferação de cursos de Direito, que despejam, anualmente, milhares de formandos ávidos por exercerem a profissão. Mas o que há de novo nesta reflexão que me atrevo a fazer?

Esta discussão expõe a mazela brasileira talvez mais difícil de ser vencida, concretizada na incapacidade de superarmos nossa incompetência em equacionar as soluções para o futuro sustentável da nação. Preferimos encontrar soluções rápidas, mirando no curto prazo em detrimento do futuro. E, o que é pior, optamos pela mediocridade. Nivelamos por baixo. Parece até que temos medo – ou pior, vergonha – de valorizar o mérito, alternativa considerada elitista. Alguns exemplos.

Os governos não investem em educação como deveriam. As crianças, pobres, pretas, pardas e periféricas, obviamente não terão condições de competir por vagas nas melhores universidades. Então, em vez de priorizar os investimentos em educação básica, criam-se políticas de cotas. Ou seja, os que teriam direito a uma vaga, por mérito pessoal, ficam de fora e entram os cotistas, cujo aproveitamento certamente estará comprometido pelo frágil substrato que trazem da sua infância desassistida.

Segundo exemplo. Os governos não investem em políticas de segurança, o que faz aumentar a superlotação dos presídios com a explosão da população carcerária. Então, ao invés de eleger a segurança como prioridade e fazer os investimentos necessários ao equacionamento do problema para o longo prazo, adota-se como solução mágica a aprovação de uma lei para abrandar o apenamento dos bandidos, mandando menos deles para a cadeia e liberando outros tantos que lá estão. Ainda é cedo para dizer, mas alguém acha, honestamente, que vai resolver alguma coisa?

Por fim, o exame da OAB. Como dito, a cada ano dezenas de milhares de bacharéis mal formados saem dos cursos de Direito e tentam a aprovação no exame. Não conseguem. Então, como não dá para aprovar todo mundo, pois isso depende do mérito do candidato – e nem todos o tem na medida suficiente, a solução é... acabar com o exame! Solução tipicamente brasileira: rasa e medíocre.

Agora, eu pergunto ao prezado leitor: a quem confiaria os cuidados jurídicos relativos ao seu patrimônio, à sua família, ou mesmo à sua liberdade?

Se o exame cair, andaremos para trás. Com a palavra, o Supremo Tribunal Federal.

Autor: André Vanoni de Godoy (Zero Hora; 21/08/2011)

domingo, 21 de agosto de 2011

Meu filho, você não merece nada

Achei esse artigo excelente do ponto de visto de formação. Embora um pouco repetitivo, a mensagem é clara: "[os filhos] Acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa."

Destaco outras duas passagens no texto que achei interessante e as quais concordo plenamente:


Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. 


Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.


Vale a leitura!


Vamo que vamo, com força e honra!




Meu filho, você não merece nada
A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada
ELIANE BRUM
   Divulgação
ELIANE BRUM
Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê(Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua(Globo). 
E-mail: elianebrum@uol.com.br Twitter: @brumelianebrum
Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.

Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.

Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.

Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.

Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.

É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?

Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.

Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.

Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.

A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.

Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.

Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.

Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.

Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.

O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.

Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.
 
Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.

Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.

Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Na politica, incoerência elege a liderança do mundo!

A conclusão do título é minha mesma. Se antes de estar no poder, o cara fala "A" e depois quando assume o poder executa "Z", e ainda se reelege, penso que deve ser essa a fórmula para o sucesso político. Obama e Lula sabem bem disso! Vejam isso!


“O fato de que estamos aqui hoje para debater o aumento do limite da dívida americana é um sinal de fracasso das nossas lideranças. É um sinal de que o governo dos Estados Unidos não pode pagar suas próprias contas. É um sinal de que agora dependemos da assistência financeira de países estrangeiros para financiar as políticas fiscais irresponsáveis do nosso governo.... O aumento do limite da dívida da América nos enfraquece nacional e internacionalmente. Liderança significa responsabilidade pelas próprias dicisões. Em vez disso, Washington está jogando o ônus de suas más escolhas de hoje nas costas dos nossos filhos e netos. A América tem um problema com a dívida e uma falha de liderança. Os americanos não merecem isso. Eu, portanto, sou contra o aumento do limite da dívida.”

Sabe de quem são essas duras palavras, caro leitor? Acredite, o discurso acima foi proferido pelo então senador Barak Obama, ainda em 2006, quando o Congresso daquele país discutia o limite da dívida federal, durante o mandato de George W. Bush. (João Luiz Mauad, O GLOBO)


LULA entende bem dessa arte também!



domingo, 14 de agosto de 2011

De esquerda ou direita?


Fonte: Blog do NOBLAT


De esquerda ou direita?

Quando um tipo de direita não gosta das armas, não as compra.
Quando um tipo de esquerda não gosta das armas, quer proibi-las.

Quando um tipo de direita é vegetariano, não come carne.
Quando um tipo de esquerda é vegetariano, quer fazer campanha contra os produtos à base de proteínas animais.

Quando um tipo de direita é homossexual, vive tranquilamente a sua vida como tal.
Quando um tipo de esquerda é homossexual, faz um chinfrim para que todos o respeitem.

Quando um tipo de direita é prejudicado no trabalho, reflecte sobre a forma de sair desta situação e age em conformidade.
Quando um tipo de esquerda é prejudicado no trabalho, levanta uma queixa contra a discriminação que foi alvo.

Quando um tipo de direita não gosta de um debate emitido por televisão, apaga a televisão ou muda de canal.
Quando um tipo de esquerda não gosta de um debate emitido por televisão, quer prosseguir em justiça contra os sacanas que dizem essas sacanices. Se for caso disso, uma pequena queixa por difamação será bem-vinda.

Quando um tipo de direita é ateu, não vai à igreja, nem à sinagoga nem à mesquita.
Quando um tipo de esquerda é ateu, quer que nenhuma alusão à Deus ou à uma religião não seja feita na esfera pública, excepto para o Islão (com medo de retaliações provavelmente).

Quando um tipo de direita tem necessidade de cuidados médicos, vai ver o seu médico e seguidamente compra os medicamentos receitados.
Quando um tipo de esquerda tem necessidade de cuidados médicos, recorre à solidariedade nacional.

Quando a economia vai mal, o tipo de direita diz-se que é necessário arregaçar as mangas e trabalhar mais.
Quando a economia vai mal, o tipo de esquerda diz-se que os sacanas dos proprietários são os responsáveis e punem o país.

Teste: quando um tipo de direita lê esse teste, ele o repassa.
Quando um tipo de esquerda o lê, cuida de jamais repassá-lo!

Do original francês De gauche ou de droite?